V. — Direcção das almas perfeitas
.
: Materia do exame particular das almas perfeitas- .
. II. — Diferentes idades
“1. Direcção das crianças.
X
2. Direcção dos adolescentes
3. Direcção das donzelas
4. Direcção dos estudantes.
^ 5$. Direcção dos adultos.
6. Direcção dos velhos
i II. — Diferentes estados .
4
1.º Direcção das pessoas casadas
P Direcção dos celibatários
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147
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do Direcção das religiosas . . . . . . .,
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Apondice — Direcção
das vocações . . . : pé o. 264
Cap. IV: — Direcção Mística . ande de x« e RE, E a 272
: Noções gerais. ... wea s a de o MM
4 Diagnóstico da união mística E 4.4 sa P RB d 396.
p Direcção das almas místicas . . . . . . . . - 282
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* Epflogo dd Mt ss O uie, t. r 288
: Resumo didático de Aseetismo . . . . . * . . 289
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ALGUMAS PALAVRAS
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«E freqüente ouvir-se a queixa de que são muito
pouco os directores de almas», dizia ültimamente um
bispo belga, falando'ao seu clero, reünido em exercícios
espirituais...
Lacuna esta, na verdade, de assás ruína, para as
almas e para a Igreja. Como explicá-la, havendo tão
bons e zelosos sacerdotes?... Foi-nos dada a resposta
pelo director dum Seminário, nestas palavras : «é que,
na verdade, nào há um (ivrinho verdadeiramente prático
que possam manusear os sacerdotes, que se dedicam à
direcção das almas... Por isso, um livro desta natu-
reza, é preciso ainda compô-lo».
Foi por êsse motivo, leitor, que lançamos mãos à
obra..., pois, efectivamente, trabalho desta ordem, é
coisa nova. E' certo que existem obras importantes
sôbre ascetismo e mística, mas, por isso mesmo que são
grandes tratados, teem o grave inconveniente de trazerem
a doutrina de mistura com tantas dissertações, que só
por muito estudo poderá O padre encontrar as regras
práticas da direcção. Daí, nem sequer a tentativa de
folhear tais livros, tanto mais, que os sacerdotes, que
teem almas a dirigir, estão, de ordinário, sobrecarrega-
dos por outras responsabilidades, próprias do seu minis-
tério. |
..Em geral, o padre de hoje, de vida essencialmente
activa, em contacto contínuo com as almas, não tem
tempo para compulsar os grandes volumes, nem para se
deixar absorver em estudos profundos.
Donde se vê a necessidade do presente manual, que,
4 ALGUMAS PALAVRAS
encerrando em resumo, a essencial doutrina da direcção
espiritual, representa para o sacerdote, estudo feito e
economia de tempo. Digne-se Deus abençoar os nossos
esforços, para glória sua e bem das almas — Até aqui,
o autor. Que direi eu aos meus colegas portugueses?
Também são para nós, Reverendíssimos Senhores, duma
actualidade pasmosa as palavras do autor. Sim, há
entre nós, com efeito, a mesma lacuna: não temos em
português um livrinho, que, resumindo dum modo claro,
a principal doutrina da dificílima arte da direcção das
almas, — ars artium regimen animarum, — facilite ao Di-
rector espiritual, aliás pio e dela corfhecedor especulativo
pelo estudo dos bons tratados, uma sciéncia prática e
adaptável, dos caminhos que segue o Espírito de Deus
na santificação das almas. Porque, é de notar, trêssas
mentos se conjugam ordinàriamente 7
virtude e da perfeição: Deus com a j
sempre, da intervenção oiee a orientação externa
dêste esfórgo por um guia competente e autêntico. E'
certo que o guia principal é Deus. Mas como conhecer
a sua vontade, o seu influxo, as luzes que infunde, se o
espírito das trevas também sugere, e a inteligência
humana, devido à sua fraqueza e às paixões, é tão abnó-
xia a preconceitos e a ilusões? Tem, portanto, o guia
espiritual de descortinar claramente a acção divina, de
desmascarar os manejos do demónio e de prevenir à na-
tureza contra as más tendências, por uma direcção escla-
recida, prudente e segura. E’ êle, por assim dizer, que,
como representante de Deus, seu ministro e vigário, as-
sume o comando da graça e da vontade humana contra
o demónio e a natureza corrompida,
I? um general que dirige a batalha .mais árdua e
mais prolongada (a vida inteira), em que é êle quási o
único responsável e cujo desenlace final será um justo,
um Santo, na terra e depois no céu, ou um prescito eter-
namente no inferno.
A falta de direcção leva a alma, aliás cheia de boa
ALGUMAS PALAVRAS ss
vontade e talvez de óptimas disposições para à virtude,
a uma piedade, como vêmos, piegas, enfezada, miópe e
ridícula, que mais não é do que a ficção da piedade,
pois que fundada num labor méramente humano. O que
não admira: os efeitos são da natureza da causa, a qual,
no caso, -são os preconceitos, as ilusões, a vontade pró-
pria, o egoísmo, etc., isto é, a natureza humana, domina-
da nào pela graga, mas, pelas tendéncias más e pelas
falsas sugestóes. | |
Ao passo que a alma bem dirigida começa a viver
vida sobrenatural e divina; desprende-se da terra e de
“Si mesma, porque mais do que a criatura a captiva O
Criador, bem supremo, vence, em conseqüéncia, as pai-
xões perversas, vê o seu nada e humilha-se, só sente boa,
santa e inefável a vontade santíssima de Deus, e, quanto
mais confunde o seu querer, sentir e aspirar com o bene-
plácito divino, tanto mais se une com Ele, tanto mais O
ama e goza, tonto mais se santifica e adquire a evolução
perene do seu ser.
Para isso, é evidente, deve o Director sêr homem
“de Deus, nó sentido estrito e absoluto da palavra, e
conhecedor consumado dos trâmites e caminhos que o
Senhor usa seguir com os que criou para O conhecer,
amar e servir nesta vida e finalmente possuir perene-
mente na eternidade. Eis para coadjuvar em tão rude,
“como nobre emprêsa, o presente volume. Seja êle de
eficaz auxílio aos meus colegas no sacerdócio e benefi-
ciem tantas almas, sedentas de luz e de formação inte-
rior, que teem direito incontestável aos nossos esforços e
ao impulso vigoroso duma direcção sábia, prudente, firme
e caritativa. |
Belinho, 19 de março de 1925.
Pe A. A. PEREIRA.
^". TRATADO DA;DIRECÇÃO
a CAPÍTULO DE INTRODUÇÃO
NOÇÕES PRELIMINARES
“Consiste a direcção espiritual na acção do Con-
fessor, posta à disposição das almas, para as ajudar a
encontrar seguramente o caminho que as há-de conduzir
à santidade a que Deus as chama, enveredando por êle
e prosseguindo, através de todás as dificuldades.
. *. E" de dois modos a direcção espiritual ; I,"
pas-
toral, quando proporciona a certa categoria de almas. os
meios gerais para se santificar e chegar à Salvação; e.
tal.é a direcção do Sumô Pontífice em tóda a Igreja, a
do. bispo' na. diocese, a do pároco na fréguesia e a do:
Superior na comunidade religiosa; e : | |
. .2.— Direcção de consciência, que tem por obje-
cto cada alma em particular, ajudando-a a triunfar das
dificuldades pessoais e a prosseguir pelas vias especiais,
«que a hão-de levar para Deus. | =
= v À direcção de' consciência subdivide-se em: a)
Ascética, que conduz para ‘Deus as almas pelas vias
comuns ou ordinárias da graça, e b) Mística, que as.
‘conduz pelas vias extraordinárias: a contemplação infu-
sa, Os êxtases, as revelações, visões, etc. is 91
DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA
CAPÍTULO PRIMEIRO :
Da Direcção, em geral
| — NECESSIDADE DA DIRECÇÃO
1.º —Será realmente necessária a direcção espiritual?
— Como vimos, é dupla esta direcção: pastoral e dire-
cção de consciência. A primeira é evidentemente neces-
“sária; basta a simples leitura do Evangelho para nos
. persuadir que ela é da essência do Cristianismo. Gover-
' nar todas as nações, foi missão de que Jesus-Cristo in-
“cumbiu os seus Apóstolos, sob a direcção Suprema de
: Pedro: «ide, ensinai todas as nações .. e ensinai-lhes a
observar tudo quanto vos hei mandado». — «Simão filho
- de João, tu amas-me?... apascenta os meus cordeiros...
apascenta as minhas ovelhas». |
E diz S. Páulo que o Espírito-Santo constituiu os
bispos para regerem o povo de Deus.
4 Quanto à direcção de consciência, é certo que não
: vem expressamente declarada- no Evangelho a sua neces-
sidade, mas é fácil vê-la insinuada na Instituição do Sa-
“ cramento da Penitência. | :
| A confissão dos pecados qual a instituiu Jesus-Cris-
“to e a Igreja pratica, comporta evidentemente os ele-
"mentos duma verdadeira direcção de consciência.
Demais, esta necessidade é reconhecida pela Igreja,
. que impõe a cada Comunidade religiosa um confessor
8 | DIRECÇÃO DE: / CONSCIENCIA
NIR, ao qual se apreselitam regularmente os seus
membros, para patentearem © estado da sua consciência.
e receberem as devidas advertências.
2º — A necessidade da és ia tal como a Igreja
a pratica tem o seu (andamento ;
A) — Na Escritura Sagrada.
,/ à) Vae soli, quia cum corruet, non habet sublevan-
“tem se (Eccli. iv, 9) onde o Espírito-Santo estigmatisa o
“isolamento espiritual da alma, que entregue a si mesma,
e sem auxílio, nào tem um guia que a levante, quando
caír, e encaminhe para o céu a sua marcha.
b) Cum viro sancto assiduus esto, quemcumque
cognoveris observantem timorem Dei, cujus anima est se-
cundum animam tuam, et qui, cum titubaveris in tenebris,
condolébit tibi (Eccl. xvii, 35).
Quem é éste homem santo, com quem deves sér
assíduo e que te susterá quando tropeçares, senão O
guia, o director espiritual? Mandando-te procurá-lo, .
ensina-te o Espírito-Santo, que deves seguir o caminho,
do temor de Deus, mediante a direcção espiritual.
c) Domine, quid me vis facere? Et Dominus ad
eum: surge, et ingredere civitatem, et ibi tibi dicetur
quid tibi oporteat facere (Act. 1x, 7)
-Chamado miraculosamente à conversão: pelo próprio
Jesus, S. Páulo pede no mesmo: instante instruções sôbre.
o que lhe cumpre fazer. O Sálvador nào lhas subminis-.
tra, mas envia-o para a cidade, onde um homem lhe dirá
o que há-de fazer. [Exemplo êste bem claro, que mostra
o desígnio da Providência em:não governar 'os homens
directamente por Si, mas por outros homens. Tal é a
interpretação óbvia e o sentir unânime da tradição cristã;
de sorte que se tornou tão clássico o exemplo de S. Páulo,
NECESSIDADE DA DIRECÇÃO pe 9 |
que, não só não póde ser esquêcido o iniciador do
grande Apóstolo nas vias da vida espiritual, (Ananias)
mas o seu nome será sempre dos primeiros na lista dos
-grandes e santos directores de almas.
sB)— No ensino da Tradição.
a) Dourores DOS PRIMEIROS SÉCULOS.
- S. Basilio (Serm. de abd.) diz que é preciso todo o
empênho para encontrar «o homem que há-de sêr
o guia seguro em todos os segredos da vida espiri-
tual». |
S. Jerónimo (Ep. 1v) recomenda a Rústico que nào
confie nas luzes da própria razão e que não entre sem
mestre numa verêda, que lhe é desconhecida e na qual
se póde extraviar ruinosamente.
S. Gregório (Livro dos Diálogos): «é preciso um
guia nos caminhos espirituais, ne dum se quisque simili-
ter -Spiritu-Sancto impletum praesumit, discipulus hominis
«esse despiciat et magister erroris fiat».
-b) Douronrs DA Ioane MÉDIA.
S. Bernardo (serm. 77 in Cant): «oúvi-me, 6 vós
todos que ousais trilhar o caminho (da virtude) sem mes-
“tre ou guia, porque dais a mão a um sedutor, se a reti-
rais ao conselheiro da vossa alma»? (3
Gerson (De dist. ver. revel. sig. 2): «o orgulhoso,-
que quer sér guia de si mesmo, nào precisa do demónio
“para ser tentado; é para si um demónio tentador».
c) Nos Tempos MoDERNOS.
. "Citemos apenas S. Francisco de Sales (V. Devota):
«quereis entrar a valer nos caminhos da devoção, pro-
curai um homem de bem, que vos guie e conduza.
\ E' a maior das advertências».
: |
IO DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
c) — Na razão.
O homem enfermo submete-se às prescrições do mé-
dico, para recuperar a saúde; o gnorante procura um
mestre douto para se instruir; o viandante segue con-
fado o guia que lhe indica o caminho. E no caminho
de Deus e da perfeição cristã, cheio de escolhos, de en-
ganos, de preconceitos e falsas sugestões, quanto mais
“preciso não é um médico, mestre e guia, para curar as
enfermidades da alma, dissipar'as trevas da inteligência
e conduzir a passos firmes na via da virtude!
Porque, a necessidades idênticas na vida temporal e
na vida sobrenatural aii HEN certamente remédios
análogos.
Deus, com efeito, imprimiu em suas obras um refle-
xo tão admirável e perfeito da harmonia sublime, que
caracterisa a sua natureza, que a razão nos leva a admi-
tir paralelismo manifesto na ordem sobrenatural, quanto
mais admirável e sublime! E’ pois, na ordem da graça;
necessário para a alma ésse médico, mestre e guia, — o
director espiritual.
3.º — Extensão desta necessidade. :
A) — E” necessária, em geral, a todos os que tendem.
fara a perfeigáo, como se deduz das razóes apresentadas.
Ora, todos os cristãos são chamados à perfeição, segundo
a palavra de Jesus: «estote perfecti, sicut et Pater vester
coelestis perfectus est.» Além disso, os Religiosos em
virtude da frofissão religiosa teem obrigação de tender
para ela mais particularmente; logo, é necessária a
todos e especialmente a estes últimos.
s—E' ordinãriamente necessária para aqueles
que já estão em estado de perfeição, como os bispos
e os sacerdotes. Esta asserção funda se:
a) Na Sacrana Escritura? «lae qui sapientes
NECESSIDADE DA DIRECÇÃO y II
"estis in „oculis vestris, et coram vobismetipsis
prudentes»
(Is. v, 21). «Nolite esse prudentes apud vosmetipsos»
(Rom. xit, 16).
Portanto; por mais versado que seja na sciência dos
Santos, não póde o homem confiar plenamente em si,
isto é, nas luzes da própria razão, como aqui nos adverte
o “Lire t
fex
E
b) Na DOUTRINA DOS DOUTORES DA IGREJA.
Santo Agostinho escreve a Auxílio: Fisne pron-
to eu, velho como sou, a ouvir os conselhos dum jóven
bispo, eù bispo há tantos anos! disposto a aceitar as
“advertências dum colega, que nem sequer um ano tem
de episcopado !».
E. S., Joáo Crisóstomo: «Não vos iludais, cuidando
bastar-vos a vós mesmos! Deus já nos formou por tal
modo que continuamente temos precisão uns dos outros;
“leva-nos a prudência a recorrer a outrem, pois muitas
vezes acontece, — e o exemplo de Moisés obedecendo
. aos conselhos de Jetro é disso prova evidente, — que
nem mesmo o sábio vê sempre o que cumpre fazer, ao
passo que um menos culto o póde vêr claramente».
.*e Santo. Tomás (1:1. IQ a. 3): «é preciso que até o
-sábio receba lições sôbre certos pontos, pois no que diz
respeito à prudência, ninguém se póde bastar a si intei-
ramente».
c) Na Razão.
fólico Por mais experimentado que seja, quantas
; vezes não póde o homem formar juíso seguro, sôbre o -
- qual assente, sem errar, o seu modo de proceder |
' "4 -O amor próprio e as paixões fazem ordinàriamente
pender para o êrro a balança da verdade, de fórma a
mais uma vez se confirmar o axiôma: «ninguém é juiz
em causa própria».
12. DIRECÇÃO: DE ICONSCIENCIA
| 6) — Por mais alto que sbjà o gráu de santidade ax
que:chegou um homem,icasiões há comtudo na vida
presente, em que as dificüldades são de tal ordem, que
. Se torna indispensávél um. guia caridoso e experimena
"tadó; tais os casos de aridez espiritual, tentações,
escrü-
pulos, etc. WE | ?
“-“c— Mas, a direcção é particularmente necessária
&os-sacerdótes, directores de almas. "
.a)' Diz. S. Boaventura: & Aqueles que teem a seu
cargo almas para dirigir, levem para procederem cóm
“prudência submeter-se por-$ua vez, à direcção'de outrem:
pará mim nem o Sumo Pontífice póde eximir-se a esta
obrigação».
l b) E uma verdade do bom senso. ^ i
i. «E! evidente que quantó mãiores forem. as responsa-:
bilidades,.tanto
maior é:a;necedsidade dé'luz e conselho.
r :. 5Um passo errado na direcção. duma alma .póde levár .
“a funestas consegiiências e:proóduzir no rebanho a: nós
>
confiado dolorosa repercussão. ;E, além disso, um .pas- :
tor com o dever do bom exemplo, tem particularmente -<
necessidade duma boa
direcção; de fórma: a` reálizat em *
sia palavra de S. Páulo: «Jorma: gregis ex animos.. -Ë
4.º — Rigor desta necessidade |
Não póde afirmar-se, que sêja tão necessária a dire- `
èção de consciência, que sem ela se.torne impossível em. -
tódos..os casos, chegar à perfeição. Tôda a regra tem. -
excepção. Com efeito:
..; a}. Póde acontecer, por exemplo, que uma alma;
ardendo em desejos de perfeição; nào encontre guia que
a conduza eficazmente. pelo: caminho da: virtude. :Se
comtudo se conservar animada de sentimentos de: humil-
NECESSIDADE DA DIRECÇÃO I3
dade e generosidade, e lançar mão dos meios ao seu
alcance para se orientar prudentemente no caminho do -
céu (meditação, exâme de consciência, abertura de alma
em confissão) Deus recompensará a sua boa vontade
com graças extraordinárias, que virão suprir a acção do
Director.
| 5) — Deus póde fazer excepção nas leis “ordinárias
. da sua Providência e acudir directamente pela acção do
Espírito-Santo às necessidades da alma. E' o que diz
S... Gregório: há almas que de tal fórma sentem dentro
de si as luzes e lições do Espírito-Santo, que embora
lhes falte exteriormente conselho dum guia humano, ou-
vem perfeitamente a voz íntima daquele que se tornou
seu Mestre» (Dial. I, 1).
yi
5° —A direcção será necessária á salvação?
. Já vimos que de ordinário, não é possível avançar
. prudentemente no caminho da perfeição sem direcção
espiritual, ^ Vamos mais longe e afirmamos que há-de
~ haver muitos condenados no inferno, que se teriam sal-
vet mti
nemo
vado se tivessem encontrado nesta vida um hábil dire-
`= ctor. Logo, a certos pecadores é necessária para se sal-
4 Varem, a direcção de consciência. à
|1— OBJECTO DA DIRECÇÃO
; I.^-— Purificar, robustecer e aperfeiçoar a alma que
caminha para Deus,
lançar mão de tudo quanto contri-
. bua para conseguir éste desideratum, eis a alta mis-
- são, O nobre munus do director espiritual. Há, com
efeito, três estádios a percorrer no caminho que leva ao -
s céu: no primeiro a alma /ava-se, purga-se de todas as
. impurezas e restos do pecado, despoja-se de tóda a izcor-
-Fecção; no segundo, veste-se com os adornos da virtude
€ no terceiro une-se no tálamo mais santo ao celeste
^ Espóso, à “espera da união perfeita no céu. A direcção
m
e
I4 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA | P
apodera-se do homem desde os:seus primeiros passos e
só o deixa, ao fazê-lo transpôr a entrada da sala nupcial;
fiscalisa tódas as particularidades da vida da alma e re-
gula cuidadosamente todos os preparativos para a união
eterna.
2.º — Deve o director, para poder guiar com pru-
dência o seu discípulo, conhecer perfeitamente — as suas
necessidades e além disso contar com os seus recursos:
a) Saberá — auscultar habilmente o interior da alma,
afim-de lhe conhecer as misérias espirituais, — traçar-lhe
um plano de vida interior, com que se purifique, — im-
pôr-lhe regras e prescrições, —e observar se põe em
prátiçasos seus conselhos. | -
Tx. Jrta-lhe conhecer não só as faltas cometidas,
mas ainda as imperfeições, enfermidades espirituais e
perigos de ordem moral. ó— Deve conhecer também
os recursos de que a alma póde dispôr, para os
reger com o seu critério de mestre, utilisando-os
para a santificação da mesma, para o bem da Religião e
da Igreja. Estes recursos espirituais compreendem, apti-
dóes, atrativos para o bem, hábitos bons já contraídos e
socorros exteriores, que facilitam a virtude.
[11-ºFREQUÊNCIA DA DIRECÇÃO
A freqüéncia da direcção depende das necessidades
da alma e do meio em que se exerce,
Manda a prudência que praticamente se observe
esta regra: 1.º (Conceder quanto seja necessário ou
sériamente útil; 2.º Cortar quanto seja inconveniente
ou não contenha utilidade real.
Inconvenientes desta ordem, que variam consoante
O meio em que se vive, são, o dar nas vistas e causar
desconfianças; os zêlos ou ciúmes; o perigo de afeições
humanas; as perdas de tempo, ètc. Transcrevo a êste
respeito um capítulo do meu livro «Ze secret des confes-
sions ferventes»: |
dy
M
NECESSIDADE DA DIRECÇÃO I5
Confissão quotidiana
A). Para os pecadores: Se tiveres a desgraça de
caír em pecado mortal; confessa-te quanto antes. E' éste
| o meio instituído por Jesus-Cristo para perdoar o pecado
grave, que proíbe o acesso à Mesa-Santa, nos torna inca-
pazes de todo o mérito e nos coloca em estado de con-
denação. Se, portanto, no princípio da tua conversão
é tal a tua fraqueza e a sujeição aos máus hábitos, que,
não obstante resoluções e esforços, é raro nào caíres
quotidianamente em faltas graves, não receies confessar-
-te todos os dias até que chegues a triunfar completa-
mente do mal.
B). Para as almas piedosas.-— a) Em regra, nào
deve admitir-se. Para muitas.almas, mulheres sobretudo,
a confissão assim frequente apresentaria inconvenientes
tão graves, que dificilmente compensariam as vantagens
a esperar. Favoreceria as mais das vezes a triste doença
dos escrúpulos, redobraria o perigo da rotina, daria ense-
jo a suspeitas e críticas, sem devida compensação ;
emfim seria para o confessor um excesso de trabalho
incomportável.
b) — Por excepção, poderia permitir-se a confissão
qüotidiana a almas a quem Deus chamasse a essa prática
por um atractivo especial, devidamente reconhecido,
E’ talvez o único caso em que nos parece imitável o
exemplo de certos santos, como lémos de S. Carlos Bor-
'romeu. Fóra disso deve o Director mostrar-se excessiva-
mente difícil em' reconhecer uma tal vocação, tratando-se
particularmente de mulheres ou de pessõas, ávidas de
consolações humanas, de piedade mais rotineira do que
sincera, de ideias acanhadas ou escrupulosas.
Confissão hebdomadária
E' a regra geral para as fessóas piedosas, -— e uma
|
16 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
«alma eucarística aceita com agrado esta prática, tanto
mais que a Igreja a aprova, concedendo que lucre tôdas
as indulgências plenárias, que requerem confissão; quem
tiver o hábito de se confessar todos os oito dias. Prática
muito recomendável, àlém disso, à mocidade, pois nessa
quadra da vida mais urge prestar contas com frequência
do estado da alma, bem como maior é a necessidade de
luzes e de direcção assídua, para se chegar a uma segura
formação de consciência.
Confissão quinzenal
Há dioceses, por exemplo a de Namur, às quais
concede a Santa-Sé pára a confissão quinzenal, a respei-
to de indulgências, o privilégio de que gozam as pessóÓas,
que se confessam todos os òitos dias. Graça esta muito
preciosa e de grande proveito para as almas, que sem
comungarem todos ou quási todos os dias, não sentem
necessidade de se confessar cada semana.
Confissão mensal.
Há almas eucarísticas, que não podendo confessar-
-se: mais a miúdo sem sérios: incómodos, se cóntentam
com a confissão mensal. De fórma que vida encarística
e confissão periódica, de mez que seja, não são incom-
patíveis com o espírito da Igreja, que também concede
às almas que comungam diária ou quási diáriamente a
facilidade de lucrar sem confissão as Indulgências, que a
requerem. *
Pessóas com efeito de consciéncia formada ou já
experimentadas na vida espiritual podem levar uma vi-
da fervorosa, confessando-se apenas de mez-a-mez.
E onde seja maior a tarefa dos confessores, tenham
essa caridade as pessôas piedosas, que não precisando de
conselhos especiais, prosseguirão não obstante com ver-
dadeira piedade, e ao mesmo tempo darão lugar aos pe-
cadores ou a almas necessitadas.
NECESSIDADE DA DIRECÇÃO. . ^ I7
Igual conselho para aqueles que, não possam confes-
Sar-se com mais freqüéncia quando os deveres de estado,
ou a má vôntade da família o não permitam. Saibam,
sem deixar a comunhão, fazer o sacrifício da confissão
Pd
que lhes não é necessária. É
IV— 0 PADRE E A DIRECÇÃO DAS ALMAS
E? certo que podem encontrar-se fóra do sacerdócio,
| pessõas competentes para dirigir outras no caminho da
perfeição, e isto mais em particular nas comunidades re-
ligiosas. |
! Comtudo é preciso reconhecer que é o Padre
“especialmente destinado pela Providência para função tão
safa e delicada. Daí a obrigação no sacerdote de se
tornar apto para tão alto ministério e de se aplicar a
.exercé-lo com o mais ardente zélo. Vejamos em que se
“funda esta: doutrina: | |
I. Na Escritura: «Labia sacerdotis custodient
scientiam, et legem requirent. ex ore ejus, quia Angelus
` Domini exercituum est (Malach. 1); texto que nos ensina
«ser o padre enviado de Deus, e seu intérprete; de seus
-lábios deve desprender-se uma torrente de sciéncia sagra-
.da e da sua bóca tém os fiéis o direito de ouvir a lei di-
‘yina e os segredos da vida espiritual. Numa palavra,
.aos fiéis assiste o direito de serem por éles dirigidos na
senda da perfeição.
(d
* Razões teológicas: a). O Evangelho reprova o
procedimento daqueles queienterram os talentos, em vez
“de os fazerem frutificar. Ora, na sua formação, o padre
“adquire talentos preciosos que. o habilitam para dirigir -
“eficazmente as almas no caminho da perfeição: a prova-
“ção na virtude durante o tempo dos seus estudos e a
demorada iniciação em tôdas as sciências sagradas, forne-
“cem-lhe cabedal e aptidões, com que procure às ovelhas
-“ óptimo pastio. Por isso, quam digno não é de reprova-
a
I8 DIRECÇÃO DE' CONSCIENCIA
AS l
ção o sacerdote que lhes nega os talentos adquiridos;
quando elas apenas reclamam um guia para progredirem.
na vida perfeita. |
à) — Ministro privilegiado do Senhor, deve o padre
arder no desejo de procurar a sua glória. Ora, é certo
que uma alma perfeita póde dar mais glória a Deus do
que muitos cristãos imperfeitos ou pecadores; por con-
seguinte, o padre segundo o Coração de Deus, sem
esquecer as outras obrigações do seu munus sacerdotal,
há-de experimentar forçosamente no seu fervor uma
grande necessidade de ajudar as almas a elevarem-se ao
mais alto gráu de perfeição. E' pois, dever que lhe im-
põe o seu ardente amor para com Deus.
c) — Cooperador de Deus na obra da salvação dos
homens, deve o padre aproveitar com empénho tóda a
ocasião de fazer bem às almas. Ora, no cumprimento
dos deveres do seu santo ministério e em particular no
tribunal da Peniténcia, encontra-se muitas vezes em con-
tacto com almas, que só esperam o auxílio duma boa
direcção para se encherem de virtudes e merecimentos.
Seria bem repreensível, se nào se prestasse a outorgar-
-lhes tão eminente serviço.
Como tornar-se apto o sacerdote psra dirigir as
almas. Deve primeiro adquirir as qualidades que dis-
tinguem um bom Director. Quer S. Francisco de Sales
que êle seja cheio de caridade, de sciência e de prudên-
cia (Vida dev.-p. I, cap. vr).
Santa Tereza enumera quatro qualidades, que o P.
Poulain, inspirado na doutrina da Santa, exprimiu assim :
1.º) — Seja judicioso, isto é, dotado de, espírito sólido
(Vida, cap. xi). 2.º — Seja piedoso; sendo homem de
oração e procurando primeiro a própria santificação ;
tenha portanto um conhecimento prático e pessoal da
vida espiritual ao menos para os casos mais comuns;
4^
NECESSIDADE DA DIRECÇÃO : I9
daí lhe advirá certa aptidão para conduzir o» outros
< (ibid). Mas o melhor seria ter éle experimentado tam-
bém os estados místicos. i
33) Sia douto, conhecendo bem a teologia, em
particular-a teologia ascética, porque desta fórma ser-lhe-
-hão familiares as regras fundamentais da direcção (ib.).
Não quer a Santa padres de medíocre sciência, a quem
tudo assusta e cuja ignorância-a ela tanto danificou
(Cast. 5, 1). Quando .o confessor é piedoso e de bons
costumes é preferível não ter sciência nenhuma a pos-
suir uma sciência mediocre, porque nesse caso descon-
fiará das próprias luzes e tomará conselho com homem
de saber (Vid. Cap. v).
4.º) + A quarta qualidade que Santa Tereza exige
do Director, quando conduz as almas nas provações dos
estados místicos é a bondade. «Il certo que póde sub-
meter a alma a grandes sacrifícios, para que chegue a
triunfar dos seus defeitos, mas isso não impede que lhe
testemunhe interêsse e confianga e a console quando so-
fre... (Cap. xxur, 40).
«Sabe-se pela regra do discernimento dos espíritos
qual é o género de acção própria do bom e do máu
espírito; um consola e fortifica, o outro desvanece, per-
turba e abate. O Director, consócio do Anjo da Guarda,
deve regular por êste e não pelo adversário a sua acção;
é também o auxiliar do Espírito-Santo, cuja influência
.. consoladora tão bem descreve a prosa «Veni Sancte Spi-
— ritus», |
S. Carlos Borromeu diz por sua Vez: «Ita sancte
vivere
studeat, ut poenitentes, non verbis solum, sed
exemplis quoque ad virtutum christianarum officia erudire
possit; neque ejus dicta a factis ullo modo dissentiant:
quanto enim magis omni virtute praecipueque charitate
paterna, zeloque salutis animarum ipse praecellentior erit,.
tanto aptius erit instrumentum bonitatis Dei (Inst. poen.
20 re vd : Fi DE | CONSCIENCIA *
2 act” p. 1v). Opus. èst" Sat ib tum scientiam. atque
erudi- :
` lionem, tum prudentiani studeat sibi, quantum potest .
` pa (Ibid.). ^
“ Escolhos a evitar na Tr das almas
| sirna S, Calos Borromeu são: «à vanglória, a
cubiça, a curiosidade, e as -afeições humanas», a que : se
póde acrescentar a zélotipia.: o
: — Vanglória. Sie KEAR em certos padres.
PA cujo empénho e preocupação é ter grande
A clientela, ..; ambicionam até a reputação de «mangas
largas», de homens do mundo, de directores fáceis, có-
modos, passageiros! Até onde chega e até onde leva a
vaidade e a falta de a sacerdotal !
2.º — Cubiça. — No. intento de «levarem a água ao
seu moínho» ou de obterem recursos para os seus em-
preendimentos, ou ainda para atraírem a si liberalidades,
, de que disfrutaráo com certo:góso, descem miserâvelmen-.
te:a lisonjas e condescendências, que de fórma alguma
“se podem coadunar com a sã teologia; nem com o yer- -
.dadeiro zêlo... A estes, a: tão grande necêdade, que
diria o Apóstolo S. Páulo?! :
3.?— Curiosidade. — Póde levar a indiscrições, tor-
na odiosa a direcção e é origem de grandes perigos.
Quem o duvida? 3 2
. 4^ — Afeicóes humanas. Lima não tremer diante
dêste pensamentb PU A
Prender a si, à sua pessóa, almas que o padre devia
iate para Deus... cavar-lhes um abismo em vez de
as salvar, oh! insânia sem igual | «De tóda a conversa-
ção inútil, diz S. Vicente de Páulo, a mais perigosa é a
que o penitente houver com, o confessor; os bons con-
fessores só vêem os seus penitentes no confessionário $ `
NECESSIDADE DA DIRECÇÃO ^ | ^ ET
“desde que há familiaridade, perdém a graça e o talento
-para promoverem uma boa direcção». Faz-nos Santo
"Agostinho uma grave recomendação para nos conservar-
-mos de sobreaviso contra as afeições humanas e para
“nos prevenirmos contra seus perigos : T |
i «Amor
spiritualis generat affectuosum, - affectuosus
ebsequibsum, obsequiosus familiarem,
familiaris carnalem».
| 5.º — Zelotipia. — Como é ridículo o proceder de
“certos confessores ciosos, que visivelmente querem bri-
Jhar e até rivalizar pelo número e qualidade de seus peni-
tentes, e ao mesmo tempo empregam tôda a sorte de
expedientes para roubarem a clientela a outros confesso- '
res...; “e consideram grande triunfo terem o confessio-
nário sitiado por grande cópia de penitentesl... oh!
quanto os Santos temiam os sucessos que êles ambicio-
-nam e que acarretam tão pesadas responsabilidades |
Quem poderá calcular o grave detrimento que advém
para as almas de tão puéris e indecorosas contendas |
.. A quem são particularmente necessárias as qualida-
. des de bom Director?
“Aos Directores das comunidades religiosas.
As almas consagradas a Deus pela profissão religio- -
“sa estão mais particularmente obrigadas a tender para a
perfeição. ?
css Ora, algumas há entre estas, a quem Deus chama
. por vias extraordinárias à santidade, almas de eleição,
= que teem o direito a socorros exteriores que as façam
corresponder ao chamamento divino. E como a legisla-.
. ção canónica, pelo facto mesmo delas precisarem de dire-
cção séria e bem atenta, lhes restringe a liberdade na
escolha do Confessor, seria traír os direitos dessas almas
e os. de Deus, assumir o encargo de confessor ordinário
ou extraordinário, sem primeiro adquirir as qualidades
necessárias para tão nobre ministério. Eis como a êste
respeito se exprime Mgr. Lelong (Le bon Pasteur, Conf.
i25 7 67 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
I3): «Por isso, Senhores, o'vossso primeiro dever rela-
tivo ao ministério da confissão das religiosas, é formar
dele uma idéia elevada e tê-lo na mais alta estima, de
fórma que não ouseis ingerir-vos levianamente e sem
preparação neste munus sacerdotal. A vossa fé e zêlo
vos hão-de mostrar que os caminhos da vida religiosa,
cimos sublimes da perfeição, não são vias ordinárias, e:
que para conduzir por êles os outros seguramente, não
bastam guias inesperientes. . De sorte que sómente os.
que possam exclamar como o Anjo a Tobias: mov: et
omnia itinera ejus frequenter. ambulavi (Tob. v, 8)—
estes caminhos eu os conheço e muitas vezes os hei per-.
corrido» — poderão tomar sôbre si tão pesado encargo.
V— QUALIDADES DA BOA DIRECÇÃO
Deve ser: esclarecida, prudente, firme, caritativa e
diversificada, consoante as necessidades de cada alma.
1.º — Esclarecida; pois que for o Espírito-Santo
quem traçou o caminho que conduz à justificação e à
santidade, não póde o guia oficial da. viagem ser inspira-
do senão por Ele, como ninguém póde fugir às suas indi-
"cagóes, sem se perder. De nada vale, portanto, o que
pomposamente apelidam de «teologia do coração e do
bom senso ..» q
E’ nos livros sagrados, nos ensinamentos da Igreja,
na doutrina dos Santos, nos manuais autorisados da teo
logia, que se deve haurir essa sciência fecunda, sólida e
abundante, que será base segura nas decisões a dar, nos
conselhos, juísos e advertências. Sem esta formação inte-
lectual, acumulada à fôrça do estudo da teologia e dos
bons autores, ficará sempre o guia espiritual com a inte-'
ligéncia mais ou menos toldada de trevas, e a direcção
“não será, nem douta, nem esclarecida, verificando-se tris-
temente a palavra do Salvador: «Coecus autem si coeco
ducatum
praestet, ambo in foveam cadunt» (Math. xv, 14)
E então, quantas hesitações, incoerências, decisões
+
QUALIDADES DA BOA DIRECÇÃO 23
arrojadas, conselhos arbitrários e quantas almas extravia-
das ou imobilisadas, por falta de direcção esclarecida |
2.º — Prudente. E’ a prudência uma sabedoria so-
brenatural, que leva o homem de Deus a discernir o jus-
to termo e a encontrar os meios mais aptos, as combina-
ções mais acertadas, para a santificação de cada alma. A
direcção prudente — a) evita a pressa imoderada, a atra-
palhação, a precipitação e as intenções reservadas ; b) re-
corre de contínuo às luzes da sciência e experiência, con-
tando antes de tudo com o auxílio da graça; vale-se com
habilidade dos socorros sobrenaturais e recursos naturais;
ao mesmo tempo, a sua grande fôrça é a oração e a mor-
tificação..., a reflexão e o estudo..., com o empênho
de descobrir e pôr em acção tôdas as energias que a za-
tureza e a graça proporcionam a cada alma.
Postas e realizadas estas condições, e aplicados êstes
elementos, terá o director garantia inegável de bom êxi-
to; mas falte uma ou outra e a sua obra ficará mais ou
menos comprometida: se falta a oração, póde Deus não
abençoar; faltando o jZ/uew, aliás a mortificação, a natu-
reza, falha de disciplina e sem freio, permite que trevas
densas anuviem o espírito e obscureçam o juíso; se a
sciência e a reflexão é que faltam, não há luz, nem clari-
dade no caminho a seguir; se ao penitente se não pres-
tam os indipensáveis socorros espirituais, ei-lo dentro,
em pouco, frio, tíbio, desalentado; ponha-se finalmente
de parte a natureza e seus recursos, e eis que se enfada
e paralisa o espírito, porque, como observa um piedoso
autor, «muitas almas ficam sempre as mesmas na pieda-
de, porque certos directores, aliás pios e cheios de zêlo,
se limitam pura e simplesmente a combater nelas a natu-
reza, em vez, de pensarem com ardor em a sobrenaturali-
Zar». Asfixiar, pois,
a natureza ou suprimi- -la, é nào só
érro, mas ofensa a obra de Deus; reprimir nela o mal e
cultivá-la no que tem de bom, é concorrer para a sua
glória e para a santificação da alma.
E de notar que para isso, importa estudar com cui-
24 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
dado, o temperamento, © NN as often dominantes
e até a educação primeira de cada penitente. (Concorda
perfeitamente esta doutrina: com o que ensina o Doutor
da Piedade, S. Francisco de Sales: «não quer (o santo)
que o Director de consciência derrube, esmague ou des-
trua a natureza, antes a estude e purifique, levando-a
pélos ensinamentos da
fé até o sobrenatural; porque
Deus assenta sôbre as aptidões de cada um, o princípio e
d.base da santificação pessoal» (Método da Direcção de
| S. Fr. co
de Sales).
3.º — Firme. — Dizem os Livros Santos que a divi-
na Sabedoria prossegue com fórça desde o princípio até
ao fim a realização da sua obra: «attingens a fin? usque
ad finem fortiter»; eis o modêlo do Director de almas:
seja forte, porque tem de sêr constante, afim-de paten-
tear incessantemente à alma a meta a alcançar e de a
impulsionar por um caminho, por vezes, emaranhado de
precipícios e dificuldades. Se assim não fôr, verá o seu
discípulo acobardar-se a: cada instante perante os obstá-
culos; se hesita e teme, perderá o equilíbrio e ficará sem
fôrças em face dos desalentos e passos titubiantes daque-
les que não só devia conservar adentro do bom caminho,
como impelir para maior perfeição. E’ indispensável sêr
firme... Calmo, mas ao mesmo tempo forte, deve qgue-.
rer enérgica, tenazmente o progresso do penitente; nào
obstante decepções e contrariedades, cumpre reavigorar
de contínuo, impulsionar resolutamente, e se tanto fôr
mistér, à imitação dos Ambrósios e Franciscos de Sales,
com um vigor todo apostólico, desanuviar os olhos dos
cégos... corrigir com veemência os imprudentes e frou-
xos... estimular sem condescendência as almas de alta
têmpera, «que Deus chama a elevada piedade e às quais:
“não desculpa faltas voluntariamente cometidas».
|^. 4.0 — Caritativa. — Com fórca e suavidade no em-
prêgo dos meios e prossecução do fim, procede diz a
Escritura, a divina Sabedoria, «disponens omnia suaviter»,
QUALIDADES DA BOA DIRECÇÃO | 25
donde vemos que a firmeza bem entendida deve reves-
tir-se de doçura e suavidade. Com a sua encantadora sim-
plicidade adverte-nos S. Francisto de Sales que é muito
mais fácil apanhar môscas com uma colhér de mel, do
que com um tonel de vinagre, por isso, O grande segrê-
do que êste Santo possuia em atraír a si as almas para
as conduzir a Deus, tinha o fundamento na sua inesgotá-
vel bondade, porque para insinuar a devoção, procurava
primeiro torná-la amável. Ora, esta bondade que arreba-
ta os. corações é tóda paciência, afeição, dignidade, abne-
gação e dedicação; desagrada-lhe tudo o que fôr excesso,
pelo que só se abriga na alma pacífica, serêna e tran-
quila; desvia instintivamente para o lado tôda a paixão,
que venha a viciar ou deturpar o coração; igualmente
distante da familiaridade que rebaixa e da rigidez que
repele, desconhece o rigor implacável e a indulgência
comprometedora... detesta, ora a severidade extrema,
ora a sensibilidade mesquinha e ridícula... trata com
deferência, mas conserva dignidade... sabe e intei-
ramente, mas sem nunca descomedir-se... inspira res-
peito e desperta confiança... torna-se agradável, não
pelo refinado egoísmo, que tenta conquistar afeições e
reconhecimento, mas porque o seu objectivo é tornar
suave um jugo que pesa e dilacera...; nunca despede a
alma que teve de escalpelizar com amarga censura, sem
primeiro verter no seu coração um bálsamo consolador
de incitamento e suave tranquilidade,
5.º — Diversificada. — Embora seja “sempre a mes-
ma nas linhas essenciais, deve a direcção ser variada e
até acomodada, consoante as diferentes espécies de pes-
sôas a que se refere:
1.º — Pecadores, almas tíbias, almas piedosas e al-
mas perfeitas,
2.º — Crianças, jóvens, estudantes, adultos e velhos.
3.º — Casados, celibatários, religiosos e sacerdotes.
26 j boosec y DE CONSCIENCIA
4.º — Pessôds de consciência recta.e pessÓas de con-
sciéncia pisse j
o 5º — Pessóas que ingressaram nos estados místicos,
e outras.
; Nos capítulos subsequentes nos ocuparemos em par-
ticular destas diferentes classes de pessõas no que toca a
direcção espiritual. Por agora, transcrevemos, a propósito,
oque nos diz, em conformidade de idéias, S. Gregório,
papa : «Neque. enim. una eadem cunctis exhortatio con-
gruit, quia nos cunctos pat morum qualitas adstringit ;
saepe namque aliis prosunt... et medicamentum quod
hunc morbum
imminuit, E virus jungit; et panis,
qui, vitam fortium roborat, parvulorum necat. Aliter
namque admonendi sunt viri, aliter foeminae, quia illis
gravia, istis vero injungenda. sunt leviora. Aliter juvenes,
atque aliter senes, quia illos.plerumque severitas admoni-
tionis ad profectum dirigit, istos vero ad meliora opera
deprecatio blanda componit. Aliter inopes, atque aliter
ocupletes;; illis namque offérre consolationis solatium
contra tribulationem, istis vero inferre metum contra ela-
tionem debemus». «Aliter laetos, atque aliter tristes; lae-
tis videlicet inferenda sunt Zristia quae sequuntur ex
supplicio, tristibus vero > inferenda laeta quae
promittun-
tur ex regno».
«Aliter subjecti, atque. aliter praelati, illos ne subje-
ctio conterat, istos ne locus superior extollat; illi ne mi-
nus quae
jubentur impleant, isti ne plus aequo jubeant
quãe
compleantur; illi ut humiliter subjaceant, isti ut
temperanter
praesint». «Aliter sapientes, atque aliter he-
betes; illi
admonendi sunt ut sciant amittere quae sci-
unt, isti,
ut, appetant scire quae nesciunt.
. Aliter
impudentes, atque aliter verecundi; illos
namque ab
impudentiae vitio increpatio dura compescit,
istos autem
plerumque ad melius exhortatio modesta
componit».
. Aliter impatientes, atque aliter patientes; illi dum,
reponere spiritum negligunt, per multa, etiam: quae non
QUALIDADES DA BOA DIRECÇÃO 27
appetunt, iniquitatum abrupta, rapiuntur, quia mentem
impellit
furor quo non trahit desiderium. Isti studeant
diligere quos sibi necesse est tólerare, ne si patientiam
dilectio non sequatur, in deteriorem odii culpam vitiis
ostensa vertatur».
Aliter benevoli atque aliter invidi: dicendum est
benevolis ut cum proximorum facta, conspiciunt, ad suum
cor
redeant, ne bona laudent et agere recusent...
. Admonendi sunt invidi, ut perpendant quantae coecitatis
sunt, qui aliena exaltatione contabescunt; quantae infe-
licitatis, qui melioratione proximi deteriores sunt».
Aliter humiles atque aliter elati... Audiant humiles
quam sint aeterna quae appetunt, quam transitória quae
contemnunt.
Audiant elati quam sint transitoria quae ambiunt,
quam aeterna quae perdunt».
CAPÍTULO SEGUNDO
“Código fundamental da Direcção de Consciência
I—- DISPOSIÇÕES GERAIS QUE IMPORTA CONSE-
GUIR DOS PENITENTES .
São quatro: — Sinceridade perteita, plein de .
oração, — generosidade, — e docilidade.
. Se faltar uma ou outra destas qualidades, verá o
confessor frustrado o seu zélo e constatará com mágua.
que trabalhou”em terreno estéril. . |
Sinceridade Deren
1.º — Porque é necessária ? —
| a) porque faltando ela voluntariamente, arrasta
muito naturalmente para o tremendo crimé de sacrilégio;
ora êste é o maior dos obstáculos à vida da graça, pois
coffverte em veneno os dois principais remédios das mi-
sérias humanas, a Penitência e a Eucaristia; por isso
mesmo, torna totalmente improfícua a direcção espiritual.
" E
../ 5) — Em assuntos menos graves, mas atinentes à di-
recção, a falta de sinceridade induz a êrro mais ou me-
nos grave o guia espiritual, e daí procedem muitas vezes,
“as decisões erróneas, desacertadas e até nocivas. Diz a
êste respeito S. Francisco de Sales: abri com sincerida-
de e fidelidade o vosso coração (ao Director), manifestai-
DISPOSIÇÕES GERAIS 29
-ihe claramente o bem e o mal, sem disfarce, nem dissi-
mulação; desta arté será o bem examinado mais cuida-
“dosamente, o mal corrigido e prontamente reparado;
tereis conforto nas aflições e moderação nas consolações
(V. devota, 1, 4).
“2.º — Sua extensão. —
a) Sob pena de sacrilégio, (é doutrina da Igreja) é
obrigado o penitente a declarar em confissão — à parte
“o caso de obstáculos invencíveis, extrínsecos ao Sacra-
mento — todos os pecados mortais, certamente: cometidos,
que, após sério exâme, acuse a consciência, com indica-
ção para cada falta, do número de vezes, exacto quanto
possível, da éspécie e circunstâncias que a mudem.
b) Além disso, das mencionadas palavras do Dou-
tor da piedade se conclui que o penitente deve levar o
director espiritual ao conhecimento de tôdas as suas dis-
posições interiores, como sejam faltas principais, dificul-
dades, tentações, inclinações, esforços, éxitos e revézes,
emfim todo o movimento da sua vida interior.
3.0 — Como conhecer a falta de sinceridade.
Se Deus concede, por vezes, aos Santos o dom de
lêr no. íntimo dos corações, aos sacerdotes de vida inte-
rior não recusa as graças de estado, necessárias para O
desempênho cabal do seu ministério e até no que respei-
ta ao caso presente, o dom de discernir as consciências.
Demais, a prática contínua de lidar com as almas,
confere ao director sagáz e experimentado, tal como
acontece aos já idosos cultores da medicina, dados bas-
tantes para um diagnóstico fácil e seguro.
Emfim, aos jóvens directores de almas apresentamos
alguns sinais, mais ou menos certos, da nào sinceridade
do penitente; é caso para supór reticências culpáveis-— |
a) quando pessóas de vida evidentemente pouco fervorosa
i .
30 DIRECÇÃO DÉ, CONSCIENCIA j
se? "apresentam na vok ialo. com enfado manifesto,
para só acusarem uma 'óu outra falta, de ordinário, insi-
gnificantes; 4) quando, sem piedade verdadeira, teem
quási sempre a mesma fórmula de acusação, ainda que
enredadas em sérias dificuldades interiores; fazem as
declarações muito ao dé leve, truncando-as até,.e tudo
resumem numa recitação maquinal, sem nunca necessita-
rem um conselho ou elucidarem uma dúvida”, <) quan-.
do pessõas, exteriormente exemplares, se absteem, num
meio onde é notável a freqüéncia dos sacramentos, de os
procurar com assiduidade, podendo fazê-lo sem dificulda-
de; d) quando pessõas, aliás pouco timoratas, se apre-
sentam contra o costume inquietas e sobressaltadas e afi-
nal apenas proferem as banalidades usuais das outras
confissões; e) da mesma fórma aquelas que sem serem
escrupulosas, se perturbam - ey confundem, ao ouvirem
falar com calor sôbre as verdádes eternas, novíssimos,
sacrilégios — ou ainda, em casos idênticos, simulam não
ouvir o pregador; f) também as que, longe de passa-
rem pela provação das sccuras espirituais, manifestam
pronunciado tédio pela oração e actos de piedade; g)
finalmente, quando pessóas na 'aparência piedosas e cons-
tantes por carácter, se mostram, ao contrário, versáteis
na escolha de confessor, ou preferem quási sempre con-
fessor desconhecido. |
— Que cumpre fazer para conseguir a since-
ridade em e
a
Deve o director: a) conquistar a confiança dò pe-
nitente por um porte digno e reservado, bondade pater-
nal, discreção sem limites e inflamada piedade; b) faci-
: Wlar-lhes as comunicações custosas, evitando ao ouvi-las
espanto, admiração ou descontentamento; mostre, pelo
contrário, bondade tanto maior, quanto mais custosa fôr
a confidência particularmente tendo a seus pés almas
tímidas, pusilânimes...
Chegue mesmo a felicitar discretamente o penitente
| DISPOSIÇÕES GERAIS 21
por sinceridade. tão louvável, e a significar-lhe mais esti-
ma e simpatia; c) ao mesmo tempo, fará por conseguir
a abertura plena do coração, mediante perguntas bem
“escolhidas e bem postas;
| Quantas vezes ficará gurpreendido por revelações
inesperadas, se souber interrogar com arte e propósito!
Se assim não fizer, se apenas se contentar com as
acusações que espontâneamente lhe fizerem, sobretudo
tratando com almas pouco comunicativas ou que vivam
em meios isolados, colherá muito frívolos resultados, bem
como pobre e estéril será o seu trabalho. Cumpre por-
tanto, indagar minuciosamente, porque há pessóas, que,
parecendo aliás mui sinceras, apenas levantam — em ma- `
téria de castidade particularmente — a ponta do véu, que
encobre as suas misérias, e não vào mais adiante, se o
confessor lhes não estende a mão para as desvendar com-
pletamente...
Será ignoráncia?... dificuldade de expressão?...
falsa vergonha ?.
As causas pódem ser muitas, mas o certo é que o
facto se dá freqüentemente; d) recorrerá á oração e
mortificação, para que Deus lhes conceda a graça da
humildade e ânimo forte para triunfarem do vão receio e
vã repugnância, que experimentam em se confessar.
Espírito de Oração
1.º — E’ necessário a tôdas as almas.
Sendo Deus o princípio de tôda a vida espiritual,
ninguém póde caminhar para Ele, nem adiantar na per-
feição sem O seu concurso, isto é, sem o auxílio da graça.
Ora, é lei geral da Providência que a graça só é concedi-
da a quem a pedir com insistência, «gui petit, accipit».
Exortar, portanto, e levar as almas à prática da oração,
é provocar a intervenção de Deus e garantir a primeira
condição de progresso: «quanto magis Pater vester da-
bit spiritum bonum petentibus se». Da alma que descure
Fn.
32 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
a: oração pelo contrário, nada há a esperar, por melhores
que sejam as suas qualidades e disposições naturais:
«sine me nihil potestis facere». Verdade fundamental, que
Santo Afonso resume nestas palavras: «o que ora salva-
-S€, 0 que não ora, perde-se».
2.º — Em que consiste o espirito de oração.
O espírito de oração é um estado de alma que nos
dispõe a recorrer a Deus fàcilmentf para obter o seu
auxílio. o
O que tem o espírito de oração, assemelha-se à <
criancinha, que em face do perigo ou de necessidade
urgente, ergue aflicta os braços para sua. mãe, suplicando
amparo e buscando refúgio.
Mas, como diz N. Senhor, não consiste o espírito de
oração em proferir muitas palavras: «orantes nolite mul-
tum loqui, sicut ethnici: putant, quod in multiloquio suo
exaudiantur (Math. vi, 7). Temos contudo a fazer a se-
guinte
`~ Observação: Se por agora insistimos em que a
oração deve ser breve, embora freqüente, não é que con-
testemos à oração prolongada valor ou importância, pois
esta mortifica mais as nossas faculdades, favorece o reco-
lhimento interior, tranquiliza a alma e dispóe-na para o
espírito de oração: e por isso que nos desprende das
coisas da terra pela união mais íntima com Deus, consti-
tui uma homenagem mais digna, excelente e completa
para com a divindade..;; nào se póde todavia impór
indistintamente a tódas as almas, por nào ser essencial à
vida perfeita.
Qual é o Director — que Sobrecarrega com
práticas de piedade indistintamente os penitentes, sem
atender que, ora vai de encontro ao cumprimento dos
deveres do seu estado, ora os precipita por excesso de -
fadiga, no aborrecimento e tédio: espiritual? E’ êrro la- .
mentável exigir muito nos começos da vida espiritual,
DISPOSIÇÕES GERAIS 33
porque os longos exercícios de piedade, por reclamarem
grande esfôrço, levam ao desalento e farão, talvez, aban-
donar uma piedade muito bem encetada.
3.º -— Expedientes para conseguir o espirito de
oração.
a) Instruir o penitente sôbre a necessidade da gra-
ça e a importância da oração.
Estes dois prificípios teológicos são o éco das pala-
vras do Salvador: «Sem mim nada podeis fazer» ; — «O
que pede, recebe, o que procura, encontra, e ao que bate
abrir-st-há»; verdades que é preciso persuadir a cada
alma e relembrar muitas vezes, porque, transformadas em
convicções, dão impulso e estimulam a recorrer continua-
mente a Deus.
b) — Sugerir invocações breves, fáceis, que lembrem
à alma as suas misérias e resumam as suas necessidades.
Temos no Evangelho grande cópia de tais invoca-
ções, e, nos livros de piedade, boa resênha de orações
jaculatórias: «Senhor, tende piedade de mim ! Senhor,
se quizerdes, podeis curar-me... Senhor, aquele que
amais, está enfermo... etc. etc. i
c)— Levar pouco-a-pouco o penitente ao emprêgo fre-
qüente destas jaculatórias: Primeiro, fidelidade às ora-
ções tradicionais: oração da manhã, da noite, antes e
depois das refeições... ; se não a fórmula completa des-
. tas orações, ao menos um Padre-Nosso muito bem reza-
do, um sinal da cruz com fé ardente e piedade, etc.; de-
pois, a intervalos, durante o dia, tódas as horas .. meias
horas. . quartos de hora... etc, e particularmente
nas tentações e contrariedades, a prática das jaculatórias.
d)— Actos externos de piedade, fáceis de praticar:
Colocar a mão sôbre o peito como prova de amor de
Deus,... erguer rapidamente os olhos ao céu,... bei-
34 | DIRECÇÃO DE-CONSCIENCIA ^
jar o crucifixo,. « . olhar pata. êle contemplativamente,...
es
saúdar uma imágem' piedosa... descobrir-se diante duúma-
igreja, duma cruz, etc... Tudo- sta reavigora os sentimen:
tos interiores, prende à atenção, facilita a oração e,
reas"
gindo sôbre o interior, “alicerça firmemente o espírito de
oração. E’ de notar que, nestes exercícios, a singularis
dade e a afetação devem banir-se implacávelmente.
é
e) — Cercar-se di ambiente impregnado de siela:
objectos piedosos, imágens;... no quarto, no: trabalho,
nos livros... que lembrém saudáveis pensamentos e
transportem para Deus. |
O — Interroga 4 0 > penitente silibra: os «esforços que
tem feito e os resultados que tem colhido no. exercício .
das práticas aqui enumeradas e acostumá-lo a declarar-se
a êsse respeito. :
/ Generósidade ,
— Importância.
e
| Na obra da antai e —ÀMÓ dá Deus o pris /
meiro passo, esperando depois a nossa cooperação. Cada:
graça que nos concede, exige, sem falta,,o nosso. concur- -
so, de sorte que a acção de Deus € a nossa teem de sêr
inseparáveis e marchar conjuntamente, para que seja ao
mesmo tempo sobrenatural e meritória a prática da pie-:
- dade.
Ora esta correspondência da nossa . parte, exige. e.
fôrço e portanto .generosidade.
Lá diz o autor da Imitação de Cristo: «tanto maior ;
será o progresso espiritual, quanto maior violência vos |
fizerdes a vós
mesmos».
Póde o Director ser sábio e santo, se a alma é pre-
Fá
guiçosa e indolente, nunca obterá resultado; se, ao con-.
trário, é pronta a todos os | sacrifícios, progride,
admiràvel--
mente,
DISPOSIÇÕES GERAIS l 35
º — Como conseguir esta virtude?
Cumpre: a) — Activar fortemente a vontade, por
motivos que a comovam e arrastem, isto é, criar nela con-
vicções profundas, despertando os sentimentos nobres
“que em gérmen possui o coração. Além dos motivos ge-
rais que levam a praticar o bem e a cuidar com empê-
nho na santificação, persuadir os motivos especiais, que
levam ao exercício de tal ou tal virtude, à observância de
tal ou tal dever.: Os nobres sentimentos do belo, da
dignidade, do amor, por um lado, —e sanções ou peni-
tências habilmente escolhidas, tal leitura, meditação da
Paixão de Jesus, etc., por outro, -- conjugando razões. e
sentimentos, levarão a alma a considerações e estímulos
fortíssimos para a virtude. Se a isto acrescem calorosas
exortações do Confessor, incendem-se de comoção e de
fôrça o coração e a inteligência, e a alma é arrojada para
as resoluções mais sinceras e magnânimas.
Renovando êste processo por motivos diferentes e
variados, mais arreigado se tornará o espírito de genero-
„sidade. !
b) — Despertar de contínuo no penitente a actividade
espiritual por resoluções precisas, práticas e apropriadas,
consoante as suas fôrças e género de vida... e inquirir
de cada vez àcérca dos esforços realizados...; assim
exercita e habitua a vontade e torna prestes a generosi-
dade.
c) — Secundar com palavras de incitamento o esfôr-
ço do penitente; um elogio discreto dá nervos à alma.
A natureza humana já de per si necessita de ser reani-
mada pela aprovação; por isso quantas vezes virão a
caír no abatimento e inércia, as almas, se de tempos a
tempos o confessor as não retempera com testemunhos
de satisfação | Cuidado, entretanto, com o amor próprio
e com as afeições naturais ! Por isso julgamos mais pru-
dente e útil convidar a alma a dar efusivas graças ao Se-
^
de 6 DIRECÇÃO: DE CONSCIENCIA
cá - pelos êxitos alcadçádos e gragas obtidas. e mesmo
lhe como penitência: sacramental exercícios de re-
ento e acção de graças.
| Docilidade
E necessária, porque sem ela é inútil e baldado
todo o esfôrço do confessor. . De que vale estudar bem o
interior da alma, sondar as suas necessidades, mostrar-
-]he claramente o seu estado, fazer-lhe as precisas adver-
téncias, traçar-lhe consciencioso plano de vida, se, por
falta de docilidade, ela fica aom as suas idéias e senti-
mentos e seguindo a própria vontade?:.. E 'contu-
do o que acontece a tantas almas que passam por piedo-
sas! Se nào estão em conflito declarado com o contes-
sor, teem a habilidade e astúcia de o arrastar ao seu
modo de vêr e ardilosamente lhe ditam a decisão a
tomar... Infelizesl nunca lhes será aplicável a palavra
da Escritura: «Vir obediens Toguetur vi victorias».
Para conseguir esta virtude é preciso: 1.º) — Per-
suadir da necessidade primordial da obediéncia, arreigan-
do. no espírito esta „convicção : só ei obediência se
pode alcançar o céu. - as .
2.) — facilitar a sua aquisição, c conquistando a sim-
patia do penitente por uma bondade tóda paternal e de-
dicação sem limites. > "
3.º) — Não fazer imposições excessivas: o superior
que T lc os limites do mando, nunca terá autorida-
de rea].
7 4.º) — Quando haja de impór um scele. pesado,
sind a alma com palavras mais ardentes para senti-
mentos dignos e magnânimos. (
RON
2a God
^
5.) — Não esquecer nunca que o mai com fir-
f P3 i
VIDA SOBRENATURAL 37
meza e suavidade opera sôbre a vontade saudável suges-
tão e infunde no espírito uma fôrça misteriosa, cujo efei-
to é a mais humildé submissão.
II — PRINCÍPIOS GERAIS QUE REGEM A VIDA
n SOBRENATURAL s
Deve conhecê-los o confessor, porque são faróis lu-
minosíssimos, que projectam raios abundantes sôbre as
tortuosas vias da vida espiritual. Sem estes princípios, e
portanto sem orientação, seria facílimo perder-se no la-
. birinto assaz complicado, das leis que regulam a direcção
das almas. Importa, pois, estudá-los :
1.º— Princípio primeiro: A lei primordial da vida
interior é a «contormidade perfeita, absoluta, quanto
possível, com a vontade de Deus».
- As leis que observa a vontade divina com relação
às criaturas, são as que devem regular a nossa atitude
para com elas. é '
a) — Quando Deus manda, prescrevendo ou proscre-
“vendo o uso de tal criatura, urge obedecer invariavel-
mente; é uma obrigação, que pésa sôbre a nossa liber-
“dade: grave, se da violação resulta rompimento absolu-
to de relações com Ele, Zeve, se apenas as arrefece.
b) — Quando Deus aconselha, é convenientíssimo
obedecer aos seus desejos, porque Lhe procuramos gló-
ria, fazendo-o, e adquirimos perfeição e merecimento. ,
c) — Se, por excepção, quer por intervenção directa
da sua Sabedoria, quer, como mais vezes acontece, pelo
curso natural das causas segundas — cujo exercício regu-
la soberanamertte — Deus nos coloca em situações inevitá-
x veis, ső temos a curvar-nos respeitosamente perante as
suas determinações, paternais e sapientíssimas.
Em resumo, é indispensável a conformidade absoluta.
38 DIRECÇÃO DE: CONSCIENCIA
com a vontade de Deus, tanto na acção (mandamentos e
conselhos), como no sofrimento, as duas asas potentes,
que num vôo ininterrupto nos transportam ao céu.
Demonstração. — A propriedade essencial e primá-
ria da vida, é apoderar-se do Ser que anima e conduzi-lo,
de degráu em degráu, à perfeição de que é susceptível.
Na vida espiritual é função principal elevar o homem
até à expansão plena do seu.ser, na glorificação do seu
Creador. Glória divina e perfeição humana, eis O' seu
termo:' glória divina, fim principal e necessário «omnia
propter semetipsum operatusgest Deus» — perfeição efe-
licidade humana, fim subordinado e anexô livremente: ao
primeiro por uma união indissolúvel, graças às admirá-
veis disposições da divina vontade, Mas, para o ser inte-
ligente, o que é glorificar a Deus, senão mergulhar-se na
sua essência infinita, fazer dela o centro da própria vida
— e das perfeições divinas o: termo* de tôdas as aspira-
ções e esforços... Conhecefestas perfeições, admirá-las,
deliciar-se nelas, desejá-las e rotura com o auxílio 'da
graça; reproduzi-las em nós, até que a glória.eterna nos
confirme na sua posse plena, tal é o esfôrço supremo
duma vida sàbiamente ordenada! Tôdas as outras cria-
turas, cada qual na sua.eslera, devem ao mesmo tempo
associar-se ao homem, na aquisição final dêste bem su-
premo | x
E qual é a medida desta comparticipação das cria-.
turas?, S6 a divina Sabédoria a póde determinar, e, de-
terminada, ao homem só cumpre tomá-la como regra de
vida, o que equivale-a repetir: tôda a vida espiritual se
funda no princípio da conformidade absoluta com a von-
tade de Deus... Elevar-se para: Deus, com intermitén-
cias, é sinal de vida espiritual débil e remissa; mergu-
lhar-se, perder-se, abismar-se decididamente nas divinas
perfeições, eis, na sua essência, a vida” sobrenatural e
perfeita !
2.º — Função primária da actividade espiritual.
VIDA SOBRENATURAL 39
E' dupla esta função e portanto duplo o
Principio segundo: a) Fazer das criaturas uso
prudente, servindo-nos delas segundo as indicações divi-
nas e émquanto, aproximando-nos de Deus, contribuem
para o complemento sobrenatural do nosso ser ;
= &) imprimir progressivamente às faculdades
morais: a devida preparação, para que se prestem,
"sem obstáculo, á acção da alma, no uso das criaturas,
VIE
^em ordem a Deus.
Comparação. — Para compreensão palpável e con-
creta desta teoria, imaginemos a nossa alma a construir,
sob a vigilância de Deus, a escada pela qual quer subir
ao céu; os degráus vai-os colocando um por um, à mes
dida que sóbe, mas, um aqui outro acolá, vê colocá-los.
“o próprio Deus, — e estes são os acontecimentos e con-
trariedades que a Providência envia — ; +a alma aceita-
-os, sobe por êles; vai a colocar os que faltam até ao
fim e escolhe-os dentre as criaturas, preferindo umas e
regeitando outras, conforme as indicações que a graça
inspira.
- 3º — Disposição fundamental da vida espiritual.
« Principio terceiro: Æ’ basilar ma vida espiritual
a indiferença com respeito às criaturas.
Trata-se evidentemente da indiferença antecedente,
isto é, que precede as inspirações da graça, porque ces-
sa imediatamente, logo que Deus convida a vontade a
pronunciar-se por tal ou tal objecto. Dotada de tão san-
ta disposição, a alma parece esquecer-se das inclinações
da sua natureza e recusa inspirar-se nos encantos das
cousas criadas.
. Emquanto Deus lhé não significa a sua vontade e
não indica as criaturas destinadas a seu uso, olha-as :a
IU E 35
x 4 *
40 DIR ECÇÃO p WADE
tódas por igual: riqueza “ou “pobreza, a alegria ou dôr,
glória ou abjecção, não se pronuncia para um lado, nem
para.o outro, deixa a:selecção ünicamente ao Golleradó
Senhor, em cujas mãos se abandona filialmente. !
Razão. — No plano geral:da Providência, cada cria-
tura. tem no mundo, utilidade:própria e função peculiar;
a cada uma marcou à divina Sabedoria o seu lugar, coor-
denando-as entre si, consoante as necessidades e aptidões
recíprocas e segundo as exigências do próprio fim. Des-
locar uma dêsse lugar é lançar a' desordem no plano da
- Providência e frustrar a obra de Deus.
E' evidente que nào “pertence ao homem corrigir as.
divinas disposições, como seria loucura*da sua parte
querer auferir delas uma utilidade que Deus lhes não ou-
torgou. Não deve, portanto, alimentar prefeténcias, isto
é, cumpre tornar-se indiferente a tôdas.
. Estes princípios expõe-no-los Santo Inácio admirà-
velmente: o homem foi criado para conhecer, amar e
“servir a Deus; tal é oJseu fim, e, reälizatido-o; tem. o
ceu “assegurado. 2"
- Os outros seres, colücidos em volta do homem, são:
os meios para O conhecer, amar e servir, de sorte que
.deve utilizar-se deles, emquanto favorecem, e abster-se,
“quando estorvam a prossecução dêsse fim. Daí em nós,
a indiferença mais completa pelas criaturas: doença ou
saúde, riqueza ou pobreza, vida prolongada ou breve,
honra ou humilhação, tanto nos vale, porque o objectivo
é só um: considerar as:coisas criadas unicamente como
meios para o fim último. ,
| I1 — MEIOS S GERAIS* QUE COADJUVAM 0 PRO-
GRESSO ESPIRITUAL
São tudo aquilo que secunda a alma na sua acção e
esfórgo para se elevar até Deus, procurando-Lhe maior
glória, pela conformidade com o seu beneplácito. Co-
muns, mais ou menos, a todos os estádios da vida sobre-
natural, há-os de duas Categorias: 1.º — uns, que activam .
FUGA DAS OCASIÕES 41
e impulsionam os dois agentes íntimos da santificação, —
a graça e a vontade, —a saber: os sacramentos, os exer-
cícios de piedade e o ambiente favorável; 2. 9 — outros
que desembaraçam dos obstáculos, que podem estorvar a
actividade espiritual, e são: a fuga das ocasiões, a luta
contra as tentações, a mortificação, à repulsa das ilusões
e preconceitos e finalmente a paciência nas tribulações .
Comecémos por estes últimos.
€-
VR |.—FUGA DAS OCASIÕES
A.— Da ocasião em geral
Ocasião de pecado é tôda a pessÓa ou coisa, que,
por qualquer fórma nos leva a ofender a Deus. E' pró-
Xima, quando atrasta para o mal com tal violência que
só com muita dificuldade e, portanto, em circunstâncias
raras, se póde superar; doutra sorte a ocasião é remota.
I." — Motivos que tem o Confessor para combater
as ocasiões de pecado : a) —o primeiro apresenta-o o
Evangelho : «et si oculus tuus scandalizat te, erue eum
et projice abs te...> — Quando a própria Bondade pro-
feriu tão severas palavras, poderá o ministro de Deus
“tergiversar e deitar-se em comprometedora inércia?...
b) — O confessor é o pai espiritual das almas, que
- Ihe estão confiadas, de sorte que deve procurar-lhes todo
to
.-
o bem, com o desvelo duma mãe, cheia de ternura e de-
dicação para com seus filhos; ora, todos sabem quanto
as mães são solícitas e pressurosts em prevenir os peri-
gos que possam ameaçar a prôle: intrépidas em os com-
bater, hábeis em os desviar. Eis o modêlo que deve imi-
«tar o pai espiritual: mal o perigo apareça, seja solícito
em o debelar; doutra sorte, será comparável à mãe que,
por ventura, deixasse entre as mãos do filhinho, a bebiga
nefasta, que o envenene, a arma cruel que o fira ou) o
brazeiro devorador, que o póde inflamar.
42 DIRECÇÃO DÉ CONSCIENCIA
2.º — Dos penitentes-em ocasião de: pecado T
' Q) —Para remediár o mal, É: preciso conhecê-lo; por
isso, havendo razões sérias | ipara supór o penitente em
ocasião próxima, importa investigar cuidadosamente, até
se:adquirir a certeza: à) se de facto, conclui pela gravi-
dade da ocasião e adverte que, devido às paixões e pre-.
conceitos, o penitente a dissimula ou desconhece, decla-
“vedhe imediatamente o eru pois seria crimé deixá-lo
na sua inconsciência ;
c) — Sob pêna de lhe negar a absolvição, obrigue- ara
retirar da ocasião próxima, se é possível; pois é indis-.
posição grave, que tornã irrita a absolvição, permanecer
no perigo iminente de ofender a Deus.
+
d) — Se o penitente não póde, sem incómodo grave,
deixar a ocasião próxima, é preciso emunizá -lo fortemen-
te, obrigando-o a empregar os meios necessários e efica-
‘`> zes contra a influência perigosa, de modo a evitar
sem-
“pre queda mortal, pois Deus.nào faltará com a graça a
quem envidar todos os esforços. — .
(0 4)— Quanto às ocasiões menos graves estimule o pe-
nitente a evitá-las o mais possível; faça apélo à sua ge-
nerosidade, mostrando-lhe quanto é nobre e digno e ao
mesmo tempo um acto de respeito e veneração pa com
Deus, evitar tudo que O possa ofender.
E' um acto de zêlo, na verdade, socorrer no perigo
a alma, com todos os meios'para a salvar.
© Que um teólogo, falendo-se da elasticidade dos prin-
cípios para mitigar certas “obrigações, forneça ao Confes-
sor Opiniões seguras para, em casos perplexos, absolver-
tranquilamente, . admite-se e até é digno de lou-
vor .. |
Mas, valer-se de tais opinióes para delis na inércia e.
“expostas ao perigo, as álmas' que tem o dever de salvar,
é compreender muito mal a sua obrigação.
+ “
4
FUGA DAS OCASIÕES 43
B. — Da ocasião em especial
i; Daneas e bailes
1.º — Danca é uma combinação mais ou menos con
picada e engenhosa de passos e movimentos, executados
segundo regras bem definidas. Neste sentido constitui
uma arte, assim como a música, a poesia, a pintura, etc.
Explica-se pelo instinto da nossa natureza, que nos
leva a manifestar exteriormente por tôdas as fórmas, as
impressões fortes da alma — e revela-se esta tendência
particularmente nas pessõas muito impressionáveis, nas
quais a imaginação suplanta de ordinário a razão. Póde
significar alegria e póde ser um exercício de gimnástica:
entre os Antigos, e em particular entre os Hebréus che-
..gou;mesmo a constituir uma prática do culto.
2.º —-Por sua parte, os bailes são formados pela
reünido de muitas bessóas que dançam. Ha-os de várias.
espécies: batles de família, bailes públicos, bailes de más-
caras, bailes de cerimónia, bailes de quermesse, bailados,
etc. | s
Motivos que tem o Ditector para retirar os peniten-
tes dos bailes ;
1.º — Certos bailes são inteiramente proibidos, por-
que constâmide danças ilícitas.
Tais, em nossos dias, grande número de danças,
porque exigem movimentos e gestos, que a Moral apon-
ta como ocasião próxima de'prazeres lascivos. Pois, se
Santo Afonso taxa de pecado mortal um apérto de mão
"demorado, o que não diremos dos abraços, tactos e con-
; tactos de tôda a espécie, que exibem as danças moder-
nas? Quem poderá afirmar que não são dé molde a
- excitar vivamente as paixões, mórmente entre pessõas
“que se amam loucamente ou naquelas que são frágeis
44 | DIRECÇÃO “DE CÓNSCIENCIA P P
A
sob o ponto de vista ‘da cástidade?" São. movimentos e.
atitudes, que despertam tôda a sorte de pensamentos im-
puros, desejos, imaginações e impressões, que são oca-
siáo eminente de pj jdo e a negação completa da virtu-
de da castidade. Due fe a
2º— Outros bailes, ainda : que não admitam danças
em: si condenáveis ou proíbidas, fazem-se acompanhar”
por tal concurso de circunstâncias funestas e capciosas,
que: se não podem potni i sem motivo grave e sólida
garantia.
São dêste género os qué. actualmente se realizam
entré nós sob o nome de quermesse.
Outrora, quando as dariças não permitiam “uma
aproximação tão imediata dos dois sexos, e se exibiam” :
de dia, em presença de pessÓas respeitáveis ou honestís- .
simas, não admira que houvesse indulgência a seu res-
peito; mas, hoje, os bailes populares admitem uma 270-
miscuidade revoltante, são o chamariz de paixões'impu-
dentes, ávidas de se saciarem e tomam ainda o carácter
de sessões nocturnas. Ali tudo conspira contra a virtude;
com a entrada livre, seja para quem fôr, hão-de forçosa-
mente aparecer grupos e indivíduos, cuja licenciosidade
desenfreada, menosprezando as leis da modéstia e do re-
cato, espalhará finalmente por tóda a assembleia uma:
atmosfera de imoralidade e torpeza.
Osculos e abraços, meneios e desenvolturas, não só
*equívocos, mas indecorosos, expressões ambíguas ou tor-
pes, eis pábulo eficacíssimo para a expansão plena de
todos os vícios.
E que dizer, —— de tudo isto, das retiradas
oportunas ou fitícias e da' conivência da própria noite?
Num ambiente sufocante, devido 4 muita lotação, é fácil
umj pretexto para saír a respirar um ar mais fresco, a
tomar uma merenda ou qualquer bebida, e, àparte do
público, na solidão e nas trevas, nada póde conter o im-
peto dos apetites desregrados..
A música em acordes. voluptuosos e as bebidas em
*
FUGA DAS OCASIÕES ! 45
excesso, longe de atenuarem o perigo, antés excitam
mais os sentidos, inflamam as paixões, entorpeçam a con-
sciência e confundem a razão.
= Juíso éste rigoroso, é certo, mas que a experiência
“obriga a formar e que ainda deve sêr reforçado de seve-
ridade para sos bailes das alcovas e tabernas. Nem mes-
mo os bailes de cerimónia são isentos de censura; con-
cedendo embora que deles sejam banidas danças imodes-
tas e que a qualidade das pessóas que assistem seja ga-
raritia para as leis do decôro, o espírito mundano que aí
se respira, os trajes demasiado livres, quási pagãos, im-
primem aos divertimentos um tal colorido de sensuali-
dade, que é impossível nào melindrar a mais delicada
das virtudes.
3.º — Emfim, supondo que, lechando os olhos aos
tristes dados da experiéncia, e concedendo à pobre natu-
reza humana a elevação de virtude, que de facto perdeu
pela queda original, encontramos princípios teológi-
cos para julgar sem rigor e tranquilizar a consciência dos
apaixonados pelas danças, deveria o confessor digno
abster-se de aplicar com alarde tais principios; - longe
dele o intuito de conciliar por éste meío a estima e os
favores dos mundanos e adquirir a reputação (às vezes
tão desejada |) de homem do seu tempo.
Cioso antes da glória de Deus e bem das almas, não
exponha os penitentes -ao perigo das danças; e se
muitas vezes o. apodarem de intransigente e exagerado,
console-se por ter consigo honrosa companhia: «das
danças e bailes, escrevia S. Francisco de Sales, só digo
o que dos cogumelos dizem os médicos: os melhores
não prestam».
E, de facto, abstraindo já dos escolhos que nesses
divertimentos encôntra a pureza, quantos obstáculos a
uma vida sinceramente cristã] o luxo imoderado, a dis-
sipação contínua, a sobreexcitação da imaginação e dos
sentidos, a ância louca de prazer e daí o'tédio pelas coi-
sas sérias e sás, como podem conciliar-se com a vida de
E
46 ` DIRECÇÃO DE“ CONSCIENCIA
piedade e recolhimento, com as emoções tão puras e sud-
ves da alma em união com: Deus?! Não! Deus não
póde abrigar-se em corações habituados às sensações
mundanas, .predispostos a tôdas as seduções e prazeres
dos sentidos ! | à =
Corolário: Resume Mgr. Gravez os princípios que
acabâmos de expôr nos seguintês termos: «Cum choreae
nunquam sint ab omni periculo immunes, syuneri suo
deesset Confessarius, qui suos. poenitentes? quibusvis
choreis
avertere mon satageret. Si monitis €. hortationi-
bus non
obtemperent, attendat tum ad periculum perso-
nale sui
poenitentis, tum ad rationes quae eum ad assis-
tendum
choreis impellunt. Si periculum sit grave et pro-
ximum
omnino severe agat; hoc autem periculum sem-
per adest
in choreis ilis quae. apud cauponas in locis
angustis,
intermixtis pravis colloquiis et compotationibus,
extra
parentum praesentiam, per totam fere noctem pere
trahuntur,
ac proinde qui hujusmodi choreas frequentant
a
sacramentis sunt repellendi: si autem periculum pro-
ximum
absit, rationesque habeant assistendi, eas rationes
perpendat, et si graves sint cum iis mitius agat, simul
suppeditans media quibus periculum remotum fiat. Coe-
terum satis liquet non esse absolvendos qui assistunt
choreis graviter inhonestis, sicut nec eos qui choreis
larvatis
assistere velient, nisi id fieret ex voluntate paren-
tum, in domo privata ubi omnia honeste peragi suppo-
nuntur, quod quidem contingere potest».
+
. Como procederá o confessor para retirar os pe-
nitentes das dancas. . | :
Deve: — 1.º) Inspirar-lhes primeiro que tudo grande
“estima, verdadeiro amor, pela incomparável virtude da
pureza, e ao mesmo tempo grande horror, horror instin-
tivo, por tudo que a possa macular.
2.º — Persuadir-lhes que entrem em associações pie-
dosas, cujos estatutos proíbam as danças.
* w
FUGA DAS OCASIÕES. 47
3.º) — Fazer-lhes vêr e compreender os perigos a que
se expõem e as graves responsabilidades em que incor-
rem por motivo do escândalo, dado ou recebido.
l
4.0) — Mediante calorosas exortações, comentar-lhes
com firmezap ardor e suavidade os seguintes pensamen-
tos: «não sejas freqüente com a mulher bailadeira, pa-
ra que: não pereças pela fôrça dos seus encantos (Eccli.
DRA)?
«Nas danças está a cegueira dos E a perdição
das mulheres, a tristeza dos Anjos e o regosijo dos de-
mónios (S. Efrem)».
«Que se aprende nas danças e que se vê nelas?...
ficará virgem a vossa intenção... mas os olhos, os ouvi-
dos, a bôca, não ficam ilesos! (S. Cipriano)».
À
«Melhor seria nos domingos trabalhar, cavar a terra,
amarrar à charrua, do que dançar .. (S. Agostinho,
in ps. 91)».
*
2. Companhias
Quais: companhias se devem proibir aos peni-
tentes ?-
Tôdas aquelas, cujo convívio (conversações e exém-
plos) mp da virtude e arrasta para o vício.
15)— Há pessõas cuja companhia constitui um peri-
go para a virtude da pureza.
Este perigo existe: a) nas reünies, cujo objectivo é
o prazer de se encontrarem juntas pessóas de ambos os
. sexos; ainda que justificadas pelos motivos mais hones-
tos, não podem permitir-se senão com a máxima pre-
caução; 4) nos seróes, em que entram pessõas viciosas
ou frívolas; são funestíssimos, sobretudo quando fre-
A NT
gr
N
AM
+ da
S
48 NECESSIDADE. DA DIRECÇÃO k
qüentes e sem vigilância rigorosa ; c) nos namoros, que
devem ser banidos implacâvelmente, quando não tenham
em vista um casamento próximo; e neste caso, urge cer-
cá-los de tóda a vigilância e limitá-los ao tempo indispen-
sável. Preserve o confessór indefessamente déstes perigos
as almas que se lhe dirijam. "
2.º) — Há também pessóas, cujo convívio é um
rigo para a fé e sentimentos religiosos: a) aquelas
censuram por todos os modos os padres, lançam mão fj
tudo para os desacreditar ou roubar-lhes a influência.
que interpretam à má parte as suas acções, empenhan-
do-se em fazer caír sôbre êles suspeitas odiosas, desvir-
tuando as suas palavras e intenções, ou emfim, falando
com complacência dos seus "desvarios, verdadeiros ou
supostos; é evidente que tais pessÓas desacreditam a fé
e a piedade, porque o padre concretiza a religião ;
b) — igualmente os que falam com desprêzo dos
sacramentos, da oração, da instrução religiosa, das insti-
tuições eclesiásticas. ,., que procuram cobrir de ridículo
os que frequentam os sacramentos, as cerimónias da
» igreja, a devoção e as pessóas que a praticam.
3.º) — Finalmente são más companhias as pessÓas
que atacam acintosamente quem cumpre com exactidão
o seu dever, quem exerce a caridade e quem se esmera
por viver vida regradà e hogesta? assim, criticam de
todos, censuram tudo, indispõem. contra os superiores
e... só falam de divertimentos, frivolidades etamizades
suspeitas. Importa evitar a convivência daninha de tais
pessóas.
^
3 x
^— Para acautelar os penitentes contra as
más companhias, apresentamos para sua consideração,
os seguintes pensamentos: .
a) — Femina ignis, vir stuppa, diabolus flabellum
ati.
FUGA DAS OCASIÕES 49
(Hieron.) — Sermo cum mulieribus sit rarus, brevis et
austerus. Ex earum consuetudine vel fumus, vel famma
sequitur (S. Ign.) — Qui tetigerit picem, inquinabitur ab
ea (Eccl, xmn, 1) — Recedite, exite, exite; pollutum no-
lite tangere, exite de medio ejus (Liu, I1).
£
6) — Recedite a tabernaculis hominum impiorum, et
nolite
tangere quae ad eos pertinent, ne involvamini a
péccatis eorum (Num, xvi, 26).
^ . Fili mi, si te lactaverint peccatores, ne acquiescas
eis... ne ambules cum eis, prohibe pedem tuum a semi-
tis eorum;
pedes enim illorum ad malum currunt (Prov.
1n: 16; 15)
, Sumuntur a conversantibus mores et ut quaedam
in condactos corporis vitia transeunt, ita animus vitia sua
proximis
tradit (Seneca).
Nemo
vitiosus non aliquod nobis vitium aut com-
mendat, aut
imprimit aut allinit (Seneca).
Amicus
stultorum similis efficitur (Prov xim, 20).
Beatus vir
qui non abiit in concilio impiorum, et in via
peccatorum
non stetit, et in cathedra pestilentiae non
sedit (Ps. 1).
3. Leituras
São proibidas tódas as publicações, cuja leitura pro-
duz a dissipação, enerva a disciplina, contagia os bons
costumes e enfraquece a crença religiosa.
Portanto: 1.º — Sem permissão expressa da Igreja,
católico algum, sob pêna de pecado grave, pode lêr os
livros catalogados no Judez.
e
2.º — Sem zazão grave, ninguêm pode lêr as publi-
cações que por qualquer forma atacam ou amesquinham
a fé e a moral católica. «São de três espécies, diz Mgr.
Heylen na pastoral da quaresma de 1905, êstes escritos:
uns mentem, outros corrompem e outros entorpecem, e mui-
tas vezes produzem os três efeitos juntamente”
Ú T? E RS x: do) falo PE]
50 DIRECÇÃO DE CÔNSCIENCIA . T us x^
+ RG
“o
3.º — E' tambêm prudente evitar o mais que se pos-.
sa, os que tendem a semear discórdias, a desconsiderar a .
autoridade, a justificar abusos e a desvairar os ânimos.
4.º) — Quanto a romances honestos, é indispensável.
dissuadir da sua leitura quantos se propõem uma vida
verdadeiramente crista,
4. Vestuário '
É o vestuário objecto particular da solicitude do Di-
rector éspiritual, porque o cuidado excessivo no vestir
tempor efeito mais ou menos próximo: perverter a ino-
cência, insidiar à castidade, alimentar a vaidade, compro-
meter a saúde, consumir recdfsos preciosos que deviam
utilizar-se para o bem e malbaratar em futilidades o tem-
po, que o cristão devia empregar dignamente.
E', por isso, origem de muitas faltas graves e óbice 4º
a uma vida de fé e piedade:
,
Princípios: 1. E’ pecado grave trazer vestidos, que
deixam a descoberto o peito e outras partes notáveis do
«corpo que o decóro manda subtrair aos olhares dos simi-
lhantes.. |
2. E' pecado grave introduzir nos costumes dum **
país ou duma localidade decotes muito pronunciados,
estranhos ou escandalosos. MEE
3. E' igualmente falta grave usar processos de ves-
tir que prejudiquem gravemente a saúde.
© >+ ' l
4. E' pecado pelo menos venial trazer a descoberto
partes menos notáveis do corpo, que a razão e a decên-
cia obrigam a esconder.
5. E' pecado venial ainda a”gfectação nos vestidos,
iu
m
FUGA DAS OCASIÕES . SI
os arrebiques, o exagéro nos adornos, em desproporção
com os haveres de cada um.
6. E' pelo menos óbice grande à perfeição, o cui-
dado excessivo com o vestir, a prontidào e solicitude em
seguir as modas e tudo quanto é excesso e preocupação
com o adórno do corpo.
1.º) — Especificando: São repreensíveis e condená-
veis todos os modos de vestir, de molde a fomentar as
paixões sensuais, já patenteando membros que num país
cristão é uso cobrir, já manifestando, veladamente que
seja, logares, que no corpo, a mesma natureza convida a
esconder; igualmente dignos de reprovação são os que
constrángem em demasia 'ós membros, martirizando o cor-
po e impedindo o seu desenvolvimento — ou sacrificam
os interésses do pudor e do recato aos da elegância e da
“vaidade.
O que persuadem as seguintes razões :
E' grave desordem desviar uma criatura do destino
para que foi criada, frustrar o seu fim principal e subor-
dinar éste ao fim acidental; ora, os vestidos teem:
a) — Como fim principal e primário o resguardo do
corpo, para subtrair ao sentido da vista tudo o que possa
melindrar o pudor, já por despertar inutilmente pensa-
mentos perigosos, já por provocar movimentos sensuais ;
b) — Como fim principal secundário precaver o cor-
po contra as intempéries ou acidentes, que só com o ves-
tido se evitam. e p
c) — O fim acidental é ornamentar o corpo, de sor-
te a torná-lo agradável à vista, satisfazendo ao mesmo
tempo ao gósto do belo e contribuindo, num objectivo de `
caridade, para a sociabilidade entre os homens. |
Obstar, portanto, a qualquer dêstes fins; ou pertur-
&
? b ' si
52: ` DÍRECÇÃO DE: CONSCIENCIA
bar a sua ordem e relação, é desmando mais ou menos
grave, a que não pode ficar estranho o Director espi-
ritual. | : |
2.0) — Desenvolvendo: Após a queda original tor-
nou-se para o homem uma necessidade o uso do vestuário.
a) — Primeiro que tudo precisa êste de se precaver
contra tôda a sorte de intempéries: frio, calor, chuva,
vento, neve, etc. |
. Emquanto por um lado Deus protegeu contra os
“elementos os irracionais, dando a uns uma lã espessa,
a outros aquécida plumagem, guarnecendo a estes com
pele quási impermeável, àqueles com pélos abundantes,
não concedeu ao homem indumento natural de éspécie
alguma, mas, é sabido, concedeu a inteligéncia para que
por si mesmo procure os meios de resistir às inclemên-
cias das estações, proporcionando-se vestidos que logrem
ésse objectivo.. |
à) — Mas não é tudo; porque o homem. veste-se,
mais para se libertar dos ímpetos das paixões, do que
para agasalhar o corpo. | : e
No paraíso terreal, só depois da desobediéncia for-
mal.às ordens de Deus, é que os nossos primeiros pais
ficaram surpreendidos pelo estado de nudez em que vi-
viam; envergonharam-se, recearam e sentiram então a
'necessidade imperiosa de se cobrirem. Na sua confusão,
começaram de coser umas às outras fôlhas de figueira
para ocultarem o que, desde aquele momento, era obje-
.cto de vergonha e humilhação. Foi desde ésse dia para
o homem umaslei o vestir-se. | e
E porquê? porque à conseqüéncia do pecado foi
imediata: logo sentiram as tendências desordenadas e
* depravadas dos sentidos a ofuscar- e superar a razão, ao
"passo que até aquela hora tódas as potências
inferiores
“foram submissas e-reconheceram a soberania do
&spírito..
Mais. ainda :” Deus, prevendo à culpa original, não
"
FUGA DAS OCASIÕES | 53
quiz que fôssem frustrados os seus intentos, pois vê-se
claramente que fôra desígnio seu que todo o corpo do
homem andasse coberto. Nesse intuito, com efeito, sem
comprometer as funções da vida individual, reüniu num
ponto do corpo, chamado rosto, todos os orgãos destina-
dos a pôr o homem em comunicação com o mundo exte-
rior: os olhos, os ouvidos, o olfato, o gôsto e a língua,
como a indicar que tudo o mais devia ficar coberto, até
a própria cabeça, que Ele mesmo se incumbiu de re-
vestir !
Sim | o rosto faz excepção à lei, porque é aquilo
,que no homem é menos animal: sôbre a fisionomia re-
vela-se a inteligência, nobre apanágio da natureza huma-
na e espelha-se a alma em relâmpagos de luz, de beleza
e de vida, como imagem “que é do próprio Deus |
Fazem ainda excepção as mãos, dóceis instrumentos
da inteligência e executoras hábeis dos Gècretoa da von-
tade.
Passando alêm dêstes limites, ouso o homem
às intenções do Criador e transgride as leis inefáveis da
honestidade. <
Ah! mas quanto em nossos dias estão postergados
os direitos desta bela virtude !
Tresloucadas por um secreto desejo de atrair aten-
ções criminosas e de criar em volta do ídolo da carne,
uma atmosfera de simpatias indecorosas, ou, quando me-
nos, dominadas por uma insaciável vaidade, que as faz
escravas de modas crueis e escandalosas, — quantas pes-
soas aparecem em público com trajes de tal ordem, que
- antes os deveriamos taxar de roupas de dormir do que
admitir como vestes de pessoas dignas e que se prezam !
Com efeito, acentuam-se por tal forma os. decotes e, em
marcha para a supressão completa dos vestidos, usam-se
uns tecidos tão finos e transparentes, a deixar entrever a
epiderme, formas e contornos dos membros, que bem
podemos dizer que é a equivalência da nudez.
Exibições desta ordem, lançadas como engôdo aos
instintos voluptuosos da humanidade, que se deprava,
84 “DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
avilta, prostitue e brutaliza, são a negação declarada dos
bons costumes, do senso moral, da própria razão e um
desafio infame cuspido contra as austeras tradições do
Cristianismo e contra o Deus que reduziu a cinzas e
transformou em fétido charco as cidades de Sodoma e
Gomorra | "E
— Que fará o cihfeluor em presença de peni-
tentes desvairados pelas modas ?
PN
| A. — Quanto ao luxo no vestir: 2 atrair a atenção
do penitente para o quadro lastimoso de tantos infelizes,
que nem sequer possuem o necessário para viver, jazen-
do por isso sem arrimó na mais atribulada miséria — ou
pata o espectáculo doloroso de tantas igréjas pobres,
. cuja penúria condiz tão mal com a Magestade do grande
“Rei, que habita no Tabernáculo ! |
6) — Mostrar-lhes que a modéstia é o mais belo or- `
namento e que os vestidos por mais ricos A sejam,
nada acrescentam ao que somos.
c) — Fazer-lhes meditar, as seguintes “Passagens da
Escritura e dos Santos Padres:
! In vestitu ne glorieris unquam (Eccli. 9). Vil, mu-
lieres orare in
habitu ornato, : ‘cum verecundia et sobrieta- ,.
te ornantes se et non in tortis crinibus, aut auro, aut
margaritis, vel veste pretiosa (Tim. 2). Habentes alimen-
ta et quibus tegamur, his contenti simus (1 Tim. 6).
| Quam excusationem habebis quando Dominus te
accusabit de margaritis istis et pauperes if
fame perditos
“in medium
aget (Chris. Hom. 21 ad pop.) ^
Quod ornari te putas quod putas comi, impugnatio .
est: ista divini apenas praevaricatio veritatis (Ambros. de
hab. virg.).
Serica et purpura et tincturarum fucus, decótem
habent, sed
non praebent (Bern. ep. 113 ad Soph.)
Quod nascitur, opus Dei est; ergo quod E ap À
! diaboli negocium est (Tert. de culta mulier.). | i
x
FUGA DAS OCASIÕES 55
B. — Quanto aos decotes: a) Inspirar horror ao gra-
ve escândalo daqueles que usam vestidos imodestos: lan-
cam óleo sôbre o fogo das paixões e facilitam ao demó-
nio a sua obra de perversão; tudo isto por um pequeni-
no e mesquinho interêsse de vaidade |
b) — Aconselhar a leitura das vidas dos Santos, que
até nas situações mais elevadas, deram exemplos tão
belos de modéstia e recato! ^
c) — Ás pessóas cultas, expor os princípios acima
& desenvolvidos àcérca do fim providencial dos vestidos.
SE:
d) — Convidá-los a meditar os seguintes pensamen-
tos dos Santos:
» «Spernat bombicum telas, vestimenta paret quibus
pellatur frigus, non quibus vestita nudentur (Hieron. Ep.
ad Laetam). .
Si vir vel mulier se ornaverit et vultus hominum ad
Se provocaverit, etsi nullum inde sequatur damnum, ju-
dicium
tamen patietur, quia venenum attulit, si fuisset
qui biberet
(Acerm. Ep. ad Nepat.).
Vestium curiositas deformitatis mentium ac morum
indicium est (Bern. 3-De consid.).
«At corporis cultu innumera fiunt mala, arrogantia
quae: «intus nascitur, despectus proximi, fastus spiritus,
animae corruptio voluptatum illicitarum comes (Chris.
Hom. in
Gen.).
Vis ornare
faciem? non margaritis orna, sed modes-
tia et
honestate (Chris. Hom. 21 ad pop. Antioch.).
"
.*s. Espectáculos e teatros
"s "a fes objecto da solicitude do Confessor, por-
que: d) os teatros e cinematógrafos constituem geral-
mente, em nossos dias, ocasião próxima de pecado,—) e
o “hábito de frequentar os que não são repreensíveis,
produz os inconvenientes que apontamos ao falar dos
romances.
* Au
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Or . DIRECÇÃO
DE CONSCIENCIA
2.º — Máximas para meditar:
É
a) — Pensamentos dos Santos Padres :
Avertamus oculos nostros a vanitatibus theatrorum,
ne quod
oculus viderit, animus concupiscat (Ambr. in
ps. 118).
Quae pudicá fortasse ad spectaculum matrona pro-
cesserat, de spectaculo revertitur impudica (Cypr. ep. ad.
Donat.).
In his spectaculis, deposita verecundia, audacior ali-^
quis fit ad crimina; discit facere dum consuescit videre.
— Illicita sunt ista christianis fidelibus, tum vana quum
perniciosa. Avocandus est animus ab istis; habet
christianus spectacula meliora si velit Cept)
l *
b) — Declarações de autores dramáticos :, *
. ~ ka
«Rogo-vos instantemente que não vades aos espe-
ctáculos; nào ganhareis nada, se tôrdes, . e perdereis
muito (Chateaubr.). a
A mãe prudente, ao teatro não vai, nem leva filha
sua (A. Dumas). ^w
Faz tremer o pensamento dos hieis que apre-
*
senta o scenário em FLrangd... Atesto e confirmo o.
espanto dos leitores: os morticínios dos gladiadores não
eram tão bárbaros; corria o sangue, é certo, mas não
se conspurcava a imaginação com crimes quegazem arri-
piar (J. A | 5
*
[LUTA CONTRA AS TENTAÇÕES o
Ej
Tentação é a excitação para o mal, produzida pela
acção singular ou conjunta, dos trés inimigos da alma :
mundo, diabo e carne.
E #
1.º — Antes do pecado Grita, o homem não: y podia
ser instigado para o mal senão por uma causa inteligen-
»
*
Y Ld
+ À LI
LUTA CONTRA AS TENTAÇÕES 57
te e externa, pois que adentro do seu composto tudo era
- ordem, subordinando-se perfeitamente às potências supe-
riores as inferiores, só impelidas para o seu objecto sen-
sível pelo beneplácito da vontade, por sua vez, obediente
“aos ditames da razão e da fé. Depois do pecado, tão
nobre equilíbrio, que imprimia à natureza humana admi-
rável elevação, foi quebrado irreparávelmente. No ínti-
mo das nossas faculdades corrompidas, deram então voz
de revolta tendências cegas, rompendo com a razão, para
seguirem apenas os instintos depravados; daí o princípio
da contínfia agitação, que se chama concupiscência.
Não tendo em presença o seu objecto, pode ser que
tais inclinações pareçam mortas... mas de facto só
“estão amortecidas, porque, se, por imprudência, o mesmo
se lhes depara em frente, depressa se excitam e irrom-
pem com ímpeto para êle, com fascinação tanto maior,
quanto mais seductor o apresentarem os sentidos.
E neste caso agente da tentação o mundo.
Porém, o mais importuno e temível é o demónio;
inteligência privilegiada e secundada pela experiência de
dezenas de 'séculos, empossa-se dos outros dois inimigos
e, manejando-os com habilidade e astúcia, prossegue
*afoutafhente na sua acção nefasta e maldita de inimigo
de Deus e do homem. |
2.0 — Porque são objecto da Direcção as tenta-
ções. |
E dever. do confessor, arredar ou, se possível fôr, fa-
zer enveredar para o bem, tudo o que constitua uma ameaça
para o adiantamento espiritual do penitente; ora as ten-
tações podem ser um grande: mal, se nào forem comba-
tidas, refreadas e subjugadas, ou um grande bem, quando
após a luta, se colhem os louros da victória; portanto,
na ofensiva e defensiva, é ao Director que compete co-.
mandar as fórgas da alma.
, g
1º —A noção de tentação denuncia os perigos, a
dat
58 DIRECÇÃO “DE CONSCIENCIA
sua evolução natural inostfà OS 5 estragos. Eis a génese,
da tentação, quando não é reprimida: a) parece. pri-^
meiro a zdeia do mal e forma na fantasia uma imagem
vivíssima do objecto que a consciência reprova, a con-
vidar e seduzir o apetite; é a-sugestão; logo depois, se,
prendendo- se a éste quadro encantador, a atenção exa-
mina estática os atrativos e por fim se com praz e delicia
voluntáriamente, temos o mau pensamento consentido. —
à) Em seguida; desperta-se no coração uma ância de go-
zar com todo o prazef, mais de perto e em tóda a reali-
dade, o objecto fantasiado ; e eis, se a vontade'admite, o
mau desejo consentido. — c) Este vai-se precisandb mais,
Č; detendo- -se nas circunstâncias que lhe podem dar .gózo,
gera o propósito de praticar o mal. i
d) — Cada vez mais decidido, por novos aspectos,
que vai descortinando, êste propósito põe a alma em
. vias de execução e consuma-se por fim a depravação da
vontade, pelo primeiro acto externo praticado. e) — Per-
pretado êste, outros se seguem de perto, porque a lem-
brança do mal, longe de se apagar, mais se aviva e redo-
bra as tentações; repetidos assim, sem cônta, nem me-
dida, temos o hábito mau: f)-— E a afeição às satisfa-
ções recrudesce e radica-se tenaz o hábito, que:gera ©
vício e obstina-se o ânimo em não se converter |
2.º — Repelida, ao contrário, e vencida, a tentação
acarreta à alma prèciosas vantagens, e é essa a razão por
que Deus a permite e'deixa a -Satanás certa liberdade de
acção. o
Eis, nos desígnios da Providência, quais os bons re-
sultados das tentações: .a) reanimar o nosso amor para
com Deus, visto serem ocasião de o significare de o exer-
cer; b) aumentar em nós a cópia de merecimentos e a
recompensa final; c) arreigar na alma a virtude da
humildade, a desconfiança de nós mesmos, a vigilância e
o espírito de oração; d) Inclinar-nos à piedade, com
as'misérias do próximo. a
$
LUTA CONTRA AS TENTAÇÕES 59
3.º — Atitude do penitente e do Confessor em pre-
sença das tentações.
a A. — Antes da tentação: a) Não se expor a elas
voluntáriamente sem razão suficiente: Deus não louva
a imprudência, nem a presunção — «vigilate ut non in-
tretis in
tentationem» (Math. xxvi, 40).
b) — Não as desejar, porque seria temeridade, (S.
Francisco de Sales, Vida devota, rtt, cap. 37); e diz Jesus
Cristo no Evangelho: «spiritus promptus est, caro autem
infirma». ^c) pedir a Deus que não nos deixe cair em
tentação, e empregar os meios que Ele estabeleceu, em
particular os Sacramentos, para lhes resistir e para as
vencer
«orate ut non intretis in tentationem».
^ d) — Esperar a tentação com firmeza e sem inquie-
tação; a perturbação seria falta de confiança em Deus e
poria em risco a resistência; nada tão precioso como a
serenidade e -o sangue frio no momento do perigo :
«acostumai o vosso coração a defrontar-se corajosamente
com as tentações e a resistir-lhes» (Vida Devota).
B. — Na hora da tentação: Combater com tática: a)
“Das tentações, umas são como cães que ladram e não
mordem; são importunas, molestam rudemente, mas ven-
cem-se particularmente com o desprêzo: «alter tentator
non
vincitur njsi contemnitur (Aug. serm. 4 Verb. Dom.)
. 6j— Outras mais
graves e perigosas, são como as
serpentes venenosas que para alcangar a présa, primeiro
a encantam e fascinam. Cohtra estas urge empregar a
maior vigilância: se, não obstante todos os esforços,
não é possível dissipá-las, cumpre fugir prontamente,
transportando a alma para terreno impropício às investi-
das do tentador: volver o espírito para pensamentos de
piedade e de fé, afim de neutralizar as sugestões más,
por exemplo, para o Sagrado Coração de Jesus, nas afei-
ções desordenadas do coração -— para o pensamento da
morte, nas tentações impuras, etc.
Se ainda assim a tentação perdura, importa imitar a
q mu
Wr VES , "4 Ws i yk yo % E
i k 4 ty
60 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
criancinha quando se vê em-perigo, isto é, clamar por.
socorro, endereçando ao céu preces ardentes, invocações '
humildes e fervorosas; — encher-se ao mesmo tempo de
coragem, reanimando energias e reiterando resoluções:
«Meu Deus, antes morrer mil vezes, do que uma só Vos*
ofender»!
c. — Depois da tentação: a) Se triunfou, alegre-
-se santamente com o Anjo da Guarda e dê graças a
Deus pelos auxílios, que dispensou; 4) Se consentiu
hunfilhe-se, cobre ânimo e confiança, levante-se quanto
antes por uma confissão bem feita — ou ao' menos por
nm acto de contrição sincero — e, imponha a si mesmo
uma reparação; c) na dúvida, não se detenha a exami-
nar; se habitualmente tem horror ao pecado e triunfa,
tranquilize-se ; se ao contrário, costuma consentir, deve-
rá presumir-se culpado.
+
4.º — Direcção das almas tentadas.
a) — Descubram estas primeiro que tudo as tenta-
ções 'ao Confessor, pois quando a doença acomete, con-
sulta-se o médico. Este acto de humildade, presérva de'
muitas imprudências, bem +como previne contra muitas
ciladas do tentador. ;
b) — Examine o Confessor atentamente, com tacto e
prudência, a natureza e a origem das tentações e bem.
assim as disposições do penitente em face delas, porque
pará ser racional o tratamento duma doença, deve‘ re-
montar à causa.
c) — Desperte e estimule as almas indolentes, temerá-
rias ou pusilánimes. A
Induite vos armaturam Dei, ut possitis .stare adver-
sus insidias diaboli (Eph. vm, I1).
Sobrii estote et vigilate quia adversarius véster dia-
bolus, tanquam leo rugiens, circuit quaerens quém devo-
ret: cui resistite fortes in fide (I Petr. v, 8).
LUTA CONTRA AS TENTAÇÕES E
Pino]
maxitie oppugnamur cum nos oppugnari non
credimus
(Hier. Ep. ad Heliod.)
Dum parvus
est hostis, elide, et nequitia elidatur in
semine
(id.) +
Ne quis
ultro tentationibus se offerre audeat (Chris.
Hom. 13).
Si tentationi non*festine resistitur, eadem, qua nutri-
tur mora roboratur (Greg. xxi, Mor.) j
Bellum grave, quia occultum, quia' cum fortiore
(Cassiod.)—
Diabolus blanditur ut fallat, arridet ut noceat,
allicit
ut occidat (Cypr. De Hab. virg.).
d; — Réanime e fortaleça as timoratas e apreste- as
para novos êxitos. * o
— Fidelis est Deus qui non patietur vos tentari su-
pra id quod potestis, sed faciet etiam cum tentatione pro-
ventum (I Cor. x, I3) — Omnia possum in eo qui me
confortat
(Philip. 1v, 13) — Beatus vir qui suffert tentatio-
nem, quoniam cum probatus fuerit, accipiet coronam vi-
tae, quam repromisit Deus diligentibus se (Jac. 1, 12).
.— Omne gaudium existimate, fratres mei, cum in
tentationes varias incideritis (Jac. 1, 2). — Novit Dominus
pios de tentatione eripere (u Petr. 11, 9). — Sub tali rege,
nempe Christo, militas, et de victoria dubitas? (Caesar.
Arel. — Hom. 19).-— Nullum: certius argumentum quod
daemones victi sint a nobis, quam si nos acerrime oppu-
gnant (Joan. Clim.).— Ipse Christus luctatur in nobis, ipse
congreditur, ipse in certamine agonis' nostri, et coronat
pariter et
coronatur (Cypr. Ep. 9). — Ad mensuram per-
mittitur
tentare diabolus (Aug. ps. 59). — Vita nostra
in hac
peregrinatione, non potest esse sine tentatione,
quia
profectus noster fit per tentationem, nec sibi quis-
quam
innotescit nisi tentatus, nec potest coronari nisi
vicerit,
nec vincere nisi certaverit, nec potest certare nisi
inimicum et
tentationes habuerit (Aug. ps. 6). — Deus
hortatur üt
pugnes, adjuvat ut vincas, certantem spectat,
deficienfém
sublevat, et vincentem coronat (Aug. in ps. 32).
— Non
extorquet daemon a nobis consensum, sed petit ;
suadere
enim et sollicitare potest, cogere omnino non po-
* corrompida.
»
t
Pa x gt T A i
& D. t .2- 3 + AA t
62 : DIRECÇÃO DE CÓNSCIENCIA
test (Aug.
Lib. 50). — Quam debilis est hostis qui non
vincit nisi
volentem! (Bernafd. Serm. 39).
[1] — MORTIFICAÇÃO»
Consiste a mortificação em combater, afastar ou des
truir, as obras e as inclinações viciosas da nossa natureza
a
Tem, portanto, por objecto :
° 1.º — As faltas e imperfeições, para as deplorar pri-
meiro e reparar em seguida. por uma justa compensação,
restituindo a Deus, já pelo sofrimento voluntário, já pela
privação de gôzo permitido (mortificação por obras), a
glória de que O privaram. A
|. 2.0.— Os defeitos, para corrigir e extirpar, quanto
possível (mortificação dos defeitos).
3.º — As inclinações más, para as reprimir, mode-
rando a violência, atenuando o ardor e atalhando os ex-
travios. (Mortificação das paixões). Rs
+
4.º — Os sentidos externos, retirando deles; o que
possa conspirar contra a virtude ou alimentar as paixões.
(mortificação dos sentidos). :
Demonstração : |
, uw.
^r ià
Pela etimologia” da palavra, mortificar significa dar a
morte e portanto neste caso, dar a morte a tudo o que
' em nós se oponha à glória de Deus “e à realização do
^
nosso fim último. Ora, são obstáculos à glória ,externa
de Deus:
1.? — As obras ou acções, contrárias à vontade divi-
na: 4) o pecado, que transgride a lei do Senhor, 6) as
imperfeições, que se lhe opõem a desejos formais, pois,
a
MORTIFICAÇÃO à; 63
já vimos acima, Deus não pode ser glorificado sem a
' conformidade plena com o seu beneplácito.
$
?— As inclinações e hábitos maus, que nos colo-
cam em perigo constante de sacrificar a glória de Deus
as satisfações da vida presente.
E' verdade que tódas as nossas inclinações teem a
sua origem no próprio Deus, que lhes marcou funções
peculiares. Reguladas, subordinadas à vontade, que era
dotada de rectidão perfeita, no estado de justiça original,
não podiam por. si mesmas transportar-se a excessos ptoi-
bidos; mas, destruida esta harmonia pelo pecado, acabou
a subordinação, nasceu a revolta, e eis que um instinto
cego as precipita loucamente para o seu objecto, que al-
cançado, fruem sôfréga, impetuosamente. E cresce esta
veemência terrivelmente, quando concessões condenáveis.
converteram estas más tendências em hábitos ou defeitos.
e
Necessidade da mortificação: E
A
1.º — Foi Jesus-Cristo quem proclamou a sua neces-
sidade fundamental, para todo aquele que queira segui-lO:
«si
quis-vult venire post me, abneget semetipsum et tol-
lat crucem suam quotidie et sequatur me». Ora, seguir
a. Jesus-Cristo, abnegar-se a si mesmo, levar cada dia a
sua cruz, O que é senão a mortificação, no sentido, que a
“definimos? | às,
,:2:º — São tão grandes os benefícios, provenientes da
mortificação, que seria grave encargo*de consciência pri-
var deles os dirigidos. Eis muito breve a sua enumera-
ção: a) desviar de nós o pecado e as imperfeições, que,
opondo-se respectivamente às ordens formais de Deus e
aos seus desejos, a mortificação evita, impedindo que as.
nossas inclinações atinjam o objecto das ou simples-
mente reprovado.
6) Dar satisfação à justiça divina, restabelecendo
o equilíbrio transtornado pela transgressão da lei; está a
4d
| (E723 PERSA
64 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA | L^
compensação em que, sendo o pecado a usurpação de. !
prazeres proibidos, é a .moftificação, a privação de praze-
res permitidos «ad praeteritorum peccátorum vindictam .
et castigationem».
c) Consolidar e desenvolver as virtudes, que bene-
ficiam por cada vitória alcangada.
d) Activar o fervor e por isso mesmo multiplicar os.
merecimentos; o esfôrço contra as tendências deprava- |
das necessita continuamente de impulso e quem o dá é
a caridade: «nutrimentum caritatis est diminutio, cupi-
ditatis». *
e) Garantir a perseverança, porque sópeia as pai-
xões e torna inofensivas as más inclinações: «ad novae
vitae custodiam et infirmitatis medicamentum», '
f) Tornar-nos similhantes a Jesus-Cristo, cuja vida
toi de renúncia e abnegação: «semper mortificationem
Jesu in corpore nostro circumferentes» (II Cor. 1v, 1o).
£) Afugentar o demónia e vencê-lo, nas tentações:
«hoc genus
daemoniorbm,. .» (Math. xvi, 20).
Principios :
I.? — A mortificação: tem,por fim domar a natureza,
sanando e aperfeiçoando, e nào destruí-la. Não deve,
pois, o confessor prescrever, nem permitir mortificações
que enfraqueçam , notàvelmente o organismo; as que
mutilam a natureZà, arruínam a saúde, atrofiam as facul-
dades e a integridade do corpo ou impossibilitam o cum-
primento dos próprios deveres, estào neste caso. Pa
. Assim, salvo 6 caso de vocação especial de” Deus,
deve proibir j jejuns rigorosos, prolongados ou muito repe-
tidos, austeridades e macerações, a capricho e sem dis-
cernimento.
2.'— A mortificação deve marchar do principal para
o acessório, conquistando terreno progressivamente. An-
tes das penitências supererogatórias, cumpre mpura as
MORTIFICAÇÃO 65
que impõe a Providência, as leis da Igreja, as obri-
gações gerais da vida cristã e os deveres do próprio
estado.
3.º — Deve acomodar-se às fórgas, necessidades espi-
rituais, género de vida e temperamento de cada peni-
tente.
a) „E evidente que são necessárias as mortificações
de obrigação, mas devem moderar-se prudentemente as
de supererogação, sobretudo, nos princípios da vida es-
piritual, quando a alma inflamada em ardente fervor.
sensível, é capaz de excessos perigosos. Se neste período
o confessor não intervem eficazmente, pode a alma, trans-
portada de zélo intempestivo, propór-se um plano de
vida, perene de austeridades e demasias, que não poderá
“realizar mais tarde, quando se dissiparem os primeiros
fervores e as primeiras consolações, vindo então a cair
muito fácilmente no desalento e tibieza, pelo achar in-
comportável.
b) Não imponha grande cópia de mortificações su-
pererogatórias, sem primeiro as fazer desejar; em vez do
efeito que pretende, teria desfalecimentos, tédio espiri-
tual e melancolia.
l c) Evite as que obrigam a forte tensão de espírito e
grande esfórgo das faculdades, porque cansam a alma
e privam-na da paz, que caracteriza a virtude verda-
deira.
d) Contra dois escolhos particularmente, a vazg/ó-
ria e a singularidade, cumpre, nas mortificações corpo-
rais, prevenir o penitente; e nas de supererogacào pre-
ferir as que são de natureza a combater o defeito domi-
nantie, começando pelas mais fáceis, para a pouco e pou-
co chegar às mais custosas.
66 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
“Como dispor o penitente para a mortificação :
1.0 — Fazer-lhe compreender a importância e neces-
sidade da mortificação cristã.
2.º — Tornar-lhe amável esta virtude pelo exemplo
do Salvador e dos Santos: «fs palavras movem, os
exemplos arrastam». |
3.º — Propor-lhe para cada mortificação uma inten-
ção nova e apropriada, v. g. hojé, para pedir tal graça,
amanhã, em memória de tal sofrimento do Salvador, de-
pois, para expiar tal falta, etc.
4.0 — Interpretar e expor à consideração, estas e
outras palavras da Escritura e dos Santos:
«Vae qui saturati estis! vae vobis qui ridetis nunc!
(Luc.
vi, 25). Debitofes sumus non carni ut secundum
"carnem vivamus; si enim secundum carnem vixeritis,
moriemini; si autem spiritu facta carnis mortificaveritis,
vivetis (Rom. vur, 13). — Castigo corpus meum et in ser-
vitutem redigo, ne forte cum aliis praedicaverim, ipse re-
probus efficiar (I Cor. 1v, 27). — Semper mortificationem
Jesu in corpore nostro circumferentes, ut et vita Jesu
manifestetur in corporibus nostris (II Cor, 1v, 10). — Qui
Christi sunt carnem suam crucifixerunt cum vitiis et con-
cupiscentiis suis (Gal. v, 24). — Mortificate membra ves- -
tra quae sunt super terram (Coloss, itr, 5). — Charissimi,
obsecro vos tamquam advenas et peregrinos, abstinere
vos a carnalibus desideriis, quae militant adversus ani-
mam (I Petr. 11, 11). |
Adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne
mea (Coloss. I, 24). — Jure ea fortitudo vocatur, quando
unusquisque seipsum vincit, nullis illecebris emollitur
atque
flectitur (Ambr. I, off. 40). — Habeft sancti. viri
hoc proprium, ut quo semper ab illicitis longe sint, a se
plerumque etiam licita abscindant (Greg. 1v. Dial.). — Co-
PROVAÇÕES 67
v
gitandum summopere est ut qui se illicita meminit com-
misisse, a
quibusdam etiam licitis studeat abstinere (Greg.
in Evang.).
— Non vis a Deo castigari, nec in hac, nec in
altera vita? sis judex tui ipsius ; rationem a te exige, te
reprehende
et corrige (Chris. in 1 Cor.). — Justorum for-
titudo est carnem vincere, propriis voluptatibus contraire,
delectationem vitae prdesentis extinguere, hujusmodi as-
pera pro aeterno praemio amare (Greg. vu. Moral. 8). —
Si temetipsum perfecte viceris, coetera facilius subjuga-
bis; perfecta victoria est, de semetipso triumphare (Imit.
IH, 33). — &
IV — PROVAÇÕES (tribulações)
A.— Da provação em geral '
Provação é toda a espécie de sofrimento, que a Pro-
vidência nos envia para nos desapegar da terra e levan-
tar para o céu. | a P"
=
1.º — Alêm das pênas e trabalhos que nos impomos
- para mortificar a nossa natureza (mortificação cristã), ha
muitos outros que nos sobreveem inevitavelmente, por vias
várias, com repercussão em todo o nosso ser.
Tais os incómodos de cada dia, corporais uns, cau-
sados pelas privações, acidentes, enfermidades, doenças;
morais outros: temores, angústias, tédios, sobressaltos,
humilhações, tristezas, 'abatimentos, etc., emfim, um cor-
tejo interminável de contratempos e misérias. ,
- Causas de tudo isto são as contrariedades, os reve-
zes; a pobreza, o luto, o abandôno, as securas e aridez
espirituais, os escrúpulos, as misérias humanas, a obses-
são e possessão diabólicas.
2º — E quem desencadeia tantos flagelos sobre a
pobre humanidade? E', em última análise, a mão de
. Deus. Se não fôsse o pecado, o homem nunca teria que
sofrer. No paraíso terreal era impassível, imortal, rei da
criação, nem o inferno podia nada contra êle, porque a
68 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
. :
justiça original era garantia de tão preciosas imunida-
des... Mas, veio o pecado, e Deus, como já havia preve-
nido, retira essa lei preservativa, É parece que desde logo
começaram todas as criaturas de armarem-se contra o ho-
mem. Réus do pecado, Adão e Eva e sua posteridade,
ficarão á mercê da fórça bruta e cega da matéria e das
energias conscientes do mundo daf inteligências. A água,
o fogo, o tempo, as feras, obedecendo ás leis inflexíveis
da sua natureza, a perversidade humana ou diabólica, en-
tregando ao instinto as rédeas da liberdade, serão terrí-
veis agentes a percorrer o mundo para o 4nundarem de
sangue.e de lágrimas. E por cima de todo éste éspectá-
culo horrendo, onde*gemem, sem tréguas, legióes de víc-
timas, vê-se á luz da fé, pairar magestosamente a Justiça
de Deus, ora decretando os golpes a dar, e — muitas ve-
zes, cômo a custar-lhe ferir por si mesma — confiando a
outrem a sua execução, ora, deixando entrar nesta arena
das suas, Vinganças, mãos criminosas e crueis, pronta a
logo as despedaçar, após as ter empregado...; quer fe-
rfr sem contudo condescender com o punhal que dá o
golpe... quer ferir, não pelo prazer de vêr sofrer, mas
pela felicidade que tem em realizar a cura.. tal como
a mãe que vê o médico dilacerar as carnes inocentes de seu `
filho, animosà, com a esperança de o ver recobrar a saúde,
3.º — Razões por que déve o director valer ás
almas nas tribulações. ha
a
a. — Bem aproveitadas, as tribulações proporcio-
mam! grandes vantagens: a) gurificam: o grande valor
do sofrimento, consiste em reparar o pecado, «o Senhor
ao que ama castiga, e depois compraz-se como um pai em
seu filho (Prov. wu, I2). N
“b) Convertem: «vendo-se na tribulação, dar-se-hão
pressa em voltar a mim; vinde, dirão, e tornemo-nos
para o Senhor» (Os. vi, 1). ' r |
Com efeito, a tribulação faz very á criatura o seu
nada e impotência, e ao mesmo berti e Du e confes-
» $
PROVAÇÕES 69
sar a omnipotência e justiça de Deus: «castigaste-me,
Senhor, e eu, qual indómito novilho, aprendi» (Jerem.
xix. 19).
^c) Santificam e consolidam na virtude: aos que so-
frerem nesta vida, Deus aperfeiçoará, fortificará e conso-
lidará» 1 Petr. v, 10).
E na verdade, o desapégo das criaturas desembara-
..ca-nos o caminho dos obstáculos ao nosso adiantamento.
d) Enriguecem-nos para a outra vida: .«bemaventu-
= rado o homem que sofre a tribulação, porque depois da
prova, receberá a corôa da vida, que Deus prometeu aos
que O amam» (Tiag. 1, 12). — «O que nesta vida é leve
. momento de tribulação,-será no céu üm pêso eterno de gid-
ria» (u Cor. Iv, 17).
e) São-fonte de consolações inefáveis, que dilatam
a alma: «Astou cheio de consolação e superabundo te ale-
gria em todas as nossas tribulações» (x Cor. vm, 4). —
Bendito seja Deus, que nos consola em todas as nossas
tribulações» (S. Paulo).
B. — Desprezadas, causam as tribulações tal quanti-
dade de faltas, que desorganizam inteiramente o maqui-
nismo da yida espiritual: «queixas contra a Providéncia,
talvez blasfêmias, angústias, , desânimos, desespêros, ciü-
mes, inganças, etc.
4.º — Direcção rãs tribulações:
e
A. — Não pedir a tribulação: «Sem inspiração
particular do Espírito de Deus, que só muito raras -
zes é concedida antes do quinto grau da piedade, € |
sempre presunção e perigo pedir a Deus a
(Tissot, v. Int.).
(
` B. — Valer-se das'caute/as e meios ordinários, que a
“prudência indica, para evitar certos sofrimentos ou tribu-
lagóes: «devo, com efeito, preservar a alma e o “corpo,
se eu puso óc lesões funestas, obrigação que não só a
70 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
^ j
natureza impõe, como tambem io dever de cuidar da
saúde “espiritual ou corporal; - por isso devo evitar certos
sofrimentos, que não sendo um perigo, são, entretanto,
obstáculo real ao meu viver natural ou sobrenatural.
c. — Aceitar, como vindas da mão de Deus, as tri-
bulações inevitáveis, aceitação que comporta vários graus:
a) aceitação paciente e resignada: Deus é que manda,
ah! aceito! inclino-me em profundo abatimento diante
“das suas impenetráveis determinações | Seja feita a sua
vontade bendita | | :
b)— Aceitação filial e reconhecida: «é um pai, mais
terno que a mais tefna das mães, Aquele que'me envia
estas amarguras! lango-me com confianga,nos seus bra-
cos amorosíssimos, porque Ele só quer a minha felici-
dade;"se fere, é para meu bem (quos amo arguo et cas-
tigo), por isso, repito com Job: sit nomen Domini bene-
dictum l .
c) — Aceitação amorosa e com júbilo: sofrer é ser
sémelhante a Jesus; como não amar a Cruz, que Jesus
abraçou com tanto amor? oh! sim! eu digo com Santo
André: «O bona Crux, diu desiderata et jamsconcupis-
centi animo praeparata; securus et gaudens venio ad te,
ita et tu exultans suscipeas, me, discipulum Ejus qui pe-
. pendit in
te! (Brev. Rom .).
5.^— Para que sejam bem aceites as tribula-
ções, faça o Director — a) lembrar e compreender as
vantagens acima enumeradas; b) persuada que as muitas
tribulações são prova tanto maior do muito amor de Deus
para comnosco: «entre amigos, a prova ültima da amizade
é o sacrifício em situação custosa ou crítica,4levado até
ao heroismo, se necessário fôr; ora, quantas vads o amor
verdadeiro obriga a prestar um serviço, que fere, que
punge, mas que é necessário! é forte, mas é amigo ver-
dadeiro o que o presta. Dizer amabilidades, dar prazer,
não custa! mas dizer verdades amargas, anunciar uma
nova funesta, aflictiva, pedir um sacrifício martirizante a
*
IH PROVAÇÕES 71
um amigo, porque é amigo e para seu bem, eis uma força
que só a verdadeira amizade pode outorgar |» (Tissot, v.
V. Tat: 8). s:
* c) — Faga.compreender que nada mais sensato do
que langar-se nas mãos de Deus e abandonar-se confiante
á sua misericórdia, como um filho que se entrega aos
cuidados ternissimos de sua màe. Nào sabemos nada do
que nos convem ou é funesto, porque a nossa inteligência -
o não alcança, mas Deus sabe tudo! Como nào nos en-
tregarmos com alegria
à sua solicitude !
d) — Meditar os seguintes pensamentos:
«Cufi ipsorum in tribulatione, eripiam eum et glori-
ficabo eum, (Ps-90) — Et nos ergo non ulciscamur pro
his quae patimur, sed reputantes peccatis nostris minora
esse flagella Domini quibus servi corripimur, ad emenda-
;tionem et non ad perditionem nostram evenisse creda-
mus (Judith, vim, 26). .
Amen, amen dico vobis, quia plorabitis vos, mundus
autem gaudebit, vos autem contristabimini: sed tristitia '
vestra
vertetur in gaudium (Joan. xvt, 13). — Per multas
tribulationes oportet nos intrare in regnum Dei (Act.
xiv, 21).— Tribulatio patientiam operatur, patientia autem
probationem, probatio vero spem (Rom. v, 4).— Existimo
quod non
sint condignae passiones hujus temporis, ad fu-
turam gloriam quae revelabitur in nobis (Rom. vm, 18).
-— A Domino corripimur ut non cum hoc mundo damne-
mur (I Cor. xr, 32). — Mihi absit gloriari nisi in cruce
Domini nostri Jesu Christi (Galat. vi, 14). — Omne gau-
dium existimate, fratres mei, cum in tentationes varias
incideritis, scientes quod probatio vestrae fidei patientiam
operatur.(Jac. 1, 2). — Quem diligit Dominus castigat,
flagellat autem omnem filium quem recipit (Hebr. xiíi, 6).
— Quia acceptus eras Deo, necesse fuit ut tentatio pro-
baret te (Tob. xir, 13): — Communicantes Christi passio-
nibus gaudete, ut in revelatione ejus gaudeatis exultantes
(I Petr. 1v, 13). — Non te sine flagello spera futurum nisi
forte cogitas exhoeredari: flagellat omnem filium quem
A ` " + Li
72 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
recipit. Ita ne omnem? ubi te volebas abscondere? omnem
et nullus
exceptus; nullus sine flagello erit. Quid, est
. # :* - é t * R
omnem? Vis audite; quem omnem? “étiam Unicus sine
peccato,
non tamen sine flagello (Aug. aids: 32). — *
Intelligat homo medicum esse Deum'-et tribulatio-
nem medicamentum esse ad: salutem, non poenam ad
damnationem. Sub medicamento positus, ureris, secaris, .
clamas. Non
audit medicus ad voluntatem, sed audif ad
sanitatem (Aug: ps. 21). — Non invenit locum sapientia
ubi non est patientia (Aug. Serm. 4-de V. A.).
Sine ferro et flamma martyres esse poscimus, si pa-
tientiam in animo veraciter conservamus (Greg. Dial. x).
— Quando Deus dat alicui ut mórtuos suscitet, fffinus dat
quam cum dat donum patiendi. Pro miraculis enim de-
bitor sum Deo, pro patientia debitorem habeo Christum
(Chris.4Ep. Phil). — Si quis mihi daret totum coelum,
aut Pauli catenam, ego illam praeferrem (Id.-Ep. Eph.).
B.— Da provacáo em especial
I. — Aridez espiritual
Aridez espiritual é o estado da alma, que a-pesar-
-de todos os esforços, não pode, no momento da oração ex-
citar em si pensamentos piedosos, nem afectos de devoção:
| 1.º — No estado normal, a alma, posta em presença
de Deus e contemplando as suas perfeições, encontra o
alimento superabundante que reclama a inteligência, se-
quiosa de verdade e imediatamente do coração brotam
afectos de inefável amor; experimenta um bem-estar in-
comparável, ao sentir-se na posse do Bem supremo; por-
que, apesar da depravação original, o homem conserva
em si o instinto da Divindade, e conhece-se, na origem e
no destino, propínquo de Deus, causa primária e fim úl-
timo. Mas quantas causas são óbice a esta união e a esta
posse! O pecado e mais ainda o vício, comprimem e
quebram os nossos transportes para Deus! intercep-
E »
d. us
e e
` PROVAÇÕES 73
tam-se, qual barreira insuperável, entre o nosso coração
e a Divindade; «animalis homo non férepii ca quae sunt
spiritus Dei». x.
Depois, asdoença, a debilidade fisica, o cansaço, uma
digestão custosa, podem mais ou menos paralizar a acti-.
vidade do espírito e tornar a oração laboriosa e árida.
Enumeremos ainda preocupações, que prendem, negócios,
que absorvem, e /evzandades e dissipações, que impedem
as faculdades de mobilizar forças, com que a alma se
aplique às cousas de Deus.
Emfim, quem não compreende que Deus pode, por
modo de > próvação, subtrair-se as pesquizas da aima,
ocultar-sé"de seus olharês e deixá-la assim na mais de-
plorável impossibilidade de orar, na mais angustiosa e in-
RETAS aridez?!
d.
9 — Atitude da alma provada pela aridez.
a. — Deve reagir contra êsse estado de alma, que é
doentio, e, porque oferece perigos, exige cuidados: frias,
"
frouxas, indiferentes as relações da alma com Deus, não
irá ela procurar nas criaturas a felicidade que n'Ele agora
não encontra? Faltando-lhe na oração e meditação, o calor
que dulcifica e o bálsamo vivificante das doçuras espiri-
tuais a contrabalançar a influência das paixões, não cor-
rerá ela risco de seguir antes estas e de cair na mais de- .
plorável tibieza? Importa, pois, reagir fortemente : a) in-
vestigue com a ajuda do Director as causas désse resfria-
mento para com Deus e supríma-as quanto possível; 4)
empregue todos os meios para se entregar devidamente
á oração: recolhimento, preparação cuidada, método au-
torizado; c) peça a Deus instantemente, não já as con-
solações sensíveis; mas o gósto pelos exercícios de pie-
dade, e a facilidade em os praticar; desta espécie tem a
Liturgia da igreja muitas orações.
— Aceitar com ánimo forte a provação e aprovei-
tar dela, até que Deus a dissipe.
Bs ec Se MS P
74 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
| Vos: LN |
Será de grande benefício para a alma, se, reagindo, `
como dissemos, a aproveita -para se humilhar, e sofrer, `
perseverando não*obstante, em ser fiel aos exercícios de
piedade. | = è
3.º — Direċção da alma nesta provação.
. a) . Estimulá-la a reagir. generosamente, (empregan-
do os meios) contra a aridéz espiritual. |
«Qui declinat aures suas ne. audiat legem, oratio
ejus erit execrabilis (Prov. xxvnr, 9). — Iniquitates
vestrae
diviserunt inter vos et Deum vestrum, et pecêita vestra
absconderunt
faciem ejus a vobis, ne exaudiret (Is. LIX, 2).
— Ante orationem praepara animam tuam et noli esse
quasi homo qui tentat Deum (Eccli xvur, 23).— Humilium
et mansuetorum semper tibi placuit deprecatio (Judith. ..
ix, I6). — Scitote quoniam exaudiet Dominus preces ves-
tras si manentes perseveraveritis in jejuniis et in oratio-
nibus in conspectu Domini (Judith, iv, 12). RO
b) Animar e alentar as que mostram esfôrço e boa
vontade"nesta provação; lembre-lhes o exemplo dos
. Santos, que, como Santa Teresa, passaram pelas mesmas
tribulações; recorde-lhes que lutando e sofrendo, adqui-
- rêemimerecimentos e obterão graças especiais, que hão-de
“suprir as considerações suaves e profundas.
" E
| c) Formá-las no costume de levantar muitas. vezes |
ao dia o pensamento e o coração a Deus.
E Ee
Xe 2, —
Eserúpulos
TN ; ^
| | *
O éserüpulo é um temor infundado e aflictivo de pe-
car ou de ter pecado (Poulain, gráces d'oraison). "3
Alma escrupulosa é aquela que, sob frívolo funda-
mento, que reputa sólido, tem por ilícito o que de facto
+ p w:
1 " ^n:
“
PROVAÇÕES
a
I
wa
€
1%
não é; e daí uma anciedade contínua e a convicção de
“pecar "Hed e gravernente..
, I. — O temor fundado de pecar revela uma cons-
ciéncia | timorata e por conseguinte uma alma delicada no
serviço de Deus. Tais pessoas, porque são almas de elei-
ção, qe temem as mais pequenas faltas, quanta injustiça
não ha em as invectivar de escrupulosas| é sentenciá-las
sumáriamente para as expor ao desprézo e ao ridículo |
* — Se o receio só é fundado” insuficientemente, e sem
^
sobressalto, é antes errónea e nào escrupulosa, a .cons-
ciência. |
As apreensões vãs que tiranizam o escrupuloso, po-
dem ter por objecto toda a moral ou parte dela. Assim,
ha pessoas escrupulosas em matéria de justiça, por exem-
plo, e laxas em matéria de castidade. Mas o terreno
mais propício para escrúpulos é quasi sempre o que diz
respeito a intenções e a disposições interiores: «não decla-
rei bem os pecados... não tenho contrição perfeita... de-
certo fui causa de tal maledicência... prejudiquei, pare-
ce-me, o próximo, por falta de cuidado.. quiçá, fui causa
daquela tentação, porque fui imprudente... consenti, por
certo, naquele pensamento desonesto... distrai-me, talvez
voluntariamente, durante a missa... etc.». À tendência
para os escrúpulos pode provir, ora dum temperamento
melancólico e tímido, ora duma imaginação tão viva e
impressionável, que falseie a razão; já da educação muito
oprimida ou convivência com pessoas escrupulosas, já de
direcção espiritual mal orientada, ou do desejo excessivo
de obter a certeza no que respeita á salvação.
«Admitem os médicos que o escrüpulo invéteràdo
tem fundamento no organismo; é por isso que os escru-
pulosos habituaisgestão sujeitos a toda a sorte dei; cMEUTO-
ses: nervosismo, neurastenia, etc. e entram assim ha ca-
tegoria dos doentes que chamam «fóbicós», isto é, que
tem, .um temor instintivo, errado, desarrasoado e obsti-
nado, por mais que se tente curá-los» (Poulain, Gr.
d'oraison).
A ie
^
76 “DIRECÇÃO Di Gowscrewcia EA E Op
a * LOK
Ha ainda à notar que bém o demónio pode. in-
tervir como causa principal do escrüpulo, e quando tanto
não seja, empenha-se em o conservarte intensificar, para .
cansar à alma e conduzí-li por fim ao tédio espiritual e
ao desespéro.
2.º — Impõe-se como necessária a “cura*desta .
doença porque a) o escrüpulo é um 2770 e o êrro não
pode levar a Deus, Verdade Suma; 4) porque é origem
de perturbação e angiüstià ; ora diz o Espírito Santo:
«non ifj commotione Dominus».
c) Criando o escrüpulo raizes inveteradas, torna- se,
pode-se dizer, nào. só incurável, mas tambem a'causa da
maior ruina espiritual: estiola a piedade, invade com
distracções a oração, extingue o recolhimento, paralisa a
confiança, enfastia dos sacramentos. ^
Pode, demais, arrastar ás piores conseqüéncias: can-
sada aalma por tão incomportável martírio, desespera
da salvação, volta-se para as satisfações dos sentidos e-
não raro procura no suicídio o términus de tanto sofrer !
d) Tambem sôbre a saúde e o carácter têem os s-
crüpulos funestíssima repercussão, fazendo das suas: vícfi-
mas séres ridículos e ineptos, insuportáveis, mesquinhos
exincapazes até de cumprirem os deveres do próprie
estado. . |
E
3." — Direcção das almas eserupulosas.
Jd A5 .
A. — Quando na alma se revelam sintômas manifes-
tos desta doença, cumpre estudá-la com empenho até
diagnóstico seguro. E’ ou não escrupulosa ? se é, se ha
certeza, ém que se funda a doença? quais as causas e
“sobretudo” qual é a causa principal? «té que ponto já
criou raízes? Só depois dêste estudo é que poderá for-
mular os princípios e estabelecer + os remédios para ` a
cura., . à E
— Arme-se então de paciência, caridade e zéle
PROVAÇÕES* . 77
5 . l
para prescrever os meios necessários e aplicá-los com
. bondade e firmeza inflexível.
c.— Em tarefa tão momentosa e difícil, condição
necessária e fundamental é a obediência cega às determi-
nações do Confessor. Para conseguir esta docilidade € in-
.dispensável primeiro convencer bem o penitente da sua
necessidade e de quanto é seguro ,o caminho da obediên-
cia. Repita-lhe e persuada aquélas palavras de Jesus:
«0 que vos ouve, a Mim ouve» e estas de S. Bernardo:
«Devemos, no que não é declaradamente contra Deus, es-
cutar como a Deus mesmo, aqueles que na terra são seus mi-
nistros». -Convença-se, repetimos, custe o que custar, de
que o 2£:2c0 caminho seguro, para chegar ao céu, é o da
obediência e de que nunca Deus qualificará de delicto, as
faltas que a alma, cheia de boa vontade, cometer por
efeito: de submissão dócil e perfeita. E’ esta uma ver-
dade tão fundamental e indiscutível, que se o escrupuloso
se obstinar afincadamente no seu modo de ver, não resta
recurso algum para o salvar, — àparte um milagre da graça,
"- terá o Confessor simplesmente que resignar-se e de-
sesperar por completo de realizar a cura!
D, — A este remédio geral e TE devem
seguir-se outros particulares, consoante as necessidades
especiais. de cada alma. Combater primeiro e directa-
mente a causa principal dos escrúpulos: se esta é o tem-
peramento ou disposição doentia do organismo, obri-
gue-se O penitente a tratar devidamente da saúde; se é
o demónio o principal agente, oponha-se-lhe a humil-
dade, a pureza de coração e a oração assidua; se são
os preconceitos ou ideias erróneas e falsas, instrüa-se
e formem-se-lhe ideias novas, de harmonia com a ver-
dade. Fá-de exigir tambem, indispensdvelmente uma
fidelidade inviolável ds seguintes regras: a) não acusar
nunça as faltas duvidosas, nem as tentações sôbre a ma-
téria do escrúpulo. Não falar nunca, na confissão, dus
pensamentos, desejos e intenções que falsamente julgam
-
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"W “ e Y Mans 4
^ ' x ` *
p:
B
78 «DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA `
criminosas e que são contínuamente-o martírio dessas
almas atribuladas. | |
b) nunca permitir que geral ou parcialmente retor-
mem as confissões passadas, a não ser que haja absoluta
certeza de haver faltado a precisa integridade ou a con-
trição. ! |
c) Nas decisões seja firme o confessor e“firme o pe-
nitente; deixe éste as dúvidas, as perplexidades, não va-
cile um instante; remova;a irresolugào, formando a-cons-
ciência unicamente pelas “palavras do confessor; ás pró-
prias jideias, lembranças, apreensões, nào dé o menor
crédito, antes as despreze decididamente como érro que
sáo e mentira.
d) Práticamente, o escrupuloso deve considerar
como insignificante e para desprezar, toda a dúvida que
não pode garantir com Juramento.
: 3. — Possessão e Obsessão
E' certo que o demónio pode, por permissão de
. Deus, exercer influência e dirigir ataques contra o .ho-
mem, produzindo nos sentidos externos ou internos, ofe-
rações e impressões, anómalas, dolorosas ou aflictivas.
-Radicalmente perverso e maligno, lança mão de quanto
"possa contrariar a glória de Deus e a felicidade do
: “homem. Mg
| Antes de Jesus Cristo, que lhe arrebatou o império,
conquistado pelo pecado original, era grande o seu pode-
rio, acerba a sua tirania. Hoje visa o seu empenho a
atormentar a alma antes do que o corpo, acorrentando-a,
se pudér, com as cadeias do pecado, mas o ódio insaciá-
= vel que tem à humanidade leva-o a lançar mão de todos
os meios e, se Ihe fór dado, descarregar tambem sóbre o
córpo os mais pesados golpes.
| Basta que Deus afrouxe as rédeas por um instante
para êle se precipitar sôbre a víctima e fazê-la sofrer du-
ramente. |
A opressão e vexame terrível que, com a inaldade é”
PROVAÇÕES /9
“astúcia que o caracterizam, pode exercer sôbre o homem,
são para êle ocasião feliz de saciar toda a raiva, de ma-
nifestar poderio e autoridade e de prosseguir na obra
. nefanda de perder as almas. Frequentes outrora, como
vêmos pelo Evangelho, os seus ataques e vexames contra
a humanidade, que calcava despótico, quási único senhor,
tornou-se dêminuta entre cristãos a sua influência, desde
que o Homem-Deus o venceu, triunfando da morte e do
inferno, sôbre o Calvário. |
^ Quando a sua acção se exerce unicamente, ainda
que com violência, sôbre o córpo e faculdades sensitivas,
chama-se obsessáo.
De sorte que neste caso, apodera-se, contra a von-
tade do paciente, dos membros, (língua, mãos, etc.) para
o obrigar, ora a palavras, gestos e actos escandalosos e
desonestos, ora a não realizar coisas e acções, que lhe
desagradam ; agora, exerce pressão rígida sôbre os senti-
dos e seus órgãos: visões estupendas, pavorosas, que
apresenta á imaginação e á vista,— blasfêmias, obscenidades
e alaridos ensurdecedores, aos ouvidos, —- fétidos irrespi-
ráveis, nauseabundos, ao olfato; logo, morde, bate, fere
cruelmente ou provoca doenças extraordinárias, que até
por vezes enredam sériamente a medicina. — Outras ve-
zes invade tão profundamente o corpo, que parece incar-
nado néle; por tal forma parece fazer as vezes da alma,
que a priva do domínio das suas faculdades e lhe faz per-,
der o conhecimento e toda a actividade intelectual, fi-
cando de todo o exercício, movimento e acção êle o único
autor. Eis neste caso a possessão.
Porque permite Deus ataques desta natureza a cria-
turas suas e ás vezes a almas justas?
"Podemos indicar quatro razões: a) para nos inspirar
horror ao demónio com provas palpáveis da sua. malva-
dez; — 5) para nos fazer temer o pecado mortal; quando
é tão grande a tirania que êle exerce sôbre o corpo,
coarctado e açamado, que não fará á alma, que se lhe
“entrega voluntáriamente pelo pecado? c) para nos fazer
temer o inferno: os vexames que faz sofrer aos possessos
80 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
são pálida imagem apenas do que fará sofrer aos répro-
bos. d) para nos exercitar nas virtudes da paciência e
mortificação e nos purificar das imperfeições.
Direcção das almas vexadas pelo demónio.
a) ramine com cuidado se de facto ha possessão
ou obsessão. Para isso use de toda a circunspecção e
deponha de si qualquer preconceito: não acredite fácil-
mente na vexação diabólica, bem como a não regeite
à priori. Na dúvida, recorra a médicos entendidos e a
teólogos doutos e experimentados...
Apresenta o Ritual vários sinais para averiguar da
intervenção diabólica: «falar correntemente e compreer-
der uma língua que nunca se aprendeu; revelar coisas
ocultas ou longínquas, cujo conhecimento não pode ser
obtido por meios naturais; dar' provas de fôrça extraor-
dinária, inexplicável naturalmente, etc.».
b) Purifique, por sua parte, o penitente a conscién-
cia pela contrição e estado de graça, de sorte a tornar
insuportável em si a permanência do demónio e ao
mesmo tempo conseguir de Deus o termo da provação.
c) Sujeite-se a tratamento médico e sanitário, de
molde a tambem o organismo reagir contra a acção dia-
bólica.
d) Recorra ao jejum e á oração, segundo a reco-
mendação do Salvador: hoc genus.. ; aproxime-se santa-
mente da comunhão e use dos Sacramentais que a Igreja
instituiu para reprimir a acção dus demónios.
e) Pode empregar tambem os exorcismos, contanto
que observe rigorosamente as normas da. Igreja a êsse
respeito. Emfim, lance mão de todos os meios que con-
corram para diminuir ou suprimir tão terrível provação.
PROVAÇÕES 81
4. — Perseguição dos homens
Consiste esta provação em que as pessoas virtuosas,
as mais perfeitas sobretudo, estão muitas vezes expostas
a tôda a sorte de contradições : desprêzos, calúnias, injus-
tiças e até vexames — já por parte dos infieis, descrentes
ou herejes, — já por parte dos maus cristãos e mesmo
dos cristãos perfeitos e fervorosos: «et omnes qui pie vo-
lunt vivere in Christo Fesu persecutionem patientur».
Nào admira que as pessoas piedosas, por praticarem
a virtude, sejam perseguidas pelos maus e por pessoas
mal intencionadas «nolite mirari si odit vos mundus» —
mas o que é á primeira vista surpreendente é que te-
nham a sofrer imenso e sobretudo, por parte das que de-
viam ser o seu arrimo e sustentáculo ría vida de piedade.
E' que Deus permite muitas vezes a ilusão sobre
pessoas de elevada santidade, cuja virtude um certo con-
curso de circunstâncias desfavoráveis faz eclipsar ou igno-
rar; exemplos desta ordem temos com frequência nas vi-
das dos Santos e nos processos de canonisação. Eis o
que diz o Cardial Lauroea no opúsculo 6.º sobre a Ora-
ção: «Deus permite por vezes que homens inocentes e
bons sejam mortificados e punidos pelos seus superiores
hierárquicos, mal informados. Era-me fácil citar exem-
plos, môrmente entre os Regulares.
Encontram-se com frequência nos mosteiros, homens
“que, por Ódio, inveja, ciúme e até por zêlo, mas zélo que
não é segundo a razão, perseguem sem tréguas e a-pesar-
-da sua Yirtude, um ou outro confrade, sem culpa, nem
delito. - Mas, não ha dúvida que é com o vinho melhor e
mais delicado que se prepara o vinagre mais excelente».
«Outra provação, diz o P. Poulain, que*à primeira
vista parece insignificante, mas que por tempo enerva e
desalenta, é a convivência com uma pessoa 777z/dve/, que
pör mais que se faça, tem sempre que dizer, que replicar
e censurar. à
: Da sua boca nào sai nunca uma palavra de aprova-
ção. Terá entre os estranhos reputação de bondade e
' | 6
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82 | DIRECÇÃO DE! CONSCIENCIA o. A Nn i y
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doçura, porque se desfaz em atenções e obséquios quando: ;
precisa ou teme; fóra disso é insuportável; porque seus, .
nervos, quais pilhas elétricas, estão sempre acumulados e
prestes a descarregar. E’ impossível com tais pessoas
tratar Seja o que for, com serenidade. Não se mà
ninguem, nem ouse dizer-lhes que foram mal informada:
ou que deram ordens equívocas e contraditórias; a tét
pestade que logo se levanta é de tal ordem, a edita
tão extrema, que dir-se-ia um vulcão em crepitante e
activa erupção. Só elas é que teem razão, é que sabem,
é que julgam certo. E’ evidente que tal proceder' en-
volve falta grave contra a caridade e é um verdadeiro
flagelo para os subordinados.
As víctimas desta tribulação cumpre ao Director tra-
tá-las com bondade, inspirar-lhes,espírito de fé, grandeza .
de ânimo e paciência. Vejam N. S. Jesus Cato e tantos
Santos, como tiveram que sofrer! Temos ainda que tão
grande contrariedade é ocastão excelente para a formação
sólida na virtude, e é fonte de merecimentos, pelo exer-
cício da humildade, paciência e caridade; demais, Deus
concederá por isso muitas graças e até graças extraor-
dinárias.
V— DAS ILUSÕES
Fla ilusão quando se vê como existente o que não.
existe ou diferente do que existe.
No sentido moral, a inteligência é víctima de ilusão,
„quando não apreende o objecto do conhecimento se-
- gundo a luz da verdade, mas sob um falso brilho que a
transvia na directriz da vida. Tratamos aqui tão sómente
das ilusões que teem repercussão na vida espiritual,
e e i
1.3 — Origem das ilusões,
Proveem: a) Da fraqueza da nossa razão. +
A nossa inteligência sentiu minguar-lhe a potência
perceptiva e compreensiva, após o golpe com que a feriu
o pecado original.
A
DAS ILUSÕES 83
"P |
Ficou limitado a horisontes mais restrictos o alcance
da sua visão e a eficiência da sua energia afrouxa, can-
'sa-se rapidamente com o esfôrço. Cativa da imaginação,
perde-se fácilmente na arena em que labuta e é por isso
marcado com o sinete da caducidade o fruto do seu labor.
e b) -- Do influxo das paixões.
7?" No íntimo do nosso coração, quantas tendências de-
sordenadas, que obscurecem o espírito! Sob o seu im-
pulso, por vezes terrível, a atenção vagueia por longe
dos princípios sãos e arreda-se das considerações, scinti-
lantes de luz e de verdade; desvia-se dos raios do sol
que a ofuscam e fixa-se numa semi-obscuridade, quási tre-
vas, onde abundam e medram máximas e preconceitos,
que legitimam quanto nos apetece. E dentre as paixões
assim a conspirar contra a razão, surge com mais influên-
cia, ora o “amor, ora o orgulho, que alucinam e cegam
por modo sempre crescente: «amor facit insanire».
c) — Da influéncia do mero.
E'-nos impossível por assim dizer, escapar na vida à
acção fascinadora do mundo: são máximas erróneas,
princípios falsos, que invadem todo o nosso ser; é o ar
que respiramos, todo saturado do seu espírito, bem como
o que nele vemos e ouvimos; de sorte que infiltra-se em
nós por tal modo o veneno do êrro, que o pensar dos
mundanos é o nosso pensar, o seu querer o nosso querer.
Que forte, fortíssima reacção não é precisa para nos
libertarmos de tal espírito !
2.º — Principais ilusões; seus remédios.
«O terreno das ilusões, diz Mgr. Gay, é tão vasto
como a obra da criação. Tudo nos pode-iludir; a nossa
alma, posta em relação com uma criatura qualquer, pode
sempre considerá-la sob um aspecto que não tem; não
ha nada que ferindo-nos, não possa produzir ' impressões
inexactas. Comtudo na vida espiritual, as principais illu-
sões dizem respeito, a Deus, ao próximo, e a nós mesmos.
Eis a divisão que nêste estudo adoptamos. ^
EG RR O
YE DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
Ilusões a respeito de Deus
Examinemos as que: influem mais directamente sô-
bre a nossa vida moral. '
“Conceito errado sôbre as perfeições divinas.
1.0 — Fazemos falsa ideia da Bondade divina,
quando, desnaturando ó conceito déste atributo, a po- `
"mos em contradição com a Sabedoria, como que tor-
. nando Deus cumplice nos nossos desmandos.
Para compreendermos bem o que é esta ilúsão,
importa que façamos uma ideia clara da, bondade, atri-
buto de Deus. Infinita nã sua natureza, é limitada nas
suas manifestações e efeitos comè relação ás criaturas; li-
mite éste traçado — pela essência das coisas, cuja exígua
, capacidade não pode esgotar a, fecundidade do amor infi-
` nito, — pelas disposições da Sabedoria eterna, que distri-
| bui seus dons por medida muito variada, —e pela acção
«da liberdade humana, que obriga por vezes a Justiça e a
Sabedoria, a restringir e até suprimir a expansão da libe-
.ralidade divina. Assim, vémo-la quedar-se às 'portas do
Inferno e despeitar-se, por assim dizer, já nesta vida 'con-
tra os que seguem mau caminho, ameaçando abandoná- |
-los à sua impenitência. Portanto, para longe a,ideia de
que Deus, por exigência da sua misericórdia, tenha de
salvar necessáriamente aqueles que, por livre vontade,
«abusaram da sua graça. |
“mx Se fôsse lei ordinária operar Deus um milagre na
hora extrema de cada um, para converter os obstinados
“e abrir-lhes como que à força as portas do céu, a Liber- |
dade humana, tranquilizada por êsse desfecho derradeiro,
entrégar-se-ia quàsi fatalmente a todas as desordens, en-
golfando-s= em todos pr-sres da terra com a nersuasão
dé ainda gozar um di: codas C ( acaíso.
Quem. nào vé que tal concepção da bondade d vna, faz
de Déus um joguête näs mãos da criatura, compromete :
DAS ILUSÕES 85
` +
de
“toda a ideia de Sabedoria e de Justiça e precipita o ho-
- mem na mais estulta presunção?
Cor , . 4
oL E’ fazer falso conceito ` da Justiça divina,
atribuitlhe rigor tão excessivo, que não deixe campo
: largo à misericórdia. Se Deus se vê obrigado a castigar
"Sm. severidade, post mortem, aquêles que nêste mundo:
por forma nenhuma quizeram deixar-se cair nos laços do
seu amor, empenha-se, antes disso sobre a terra, em os
salvar, por mais que lhe resistam: sofre-os com longa-
| nimidade e.ao menor indício de arrependimento, já abre
; OS braços da sua misericórdia. Se assim nào compreen-
“der a Justiça divina, não admira que a alma venha a cair
».
44
Ia "m
no abatimento, no desânimo, nos escrúpulos e por fim
na tibieza e desesperação, mais funestas.
- E
Ilusões com respeito a nós
. Podem ter por objecto — o nosso estado de consciém-
cia, —o grau de santidade que alcançamos — as nossas
luzes sobre espiritualidade — e as nossas aptidões e
destino.
1º— Ilusóes sobre o nosso estado de consciência.
Quantas almas, crendo-se seguras, vivem, de facto, ador-
mecidas mui perigosamente! , E que a segurança que
cuidam"possuir a respeito da, salvação, nào se funda no
testémunho duma consciência recta, sobrenaturalmente
alumiada, mas numa cegueira incompreensível e irreflle-
tida leviandade. Crêem que nada teem a exprobrar-se, .
porque endurecidas pela indiferença e tibieza, já nào
ou- ,
vem a voz íntima da consciência, nem o grito lancinante. `:
do remorso; e se a si mesmas não podem ocultar algu-
mas faltas, muito bem sabem imputar a responsabilidade
delas às pessoas e circunstâncias que as rodeiam e ate-
vaca-lhes assim por tal modo a malícia, que “dam.
Lic mais + nguieta --a; on cntão depositar. conf.
inabaidve simples .5solvi.. - sacramental cessas :
sem se lembrarem: que não sendo fecundada po: um:
TE D o1]
86 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA ^
nerosa contrição, é mais que temerária tão plena con-
fianga. Bastam duas palavras dos Livros Santos para dis-
sipar esta ilusão: «com temor e tremor operai a vossa sal-
vação». .; «ninguem sabe se é digno de amor ou de ódio».
a
2.º — Ilusões àcerca do rau de santidade. — -;
Dominado e fascinado; pelas impressões -das cousas
do mundo exterior, julga muitas vezes o homem pelas
aparências e longe da realidade.
Da virtude podemos sem “duvida, ter sinais certos,
mesmo pela experiência dos sentidos, mas ha indícios de
^. virtude muito equívocos, nos quais o amor próprio cons-
trui uma certeza que eles não podem dar!
A) Consolações sensíveis.
Não ha pessoa piedosa, por pouco espiritual que
seja, que não tenha experimentado em certos dias na re-
gião sensível da alma, uma suavidade particular, um
bem-estar incomparável, fruto da intimidade com Deus
na oração. Nestas horas deliciosíssimas, em que a felici-
dade em conversar com Deus é tanta, tanta a facilidade
em cumprir as obrigações e tanto o entusiasmo pela vir-.
^ tude, como é facil a alma iludir-se a si mesma e julgar-se
perfeita! E quantos inconvenientes em ceder' a éste ins-.
tinto! porque tais doçuras são para a vanglória alimento
subtil e para o orgulho complacéncia egoísta e falaz, pelo
."Que se tornam um grande perigo para a alma impru-
* dente e desprevenida. |
Ynofensivas que fossem para a humildade, preciso
era ainda nào se equivocar acérca.do seu verdadeiro fim,
"Podem ser prémio, é certo, de elevada virtude, mas o
mais das vezes são concedidas.como estímulo às almas
principiantes e imperfeitas. Pofque, a mais subida piè-
dade pode ser aestituida de tais coas 3 "mer. na
mais angustiosa desolação. Não consu..c.. a santidade,
nem indicam o' grau de perfeição; mais ainda, podem.
não provir de Deus, mas derivar de fontes puramente na*
Am : ^ ' > f
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` 2 s , G
t -
b
DAS ILUSÕES 87
turais, como o'temperamento e a saúde e até, para en-
rêdo da alma, as pode excitar falazmente o aiii da
Salvação.
Depois disto, que fará o Confessor em presença
duma alma toda deliciada por consolações sensíveis? —
T a) — Veja primeiro quais os efeitos dessas consola-
“ções; se com elas se torna mais humilde, mortificada,
obediente e fiel aos seus deveres, dê graças a Deus, por-
que são benefício e orvalho do céu. — 2) Se tais efeitos
se não verificam, cuide em os conseguir, rebatendo o
amor próprio e o apêgo desordenado a essas doçuras; a
ânsia, com efeito, por tais delícias, leva a alma a procu-
rá-las, sequiosa, para se satisfazer, até com sacrifício dos
próprios deveres: não é amor de Deus, é amor de si
mesma. — c) induza o penitente a aceitar reconhecido tais
“benefícios e a aproveitá-los para se santificar e radicar
melhor em si os bons hábitos e virtudes.
B) Exercícios e obras de piedade.
E” laborar em érro crasso, confundir com a piedade
as práticas externas de devoção. lZscolhidas judiciosa-
mente, bem combinadas e cumpridas, é certo que podem
ser uma poderosa alavanca para nos transportarem a
uma vida altamente fervorosa, mas em suma, são apenas
meios, instrumentos, que por muitos motivos se podem
malograr no seu resultado. Seria êrro portanto ver nelas
garantia de santidade. Quantas pessoas, sobrecarregadas
com inúmeras práticas de piedade, estão longe de seren .
modelo e objecto de edificação para o próximo |. i
Têem em muita conta as muitas orações, medita-
: ções, leituras, esta ou aquela devoção, tantos outros
exercícios, e em conta nenhuma ou insignificante a prática
da paciência, da humildade, da caridade e da fidelidade
aos deveres de estado. O gue lhes dá a ilusão - pie-
“ade 4 . regularidade farisaica que usam nas suas o0v7-
ções, «= para é = são vis. De tais diz 5. Paco 5
ciem quidem pie. is haventes, virtutem amem
gantes». Obste o director com tacto prucente
` a ww 4 x
"dc RS n. x
€i MS e
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l : fac 5
88 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
prichos e, quanto a devoções, obrigue a atender mais à
qualidade do que à quantidade; fiquem no seu lugar de
meies ou instrumentos e nunca se antecipem ao dever e
à verdadeira virtude; dest'arte tirar-se-há delas o devido .
fruto, bem como já não serão objecto de vaidade e de.
exteriorismo.
c)— Peniténcias corporais. Podem tambem, tal como
as devoções, ser inspiradas pelo orgulho ou por um sen-
timento secreto de vaidade, mas usadas com prudência,
serão fortes auxiliares da virtude, sem constituirem con-
tudo prova infalível de santidade. Hà pessoas que se en-
tregam com resolução e boa vontade ás macerações cor-
porais, sem pensarem sériamente: em mortificar as pai-
x0es, quando é certo que as austeridades déste género
não devem ter outro fim. Depois, admiradas de si mes-
mas pela crueza que houveram em crucificar a carne, já
se cuidam mais ou menos émulas dos Santos, quando a
triste verdade é que rivalizam com os fariseus, que Jesus
flagelou tão impiedosamente. — (Para os remédios destas
ilusões, veja-se o que fica dito a respeito da mortifi-
cação).'t—
D) — Retumbância das nossas bóas obras.
Deixámo-nos, é um facto, ofuscar fácilmente pelo
brilho das boas obras, que o zélo, a actividade e o nosso
cargo nos levaram a empreender e realizar; e é tão fácil,
quando os nossos trabalhos são coroados de éxito, quando
vemos diante de nós frutos abundantes de zêlo, crermos
ter prestado a Deus grande serviço e julgarmo-nos com
direitos adquiridos para com Ele, quási seus crédorês |
Um prêgador que arraste, após si as multidões, ávidas de
O ouvir, um pároco qu | consiga entre as suas ovelhas
prodígios de renovameúto e fervor, um autor piedoso
que espalhe com profusão a sã doutrina, um favorecido
da fortuna que derrame nas mãos dos pobres' copiosas |
esmolas... eis tantos a quem clamam: «que boa recom-
pensa tereis um dia no céu!» E como é fácil cair e acre-
e
DAS ILUSÕES 99
ditari... Contudo Deus nào avalia o merecimento pelo
resultado, que sem a sua ajuda seria nulo. Aquele que
lê nos corações não se deixa iludir pelas aparências. No
dia último, diz o Senhor que desconhecerá até daqueles
que em seu nome operavam milagres e expulsavam de-
mónios! Cuidado pois, e vigilância, porque é fácil aqui
osaccesso da ilusão! Aos penitentes, pbrtanto, ofuscados
pelos esplendores dos seus trabalhos recomende bem e
convença o Confessor de que tão belos resultados são
obra apenas da mão de Deus, que usa para isso ser-
vir-se dos mais débeis instrumentos! e quantas vezes
êxitos inesperados, conversões, graças extraordinárias,
são efeito das orações, penitências e jejuns de almas es-
condidas e santas, que só Deus conhece, pois mais con-
sidera a intenção pura, recta e humilde, do que o es-
trondo e brilho das acções realizadas !
E) — A boa estima que mos tributam pessoas vir-
tuosas.
Quando constatamos qué os outros descortinam e
até admiram em nós alguns reflexos de virtude ou que
pretendem talvez ver-nos com vislumbres 'de santidade,
é natural não resistirmos à tentação de nos crermos per-
feitos, porque, bajulado o nosso orgulho, resvalamos sem
custo para aquilo que nos lisongeia; e... de nós para
nós pensamos que se não estamos muito acima do co-
mum, como é que nos testemunham tanta admiração?...
sem repararmos que tais louvores ou louvaminhas, são
exagêro e pura lisonja, prodigalizados até com hipocrisia
e mentira —e que os homens julgam pelas aparências,
«quantas vezes enganadoras! Estão muito expostos a esta
ilusão todos aqueles que são revestidos de autoridade,
porque, acolhidos em toda a parte com respeito e vene-
ração, escutados e ouvidos com aplauso em todas as suas
palavras, incensados ora com a admiração, ora com a
““adulação, .naturalmente se persuadem que tais encómios
correspondem à verdade.
` A êstes advirta o Director que não são os homens
/
00” | DIRECCA DE
CONSCIENCIA |
| qué teem competência pára dos TRE imastão somente
Deus, que lé no íntimo: dos corações; onde descobre
“misérias e. deficiências, que. os homens: não. podem ‘desi
..
“cortinar..., que, segundo a palavra dum Santo: Padre,
aquele que está investido em autoridade, tambem há-de
„ter. juizo mais rigoroso. .: e que importa pouco agradar
aos homens, se não somos verdadeiros discípulos de Je?
. sus Cristo. |
Fr) — A falta de difituldaidesna virtude.
Ha pessoas que, salvaguardadas desde muito tempo
' où- desde a infâncias e alêm “disso dotadas dum natural
frio e calmo, cercadas tambem. por camaradagem pací-
fica, retiradas de convívio: impertinente, num meio insus-
ceptível de ciúmes e emulações, desconhecem, parece, as
tentações formidáveis que acometem tão rijamente outras
almas; são puras, humildes, modestas, simples, parecem
confirmadas na virtude.
E se já tiveram dificuldádes nào as teem agora, ou
porque mudaram as circunstâncias ou porque um aconte.,
cimento súbito as feriu profundamente e revolucionou
ideias e sentimentos. De sorte que se creem completa-
mente mudadas e a verdade é que são ainda as mesmas,
porque se as inclinações e maus hábitos doutrora se não
manifestam, estão latentes e só esperam oportunidade
pará despertarem com violência mais terrível. E' fre-
quente esta ilusão em alunos de colégios, seminários,
“pensionatos e em almas que triunfaram de grave tribula-
ção ou terminaram exercícios espirituais com fervor ex-
traordinário e decidido propósito. Nestes casos é impres-
cindível a intervenção do confessor; aliás, o amor ptó-
prio, as resoluções arrojadas, os propósitos imprudentes,
a presunção temerária de vocação que se não tem, serão
outros tantos escolhos. que terão como efeito o aumento
crescente desta ilusão, até derrocada tanto maior quanto
maior tiver sido o sônho utópico dc an
^
= c) — Vida exteriormente reguiai .
DAS ILUSÕES | OI
/Temperamentos ha que por tal forma se acomodam
a uma regra, norma ou habituação de vida, que por
tempo a natureza parece ter desaparecido, tal é a influén-
cia que um viver sempre igual neles imprime. Vivem
tais pessoas como que automáticamente, sob o influxo
do hábito adquirido, com vida, por isso, exteriormente
perteita e edificante. Mas para diante de Deus será real
essa perfeição? essa regularidade não será toda ou quási
toda maquinal, isentando a alma de esfôrço para a vir-
tude e dum viver todo fervor?... O hábito ou rotina é
o grande inimigo da santidade. Confessar- se, comungar,
recitar muitas oragóes..., só por efeito duma fidelidade
meramente mecânica, que valor e que merecimento po-
dem ter?
3. º Ilusões acêrca dos nossos conhecimentos
em espiritualidade.
As pessõas muito lidas e versadas na sciência da
vida espiritual crêem sem custo que nada lhes aproveita
a- leitura, o estudo ou a meditação, respeitantes a êsse
assunto, que para elas supõem esgotado.
E' êrro tão grave êste pensar que o autor do livro
«Pratique progressive de la confession» diz com insistén-
cia : «reparemos bem; o que opera em nós e nos move
não é o que sabemos, mas 9 que se nos patenteia , e sen-
- timos; ora O que já aprendemos e estudamos. não realiza
essa condição, porque é um conhecimento adormecido e
latente; será uma ideia exacta, cheia de verdade, mas
sêca, árida, ás escuras, sem relêvo, que avive e sem mi-
nücias que despertem. A verdade só, abstracta, não fere;
o modo, a feição com que é apreendida, é que toca, é
que sensibilisa. Contudo, ainda estas modalidades, retidas
na memória e não renovadas, dentro em pouco voltam
por sua vez ao estado de laten:es, deixando če estimula:
enriquecer a nossa perce 2pc3o, pois é um priu
que toda a vida tem de ter continuamen:^ re
"entar para O noto coração; vive, trat
| Poe: P
92 ' . DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA A
t É
não queda um instante, renova, estendé a sua influência
vital até às mais pequeninas ramificações dos tecidos;
tudo é renovação e recomposição. Tambem a garantia
da nossa actividade espiritual se encontra 7205 sãos pensa-
mentos, que se transformam em sentimentos e depois em
fórca. Mas, onde haurir os pensamentos salutares e be-
néficos? quem os'renovará de contínuo deante da inteli-
gência? — a palavra de Deus lida ou ouvida, os livros de
piedade, os sermões, as conversações com pessoas vir-
tuosas... Aos que dizem: «nào gosto de ler, prefiro
meditar, porque me sinto melhor» respondo: está bem,
pois nêsse caso a vossa vida de renovamento está asse-
gurada. E se os pensamentos forem sempre os mesmos,
que importa? é com as mesmas iguarias que nos alimén-
tamos cada dia. Um perigo existe contudo para estas
pessoas, cujas ideias são em geral diferentes das dos ou-
“tros, e vem a ser a singularidade, que pode, ora trans-
viar, ora acanhar o modo de ver, sendo bom recomen-
dar-lhes variedade na forma da verdade e dos senti-
mentos».
$
4.º — Ilusões acêrca das rossas aptidões e des-
tino sobrenatural.
Ouçamos Mgr. Gay (Instr. à l'usage des personnes
consacrées à Dieu): Consiste esta ilusào em violentar a
graca divina, crendo-se, sem exame, sem provação e
apoio de conselheiro prudente, chamado a uma santidade
eminente. à
' Ha uma ambição muito legítima que impele para o
porto da salvação a barquinha da nossa vida interior,
mas ha tambem a ambição temerária que a faz sossobrar
nos recifes da travessia. Não é sómente na ordem da
investigação que nos diz o Espírito Santo: «não procu-
res coisas mais altas do que tu, nem especules o que
supera as tuas fôrças (Eccli. ur, 22). «Até na sabedoria
deve haver sobriedade» (Rom. vir, 3); mas, é, com cer-
teza, agradar a Deus, dizer com David: «Senhor, nào se
,
== "b
| eap i!
é
.
$
Ker o
DAS ILUSÕES | 93
exaltou o meu coração, nem tão pouco procurei marchar
por caminhos maravilhosos e superiores à minha capaci-
dade (Ps. xxx, 1). E para que o divino Mestre nos
diga: «amice, ascende superius» — vámo-nos por nossa
livre vontade sentar no último lugar.
Tenho tambem a fazer uma recomendação: é que
não devemos lêr indistintamente as vidas dos Santos.
São tão belas as suas virtudes, que correremos risco de
' ceder à tentação de os querer imitar e seguir por vias
. tào elevadas como êles». t
“O mesmo, me parece, se pode dizer dos livros que
versam alta espiritualidade, porque almas com menos
equilíbrio, podem estontear-se com tais doutrinas e che-
gar a um tal estado de exaltação, qne as desoriente e até
cubra de ridículo.
Ilusões a respeito das creaturas
As principais a tratar aqui; dizem respeito — ao
meio em que se vive, — às amizades e antipatias — e à
direcgào espiritual de cada um.
I.? — Meio em que se vive.
Nada mais cómodo do que atribuir ao que nos cerca
as nossas faltas e defeitos. E quantas pessoas cuidam
desculpar-se assim da vida imperfeita que levam!
Persuadem-se, de si para si, que se tivessem outra
convivência, outra morada, outro emprégo ou vocação,
que, se ocupassem lugares como os que brilham e edifi-
cam, tambem elas teriam virtude e piedade, tambem elas
operariam na sua vida uma maravilhosa transformação.
Não são elas que são falhas de disposições, mas sim, di-
zem, as circunstâncias e o ambiente, que as não ajuda.
«Ora é uma grave ilusão atribuir a nossa imperfeição a
causas independentes de nós. Deus quer a nossa per-
feição e proporcióna-nos sempre os meios; pensar dou-
tra forma é negar a sua Sabedoria e Providência... Não
4
94 DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA
é com outras pessoas e em outros lugares, que encontra-
remos a piedade, se a não encontramos já agora onde
“Deus nos colocou». (De la ferv. à la perfection). ;
^ Recordem as palavras do Apostolo: «todas as cou-
sas se transtornam em bem para aqueles que amam
a Deus». |
Aproveitem-se da situação em que as colocou a Pro-
vidência, em vez de se lastimarem e suspirarem por ou-
tro viver; “aceitem como da mão de Deus as circunstân-
.cias em que se encontram e começarão sem demora a
progredir numa vida de renovação e de fervor.
2.º — Amizades.
“No dizer da Escritura, o amigo fiel é um tesouro
inestimável e o que o encontrou possui um remédio pre-
.cioso de vida e imortalidade, uma proteção à sombra da
qual pode descansar. (Eccli. vt, I4). — «S6 assíduo em
acompanhar com varão santo, quando reconheceres que
observa o temor do Senhor (id. XXXVI, 15). Em dois
escolhos é contudo fácil tropeçar: a) — Cativado pela
“afeição, o coração humano sente uma necessidade irresis-
tível de justificar o amor e à admiração pela pessoa,.
objecto de seus anseios. E' o que significamos quando
dizemos que o homem julga principalmente pelo coração.
Quem não vê o perigo desta ilusão? porque, ainda os
melhores amigos, teem muitos e muitos defeitos, que, se
não atendermos bem, tomaremos por virtude, tal é a ma-
-gia que em nós produz a afeição. — x) — Alêm disso, é
fácil tomar por afeição verdadeira o que é apenas a sua
ficção, porque para as deliberações do coração só a inte-
ligéncia tem voz consultiva; Os sentidos e a imaginação
não esperam, quiçá antecedem o coração. Eis porque
muitas vezes assenta a amizade sôbre alicerces frágeis e
perigosos e torna-se antes grave escolho para a vida per-
feita, Vamo: então aos princípios. Três coisas requer à
boa amizade: a) que se radique na virtude, porque do
motivo que a inspira lhe advem quasi sempre à morali-
DAS ILUSÕES , Q8
dade.-- Amar pelas tendéncias que despertam para pra-
zeres ilícitos, é amizade falsa e perniciosa; amar pela
beleza, formosura, qualidades físicas excepcionais, magia
do exterior e da convivência, é frivolidade perigosíssima ;
amar pelo talento ou bom caracter, 6 amizade honesta ;
porém, amar pela virtude, é a verdadeira e santa ami-
zade. o
b) — que encaminhe para a virtude, porque deve
procurar comunicação recíproca dos bens, em que se
funda; como pode verdejar a planta que se arrancou do
solo? Assim a afeigào, virtuosa no seu princípio, dege-
nera, se nào é exercida adentro da esfera da virtude. —
c) — que seja regrada pela virtude. Por melhor que se
suponha a afeição, logo que inquieta e perturba, torna-se
suspeita e repreensível; emquanto que a sá amizade
pode electrizar a alma e o coração, mas deixa-os numa
atmosfera calma e serena. i
3.0 — Antipatias.
Ha pessoas antipáticas, — ora naturalmente, em ra-
zão do carácter, maneiras, e porque nelas tudo nos repu-
gna como instintivamente — ora, porque nos ofende-
ram, contrariaram ou lesaram ; quanto às primeiras, de-
vemos fazer-nos violência e amá-las, tanto mais que
importa sermos justos para com elas; as segundas não
as podemos excluir do benefício da nossa amizade. Mas
que arte e habilidade para nos iludirmos neste parti-
cular! nào temos coragem para triunfar da nossa repu-
gnância e persuadimo-nos que temos ao nosso lado a
razão: à atitude hostil que tomamos, queremos chamar
honra, dignidade, carácter, defeza dos nossos direitos e
correctivo indispensável da ousadia e malicia alheias, ao
passo que em volta de nós, todos veem claramente que
somos exagerados e injustos.
As insinuações, o azedume e até o nosso silencio
são as testemunhas evidentes da bílis que envenena a
nossa alma.
A " " ; 3 1
!
E
96 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
4.º — Ilusões sôbre a direcção.
a) — Consiste esta ilusão em nos persuadirmos que
não precisamos de director espiritual para nos santificar-
mos. Já vimos precedentemente a necessidade e impor-
tância da direcção, de sorte que não voltamos a insistir
neste ponto. «Não sentir necessidade de direcção, diz
um autor, é sinal de virtude, pelo menos estacionária ;
dispensá-la, porque nada temos a dizer, nem a consultar,
e porque não necessitamos de impulso para o bem, é
prova evidente de vida lânguida e estéril».
b) -.E' ilusão tambem pretender dirigir-se acciden-
talmente com um confessor de passagem. «Desconfiai,
diz Mgr. Gay, da direcção por encontro, fortuita, oca-
sional. Ha excepções, é certo, erum caso ou outro,
quantas vezes confidências íntimas cam prégadores de
missão, com sacerdotes eminentes pela virtude .e luzes
sobrenaturais, serão de alívio grande 'e princípio fecundo
de piedade verdadeira, para almas privilegiadas e cheias
de boa vontade! Mas, de ordinário, para dirigir uma
alma por caminho seguro e prestar-lhe os auxílios que
reclama a-sua necessidade, é indispensável couhecé-la
bem, sondar-lhe perfeitamente o interior, não só pelo
que ela diz de si mesma, mas tambem pela experiência
de a ter provado, e até, se fôr possível, pelo testemunho
imparcial de outrem». — c) — E' ainda ilusão confiar er-
clustuamente, na direcção, porque a missão do director é
instruir, alumiar, alentar, sindicar e nào substituir a ini-
ciativa de cada um. A' alma compete perguntar, querer
saber, abrir-se e manitestar-se, pór em prática as exorta-
ções e submeter à aprovação os propósitos e resoluções,
Se ha: pessoas que se queixam de falta de direcção, a
culpa é só delas, porque não prestam ao confessor ele-
mentos para se pronunciar, Quantas vezes o sacerdote
só espera para intervir, terreno e premissas, que abram
campo às suas considerações |
N DAS ILUSÕES 97
d) — E ilusão, finalmente, abusar da direcção.
«Pessoas ha de espírito medíocre e acanhado, que
levam a discussão para questões meramente materiais, —
pormenores de familia, vída particular, etc. sem necessi-
dade, nem exigência do estado da alma, —- e fazem-no,
umas para se tranquilizarem, outras para darem a todos
os seus actos o mérito da obediência. E’, sem dúvida,
entender mal as cousas...' Mas, outras levam o abuso
muito mais longe: confidências inúteis ou ociosas, ques-
tões sem nenhum interésse ou alcance, emfim, vê-se que
teem em vista prender e cativar o confessor e interes-
sá-lo a yaler pela sua pessoa; não descansam emquanto
se não convencem de que êle as estima e admira, nem
se retiram de boamente por mais demorado que seja O
colóquio, sem conseguirem plenamente essa persuasão.
E', diz Mgr. Gay, a excessiva preocupação de si mesmas,
o egoísmo e a vaidade; e daí o perigo grave de errarem
na virtude, de colocarem entre si e Deus nuvens espes-
sas, de o perderem de vista e de se afundarem total-
mente no abismo, separando-se d'Ele. Portanto, se que-
res, 6 alma, seguir direita para Deus na virtude e na
verdade, se queres crescer progressivamente na graça e
no fervor, sê sóbria, muito sóbria na tua direcção».
Remédios gerais contra as ilusões.
As ilusões, quer provenham da ignorância ou da
irreflexão, quer da acção importuna do demónio sôbre a-
inteligência, do mundo ou das nossas paixões, teem para
as dissipar os seguintes remédios: 1. Oração vocal,
mental, comunhão frequente, recolhimento e união com
Deus: qui sequitur me, non ambu'at in tenebris (Joan.
vill, 12).-— 2. Mortificar o amor próprio e a carne e
viver com grande pureza de coração. — 3. Estudar em
livros de doutrina clara e sólida as vias da vida espiri-
tual. — 4. Examinar, muitas vezes, com diligência, o ín-
“timo da nossa consciência. — 5. principalmente, confor-
98 | DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA EEr
mar-se com docilidade plena e obediência absoluta às `
décisões è advertências do Confessor.
VI — SACRAMENTOS
Entre os vários meios de santificação, nenhum ha
que se possa comparar em eficácia com os Sacramentos.
| Instituídos por N. S. Jesus Cristo, precisamente para
nos santificar, conteem em si virthde divina, que esti-
mula, alenta, fortifica e aperfeiçõa as nossas faculdades,
na prática do bem. Por efeito da sua acção própria pro- .
duzem a santidade em medida proporcionada ás disposi-
ções do adulto, que os recebe. E” pois evidente que o
director espiritual nào pode. menosprezar tão valioso
meio de perfeição.
Comunhão
1.^ — Comunhão quotidiana. — Doutrina da Igreja:
A — Duas condições são essenciais e obrigatórias: a) —
pureza de consciência, que exclua pecado grave, e 5) —
pureza de intenção, fundada, não em motivos humanos,
mas em motivos de fé.
B — Tres condições são de conselho: a) ausência de
pecado venial deliberado e de afecto a éle; b) prepara-
ção cuidada e acção de graças, consoante as forças, a
"condição e as obrigações de cada um; c) indicação do
Confessor.
* 2.º — Aplicação prática desta doutrina. |
A.— Exorte frequentemente e com ardor à prática
tão salutar e pia da comunhão assídua (Regr. 6.º-Decr.
Sacra Trid. Syn.).
+
ensis. se com zêlo ardente em conseguir
primeiro que tudo, as duas disposições essenciais.e obri- «
.gatórias: estado de graça e recta, intenção. -
SACRAMENTOS 99
c. — Nas suas exortações, inspirar-se-ha, não em ra-
zões de Sabedoria humana, mas em motivos de ordem
sobrenatural: æ) nào Pproibir a comunhão, a não ser
que tenha a certeza moral de que o penitente está em
pecado grave, — vai à sagrada Meza por motivo repreen-
sível, —- com detrimento grave dos seus deveres, ou
com escândalo culpavel. b) Não dissuadirá da comu-
nhão freqùente senão as pessoas, cujas disposições essen-
ciais lhe inspirem séria inquietação.
'. £€£)-— Não obrigará à comunhão quotidiana ou fre-
quente senão no caso de ser o único meio para arrancar
um hábito mau, gravemente culpavel, ou para precaver
eficazmente contra falta grave, bem como quando reco-
-nheça necessário o exemplo do penitente para afervorar
uma colectividade e criar uma atmosféra de profícua pie-
dade; ou ainda para arrastar à mesa santa tal pessoa
muito necessitada de comungar.
d) — Ás pessoas que se reconheça bem dispostas,
aconselhe com instância a prática da comunhão frequente.
D. — Envidará todos os esforços para que as comu-
nhões sejam fervorosas, lembrado de que. pode ser muito
mais profícua uma comunhão verdadeiramente fervorosa,
do que muitas, feitas com disposições menos ardentes;
«os sacramentos da nova Lei, ainda que operem ez opere
operato, tornam a graça mais ou menos abundante, con-
soante as disposições dos que os recebem»; por isso:
a) deve o penitente purificar-se o mais que possa, antes
da comunhão, do pecado yenial e do afecto a êle; b)
déve preparar-se devidamente, e dar graças fervorosa-
. mente.
Confissáo
I.o — Deve o penitente confessar-se tantas vezes,
“quantas exigirem as necessidades da sua consciência,
atendendo às circunstâncias de tempo e lugar e aos in-
* teresses da sua alma.
E
100: : DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA. ti $55. à
^. — Razão. — A absolvição, dignamente recebida,
purifica, robustece e aperfeiçõa. «Se a comunhão é um
remédio, diz um autor, a confissão ainda o é mais: dá
vida, estimula, imprime alento e direcção. De facto, não
precisa senão de si mesma para ser uma grande força...
E' censurável o costume de não procurar a confissão se-
não em ordem à comunhão, fazendo dela apenas uma
condição sine qua nom... Estais, pelas circunstâncias, em
condições de não poder comungar? mais uma razão para
aproveitardes pelo menos da confissão, de: que podeis
lançar mão a toda a hora, em todo o lugar e quantas ve-
zes quizerdes». s " uc Me |
5.—Regras práticas. — I. - Confissão quotidiana. a)
Admiti-la aos pecadores, que se esforçam por perder
o hábito do pecado mortal; b) não a consentir ás pes-
soas piedosas, senão por excepção, isto é, no caso de
chamamento de Deus, especial e autêntico; doutra sorte
são de temer: por parte do penitente, escrúpulos e pe-
rigo de rotina; por parte dos estranhos, murmurações, crí-
ticas, suspeitas e para o confessor. tarefa incomportável.
IL. Confissão hebdomadária. E' dé conselho para
todos, recomendada pela Igreja'e geralmente seguida. pe-
-las pessoas piedosas; é tambem bastante «para se lucra-
rem as indulgências que a requerem como condição. |
HI. Confissão mensal. Para pessoas de consciên-
cia já formada e experimentadas na: vida espiritual pode,
em rigor, bastar para que vivam fervorosamente;.e será
para elas uma regra quando não: possam confessar-se
* mais bastas vezes, já em razão das obrigações de estado,
já para nào molestar a família, se tem de roubar tempo :
considerável, já para nào sobrecarregar o confessor, em
“épocas de trabalho excessivo. Dy CR
2.0 — Cada confissão deve ser proficua quanto. pos-
“sível. | m. bd Du
SACRAMENTOS IOI
a. — Razão. «Os sacramentos da nova Lei, ainda .
. que produzem a graça ex opere operato, causam na alma
efeitos tanto maiores, quanto mais perfeitas forem as dis-
posições dos que os recebem». (Decr. S. Trid Syn.).
Quererá dizer que o facto de se confessar muitas
vezes, seja sinal infalível de maior perfeição? não, por
certo, porque o abuso pode produzir efeito contrário.
Por isso nem sempre é infundadamente que os ini-
migos da confissão apregoain que ela amesquinha e de-
prime. |
, Atribuem ao Sacramento o que é efeito unicamente
do abuso. E na verdade, se acusais os pecados e depois
do perdào, esqueceis — arrependimento, propósitos e o
receio de tornar a pecar, que mudança operou em .vós a
confissão? Mas, ireis mais adiante: ora, direis, para que
acautelar-me, se tenho sempre à mão um recurso inex-
gotável contra outras faltas? é só confessá-las !
Sim! conceito tão errado da confissão e abuso tão
detestável, pervertem o senso moral, amesquinham, de-
gradam !
p. — Regras práticas. — a) E' indispensável preve-
nir o penitente contra os escolhos, que arriscam o fruto
ou a dignidade da confissáo: demoras inüteis ou preci-
pitação, orgulho e vaidade, indiscrição, leviandade, ro-
tina, zêlos, etcs
6) — Instruí-lo tambem nas práticas que tornam fer-
vorosa a confissão: meios eficazes para conseguir a graça
de se conhecer, de se abrir confiadamente, de se arre-
pender; meios para encontrar um bom confessor e apro-
veitar bem.da sua direcção; para, finalmente, alcançar
as disposições que tornam eficaz o Sacramento, como a
sinceridade perfeita, o Ódio ao pecado, o amor à confis- :
são, as resoluções firmes, etc.
1602 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
VII —DA ORAÇÃO
A oração é um colóquio. com-Deus, a quem exprimi-
nos 0s nossos sentimentos de devoção e expómos as possas
necessidades. E' vocal-ou mental, consoante -é o corpo
on .a: “alma o principal, agente.
—E um colóquio. Etirhologicaménte oração si-
| ——3 conversação de boca, isto é, a fala nos séres inte-
ligentes, mas o uso, consagrado pelo cristianismo reserva
esta palavra para EI. exclusivamente o colóquio
com “Deus.
"Na conversação com Deus dtraia, mais ou menos, `
os dois elementos constitútivos da. nossa natureza, a
almae o corpo; é diminuta numas orações a acção do
. corpo, como na meditação, predominante noutras, como
nas Po liturgicas, etc.
|| 2º— Toda a iraçãõ é preito e homenagem às perfei-
"pões divinas, a) porque exprimimos a Deüs os afectos
'que elas nos inspiram, 5) porque lhe pens o que
| sentimos sêr,nos necessário. -
Demonstra- se esta asserção ; : pela . análisé da oração;
'modêlo, a oração dominical; 6 «Padre Nosso», 'com.
efeito, é um colóquio com Deus: «Padre-nosso,-que es-
tais nos céus...» D) exprime, os nossos afectos para
com Ele, nas tres primeiras petições, c) expõe-lhe as
nossas necessidades nas quatro últimas.
Corolário. Por extensão, chamamos oração tam-
bem às préces que dirigimos à SS."* Virgem, aos Anjos,
“Santos, porque, participando. estes em certo grau idas.
“perfeições divinas, são preito prestado a Deus, as home-
e -gens e. petições, que lhes endereçamos. |
j
- A Motivos que persuádem a prática da oração.
A -— É necessária. ` oração - um “ever v posto
pela lei divina: «orationi iustate vigilans. colo v, 2)
A:
oue |^ « DA ORAÇÃO. — 103
e ensina.a teologia que é necessária «necessitate medii e
necessitate praecepti».
B. — Função que desempenha. a) Tem por fim
- essencial glorificar a Deus, prestando homenagem ás
suas perfeições: omnipotência, hondade, suprêmo domí-
nio; 4) produz em nós ao mesmo tempo disposições
para nos santificarmos: quem ora, deve ter fé, e por-
tanto confiança e humildade e, ao menos em dn
| amor de Deus.
^ c — Eficácia. São formais e repetidas as declara-
ções de Jesus Cristo: sz quid petieritis me in nomine meo,
hoc faciam (Joan. xiv, 14), e em ordei à salvação a efi-
cácia é absoluta: qui dat omnibus afuenter et non im-
properat et dabitur e Linen, d ; 5).
Condições exteriores da Oração.
q
A.— Lugar. Podemos orar em toda a parte: «louva,
| minha alma, ao Senhor, em todos os lugares, submeti-
“dos ao seu império (Salmo cit, 22); contudo. ha lugares
| consagrados ou preferidos: igrejas, capelas, oratórios, os
| nossos aposentos, etc.
i -
B. — Tempo. Podemos orar sempre e em todo o
.tempo: «benedicam Dominum in omni tempore» (Ps.
xxx, I), mas há ocasiões, horas, momentos, mais pró-
..prios para orar, quais são os que favoreçam mais a pie-
dade e o recolhimento, o que depende muito das disposi-
"ções -subjectivas de cada um. Ha tambem momentos
^ mais ou menos consagrados: pela manhã, ao meio dia,
ao à noite, ao deitar, etc. P
1. c — Posição do corpo. a) Fóra'dos actos litárgi-.
. cos, ha a mais ampla liberdade a éste respeito: «a posi-
cáo melhcr é aquela em que mais se inflame a ros
(edes e «isis se acenda a nossa fé, aquela +m qr
E (or E DIRECÇÃO “DE. CONSCIENCIA
ub m h a ub i RES
corpo embarace mends o.espírito;. podendo portanto, wa,
oração particular, conservar-nós de pé, sentados ou de :
joelhos; rezar em voz alta, levantar as mãos, estender os
braços, estar parados ou a caminhar» (Schram. P. xxxvi). |
<ġ)— Pode haver, : contudo, lugar para restricções, |
em. razão das circunstâncias. Em público, por exemplo,
seria ridículo estar com: gestos espalhafatosos ou manifes-
tações extraordinárias; singularidades, que alêm de pro- |
duzírem espanto e distração nos outros, de forma alguma |
se coadunam com a reserva devida e com a palavra de .
Jesus: «et cum oratis.... mom eritis... ut videantur ab
hominibus» (Math. vi, S). - RARA E x.
c) — E de notar que a alma mortificada preferirá,
em vistas de maior perfeição, posições incómodas e cus-
tosas, mas até nisto deve haver moderação. «E' preferí-
vel orar de joelhos, diz Schram, quando se possa, mas
em regra a posição nào deve;ser nem muito cómoda,
nem muito incómoda, de sorte que o melhor é rezar, ora.
de joelhos, ora de pé, agora sentado, logó a caminhar»,
porque variar é facilitar a oração. | |
Qualidades da Oração.
Attente ac devote, diz a Igreja; portanto:
a) - Atenção. Deve o “espírito aplicar-se em pen-
samentos que elevem a alma acima das coisas dêste
mundo; orar, por isso, sem esfôrço, sem atenção, é des-.
respeitar Deus, é fazer da oração uma prática vã, uma
fórmula maquinal, destituida de valor santificante.
5) Devoção. Não basta que o espírito vá para
eus, é preciso que o coração o siga, doutra sorte dei-
Xaria a alma afastada d'Ele a melhor parte de si mesma;
Seria.a oração incompleta, improfícua e exígua a glória
prestada a Deus. A participação do coração inicia a.
prece. por sentimentos de confiança e consuma-a, num.
i i , ; PA
,
LÀ
DA ORAÇÃO IOS
Fr
; | — eN
acto de puro amor; nem é necessário que intervenha o
"afecto sensível.
Condições que tornam infalível a oração.
a) Pedir o que realmente interessa à salvação.
| | E,
Pertencem a esta categoria os bens de ordem sobre-
natural, que santificam por si mesmos, como a, graça ha-
, bitual e as graças actuais; os de ordem natural pertence
à Providência fixar para cada um de nós, os que a sua
Sabedoria nos destina como meios de salvação: por-
tanto, é bom de vêr que só os devemos pedir condicio-
nalmente, sem contar com êles com confiança absoluta,
nem em medida superior às nossas necessidades. Tais
são, a saúde, a boa reputação, a sciência, as honras, as
riquezas. De facto, escapa-nos o futuro e não podêmos
- prevêr com certeza o que mais contribuirá para nosso
bem; é tão errada e escura a nossa visão, que muitas
vezes conspiram os nossos desejos para nossa ruína.
Mas Deus, cujo coração paternal suspira pela nossa
felicidade, cujo olhar investiga todos os mistérios, ouvirá
ou não os nosso pedidos, conforme concorram ou não
para a nossa santificação. «Quid oremus nescimus, sed
ipse Spiritus postulat pro mobis» (Rom. vim, 26).
à Pedir com boas disposições.
Quanto mais santa, humilde e confiante fôr uma
alma, tanto mais se-mostra Deus pronto a ouvi-la: «ora-
tionem justorum exaudiet» (Prov. xv, 20). « Voluntatem
timentium se faciet (Ps. 144).— si manseritis im me et
verba mea iù vobis manserint, quodcumque volueritis pe-
„tetis et fiet vobis (Joan. xv, 7).— Oculi Domini super
justos et aures ejus in preces eorum (Ps. 33). — Aspexit
Deus orationem humilium et non sprevit precem corum
(Ps. 101). — Omnia quaecumque petieritis in oratione cre-
dentes, accipietes» (Math. xxr, 24).
Lo
vesc y oc: ag. E OE AE: ms
106 : preco sd bondon cima | ji Buc .4 E
O mínimo das. disposições pára Deui XE ouvir, "€ 0
desejo sincero de adquirir à sua graça :; «scimus quia
peccatores Deus non audit, sed si quis Dei cultor est et: -
voluntatem ejus facit, hunc exaudit. ( Joan. 1x, 31). -- Que
declinat aures ne audiat legem, oratio ejus erit execrabilis
|
(Prov. xxvur, 9).— Peccata vestra absconderunt faciem ejus.
a vobis, ne exaudiret» (Is. Ltx, 2).
"E
¿) Pedir com perseverança.
,
'
"Conclui-se evidentemente da parábola apresentada
por Jesus Cristo, que refere'S.. Lucas, capítulo xv: s? iUe
perseveraverit pulsans, dico-vobis et si non dabit illi sur-
gens eo quod amicus ejus sit, propter improbitatens tamen
ejus surget, et dabit illi quotquot habet necessarios.
-Para nos experimentar, para nos proporcionar maior
cópia de merecimentos, para nos obrigar a recorrer a
Ele com insistência e tambem para manter connôsco
“união mais continuada, difere Deus às vezes, por muito
tempo, atender as nossas súplicas; com sabedoria, im-
pregnada de amor como que marcou a cada uma das
nossas petições, o limite, a conta, o número de vezes,
que as havemos de repetir, alcançando o qual seremos
finalmente ouvidos. E enquanto a êsse termo e medida
não chegam as nossas preces, parece que o Senhor se
violenta para esperar e conter em si a efusão das suas
misericórdias. «Está. à espera, diz Tissot, que eu me
chegue muito perto d'Ele, pata me cobrir com as suas
liberalidades, e é por isso que me faz esperar antes de
mé atender, de sorte queVa dilação só tem em vista uma
aproximação mais íntima. Como é bom o Senhor, por
me obrigar a bater-lhe à porta muito tempo! é assim
que me fórça a abraçar-me a Ele, a estreitar-me contra o
v
seu Coração, é assim que me obriga a lançar-me no seio
da sua misericórdia |».
Argumento, — A prova de que estas: três dipoi.
ções são garantia infalível de sermos ouvidos, têmo-la na-
quele juramento soléne do Salvador: «amen, amen dico
DA tação IO7
vobis, siquid petieritis Patrem in nomine "£o, dabit
vo-
dis» (Math. vri, 7). Pedir em nome de Jesus Cristo é ter
a certeza de ser atendido, porque pedir em Seu nome é
como se Ele mesmo pedisse, é fazer a nossa deprecação
infalível como a dEle, é orar com eficácia como Ele orou
quando pronunciou a oração dominical e como quando
suplicou na última Ceia.
Um simples olhar sobre estas orações mostra que
realizam as condições supra.
Gradação entre as várias fórmulas de orações.
Primeiro as orações de obrigação. E por isso que
o padre, por exemplo, terá empenho em primeiro recitar
o oficio divino e depois as orações que subjectivamente
julgue para si mais benéficas. Contudo não é regra o
gôsto e, 6 agrado de cada um. Sendo os exercícios de
“piedade meios de 'santificação, cumpre escolher os que
actúam mais vivamente na alma e seleccionar os que re-
“conheçamos , mais profícuos ao nosso adiantamento espi-
ritual. Depois dêstes, se ainda fica tempo para mais
práticas de piedade, são preferíveis as mais excelentes
objectivamenie, por exemplo, um sermão, em si, é prefe-
-rivel a uma leitura espiritual, às devoções particulares as
“orações da Igreja e as que contribuem para-cdificação do
próximo.
Adverténeia. — E' possivel tambem algumas vezes,
acumular todas 'estas vantagens; quem nào disponha,
v. gr., senão de meia hora para as suas devoções, pode
ouvir missa, comungar e fazer a meditação durante ésse
tempo. .
Formação na prática da oração.
a. Importa que o confessor faça vêr com clareza e
“convicção, a necessidade, a importância, a excelência e as
vantagens da oração.
108 S js BENSÇ DË;
CONSCIENCIA; E:
i fe f s
dy Exercite; à princípio; em piáficas, "breves e
simples, mas bem feitas, porque: custará menos a fazer `
bemo que exige pouco esfôrço; pouco é pouco, virá o.
. gósto em repetir o qu&k'se faz sem custo, nasce:depois
o
pec segue-se a fidelidade. e radíca- -se o hábito.
“e) — Vá depois acrescentando outras práticas, con-
soante as aptidões e vagar: do penitente. |
P E alimente a almà com as instruções da Escri-
| turà e dos Padres, àcérca da pc
` A. — Vigilate et. orate; "ut non intretis in
tentationem. !
(Math. xxvi, 4): — Vigilate iñ orationibus (Petr. 7). —
Oportet semper orare -et non deficere (Luc. xvifr, 1). —
Sine intermissione orate (I Thessal.-v, 17). — Ante ora-.
tionem praepara animam tuam et noli esse quasi home `
; qui, tentat Deum (Eccli. xvi, 23). — Iniquitatem si aspext
in. corde meo, non exaudiet Dominus (Es. 65). — Petitis
et.non accipitis eo quod male petatis (Jacob. 1v; 3).-—.
Si cor nostrum non reprehenderit nos, fiduciam habemus .
ad' Deum, et quidquid “petlerimus, accipiemus ab eo
(I Joan. m, 22). — Orate pro'invicem ut salvemini: mul-
tum enim valet deprecatio justi assidua (Jacob. v, 16).
B. — Recte novit vivere qui recte novit orare (Aug.
Hom. 40). Aptissima arma oratio est, thesaurus certe per-
petuus, divitiae inexhaustae, parens fofs et radix bono-
rum omnium (Chrys. Hom. 30 Gen) Vis loqui cum .
Deo? attentus sis. - Vis audire te ipsum prius quod lo- .
quaris audi (S. Ephrem). Magnam injuriam Deo facio, :.
cum ilum precor ut meam precem audiat, quam ego. .
qui fundo, non audio: deprecor illum ut mihi intendat, |
ego vero nec mihi, nec illi intendo (Bern.-De anima). Ne
deficias in oratione: Deus quod promisit concessurus est, .
ét, si differt, non aufert (Aug. Ps. 65). Cum aliquid `
"aliquando tardius dat Deus, commendat: dona, noh, ne-
-
gat; desiderata* diu dulcius obtinentur, cito autem: data |
DA ORAÇÃO . I%
- vilescunt (Aug. de Verbo Dom.). Deus non exaudit ad
voluntatem ut exaudiat ad salutem (Aug. Ps. 85). Ipse
Christus Salvator est, non solum quando facit quod peti-
mus, sed etiam quando non facit: quia quod videt peti
` contra salutem, non faciendo potius se exhibet Salvato-
. rem (Aug. Tract. 37 in Joan.) Quando temporalia peti-
^. tis, cum modo petite: ili comeqittite, ut si prosint det,
si.scit obesse, non det. Quid autem obsit, quid prosit,
hovit medicus, non aegrotus (Aug. serm. 3 de Verbo
Dom). b. |
E Oracáo vocal
A oração vocal é o colóquio da alma com Deus, ma-
nifestado exteriormente pela palavra ou pelos sinais que a
suprem: escrita, lagrimas, elevação das mãos, dos olhos,
etc. (Schram. p. 109). E’ de várias espécies:
E' pública, quando é teita em nome dos fieis pelos
ministros do culto, na forma determinada pela Igreja;
assim o Oficio divino. Não publica ou privada, a que é
feita por qualquer pessoa em nome próprio.
Uma e outra pode ser comum ou particular.
Oração litúrgica é a que tem regras e normas, pres-
critas pela Igreja. — A oração pode ser cantada, reci-
tada, modulada ou de fórma livre. As diferentes fórmu-
las de orações foram compostas, umas por Jesus Cristo
(a missa, na parte essencial, o Padre Nosso), outras pela
Igreja (oficio divino) e outras pelos Santos e autores pie-
dosos, aprovadas pela Igreja; são umas indulgenciadas,
. outras não indulgenciadas. |
Razões que persuadem a oração vocal.
| a): A oração vocal associa o corpo às homenagens
` da alma e leva-o a pagar a sua parte do tributo de ado-
ração, ao Criador.
= E uma homenagem completa do nosso ser para
“com Deus. |
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DLO 2, ; DIRECÇÃO! DE EE NETINA E wir
.4) O sentido das fórmulas. fixa. a atenção, “dirige e
régula os pensamentos e afectos e torna-se um fulcro
i baaka para a piedate.
c) Faz perdurar os nossos sentimentos de devoção ;
o esfôrço que fazemos para os produzir, estimula a acção
«das nossas faculdades, opera do corpo para a alma uma:
suave reação e corrobora os transportes do coração.
^
d) Em virtude da íntima união do corpo e do es-.
pírito, é natural que a efervescência dos pensamentos e
. afectos, que invadam a alma, transborde com repercussão
«sôbre. os sentidos. 3
e) A oração vocal foi ensinada por Jesus Cristo,
-que ditando o Padre Nosso, nos outorgou a oração mais
“sublime; a Igreja repete-a desde o princípió e prescre-
ve-a a seus ministros nas ceremónias e funções litúrgicas.
,
J^
f) Bem feita e por continuação, «basta para uma
alma se santificar, quando Deus a. nào chame a mais
alto grau de oração; é bastante mesmo para. chegar à
perfeição, quando paratela Deus concede um dom .espe- .
-cial, e conhece-se éste dom pelo seu efeito infalivel, qual
€ excitar a nossa piedade e fervor». (Schram, 125).
«Não cuideis, diz Santa Terêsa, que é pouco profi-
-cua a oração vocal, bém feita; eu vos asseguro que en-
quanto recitais um Padre Nosso ou uma oração vocal
“qualquer, pode Deus elevar-vos a uma alta contempla-
-ção». (Via da perf. c. 25).
“Uso que devemos fazer da oração. vocal.
Depende do vagar, das aptidões, das obcigições di é
«estado e tambem das inspirações do Espírito de Deus.
Para decidir, contudo, em cada caso, podemos regular- -
--nos pelos princípios. gerais, ge seguem :
r ! ' DA ORAÇÃO i III
E a) Quanto ao resultado da oração, mais vale rezar |
pouco e. com fervor, do que muito com tibieza. A não ser
“que, por espírito de mortificação; aconselhe a prudência
, maior numero de devoções ou que se trate de orações de
obrigação, convem nunca sobrecarregar o penitente com
demasia de orações vocais. Cumpre ponderar e pesar O
sesfôrço' de que a alma é capaz (atenção e aplicação) e
. determinar depois o programa das suas orações, pois
que, se êste é muito pesado, a alma aborda-o sem cora-
“gem e até com receio, e executa-o com precipitação e
sem vontade. , |
Diz S. Jerónimo: «mais vale cantar cinco salmos
com pureza de coração, serenidade de espírito e alegria
'de alma; do que o saltério inteiro com desleixo e dis-
tração». | !
—Y: b) Não é o número de orações o que releva (abstraí-
mos por agora do caso das indulgências), mas o tempo e
a aplicação do espírito. Se tenho meia hora para a ora-
“ção, que importa que reze três terços ou sómente dois?
não é o: número de palavras que cativa o coração de
' Deus, mas a piedade e devoção. O que tambem se de-
preende claramente das palavras de Jesus, no Evangelho.
—Y 'c) -As pessoas dadas com fruto à oração mental po-
dem e às vezes devem restringir o'exercício da oração vocal.
d) E' preciso entretanto fidelidade às orações vo-
cais que são de uso geral na Igreja: oração da manhã,
da noite, antes e depois das refeições, etc. Quem por.
“Costume se esquiva à prática das orações usuais, sem as
suprir por outra forma, dá provas de tibieza e não se
“exime de falta venial. 2
>" Fórmulas que devemos preferir.
— Primeiro, as que mais inflamam a piedade e ii.
“Se coadunam com os afectos do coração.
1
E: -— ES
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112; 45 A DIRECÇÃO bE GoNstiENCIA à. HL. P 53
| f ' Ba
Por modo nenhum EN: DA AS com a práticd dos
“que obrigam sempre às mesmas fórmulas, pelo facto só- .
mente de serem em si as mais excelentes. |
E” repreensível, exagêro e falta de compreensão, sub.
meter todo e qualquer penitente à uma mesma regra de .,
“piedade, de modo a imprimir-lhe sempre a mesma fei-
ção, isto é, moldar, por assim dizer, por uma dztola COo- .
mum a súmula das práticas de devoção; por exemplo,
não admitir, nem permitir outro método para assistir à
missa e aos oficios divínos, senão as orações litütgicas, —
obrigar à preparação para a comunhão e acção de gra-
ças, qual usa o sacerdote para a missa, etc. Admitimos,
sem dúvida, que os textos oficiais da oração pública da
Igreja teem por si grande virtude santificante, que a pie- -
“dade encontra néles farto alimento e até que muitos fieis
não recebem doutras práticas tão salutar influxo, mas
| entendemos que nào obsta a que outros, acidentalmente
ou de ordinário, em razão das disposições subjectivas de
cada um, empreguem mais proficuamente, métodos e.
fórmulas diferentes. Evitemos os princípios muito rígi- '
dos e absolutos, os processos exclusivistas e as preferén-
cias inconsideradas. Porque um alimento é muito nutri-
tivo, não se ha-de usar de nenhum outro? nas prescri-
ções de alimentação, atende o.médico sómente ao valor
intrínseco de cada alimento, ou tambem e particular-
mente, às qualidades digestivas e propriedades de assi-
milação?.. Assim a Igreja; conhecedora das necessi-
dades múltiplas dos vários membros da sua imensa
família, concede uma santa liberdade, aprovando e acon-
selhando muitas outras fórmulas e devoções. Atentas
estas considerações, eis, em regra, a selecção que convem
fazer: 1. — Orações da Sagrada Escritura, como o Padre
Nosso; os salmos e os canticos; 2.— Orações da liturgia,
em particular as da missa; 3.— Orações indulgenciadas;.
4. — Orações que, na sua inspiração, compuseram, os.
Santos; 5. — Orações publicadas, ie a Igreja aprovou.”
A
DA ORAÇÃO 113
Oração Mental
< À oração mental é uma elevação da alma a Deus, —
"para o reverenciar e suplicar, — para melhor o servir
e
“glorificar. | !
Esta elevação da alma na oração transporta, por
. assim dizer, para o estudo de Deus, as nossas faculdades
. espirituais, e visa a exercitá-las e aperfeiçoá-las, em
ordem a-glorificá-lo mais perfeitamente. Ora, como já
: vimos, a glória de Deus reclama da nossa parte a confor-
midade mais absoluta com a sua vontade. Eis, portanto,
. o objectivo de toda a oração bem feita. A isto deve or-
denar-se. todo o mecanismo da oração. Quem nào sabe
que a vontade se move após a convicção e o afecto?
pois, quem desperta um e outro é a reflexão, que inun-
dando de luz a Verdade, o Belo e o Bem, cativa irresis-
tivelmente o espírito e o coração. |
Eis como a oração mental põe em exercício as três
principais faculdades da alma, espírito, coração e vontade:
1.º — Quando é principal o trabalho da inteligência,
por considerações e raciocínio, chama-se a oração dis-
cursiva ou meditação.
` 2º — Quando a luz é tão abundante que não exige
à inteligência grande esfôrço, permanecendo em exercí-
cio quàsi exclusivo o coração e a vontade, chama-se ora-
ção afectiva.
© 3º — Se, finalmente, os afectos e resoluções, em vez
de se estenderem a todo um assunto, se simplificam c fi-
zam, concentrados num só pensamento afectivo dominante,
présos nêle, em toda a actividade, a inteligência e o co-
ração, chama-se oração Ge simplicidade ou intuitiva.
E' um olhar, uma atenção amorosíssima, diz Bossuet,
que se lança para um mistério divino ou verdade teoló-
gica: Deus, êste ou aquêle atributo; Jesus Cristo, êste ou
aquéle mistério:da sua vida, ou qualquer outra verdade,
8
II4 DIRECÇÃO -DE CONSCIENCIA
Vantagens de'cada espécie de oração.
| * .— A meditação. congrega as faculdades íntimas
da Es e fá-las pagar, cada uma, o tributo de louvor-à
Magestade divina; pondo em exercício todas as potên-
cias, contribue para a formação completa do homem, e,
activando todas as-energias é duma eficácia incomparável
para a formação sólida na virtude. Vejamos o seu
mecanismo: a) a memória apresenta à alma uma ideia ou
um facto piedoso, trabalho que pode ser facyitado por
exposição oral ou escrita; 4) a inteligência aplica. se a
éste assunto, examina os aspectos, escolhe os mais piedo-
sos e práticos, compenetrando-se déles profundamente ..
-- aprecia a necessidade, a utilidade, as vantagens, a be-
leza, a facilidade de tal virtude, de tal prática de
piedade,
— os inconvenientes, o dano, a fealdade de tal defeito ou
fraqueza; c) o coração, reprimindo as inclinações depra-
vadas, recorre então aos sentimentos de admiração e en-.
tusiasmo pelo bem, de aversão e horror pelo mal; d) a
vontade, finalmente, prevenida, detem-se em. precisar as,
resoluções de utilidad- imediata e prática, cuja obser-
váncia constante e plena pede a Deus fervorosamente. €
2.º — À oração afectiva é superior à meditação ou
oração discursiva, porque «é maior a sua eficácia e con- `
duz mais depressa à perfeição» (Poulain). Com efeito,
sem .se deter nas considerações, vai direita ao fim, que é
a união da alma com Dess.'ao mesmo tempo que des-.
- perta a actividade da vontade e consolida a virtude pela
produção intensa de actos internos. Nao despreza, con-:
tudo, o auxílio da razão, a Que recorre quando precisa
de fortalecer melhor os afectos. Difere da meditação,
porque só em pequena escala recorre à reflexão.
3.º — A oração intuitiva, consistindo numa atenção
amorosíssima vara De s, concentra tôdas as energias no
amor e, por .-so, põe em acção o mais poderoso agente
da actividade humana, o coração. Sumo Agosiunho pro-
“em pedir a graça especial, em ordem ao.
DA ORAÇÃO A Pi IIS
= feriu- esta frase sublime: «ama et fac quod vis»; mas
“para que tenha toda a eficácia, diz o P. Poulain, cumpre
: que a alma conheça bem os deveres da vida espiritual,
. que os observe e esteja na disposição actual de os em-
` pregar para- se santificar.
“Como será fructuosa a meditação ? '
Eo I— No momento da oração: Duas grandes esco-*
-las nos oferecem cada qual o seu sistema. |
i 1.º — Escola de Santo Inácio. — a) Princípio da
“oração: a) adoração com exterior pleno de respeito;
` b). oração preparatória: pedir a Deus que sejam para
> sua maior glória todas as intenções e operações da
alma,
“durante o exercício; c) prelúdios, que são sempre dois, .
"pelo menos; consiste o primeiro em apresentar ao espí-
- rito o assunto. da meditação, já por um esfôrço da ima-
> ginação, já por um simples acto da memória; o segundo,
`
| fruto que se
“deseja tirar; quer Santo Inácio que, quando o assunto. é
histórico, se recordem, antes dos prelúdios, os traços
>: principais. `
8) — Corpo da oração a) Exercício da memória:
-.traz-se ao espírito o assunto, como no-primeiro preiüdio,
= com dupla diferença: em vez de representar todo o
+ assunto, limita-se a memória a parte que se propõe me-
- ditar; e em seguida renova esta representação, mais am-
` pla e cuidada: atender bem ao sentido de cada palavra
„=e examinar todas as circunstâncias.
b) Exercício da inteligência. A- função desta facul-
. dade é a reflexão sôbre as verdades trazidas pela memó-
"ria, acomodando-as ás necessidades actuais da alma,
ti-
rando consequências práticas pesando as razões que nos
devem mover, emim, considerando, à luz destas verca-
des, quasi foi O nosso proceder no passado e qu.
DO :::tro,
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2; "M
NL. o NX "oc «ped v i£ £o
LIÓ DIRECÇÃO DE: CONSCIENCIA
. £) Exercício da vôntade. E' duplo o ofício desta
faculdade: deve excitar afectos fervorosíssimos e formu-
lar propósitos ou resoluções firmes, sem o que, nào pas-
saria a meditação duma simples espéculação. São muito
variados os afectos, consoante o assunto e o- estado da
“alma: admiração, louvor, acção de graças, amor, temor,
humildade, confusão, dór, etc. As resoluções devem ser
práticas, apropriadas ao estado de cada um, fundadas em
motivos sólidos e humildes, e firmadas no auxílio da graça.
d) Conclusão da meditação. Colóquio, dirigido a
“Deus, a Jesus Cristo, aos Santos, pedindo auxílio e fide-
lidade às resoluções. |
2º — Escola de S. Sulpicio. — a) Preparação..
Compreende tres pontos: -pôr-se na presença de Deus, —
remover os óbices à acção divina por um acto de contri-
ção, — invocar as luzes do Espírito Santo.
| B) Corpo da meditação. Compreende tres partes:
&). a adoração:
reflectindo a alma piedosamente em
Deus, em Jesus Cristo, nas: virtudes dum santo, num
“mistério ou numa perfeição, entrega-se, consoante o
assunto ou a inspiração, aos sentimentos de adoração,
admiração, louvor, acção de graças, amor, alegria ou
compaixão; /) A comunhão: é o acto pelo. qual a
alma procura comunicação da perfeição que contem-
plou no primeiro ponto; para êste efeito, convencida
pelo raciocínio, da necessidade, importância e vantagem
dessa perfeição ou virtude, num olhar retrospectivo sôbre
si mesma, constata, com pezar e confusão, quanto esta
ou aquela lhe faltam, e em vistas disso, pede-as a Deus
com insistência, fervor e confiança. Onde vemos que
três operações se realizam: convicção, reflexão e súplica.
c) A cooperação: a alma, de colaboração com a graça
que ora implorou, toma com humildade e confiança,
uma resolução firme, de aplicação presente e prática.
N
c) Conclusão: agradecer a Deus, pedir perdão das
DA ORAÇÃO | IIJ
“faltas que houve na meditação e colher o ramilhete espi-
ritual, isto é, recolher um ou dois pensamentos, dos que
- mais feriram a alma e são abôno de maior bem.
| II — Fora do tempo da oração: para que seja
-bem feita, cumpre prepará-la: a) — a preparação remota,
consiste-em retirar quanto seja óbice, — o afecto ao pe-
^cado, a vida mundana ou distraída, a soberba, — e em
empregar os meios que auxiliam, pureza de coração e
.de intenção, recolhimento, união com Deus, leitura'espi-
“ritual, etc. 4) — A preparação próxima consiste em fixar
“nos traços principais, na véspera à noite, o assunto da
meditação, recordando-o ao deitar e relembrando, pela
.manhà, ao levantar.
Modos de meditação.
© 8)— O primeiro grau consiste em recitar muito va-
.garosamente as orações vocais, quedando a cada frase ou
membro de frase, a cada palavra importante, como que `
a aspirar todo o sumo espiritual que encerram. E' forma
„de orar que muito recomenda Santo Inácio. .
b) — Meditar num assunto lido e preparado; é pro-
al ` m r . . : *
cesso recomendável às pessoas inábeis e ignorantes, às
que são atreitas a securas e a cansaço e em geral a to-
-das que não teem dotes de inteligência para reflexões
„pessoais. !
|. C€)— A contemplação atenta e piedosa dum quadro
religioso ou estampa comovente pode ser assunto para
belíssimas meditações.
d) — O !ultimo grau é a oração metódica, tal como
“fica exposta acima.
l
|
y^
HE DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA |
- Como conduzir à prática da oração o peni-
tente idóneo? : CR
: 4) — Fazendo-lhe ver a excelência e vantagen da
oração mental.
. 6) — Ensinando-lhe claramente os métodos.
c) — Interpretando-lhe calorosamente, em breves
exortações, os seguintes pensamentos da Tradição cristã:
“A. — Concaluit intra me cor meum et in meditatione
mea exardescet ignis (Ps. 38). — Praevenerunt oculi mei
ad te diluculo, ut meditarer eloquia tua (Ps. 118). Nisi
quod lex tua meditatio mea est; tunc forte periissem
in humilitate mea (Ps. 118). — Consurge, lauda in nocte,
in principio vigiliarum: effunde sicut aquam cor tuum
- ante conspectum Domini (Thren, 19). — Desolatione de-
solata est terra, quia nemo est qui recogitet corde. —
“Maria optimam partem elegit (Luc. 10). —
B. — Consideratio regit affectus, dirigit actus, corri-
git excessus (Bernard). — Ex orationis assiduitate stabili-
tur-mens, purgantur cogitationes, solitudo sapit, delectatur
Deus, ingenium acuitur; illustratur ratio, animus ad alta
suspenditur (Laur. Justinianus — De casto.connub).—
LEITURA ESPIRITUAL
E' necessária, porque exerce influéncia importante
na vida espiritual. «E', como diz um autor, um admira-
vel e fácil instrumento de educação». A alma efectiva-
mente forma-se pelas ideias e sentimentos; ora como
hào,de germinar as ideias, sem a presença do objecto
que as provoque — e.é éste o meio mais perfeito — ou
sem a palavra, lida ou ouvida, que os livros apresen-
tam em segunda mão? Mas, como o objecto da fé é
i
NO ^
Wer LEITURA ESPIRITUAL II9
“remoto e invisivel, só a palavra e a leitura são veículos
das verdades desta ordem.
- Demais, as ideias só actuam pela presença; pódem-
-nos estar tão propínquas que despertem ao primeiro
alarme, mas se éste se nào produz, ficam latentes e inac-
tivas. De sorte que a leitura espiritual tem por objectivo
alargar o campo dos nossos conhecimentos, particular-
mente das verdades, que ficariam inuteis nos recônditos
da memória. Há ainda que, pela leitura, torna-se-nos
mais claro o conhecimento daquilo que já sabemos; pois
que apreendemos as coisas à luz que lhes imprimiu a in-
leligéncia de outrem. Até o homem douto dirá muitas
vezes: «eu já sabia tudo isto, mas compreendo muito
melhor desde que li tal livro»... Os afectos e senti-
mentos. nascem das ideias e ampliam-se pelo contacto
prolongado com elas; e a meditação é sem rival para a
sua eclosão e aumento. Quando não souberdes, ha ou-
tros fócos para esta elaboração sagrada : o ardor das ou-
tras almas pode comunicar-se à vossa pela flama dos
;séus escritos. | A
“Regra na escolha de boas leituras.
-
a) — Não admitir livros, cuja doutrina espiritual nào
seja incontroversamente sólidk e ortodoxa.
. |
6) — Ha livros, excelentes em si, mas cuja leitura
não convem a todos, jà porque versam doutrina muito
elevada, jà porque, mal interpretada, daria aso a peri-
gosas ilusões (Cf. Ilusões, supra).
c) — Logar de honra merecem os que nos põem em
contacto íntimo com a Sagrada Liturgia e com as deter-
minações actuais da Igreja; o Espírito Santo, com efeito,
vela de contínuo pela sua Esposa e acomoda às necessi-
dades dos tempos a sua assistência.
d) — Urge em particular inspirar-se nas necessida-
120 DIRECÇÃO DE‘ CONSCIENCIA
des de cada alma para a orientar nas leituras a conce-
der-lhe. Se é falha de luz, leia livros de exposição clara
e fácil; se geme e estiela na aridez e desolação, dar-
-lhe-hão unção e alento páginas como as da Imitação de
Cristo ou de S. Bernardo,... se necessita estímulo, as
vidas dos Santos e os seus exemplos, lhe prestarão rele-
vante auxílio: são leituras que ferem o espírito com a
limpidez da verdade e de suas exigências, inflamam o
coração em face do belo e construem o ser moral pela
frequencia de tais impressões. ..; se é de ar e de espaço
a sua indigência, pode respirar a plenos pulmões nas
obras admiraveis dos bons autores, em que a par de teo-
logia profunda, transparecem inspirações de ardente pie-
dade.
e) — Não ler àvidamente, nem muito por cada vez;
variar por vezes o assunto sem volitar de livro para livro.
RETIRO ESPIRITUAL
T.
. Deduz-se a necessidade do retiro espiritual, de tem-
pos a tempos, das grandes vantagens que proporciona.
E’ um dos mais poderosos meios para arrancar a
alma do pecado, para lhe imprimir nova orientação e co-
municar vigoroso impulso para o bem. Com efeito, nào
só arranca completamente o homem, naqueles dias, do
ambiente doentio do mundo, que assás por vezes enve-
nena a vida, nào só acalma a febre de dissipação, que,
balouçando-o, inconsciente, por cima de escolhos mil, o
conduz a naufrágio certo, mas principalmente, apodera-se
déle e submete-o a todas as potentes influências, que po-
-dem reconfortá-lo e transformá-lo. JImersa- numa atmos-
fera de recolhimento e piedade, abre-se a alma ampla-
mente à acção divina e é rociada por uma chuva fecunda
de graças. O tumulto das paixões, vencido e sufocado
pela voz austera e solene das grandes verdades, reduz-se
completamente a silêncio, para só deixar ouvir os suaves
convites do Senhor. Sob o impulso forte de santos ter-
RETIRO ESPIRITUAL I21
rores, destacam-se os empachos patsaita do pecado: e
do vício, para darem logar às florações dulcíssimas da
verdadeira sabedoria: initium sapientiae timor Domini.
Raios vivificantes dardeja então, sem intermitência, o sol
da. palavra divina, inundando o coração com jactos abun-
dantissimos de luz e de calôr. Desanuviam-se os olhos,
dissipam- se as ilusões, cdem os preconceitos, aquieta-se a
consciência, eleva-se, sem descontinuidade, até à eferves-
cência, a temperatura da alma e revolvem-se para o bem
todas ns energias interiores. Eis, enfim uma completa re-
novação e transformação. a
° — Para que seja proficuo o retiro, é indispensa-
vel: a) recolhimento profundo e solidão completa.
«Ducam eam ad solitudinem et ibi loquar ad cor
ejus». O recolhimento é uma predisposição necessária
para reflexões graves e súplicas fervorosas; a solidão” é
auxiliar potente para este resultado;... fazendo o vácuo
em volta de nós, suprime o desperdício da nossa activi-
dade nas coisas. exteriores, rarefaz, em seguida as lems
branças inquietadoras, atenuando a sua acção em nos
distrair, depois, entrando no. santuário íntimo da alma,
onde repousa amortecido o senso da Divindade, desper-
‘ta-o e lança para as plagas do Infinito, onde o coração
se sente vivificado, por uma atmosfera de preces e re-
flexões sagradas.
6) — Requer-se, como factor preponderante, a ora-
ção. E' ela que canaliza e derrama na alma as torrentes
de graças, que a divina bondade usa ter em . depósito
“para dias tão cheios de bênçãos; é ela a chuva fecunda
e benéfica que faz germinar no íntimo do coração a se-
mente sagrada que lançou a palavra divina. O fruto
dum retiro pode ordinariamente aquilatar- se pelo termó-
metro do fervor e da oração.
£) — Escudadas no recolhimento e na piedade, tor-
nam-se mais profundas as reflexões, mais penetrantes e
salutares: são como o grão de semente, que lançado em
terra fértil, produz'fruto ubérrimo, a cento por um.
Bj EB t I . - e
X : 2 y cu
122 A | DIRECÇÃO DE “coNSCiêNcIA | 2
2.º — O que é que principalmênte deve | ser obje-
eto de reflexào ?
Consoante o estado. dé alma -dô exercitante. E'
dado, em princípio -para bom retiro, a meditação . das
grandes verdades, expostas dum modo empolgante e
sugestivo, que revolvam fortemente o íntimo e subju-
guem logo no primeiro dia.
Ao clarão horrífico do facho tremendo da eterni-
dade, queda-se fascinada a alma e atira para o esqueci-
mento os prazeres terrenos; a uma vaga de terror que
lhe invade todo .o ser, eclipsam-se espavoridas as paixões
e começa a consciência: de olhar-se à luz límpida, que a
verdade scintíla, e prepara-se a fazer convergir para o
campo do dever e da virtude as reflexões que tão vigo-
rosamente a feriram. Nada mais salutar então do que
pregar os olhos no divino Modelo, que é o caminho, a
verdade “e a vida, que disse: «dei-vos o exemplo para
- Que como eu fiz, façais vós tambem». A meditação in-.
»teligente dos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos da
“vida do Salvador, acarreta por sua vez, luzes e estímulos
incomparáveis, que transformam a alma, infundindo ener-
.gias potentes e desejos santos de alta perfeição.
Corolário: Não é um retito uma série de prèga-
ções, que se vai ouvir durante alguns dias. E a razão é
que, faltando o recolhimento e a piedade, falecem de re- -
sultado, por mais eloquentes que sejam. Não produzirão
o trabalho profundo, que subjuga e empalma o homem-
na sua vida íntima, nem produzirão o bem estar inolvi-
dável, que comunica o contacto inflamado com o sobre-.
Ditu£al.
EXAME DE CONSCIENCIA
O exame de consciência é uma inquirição cuidada do |
estado da nossa vida moral, para a revigorar e aperfes-
.goar, corrigir e levantar, consoante, no todo ou em parte,
a acharmos orientada ou não para Deus e para a sua
gloria; pela conformidade com o seu beneplácito.
EXAME DE CONSCIENCIA 123
O estado da nossa vida moral depende dos nossêa
actos livres e dos hábitos e disposições que os órigínam.
- Ora, importa a) que tenhamos consciência dos actos
repreensíveis, afim de os reparar e expurgar e para que
se nos revelem os hábitos e tendências mais ou menos
perniciosos, qne temos a combater; 4) que conheçamos
bem os hábitos e disposições, para que cultivemos os que
nos beneficíam e arranquemos os que nos são funestos.
.— Para éste efeito, é indispensável vigiar sôbre nós
mesmos e verificar com imparcialidade o que se passa;
duscultar o coração para conhecer os afectos e disposi-
ções, sondar a natureza para observar as tendências e
“hábitos e estudar o nosso procedimento para apreciar o
valor das acções. A esta constatação, que fazem com
frequência e quàsi habitualmente as pessoas recolhidas e
fervorosas podemos chamar exame de vigilância.
Quantas vezes, mergulhando um olhar penetrante
atésao íntimo do coração: «que faço eu agora?... que
sinto ?... donde nasce este afecto?...» se descobrem as
verdadeiras disposições actuais da alma! Mas, à partes
tais penetrações íntimas, as pessoas empenhadas em pro- `
gredir e particularmente-as menos experimentadas em se
vigiar, sentem a necessidade de escolher momentos espe-
` ciais, para os consagrarem exclusivamente ao estudo da
consciência: æ) quando a pesquiza tem por objecto os
pecados cometidos, para os deplorar, apagar e reparar,
chama-se exame geral. E’ o que se faz todas as noites e
por ocasião da Confissão. 4) Quando o objecto da inves-
- tigação são as tendências e disposições, e a busca se li-
mita, localiza e circunscreve a uma delas, chama-se
“exame particular. E o que fazem nas comunidades reli-
giosas ao meio dia e à noite. Mas, para ser bém feito e
profíquo deve ser metódico, ter assunto bem preciso,
deve ser fácil de realizar e apropriado às necessidades da
alma. Tem êste exercício como auxiliar o exame de pre-
“vidéncia, que consiste em prever as ocasiões em que a
alma tem de pôr em prática as resoluções que tomou no
.;exame particular.
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124 | DIRECÇÃO DE: CONSCIENCIA :
Corolário. Expõe admiravelmênte esta dôniteiria
Francisco de Sales, quando diz: «é necessário limitar o
exame à sindicância das nossas paixões, porque o exame
dos pecados, êsse é para os que se confessam sem inten-
ções de progredir: os afectos que peiam o coração, as
paixões que o dominam e tudo aquilo que o traz desvai-
rado. Quanto às paixões da alma, conhecêmo-las, tatean-
do-as uma após outra; assim como o tocador de gui-
tarra, ferindo cada uma das cordas, afina, retesando ou
distendendo, as dissonantes, assim tambesi, tateando as
cordas do ódio, do amor, dos desejos, do temor, da es-
perança, da tristeza ou alegria da alma, se as não topa-
mos acordes com a área que queremos entoar, qual é a
glória de Deus, podemos afina-las com o auxílio da graça
e concurso do nosso pai espiritual». (Filotea, v parte,
cap. VIL).
Importância do exame de consciência e em es-
pecial do exame particular. E' de todos os meios
a4humanos, o mais eficaz para conservar a alma em activi-
dade e impelí-la para maior progresso interior. Diz o
P. Tissot: «os exercícios de piedade teem por objectivo
conduzir-me a Deus, de sorte que primeiro devo ver
onde estou, por onde caminho, as condições em que
prossigo, os obstáculos e perigos que se me defrontam e
os meios que empregarei para avançara Sem isto não é
segura a minha viagem.
Ora o que me desanuvia assim o caminho é o
exame de consciência; posso, pois, concluir que é-éle o
exercício norma e centro do meu viver moral. Assim
pensava Santo Inácio que durante muito tempo não em-
pregou para a direcção espiritual de seus companheiros
senão o exame de consciência e a frequência dos Sacra-
mentos.
LE dada, nas Constituições do seu Instituto, tal im-
portáncia a éste exercício, que cousa nenhuma pode dis-
pensar de o fazer; pode a doénga ou qualquer incómodo
eX y
EXAME DE CONSCIENCIA deos
grave dispensar da oração e dos outros exercícios, do
exame, nunca. :
Tal necessidade já reconhecéra pela luz da razào Pi-
tágoras, "quando o impunha a seus discípulos, como meio
verdadeiro de adquirir a sabedoria. S. João Crisóstomo
tinha-o em tão grande conta, que dizia ser bastante, feito
durante um mez que fôsse, para conquistarmos o hábito
da virtude; nas suas Constituições declara S. Basílio,
que para nos preservar do mal e consolidar no bem,
urge colocar éste exercício, como sentinela, à frente de `
todos os nossos pensamentos, que com o seu olhar os
contenha e dirija. Enfim, são unânimes todos os Douto-
res em atribuir ao exame de consciência tão alta impor-
tância». (La vie Int. S. 3.*- 10).
Como fazer bem o exame de consciéncia.
1.º Exame das disposições. Segundo a expressão
de S: Francisco de Sales, devo ferir cada uma das cor-
das, para ver se alguma, em dissonância, precisa de afi-
“nação; as cordas, cujas vibrações podem ser desiguais,
são as paixões de ódio ou amor, de desejo, de temor ou
esperança, de tristeza ou alegria. Então, qual é por
agora-a disposição que me domina e imprime direcção
principal aos meus pensamentos, afectos, palavras,
acções? .., a) Estou sob a impressão dominante de
contentamento? ... e provêm esta alegria da satisfação
de ter cumprido o meu dever, ou do orgulho, da vai-
dade, da ambição, da cubiça, da sensualidade, apetites
que eu satisíís? ... — Sinto-me avassalado pela tristeza?
donde é que provêm? qual é a causa?... à) O meu
coração, possuido de amor intenso, procura Deus com
-complacência, ou antes tal creatura? ... e qual é o mo-
tivo dêste afecto?-— ou então, roído pelo ódio, trans-
funde do seu azedume nos meus pensamentos, palavras,
“atitudes e acções?... e a causa desta aversão? — c)
“Para que objecto se dirigem com mais ardor os meus de-
1
E
“
| 126 Ra DIRECÇÃO O DE Consémoia | 3 3
$ À age à
ejos? ... qual é o prisicipsfe motivo dm minbás espe-
ratius. . dos meus receios? ...
2. Exame geral à noite. A primeira pergunta a
fazer à consciência é se durante o dia houve pecado
grave ou venial deliberado; esquadrinhar bem estas faltas
fara as deplorar é imperioso, senão, ao fim de: certo
tempo tornam-se habituais e nem se dá por elas. O
exame de cada dia desperta a consciência, tem-na vigi-
lante e facilita a preparação para a Confissão.
Catalogar-se-hão em seguida na memória ou por es-
crito; todas as faltas inventariadas, para lhes passar
revista
novamente cada noite. Esta lista pode ser redigida pela
ordem dos mandamentos, ou subdividir-se -dos tópicos —
obrigações para com Deus, — para com o próximo, — para
com nós mesmos — ou subordinar-se a — pensamentos, —
desejos, — palavras, — acções, — e omissões. Bem orde-
nada, é um espelho fiel, onde a alma se remira diària-
mente, contemplando a sua verdadeira fisionomia espi-
ritual.
|. 30 Exame particular. Tem por objecto um, ponto
especial, sobre que exerce toda a diligência e concentra
todos os recursos da actividade espiritual. .
Este ponto, Hem escolhido, determinado e circuns-
«rito, é ora um defeito, ora uma virtude, já tal prática ou
exercício, logo tal disposição interior. De harmonia com
o Director precisará o penitente o tema dêste exame,
tendo em vista o bem individual e a edificação do pró:
ximo. Quando existam defeitos que escandalizem o pró-
ximo, para bem da religião, da piedade e da caridade,
urge principiar por êles; aliàs, em boa táctica, deve ata-
car-se primeiro o desfeito dominante ; — quando foi decapi-
tado Holofernes, os Assírios, desorientados, sem chefe,
na iminência da derrota, começaram de retirar apressa-
.d&nente; — e para o descobrir, atenda-se ao tempera-
mento, à primeira educação e ao meio em que se tem
vivido, pois teem forte influência sobre as E na-
=a ` | » ça
EXAME' DE CONSCIENCIA I27
tivas de cada um. Se não aparece defeito preponderante,
. concentrem-se os esforços sobre uma virtude ou uma dis-
posição, e até, no caso de defeito a extirpar, convem às
vezes combatê-lo pelo exercício da virtude contrária. En-
tre as virtudes, hábitos e disposições tenham primeiro
“lugar as que são fundamentais: a humildade, a caridade,
o respeito na oração, a pureza de intenção, a conformi-
..dade com a vontade de Deus, o pensamento na sua pre-
senga... e conceda-se tambem lugar de honra às que
respeitam o nosso estado e profissão.
.* Quanto às práticas, selecionar as que são de efeito
mais salutar para adquirir uma virtude ou extirpar um
vício: assim para a prática da caridade vêr, por exem-
plo, no próximo a pessoa de Jesus Cristo, saúdar o Anjo
da Guarda das pessoas que encontramos, etc.; para de- -
belar o orgulho, habituarmo-nos a um porte cheio de de-
ferência, etc. |
Mas nào basta escolher bem o téma do exame par-
ticular, cumpre aplicar a máxima: divide et impera; re-
corde-se a fábula do leão e do rato: os esforços gigan-
tescos do rei dos animais nào conseguiram por forma
nenhuma romper as malhas da réde que o tinha cativo,
enquanto que o humilde roedor, cortando fio por fio e
malha por malha, pós em liberdade o grande prisioneiro.
Tal devemos fazer na cura dos defeitos e na obtenção
das virtudes; empreender pouco de cada vez, mas inves-
tir com decisão e valentia; ao passo que em presença de
tema muito extenso, divide-se a atenção, afrouxam os es-
forços, e verifica-se. o provérbio: «quem muito abraça,
- pouco abarca». Enfim, para obstar a uma operação vaga
e indecisa, que dissolve tristemente e dilui toda a energia
“fecunda, torna-se necessário que éste exercício seja orde-
nado e metódico, de sorte mesmo a poder apontar com
uma cifra as faltas e os êxitos. "
Aetos secundários e concomitantes do exame
metódico de consciência. São quatro, formando, por .
assim dizer, a vanguarda dois e os outros a rectaguarda.
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125 ' DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
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São os primeiros a adoração e a súplica.)
A.— Importa, com efeito, qué nos ponhamos na pre-
sença de Deus com humildade, no momento de ajustar-
mos contas com Ele acêrca da nossa consciência, compe-
netrando-nos da sua grandeza, santidade e bondade infi-
nita: torna-se déste modo. mais profundo o olhar a
dentro da alma, mais eficaz a contrição e dissipam-se-as
nuvens que pesam sobre a consciência e sensibilizam o
` coração. Em segundo lugar,. pois que sem a graça é es-
téril o humano esfôrço, é pano impetrar do Senhor um
raio de luz divina para descobrir, contra toda a ilusão e
repugnância do amor próprio, todas as faltas, das quais,
é certo, nenhuma escapou ao olhar divino; implorar
tambem a acção especial da graça, para que defeitos e
culpas apareçam com tôda a suã torpeza, e, inspirando-
-nos horror profundo, preparem a vontade para um acto
enérgico de repulsa. |
— Depois dêste olhar penetrante que rebusca no
mais íntimo da consciência todas. as infracções, dispõe-se
a alma para os outros dois sentimentos: a) Contrição
perfeita, em que mostra'a Deus o pesar de o haver ofen-
dido e para isso recorra a considerações piedosas, que
excitem santas aspirações, despertem ardentes afectos,
que postas em confronto com os nossos agravos, hão-de
provocar sincera dôr e arrependinerio: b) - resolução
firme de nào pecar.
Para ser fecundo éste propósito, deve reunir num
só ponto, bem determinado e restricto, o esfôrço da
alma; seja tambem vivificado pelas suaves influências da.
graça, que é a única a poder obstar à miséria da nossa
natureza.
Como propôr aos penitentes de boa vontade o
método do exame particular.
A, — Processo abstracto, Depois de, como preâm-
+
E
EXAME DE CONSCIENCIA 129
bulo, nos compenetrarmos bem do pensamento da pre-
sença de Deus, passa-se -ao corpo do exercício, que será
subdividido em cinco pontos, dos quais os dois últimos
prenderão especialmente a atenção: a) geconhecimento
profundo para com Deus, recordando em geral os bene-
fícios recebidos, ou em especial tal graça ou mercê, que
nos cumulou de júbilo; se acharmos bem, marcar numa
“lista as graças e benefícios e passar-lhe os olhos rápida-
mente. b) Desejo ardente de ver o que vai na consciên-
“cia, para o remediar; sob o impulso dêste desejo, volver
para Deus uma prece fervorosa.
c) — Ler atentamente, interrogando-se a si mesmo
sôbre cada ponto, um questionário preciso e pormenori-
zado, feito de harmonia com o director ou tirado dum
autor piedoso; depois, apontar num livrinho ou em folha
à parte, as faltas constatadas, afim de conferir dia a dia e
prestar conta mais exacta ao confessor; é bom tambem
impor-se a cada déficit alguma penitência, como beijar o
chão, recitar a Ave-Maria, etc.
d) — Contrição muito viva, fundada em motivos ge-
rais ou especiais, referidos ao tema do exame; expres-
sar-se a si mesmo com convicção êstes motivos de pesar.
e) — Resolução firme de maior fidelidade, pedindo a
Deus ou aos Santos, graças especiais, para generosidade
mais decidida.
p. — Processo concreto. Pegar no crucifixo e fixando
nêle os olhos alguns instantes, com o coração cheio de
té, colar successivamente os lábios sôbre cada uma das
chagas divinas, intercalando a cada ósculo os cinco pon-
tos acima enumerados.
c. — Terceiro processo. Representarmo-nos Nosso Se-
nor, sentado junto de nós, de joelhos a seus pés, para
ouvir a nossa confiss^: com profundo respeito e con-
fiança humilde, fazemos-Lhe circunstanciadamente
posição das nossas misérias; depois, ouvimos, caíd
seus labios, exortações dulcíssimas, fitamos no seu «
Í
t
ii VERS ÉCO DENS.
L0 - DIRECÇÃO: DE CONSCIENCIA
, como que a censurár-nos misericordiosamente, o nosso
““ olhar, volvemos em seguida os olhos para o seu coração,
“transbordante de amor e mansidão, e terminamos pór
“lhe; pedir a absolvição, curvados para a receber, e protes-
“tando não mais ferir com as nossas ingratidões tão mise-
ricordioso juiz, | sua
Provações
4; Já vimos o que são, em sentido sinónimo de tribula- |
“ções, quando directa ou indirectamente delas é Deus o:
“autor; aqui entendemos por provações um sistema de for-
“mação espiritual, que, inspirando-se simultâneamente: no
» pensamento basilar de Santo Inácio e de S. Sulpício, espe-
craliza e universaliza, ao mesmo tempo, o esfórco da aima, .
crrcunscrevendo-o a uma área muito restricta e só o con-
servando nela um tempo determinado, de sorte a percorrer
sucessiva e progressivamente os diferentes estádios que
conduzem à vida cristã e à perfeição evangélica.
x 1º — Escudado naquele pensamento da Imitação:
«Se conseguíssemos emendar-nos cada ano dum defeito,
„breve nos tornariamos perfeitos», Santo Inácio manda a
seus discípulos que: dirijam* sucessivamênte todo o es-
fórgo, ora para cada uma das anclinações más, afim de
as combater sem tréguas, até que sejam debeladas, ora
para cada uma das virtudes, até que sejam adquiridas. —.-
Assim procedeu S. Francisco de Sales durante vinte |
anos para conseguir a 'virtude da mansidão cristã. E,
advirta-se, é prática tão importante, porque ha defeitos tão
adversos ao adiantamento: espiritual, que é imprescindí-
“Vel, mediante ela, expurgá-los'impiedosamente por uma
vez, perseguindo-os com ardor até os colocar decisiva-
mente fora de combate; e.ha práticas por tal modo fun-
damentais, que não ha
meio de avançar na virtude, sem
primeiro as radicar sólidamente. ^— '
..:2.^ —'A escola de. S. Sulpício, pela :pêna de Tron- `
son, propõe para cada dia uma prática nova, um aspecto `.
uA. HE ty des uo 0| yd nao: r. |
y !
-—
`- éste efeito,
EXAME DE CONSCIENCIA I3I
diferente de cada virtude ou obrigação, por forma a per-
correr sucessivamente, segundo um plano metódico, tudo |
o que possa contribuir para a boa formação da alma. A
grande vantagem dêste sistema é fugir à monotonia e
por conseguinte ao tédio, que conduz tão fácilmente à
sonolência e tibieza.
3.?— Santo Afonso auxilia-se dum e doutro sistema:
propõe aos seus religiosos a prática duma virtude deter-
minada para cada dia do ano e convida-os a consagrar
“acada uma trinta dias sucessivos. Convem éste método
particularmente às almas isentas de grandes defeitos,
mas sujeitas ainda a umas tantas misérias.
4.º— Nalguns Institutos adopta-se o sistema de Santo
Afonso, mitigado no seu exclusivismo. Conságram ape-
nas certos mêses ao exercício duma virtude ou duma prá-
tica fundamental: durante trinta dias, a meditação, a lei-
. tura, as aspirações e orações, o exame e mais exercícios,
não teem outro objectivo senão essa virtude ou prática,
ficando livres os outros mêses para as demais necessida-
des de cáda um. Tem a vantagem de, por um sistema
de exercícios escolhidos e úteis a todos, proporcionar à
alma uma formação sólida .e completa — e ao mesmo
tempo, deixar a cada um a faculdade de prover nos mê-
ses livres às necessidades particulares.
Que sistema preferirá o confessor ?
Seja qual fôr teóricamente, a excelência comparativa
de cada um, convem práticamente evitar todo o ostra-
cismo, e, para o que se há-de escolher, atender às cir-
cunstâncias de pessoas, tempo e lugar. A máxima que
devemos ter presente nêste caso é; «em tudo o que fi-
zermos, consideremos o fim». Ora o fim suprêmo é a
"glória de Deus, pela perfeição da nossa alma
e.edifitacào
do próximo; importa, pois, preferir o mais conducente-a-.
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ACABE E) T
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132 DIRECÇÃO. DE CONSCIENCIA
A — O sistema de Santo Inácio, que teóricamente
parece mais racional, terá aplicação em três casos parti-
cularmente: a) para as almas de carácter e tendências
firmes, de decisões generosas e seguras, fora do comum: .
à) quando uma alma, já bastante purificada, se sente for-
temente atraída para uma virtude ou disposição impor-
tante: pois, neste caso, para que distraí-la sistémática-
mente durante um més ou mais, para assunto que se não |
coaduna com as suas aspirações, carácter ou género.
de vida? — c) quando um defeito notável e pernicioso.
é óbice considerável à vida espiritual. Obriga então
a caridade a empregar todo o empenho em o rebater
e subjugar: por conseguinte; em vez de tomar outro
assunto para exame, envidem-se todos os esforços para o
debelar, até que se arranque e extirpe completamente;
a nào ser que o penitente, cansado pela monotonia eu
desanimado pelo inêxito, caisse em tédio invencível, que
o reduzisse mais ou menos à inércia; é evidente que me-
]hor seria suspender
por algum tempo o terreno da luta,
mudar de táctica, do que deixá-lo nessa apatia opressiva
e penosa; aplique-se antes o esfôrço para exercício mais
atraente, que pela novidade desperte as energiás entorpe-
cidas e consiga, reavivando o fervor, atacar indirecta-
mente o defeito em questão. |
B. — Os sistemas de Santo Afonso e de S. Sulpício
conveem sobretudo às comunidades religiosas, porque ne-
las se fazem os exercícios conjuntamente e a vocação impõe
a cada um o mesmo género de vida, as mesmas necessida-
des e aptidões fundamentais; são aplicáveis tambem às al-
mas já formadas, que não teem preferências, nem inclina-
ções imperiosas, nem tão pouco obrigações especiais.
c. — E' recomendável igualmente o sistema das pro-
vações, às pessoas piedosas, que, vivendo no mundo, ne-
cessitam, ainda que bem iniciadas e instruidas na vida
espiritual, de limar e polir o carácter e de se aperfeiçoar
no seu género devida.
APENDICE | 133.
. APÉNDICE i
T
“Diagnóstico e influência das disposições físicas
na direcção espiritual
| — TEMPERAMENTO
Temperamento é a constituição física duma pessoa,
' considerada enquanto fundamento das suas aptidões e in-
X elimações naturais.
' E sabido que existe estreita afinidade entre a com-
“pleição física do homem e o carácter. - E compreen-
‘de-se... os dois elementos constituitivos da natureza
“humana, alma e corpo, posto que distintos, conjugam-se
“numa uniãoitão íntima, que é dift cil tocar num sem re-
“percussão no outro.
Pelo que, é bom de vêr, a parte física do homem
tem" influência importante gôbre a sua vida intelectual
e
moral. Uma constituição excelente ao serviço duma alma .
previlegiada é um instrumento magnífico nas mãos dum
bom artífice... Pelo contrário, assim como um fraco ins-
trumento, embora em mãos hábeis, nunca pode produzir
maravilhas, assim tambem a compleição defeituosa nunca
pode dar a esperança de resultados brilhantes.
Ora, a compleição corporal, a que chamamos tem-
peramento, varia infinitamente, porque se nos traços
essenciais a naturega é sempre a mesma, são contudo
, inúmeras as variantes acidentais, que diversificam tantas
vezes, quantos fôrem os indivíduos. Ha, portanto, tantos
temperamentos quantos homens sôbre a terra,
Há, entretanto, quatro temperamentos tipos, aos
quais se subordinam, mais ou menos, todos os outros:
sanguíneo, bilioso, nervoso e flegmático ou linfático.
Com efeito, não obstante a grande variedade de 5-
. Sionomias, que vemos, é inegável que ha pun
Er US KU SRS y A NN y M
I4. A - ` DIRECÇÃO" E CONSCIENCIA G*oR 20
v
| oferecem entre si semelhiiiças ‘surpreendentes. Na com-
pleição, ;existe a mesma analogia, de forma que idênticas
são tambêm as tendências e aptidões. É o que: permite
uma certa classificação, hão só. útil, mas importante para
a análise do temperamento 'de cada um, tal como: as
classificações da zoologia e da botânica, em história natu-
ral. Advirta-se, contudo, que é impossível o' tipo puro
de cada'temiperamento que nos serve de base.
"Pata compreensão mais fácil da distinção estabele-
cida, note-se ainda que constituição perfeita seria a que
reúnisse numa proporção impecável e contivesse em acti-
vidade normal, todos os aparelhos do organismo humano,
em que, portanto, as funções da respiração, da digestão,
do sistema nervoso... se harmonizassem absolutamente.
Acontece, porêm, que o equilíbrio se quebra ordinária-
mente, predominando êste ou aquele sistema, em detri-
mento dos outros; ou até que todos sofram mais ou
menos certa atonia e temos nêste caso, o tempera-
mento flegmático. Se predominam as funções da respira-
ção e circulação teremos o temperamento sanguíneo, se
os' da digestão, o 57/2050; e o nerVOSO, Se O sistema dos
nervos é o preponderante.
Deveres do director, Felativos ao temperamento
do penitente. |
a) — Diagnosticá-lo, estudando a constituição física
e, portanto, as aptidões e inclinações predominantes.
b)— Utilizá-lo, valendo-se, em benefício da virtude,
dos recursos que oferece.
“c) — Tê-lo em conta, para avaliar o meio termo de.
condescendência ou de exigência, que tem de haver com
O penitente.
d) — Aperfeiçoé- lo, reprimindo-o, quando fogoso e
estimulando-o, quando apático; procure conseguir uma
A. a |
APENDICE 35135
justa proporção entre as diferentes funções fisiólógicas,
de sorte a provocar por repercussão, o equilíbrio'*moral.
Serào utilíssimos neste caso, a medicina, a pur o gé-
nero de ocupação e o ambiente. t ten
Na «Medicinh das paixões» diz o Dr. uret:
«Sendo o homem modificado continuamente por tudo
que o cerca, não só não fica muito tempo a mesma a sua
- constituição, mas até pode passar por uma metamorfose
completa. Não falando nas alterações que operam os
anos, se um indivíduo sanguineo se transportar para os
trópicos, virá a ser sanguíneo-biliosa a sua constituição ;
habite ao contrário, um paiz frío, um local hámido, pouco
arejado, e o seu organismo, saturado pelos líquidos am-
bientes, experimentará diminuigào de actividade. e por
fim definhar-se-há inteiramente». E’ evidente que, a pre-
texto de medicina espiritual, nào deve o Director consti-.
tuir-se médico do corpo: cuique suum; mas não tira de
adquirir uma ideia precisa das coisas, a fim de, com a
requerida circunspeção, dar os conselhos que reclama o
bem espiritual de cada penitente.
Sinais característicos dos temperamentos
I.o — Temperamento sanguineo.
a)— Sintomas corporais: cabelo lóiro ou castanho,
— olhos azuis, — tez rosada, — fisionomia viva, — pele
branca e transparente, — pulso activo e regular, — peito
“. largo e proeminente, — corpo gordo, flácido, crescendo
^ ian e suando muito, — voz firme, suave e plangente.
b) —- Predisposigóes patológicas: hemorragias, infla-
mações no cérebro e orgãos torácicos, hipertrofia do cCoO-
. ração (Descuret).
c) — Disposições psicológicas: inteligência pronta, , es-
pontânea, pouco profunda, antes superficial; memória fe-
liz, — imaginação ardente, donde fáceis sucessos nos pri-
T Y i
^ T, PV É 5
136 hon 9
MEER. E IA TEU RS
DIRECÇÃO: DE CONSCIENCIA; ^
meirós estudos, mas nos'estüdos: superiores, que exigem
espíri y e investigação, eclipses parciais; — Coração afec-
tuos t irado pela ância de amar, — vontade versátil,
conso te a"impressáo do momento, — sonhos agradabilís-
simos. *V, |
d) — Aptidões sociais: apresentação insinuante, rela-
ções fáceis, — franqueza, afabilidade, cordealidade, modos
expansivos, jovialidade. Seduzem, encantam, arrastam,
hipnotizam, mas colhem resultados mais brilhantes do
que sólidos |
e) — Inclinações morais: amigos da boa mesa e do
jógo; — amores apaixonados; — leviandades e propósitos
inconsiderados ; — mais ardor do que constáncia ; — ge-
nerosidade, dedicação.
2.º — Temperamento bilioso..
a) — Sintomas físicos: cabelo préto ou escuro e ma-
leável; — olhos prétos, vivos e faiscantes; sobrancelhas
espêssas ; — expressão enérgica e severa; — tez morena,
estatura mediana; — pele aveludada, com as veias subcu-
tâneas salientes ; — músculos vigorosos ; — pulso resis-
tente e rápido ; — voz precipitada e abrupta.
, b) — Predisposições patológicas: inflamações intesti-
nais, e do fígado; — doenças graves com delírio ; — afec-
ções crônicas.
c) — Disposições psicológicas: inteligência variável;
aptidões para sciéncias abstraotas, grande capacidade de
concepção, juizo sólido, mais génio do que espírito, mais
lárgueza de vistas do que originalidade; — imaginação fe-
cunda; vontade firme, inflexível, impulsiva e audaz; —
coração duro; — paixões fortes, enérgicas, antes egoistas,
e concentradas do que afectuosas e expansivas. — Sonhos
guerreiros.
+
APENDICE ^ Tór
d) — Aptidões sociais : decididos, intrépidosarde acti-
vidade impaciente, os biliosos avançam por cita” de to-
das as dificuldades, nem desanimam em face" dê *nenhum
empreendimento. Quando se saibam dóminar;* podem
prestar relevantes serviços; contudo o génio altivo, do-
minador, que naturalmente possuem, suscita-lhas irredu-
tíveis oposições. Teem apresentação séca, brusca e con-
vívio impertinente, desabrido.
e) —Znclinagóes morais: dissimulação e desconfiança,
espírito previdente, —ciúme, ambição desmarcada, — ódio
entranhado, — cólera terrível, — às vezes, amor violento,
— teimosia, — actividade.
3.º — Temperamento nervoso.
a) — Sintomas físicos: cabelo e olhos claros, barba
precoce, — pele séca, face oval, fronte ampla, mento es-
guio, — corpo esbelto e magro, — pulso lento, mas sen-
. sível, — voz baixa, — palavra muito articulada, — modos
tfinidos e desastrados, — sensibilidade física muito viva.
, b) — Predisposições patológicas: tóda a sorte de ne-
vroses.
c) — Disposições psicológicas: inteligência variável,
mas espírito vivo e penetrante; — apreensão pronta de
verdades metafísicas; — imaginação brilhante e fecunda;
— sentimento do belo; — gôsto pelas artes e pela litera-
tura; — sensibilidade profunda, sob aparente insensibili-
dade ; — coração delicado, profundo e fiel; — vontade in-
termitente; — sonhos tristes. :
d) — Aptidões sociais: convívio fácil e agradável, se
“não lhe excitam a sensibilidade; aliás melancólica e mi-
santropia; — alternativas de sobreexcitação e depressão.
e) — Inclinações morais: sentimentalismo afectado,
Me ev DIRECÇÃO, DE CoNSCiENCIA | BuU
Ne. Y )
(— exaltação, excesiriciada da — veisatilidádé, A ância por
pep suaves e Rer agradáveis.
4 o—— - Temperamento flegmático.
a) — Caractéres físicos: cabelo fino, loiro, cinzento,
russo, ou ruivo, — pouca | batba, — olhos rajados ou aver-
dados, sem fogo, — tez pálida Ou levemente rosada, —
saliva: abundante; — corpo cheio, gordo, — músculos dé-
beis, — pulso lento, — movimentos vagarosos e' compassa-
dos, — voz fina.
b) — Predisposições patológicas: apatia, engurgita-
mento. das glândulas, doenças crónicas (Descuret).
c)— Disposições psicológicas: inteligência lúcida,
quási sempre judiciosa; — imaginação pobre; — insensi-
bilidade ; — coração. bom, mas frio; dedicado, mas reser-
vado; — sonhos agourentos. À
d) — Aptidões sociais: trabalhos de grande fôlego,
mas sem originalidade; — pouca habilidade em negócios;
— timidez ; -— amor da solidão ;*— boas pessoas.
'e) — Inclinagóes morais: inércia, desleixo, preguiça;
paciência e longanimidade; — perseverança; — falta de
4
carácter; — tendências para a E da nas bébidas |
e no tabaco.
0 confessor e o temperamento de cada penitente
— Precisam os Sanguineos de direcção benévola,
Era e constante e dum regulamento de vida bem orde-
nado. Apliquem- se primeiro às virtudes que condizem
com o seu carácter: beneficência, caridade, dedicação.
A. póuco e pouco cortem að supérfluo no comer e dispo-
nham-se para uma alimentação simples e frugal. Os afec-:
tos ʻe, ternuras do coração encaminhem-se antes para a
ABENDICE a 139
| Toerist e para os pobres. Entreguem-se a trabalhos
manuais prolongados e enfadosos, para amortecer os esti-
mulos da carne, é habituem-se a ser considerados e pru-
dentes. ;
2.º — Os baliosos necessitam de formação ha pratica
da humildade, da condescendência e da mansidão; des-
confiem dos primeiros movimentos e impressões, não fa-
lem, nem obrem sem reflexão séria e ponderada; previ-
nam-se contra arrebatamentos, intransigências, actividade
febril, zêlo inconsiderado « e sonhos utópicos de fervor in-
“discreto.
© 3.0 — Cumpre prevenir Os nervosos contra excentri-
cidades, sobreexcitações artificiais, impotências imaginá-
.. rias, caprichos de carácter, depressões morais,
desánimos.
Chamem-se à piedade mais pelo sentimento do que por
razões sêcas, rígidas e austeras. Moderem discretamente
as impressões e transportes febrís, nas horas de incen-
drado fervor. .
^ 4.0 — Os flegmáticos poderão tornar-se virtuosos, in-
- fluenciados por um director, que estimule, arraste e des-
perte as energias latentes. Teem geralmente, diz o P.
| Debreyne, dois vícios capitais, dificílimos de combater ou
“prevenir, o onanismo na adolescência e o alcoolismo na
“idade viril. Debelados estes, fácil é formá-los nas virtu-
des, mas em virtudes que não exijam' grande soma de
sacrifícios, porque torna-os incapazes de grande esfórco a a
flegma apática, que os especializa.
Pus | II — DOENÇAS
1.0 — Repercussão na vida moral.
E' variável, diz
Descüret, Gamidanta forem “agudas
ou crónicas as enfermidades. i
I40 DIKEUCVAU APLs OI ANN mam, em
A. — Doenças aguilas: no Drinin, causam desigual-
dads de carácter, acabrunham o espírito e trazem ideias
sombrias, tédios e aborrecimentos; — Vo paróxismo, pros-
tração da inteligência, tristeza, ira, impertinéncia, depra-
vação dos sentidos e susceptibilidades extraordinárias ;
para o fim, certa mudança das disposições morais.
B.— Doenças crónicas. Diz Descuret: «tornam quást
sempre o carácter inquieto, irascível, sombrio, egoísta e
teem acção lenta, mas pronunciada sôbre a inteligência.
Os, bilio-nervosos, contudo, conservam ás vezes nas maio-
res doenças toda a loquacidade e lucidez de espírito, só-
mente a palavra torna-se-lhes acrijmoniosa e repassada de
melancolia. Na maior parte dos doentes, é pesada a ima-
ginação, nula a memória, nos casos de afecção mental,
particularmente»,
Atitude do director com os doentes.
O histerismo conduz à impaciência, ao amor e às
ahtipatias preconcebidas, — a paralisia às comoções la-
crimosas, — a JAdropisia, o reumatismo e a artrites
(gota) à irascibilidade, as moléstias cutâneas, igualmente,
|
as doenças intestinais à tristeza, aborrecimento, enfado e.
espasmos e a tísica às ilusões. De sorte que: a) — aten-
derá o confessor à influência da doença para pesar a res-
ponsabilidade dos actos e do procedimento, porque as dis:
posições morbosas. podem diminuir notávelmente o vo-'
luntário.
b) — Deve tratá-los com indulgência, atenção e co-
miseração.
c) — Persuadí-los-há a que tomem com ânimo e per-
severança os remédios receitados para a cura,
d)—e a que santifiquem. pela paciência a enfermi-
dade e os sofrimentos, €) procurando em motivos de fé
consolação e confôrto. para não sucumbir, nem dar lugar
ao desalento, aos queixumes e azed: me. |
CAPÍTULO TERCEIRO
du Diferentes espécies de Direcção -
.. Vimos: no capítulo precedente, não só as disposições
gerais a exigir de todo e qualquer penitente, que pro-
cura santificar-se, mas tambem os princípios que devem
inspirar constantemente o confessor na direcção espiri-
tual, e bem assim os meios que importa empregar.
Vamos ver agora na espécie, as leis que regem a
-yida espiritual, proporcionando a cada classe de. peniten-
tes os remédios mais salutares, para triunfarem das suas
- misérias e prosseguirem afoutamente no caminho da vir--
tude. A direcção, embora a mesma sempre nas linhas
gerais, varia de forma, ao adaptar-se às diferentes idades,
Vocações e estádios da vida espiritual.
Estádios da vida espiritual
. 1— DIRECÇÃO DOS PECADORES.
A I.^— Guerra que ao pecado deve mover o direc-
tor espiritual. Há-de consistir o seu primeiro empenho
, em arrancar os penitentes do domínio nefasto do pecado.
Nunca será demais o zélo em tão árduo mister, porque
impugnará o maior de todos os males, ou melhor, o
“único mal que existe, que por sua natureza visa a des-
trúir as divinas perfeiçõeste por conseguinte, a aniquilar
o próprio Deus, soberano Bem; o pecado arrebata, ou-
trosim, 20 homem 2 vida eterna e priva-o do obiecto su-
Í
142 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
premo; que pode únicamente satisfazer todas as suas as-
-pirações... | l
Com efeito, ora iludido e enleado nas ciladas: do
demónio, ora fascinado pelas aparências sedutoras dos
bens limitados, ou então arrastado pela fôrça das paixões
impudentes da natureza decaída, quão fácil não é ao ho-
mem 'extraviar-se por: caminhos tortuosos, que o des-
viem do Bem Infinito de que falamos! Não pode pois
haver obra mais humanitária e santa do que lançar mão
firme do pecador, arrancá-lo ao império do mal e por
-conseguinte, à. eterna condenação e mesmo já neste,
mundo a êsse grande cortejo de misérias, que formam o
séquito lúgubre do pecado. Eis o que melhor do que
ninguem deverá compreender o sacerdote digno, isto é,
o padre abrasado no amor de Deus e no zêlo pela salva-
ção de seus irmãos enfêrmos. Recordará constantemente
a palavra do Salvador: «non veni vocare justos sed pecca-
tores. ..», e assim tornará incansável o seu zélo e inces-
-sante, de preferência para Os infelizes que tanto necessie
tam de médico. | i :
2.? — Expedientes para 'desarraigar do pecado.
Em toda a doença grave prescreve o médico regime
higiénico e fortificante, como: base para ulterior, trata-
mento. Antes de indicarmos remédios especiais para
cada enfermidade, apontémos os remédios gerais, qual
regimen fundamental na luta com o pecado.
. Alêm do espírito de oração e de generosidade, que
garantem, no combate, . a cooperação da graça com a
vontade humana, necessário se torna Zncutir à alma gm,
horror profundo ao pecado.. Firmado‘ no coração este
sentimento, com raizes, não tanto fundamentadas em im-
pressões passageiras, como em convicções sólidas, de-
pressa se tornará impulsivo, comunicando à alma uma
‘tenaz energia de resistência contra o mal. E” certo que
nada é comparável à aversão instintiva ao pecado, .que
desde a infância comunica ao indivíduo uma educação
d
/
DIRECÇÃO DOS PECADORES I43
Í
profundamente religiosa, mas a acção do confessor pode
até certo ponto suprir a primeira educação, e, fecundada
Pio graça, levar o penitente a detestar quàsi habitual-
mente, quanto possa macular a consciência, ferir a alma
€ ofender a Deus. E, adquirida esta disposição, fácil «€
~ decidir-se a: tomar cuidados contínuos e a empregar os
remédios que prescreve o médico espiritual, - E”, pof-
“ tânto, de suma importância infundir-lhe no. ânimo um
“horror santo por quanto possa ser nocivo à vida da
» graça. A. — Para o que será táctica. excelente abor-
; dar a alma pelo seu lado mais fraco e acessivel,
1:0 — A's pu muito amigas do aceio.e limpeza,
4 cujos hábitos revelám tambem “gôsto pelas artes e pelo
- “belo, será oportuno descrever às monstruosidades, que
“da order moral encerra e produz o pecado: 4) um ser
“despojado da sua beleza nativa, perde todo o encanto e
mui depressa, em contraste com a antiga gentileza, só
“inspira horror e repugnáncia; assim o homem, quando
cadáver, a quem com a vida foram arrebatados encantos
;e formosura.
Eis o que acontece tambem à alma morta pelo pe-
“cado: privada da graça santificante, que era a sua vida
> sobrenatural, perde os encantos, brilho e formosura que
a
* faziam émula dos Anjos! desaparecem dela, apagam-se,
“os reflexos da divindade, para cederem o lugar a upa
“E INTO
caque
/ hediondez asquerosa, como cadavérica |
cs Mas, antes disso, nada tào repugnante, já.de
per si, como o pecado!... se tudo o que é desordem é
. detestável, que diremos dum interior todo revolto, todo.
"sobressalto e inquietação, na' maior de todas as
desor-
: dens; pela derrocada do edifício belíssimo, que Deus cons-
' truíra pela graça e pelos mandamentos!
/
€) — B' abominável o espírito de revolução e anar-
` quia. Quanto nào foi indigno, revoltante e infame o pro-
cedimento de Absalão em luta contra seu pai... e quarto
- nãosé indigno, grosseiro e ignóbil o proceder co peca-
` dor, revoltado contra Deusll... A
à
uv.
Dd e j ; " hx .
! « 4 ; di^ : ; E.
144 > , DIRECÇÃO
DE CONSCIENCIA
» i . Fe
d) — B' triste, lastimoso, ó estado daquele que é de-
mente Pe que maior falta de senso, de juizo, do que a do
pecador, que sacrifica os bens eternos às vilezas da terra,
o Set Incriado, o Infinito, ao transitório, criado e imper-
,
feito | -Não pode o pecador admirar-se de Que haja Esaú
trocado a primogenitura por um 'prato de lentilhas |
e)j— Causa horror a crueldade no homem sanguiná-
rio, particularmente quando se sacia em sangue inocente..
Pois, com ós judeus que sacrificaram uma vez sobre o
Calvário, a Víctima mais” inocente, rivaliza o pecador,
“que fére com crueza a mesma Víctima muitas vezes!
Rursum crucifigentes sibimetipsis Filium Dei (Hebr. vi, 6.
f)—E a ingratidão, a negra ingratidão?! ha coisa mais
horrenda ?... pagar o bem, com; o mal mais atroz, fazer
do benefício recebido uma arma, uma espada para cravar
no peito do bemfeitor?... Como não estremecer de
horror, ao ouvir o povo de Deus reclamar em forte grita
o sangue de Jesusl... E que não faz o ingrato pe-
cador?...
— Aos penitentes que teem paixão e arte em au-
diese os haveres terrenos, precavendo- os contra tóda à |
sorte de ruína, urge descrever os horrívéis estragos |que-
nos domínios da alma produz o pecado, as: ruínas - “que
acumula e a inépcia a que reduz as faculdades' morais.
Os incríveis flagelos que num só dia desencadeou Satan
sôbre o santo patriarca Job, são apenas uma imagem' pá-
lida dos grandes destroços que sôbre a alma, no mo-
mento do pecado, vêem acumular-se num instante os
“Anjos de Deus.
Naufrágio tremendo, onde se submergem tantos me-:
reciméntos, tantas graças, tantos sacrifícios |...
E, por mais que fac» o pecador, emquanto perdurar:
desci ace. nã sode- s-r meritória ' Des acção
alguma...
!
3: — A's almas, a quem repugna o sQjTimieuip, mas
fascina o prazer, descrevam- -se: ` Claramente os. terríveis
/ Q
is j u "t + f
hp. » . e H
A
y
Z,
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t. fo
VeRO
RE vã. ^5 72009". r RECEA DOS PECADORES 145
Y , castigos que já neste mundo Deus inflige pelo pecado, a
- crüa expiação que exige a su& justiça pelos pecados já
i; perdoados, e os incomportáveis tormentos que no inferno
vstorturam. os réprobos. Por outra parte, recordará as ine-.
Eres consolações que dispensará no céu às almas gene-
rosas “Aquele que prometeu não ficar sem recompensa.
..um copo de água dado em seu nome. .e o cêntuplo
r. nésta vida: de quanto se abandonar por seu amor.
us
o. |
co le A9 — Aos de carácter altivo e notória independência,
E mostre quam humilhante e indigna é a escravidão ao pe-
*- cado... /;— como são pesadas e degradantes. as cadeias,
“com que Satanás algema as suas infelizes vítimas, não só.
= com a esperança sinistra de as não restituir à liberdade,
é .04, ao menos: de as vexar rudemente' a cada passo que
2: dêem À’ "para se levantarem, mas- tambem no anseio
cres-
= cente de as. qpnquistar por completo para o seu império
i crúel é tirnico... ;-- como são humilhantes os enrédos
- das paixões e dos maus hábitos que por tal forma aper-
“tam- e enlaçam o pecador, que nem a vergonha, nem o
remorso, nem a perspectiva das mais cruciantes. misérias,
; conseguem, por vezes, desenlear |
TRER 27
IRRE R rus A
Ria s 7
SA da
L-
AT — Aos.de natureza sensível e delicada, em esbôço
iipido e surpreendente, represente o martírio atroz do-
; “divino Crucificado. .., desvende os horríveis estigmas
de”
“seus pés e. mãos, tôdas as chagas de sua carne santís-
i8 ma..., e. revele sobretudo à agonia crudelíssima do
“seu imaculado. ical sob a lügubre visão dos pecados
eo dos" homens; |
Vs Ier e
a
ap 39
| Observação: : 12 Outras TUM NU Hl há em que
ose pode inspirar, O confessor para, por forma nova e ori-
~ ginal, sugerir: considerações mais efigazes, porque não
g sega MENS
repisándo ideias, hão-de ferir melhor. e avivar a atenção
e contrição. !
1*.- ão se pense que pretendemos .circunscre:
“a caña uina das esicras supra enumeradas, corresvo
“146 | DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
É P
dente categoria de almas € “que não “devamôs apresentar
à todas, reflexões diferentes ainda que não áptopriadas “a
“sua "mentalidade. Somos adversos a exclusivismos
.e:exa-
.géros, pois tôdas as almas teem embrionáriamente: as .
mesmas tendências e gôstos e todas as considerações. lhes
podem mais ou menos convir. : E
p. — Textos eficacíssimos para excitar à contrição
perfeita: -
1.º — Escritura: Egressus est a filia Sion omnis de-
cor ejus. Quomodo obscurátum est aurum, mutatus est
color optimus? (Thren. 1, Ó; Iv, I). Violabsnt me pro-
pter pugillum hordei et fragmen pánis (Ezech. xin, 14):
"Deum qui genuit te dereliquisti, et oblitus es Domini
créatoris tui (Deut. xxxir, 18). Si averterit se justus a.
justitia sua, omnes justitiae ejus quae fecerat non recor-
dabuntur (Ezech. xvu, 24). Quasi a facie colubri fuge `
peccata. Dentes leonis, dentes ejus, interficientes animas
hominum (Eccli. xxt, 2-3).
2.0 — Santos Padres: Unusquisque peccando, ani-
mam suam diabolo vendit, accepta tanquam pretio dulce-
dine temporalis voluptatis (Aug.. in Rom.). Luges cor-
pus, a quo recessit anima, non luges animam a qua re-:
cessit Deus (Aug. Serm. 9). Qui facit peccatum. servus
est peccati et, quod pejus est, multorum servus: qui
subjectus est vitiis, multis se mominis addixit, ut servitio
ei exite vix liceat (Ambr. 1t Jacob. 3). Hoc sunt peccata
lapsis, quod grando frugíbus, quod turbidum sidus arbo-
ribus, quod armentis pestilens vastitas, quod navigiis
saeva tempestas: omnes scilicet, bonorum operum fruges
destruit, animi facultates cofrumpit, totum hominem ad
interitum ducit (Cyp. S. 5 de lapsis). Malorum omnium
maximum constat esse peccatum (Chyrs., Hom. :5: ad
penit.). » Crudelis et plane execranda malitia quae Dei.
potentiam, justitiam, sapientiam perire desiderat (Bern.
De resurrect.). Ouod in se est, omnia quoque quae Dei
sunt tollit et diripit. (Bern. Cur me graviori tuorum
!
24
DIFERENTES CATEGORIAS DE PECADORES 147 >
X cu a lis" :
criminum cruci : affixisti 2 Gravior apud me. peccatorum
.crüx;:in. qua-invitus pendeo, quam illa in quam, tui mi
-sertus,,ascendi" (Bern. Serm. 18).. Cur addimus
afflictio-
nem afflicto? Magis aggravant Christum vulnera peccati
rr quam Yulniera corpos sui (Bern.).
“AI DIRECÇÃO DAS DIFERENTES CATEGORIAS
| DE PECADORES `
X e -Reduzem- se Siani a três šitai categorias, con-
“soanté a vida no pecado tem como origem : A) à impu-
ren — B) à njia, — C) a irreligião. .
-D
e:
y j
had ES
A= : Direcção das almas dominadas pela impureza
, EO “Merecem toda a compaixão e reclamam todo o. zelo
+ ido Director as almas dominadas .por éste vício, como se
B.
AN ^ verá pelas. Seguintes considerações :
nth +
*-
f
idee À paixão impura gera uma infinidade a fal-
“tas e de crimes. O que não admira, constatado como
“está, que é ela, em suma, a aberração dum dos instintos
* mais impétuosos da natureza humana. E’ de notar que a
. Providência se empenhou em facilitar ao homem, me-
;diante o prazer, o cumprimento dos deveres primordiais +
“que:lhe impõe a natureza: conservação da espécie, con- *
“servação do indivíduo e desenvolvimento das faculdades
-humánas ; proporcionou mesmo à importância do: dever
“a 'inténsidade do.gózo.e a impetuosidade da paixão. «A
*estas inclinações providenciais, radicalmente honestas,
sol- .
. tóu.as rédeas o pecado original, e desde esse dia elas se
“Jançam inconsiderádamente para o objecto dos seus ape-
.'&tites; com mais ímpeto porêm a mais fogosa, a paixão
t Ro “impura, de facto brutalmente arrastada para os
prazeres
i “mais violentos. Sem disciplina austera que a obrigue a
y à "entrar na ordem do seu fim próvidencial, conduz
fatal-
. ^mente'de abismo em abismo os infelizes que sé subme-
: tem à sua tirania, Paixão maldita, que nunca diz: «basta»
$
^ — eec TTE di A À
PUE wq 3
+. Fx sB-
148 CONSCIENCIA 2. 2 PEE
a
: "o E ovx oo.
.porque jamais se sacia. E^ o que a experiência de todos:
os dias comprova, pois o impudico multiplica .de contí-
nuo as suas faltas, sobretudo interiores, com uma abun-
. dáncia incalculável, e não pode passar dia, nem hora,
;sém pecar gravemente, por pensamentos e desejos, pelo
fmenos. Donde para êle; impossível- realizar a importan-. ‘-
tissima recomendação do Salvador: «estotepdrati».
2.º — Estas faltas, por efeito dò abalo profundo que
produzem no sistema nervoso e dá violência do prazer,
orgânico, que as acompanha, imprimem à natureza tra-
ços indéleveis, que facilitam repetirem-se sem conta e
ge--""
: ram" depois o hábito, que por sua vez se torna quasi
in-. :
s'tüestrütível; 6.o quê constitui o: perigo principal da: in
"4 o di: | | dms
E "S
+ pureza. | s | Midi o O 4g
y '34.^ — Emfim, éste. vício torna-se para Os cristãos, .
7 praticantes um perigo frequente de sacrilégio, por ¿duas .
^ razõês: à prifeira, porque não há pecados que tanto
.custem a declarar.na confissão: como os pecados impu-
ros; têem em si álgo de tão degradante, que procuram
de cóntínuo as trevas, .o-disfarce e o esquêcimento.
Para»...
escapar à vergonha e -desprêzo,. habitua-se o impudico à `-
mentíra, à dissimulágáo*'e (à hipocrisia, encobrindo até
. malcom aparências de virtude, de sorté a “incarnar-se
* por-fal.modo nêle o hábito da duplicidade:que nenhum
meid:humano há capaz de o:mover a declarar-se, e assim,
ou esconde as faltas completamente, ou então faz uma
“acusação tão vaga e omissa; que o mesmo é que reticên-
cia Sacrílega. ` zd | |
A segunda causa de sacrilégio dá-se com os que,.,
tendo adquirido o hábito de se acusarem perfeitamente : *
de todas as misérias, isto. é, com verdade e sinceridade, ..
não teem, nas confissões, contrição verdadeira, nem pros.
«pósito firme. Abrem- à consciência, declaram todas as
* torpezas, mas não sacodem o jugo pesado do hábito .im-
>
puro, nào renunciam 'enérgicaménte: ao^ vício maldito, de
“quê se tornaram escravos. B quântãs: vezes, por isso,
ES ou wa Va t.
E. jib 2!» a o
7 P AA e {Ai FC ED . x À
T ru. $^ mw dio. o TA o o .
e
DIFERENTES CATEGORIAS DE PECADORES 149
w A
1 .
“perdem o pôstorpela oração, endurecein o coração e fes
"cham a porta da alma à graça e ao- arrependimento lzzZ
- Dohde, nào admira que Santo Afonso afirme que non
venta e nove por'cento dos que se condenam, devem à
impureza a sua eterna perdição. Bastem estas conside- .
“ftações para inflamar o zélo do homem de Deus, que tem
à seu cuidado lançar mão firmé aos naufragados na im-
pureza. Feliz o impudico que tenha a. sorte de encon-
trar, no caminho, o bom Samaritano, que derrame sôbre
as,suas chagas o remédio'santo e salutar, que lhe pro-
porcionará a cura! ——
Note-se, entretanto, qne a tarefa é árdua e penosa.
- Para tirar do abismo o desgraçado, quantos, estádios.
a percorrer!... arrancar-lhe, ài força de paciência: e de
santas indústrias, uma sincera acusação....' dissipar dê
diante dos seus olhos a nuvem tenebrosa que lhe“óculta
“o horror e-o perigo do estado da sua' consciência... .,
res-
“ tituir-lhe a dignidade e nobreza, de que se privou... tó-
- nificar-lhe a vontade, que tanto rebaixou, sob os vis int-
` pulsos 'das míseras paixões... retemperar com 0 sobrena-
tural, uma alma que tanto se materialisou com a violén-.
“cia infeene da carne... soerguer.para.o céu: aspirações
que pa q se mergülharam na lamã'e-na imun-
o
dície. oh! emprêsa
magna, rude e escabrosa, que
exige a maior soma de zêlo no que se: abalangar acefec-,
,tu- Ja m. | mo. Ki
Lr
4.º -— Obrigações do Confessor.
a) — Empenhe-se em obter confissão sincera
Como dissemos, o vício impuro procura às, trevas,
esconde- -se; e, O impudico obrigado a declarar-se, treme
e Cora, por isso que tais acusações repugnam mais que
“quaisquer outras. Pelo-que, as pobres almas, feridas pelo
contágio imundo, que no princípio não tiveram a felici-
“dade de topar com director hábil'e sagaz, que prescru-
tâsse até ao mais íntimo as süas misérias e as levasse a
~-
150 | DIRECÇÃO DE; CONSCIENCIA -
uma sincera e completa. dêdiaraçãol reBignaram-se; infe-.
| lizes! a um triste e criminoso silêncio, ou quando muito,
apenas denunciaram tímidamente algum pensamento cbn-
sentido ou desejo mais ou menos demorado. Mas, é in-
«dispensável, custe o que custar, para curar a chaga, des- .
cobri-la completamente; quando a gangrêna começa de
invadir o organismo, ai do médico que não corta e reta-
lha, a tempo de salvar o que está são! Urge, pois, que
o 'confessor revolva e explore até ao mais íntimo da
alma. Com toda a arte, qual médico experimentado,
com toda a delicadeza qual irmã de caridade, sonde
corajosamente a chaga em toda a profundidade. Sem cu-
riosidade lasciva, mas tambem: sem pejo descabido e cul-
pável, leve as investigações até ao mais recôndito da
.éonsciéncia) revolvendo imaginações, pensamentos, dese-
jos, palavras, olhares e acções, inteirando-se das circuns-
táncias que agravam ou mudam a espécie, até juizo pet-
“feito e pleno de toda a enfermidade. Realize este traba-
-]ho, debaixo do olhar de Deus, movido pelo espírito de
“fé, com a segurança e firmeza do perito, que sábe da
“sua arte e com a paciência e bondade da mãe que trata
. seu” filho. Hesitações importunas, manifestações de es-
| pânto, enfado e precipitação, podem frustrar declarações
já esboçadas; por isso, antes animado pelo auxílio, que
implorou do Senhor em prece-ardente, convicto e fir-
mado na autoridade de sacerdote, com o coração a arder
em zêlo e a alma retemperada no amor inviolável da pu-
reza, inclíne-se misericordiosamente para a alma ferida,
ausculte-a minuciosamente e só se levante quando tenha
posto a descoberto todo o mal.'
“b)-— Investigue as causas do mal.
Para criteriosamente tratar uma doença é necessário
conhecer-lhe as causás. Indague, portanto, com diligên-
cia, o médico espiritual as origens donde procedem as
faltas. Umas vezes, é uma afeição sensual, mal reprimida, .
que sugere devaneios lübricos e imaginações voluptuo-
Sas..., outras, serão comunicações e trato imprudentes,
J ; sA 4
J . A
P
dà ^ APT.) i
“+ DIFERENTES CATEGORIAS DE PECADORES bas
E
que originam ocasiões perigosas e sensações impuras...;
pode ser tambem a frequência com pessoas incontifentes :
nas acções e nas palavras... Indagando mais, nào serão s
as revoltas da carne fomentadas por mesa lauta e abun-
. dante? por qualquer ocupação, menos conforme ás exis. `
géncias da modéstia? por leituras febrís e apaixodadas?
por divertimentos demasiado livres e impróprios? ou será
“Satanás o instigador, ou mesmo o$ tres inimigos juntos?
“Conforme a resposta a estes quesitos será, mais por üm
'modo ou por outro, a decisão do confessor, quando em
tal estudo empregue todo o estôrço e sagacidade.
C) — Procure remediá-las. |
. Feito o diagnóstico, advirta-se o enférmo da gravi-
dade do mal, receitem-se os remédios e estabeleça-se o re-
gime: Prevenir de tão grave estado os infelizes, tarefa é
“tão difícil quão delicada. Fazê-lo com despropósito, não
“seria ferir profundamente a disposição actual do peni-
«fente e redobrar para o futuro a dificuldade em se decla-
rar, bem como dar aso a novos sacrilégios? fazê-lo cair
“no abatimento, de forma paralizar qualquer. esfôrço de
. conversão? e, o que é pior, causar-lhe no ánimo horror
^ pela confissão e desprêzo pelos sacramentos?
| — E' indispensável, por certo, abrir os olhos a ce-
gos desta natureza..., despertar-lhes a alma entorpecida,
<
., sensibilizar-Ihes o coração, formar-lhes rectamenté'a
cons-
. ciência e fazer-lhes ver quanto é melindrosa a bela vir-
. tude da pureza; mas tudo, isto deve fazé-lo:o confessor
- sem desabrimento, sem brutal severidade, antes com . pa-
- . Ciência e extrêma caridade, Feita esta prevenção, urge
“fortificar a vontade, retemperá-la num banho santo de
- santa energia, dispô-la fortemente para a luta e levá-la
com esfôrço valoroso para o combate. Topar-se-há, por
.. vezes, desanimada e abatida. Imprima-se-lhe alento e
confiança, reacenda-se-lhe o entusiasmo pela: beleza da
“virtude e electrize-se-lhe o espírito pela consideração dos
“triunfos. obtidos, pela perspectiva de novos louros e pelos
~ exemplos admiráveis, que. êmos nas vidas dos Santos;
y
7. - RAM uf
152 | DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
-
numa palavra, emposse-se da alma, dominando-a. pela in-
fluência fascinadora duma santa sugestão.
Desde logo, èla estará disposta a receber todas «as
prescrições e a observar a regra de vida regeneradora de
que precisa; estará pronta a todos os sacrifícios e deci-
dida a todas as medidas de precaução,
Por fim, só ficará o cuidado de garantir a perseve-
rança mediante contas prestadas regularmente e assídua
“vigilância do Director. E' entáo que necessário e impor-
tantíssimo se torna, para o pobre enférmo, que, longe de
vaguear de confessor
em confessor, procure ser fiel às
prescrigóes de um só médico, que sonde e pense todas
as chagas, com zêlo ardente e caridade extréma.
5.º — Considerações utilíssimas para esforçar o
penitente na prática da virtude da pureza.
. A. — Fundar-se primeiro em motivos de ordem so-
brenatural; só estes podem produzir a contrição neces-
.Sária para a absolvição e tambem, são por si os mais
eficazes: |
a) — Infundir no ánimo do pecador grande horror ao
vício impuro. O próprio Deus recorreu a tal processo no
A. Testamento, para reprimir as paixões do seu povo:
feriu com golpes terríveis e por. fim com o dilúvio, o
mundo corrompído e no tempo de Abraão consumiu e
abrasou com uma chuva de fogo as cidades de Sodoma e
Gomorra, bem como toda a Pentápole.
Demais, considerem os impudicos as seguintes pas-
sagens dos livros Santos e dos Padres da Igreja:
Non permanebit spiritus meus in homine in aeter-
num, quia caro est (Gen. vr, 3). Neque fornicarii, neque
adulteri, neque molles... regnum Dei possidebunt (I Cor.
VI, IO). Nescitis quoniam corpora vestra, membra sunt
Christi? Tollens ergo membra Christi, faciam. membra
meretricis? (I Cor. vr, 5). Sciat unusquisque. vestrum
“DIFERENTES CATEGORIAS DE PECADORES 153
vas suum possidere in sanctificatione et honore (I Thess.
iv, 3): Fornicatores et adultores judicabit Deus (Hebr.
var 3). Fornicatio et omnis immunditia nec nominetur
in vobis, sicut decet sanctos (Eph. v, 3). Hoc scitote in-
telligentes, quod omnis fornicator aut immundus non
. habet haereditatem in regno Christi et Dei (Eph. v, 5).
— Ubi incipit quis luxuriari, incipit deviare a vera
fide (Amb. Ep. ad Sab.)) Ex quo luxuria cujusquam.
mentem..occupaverit, vix eum bona cogitare permittit.
(Grep. 22 moral). De luxuria coecitas mentis, odium
Dei, affectus praesentis saeculi, horrcr autem aut despe-
ratio -futuri generantur (Greg. I3 moral). Quanta ini-
quitas et quam lugenda perversitas, ut animam quam
Christus sanguine suo redemit, luxuriosus quisque, prop-
pter unius momenti delectationom, diabolo vendat (Aug.
Serm. 250 de temp.)
Lascivia mater impoenitentiae
(Cvpr. de bono pud.) |
b) — Iuspirar-Ihe ao mesmo tempo grdnde estima pela
virtude da pureza, porque só o temor da luxúria pelos
seus efeitos perniciosos, nem sempre convence, pelo mo-
tivo de só serem palpáveis e terríveis após longa série
de excessos; por isso, tais considerações deixam quasi
sempre insensível e até scéptico o penitente, que consigo
pensa nunca chegar a grandes desregramentos. E, mesmo
que concebesse sério horror pelo vício impuro, bem de-
pressa êste sentimento se apagaria, porque facilmente
nos familiarizamos com:o perigo e, além disso, «violenta
non durant». E preferível, pois, insistir sobre a beleza e
encanto da virtude, até radicar por ela no ânimo de cada
um grande apreço e amor verdadeiro. |
* Mostre-se como a pureza nos aproxima do estado
da integridade original, nos torna émulos dos Anjos, fi-
lhos de Deus e herdeiros da recompensa eterna; como.
Jesus testemunhou sempre predileção por ela, nas pes-
soas da Virgem, sua Mãe, de S. José, de S. João, das
criancinhas..., a glória particular que na eternidade
reserva o Cordeiro Imaculado à virgindade.. , como a
4r L^
pur ei 2nd. a E 'consolida a: espêrança,. alimenta a eris i
idade, imprime vigor e fprtaleza. Cristã, opera prodígios `
"admiráveis de dedicagao*e encontra ocasiões numerosas
*
de: pagar, na luta, a pena temporal e; de alcançar: mere- 1
cimentos incalculáveis. .;, como 'émfim foram incoffipa- | À
Táveišģe sublimes os triunfos désta virtude no decurso ;
dos séculos, depois de Jesus- Cristo, particularmente no
temps, ‘das perseguições. .. | A oe A.
€
asa [DAS “DIRECÇÃO: DE Sy I É "2 ) 4 zu FT
uv -— Subsidibriamente, — recorrer, com .almas de A
naei, particularmente, a motivos: e considerações dé.
“ordem: i rod atural? estragos que .catisa à impurezá em,
tudo: |
quanto &nobre apanágio do homem: enfraquecimento: 1
das fhcildades mentais, * efeminação: da vontáde, » ruínas ^
dos Sentimentos nobres e delicados, falta deidignidade
humana, escravidão” vergonhosa, remorsos, tédios,: tris-
teza... enfermidades, ruína da saude, „velhice. precoce...
,emfim, um cortejo interminável de calamidades que a lùt `
ixúria acarreta comsigo |. ! | E
2 Observação. —E' evidente que não devem: feria se. to-
das estas'cordas ao mesmo tempo esesgotar por-uma ver
reflexões tão profícuas e valiosas. ' Cumpre variá-las e al-
terná-las, para que o interésse da novidade fira a átengao
e reforce as considerações do director; e como,a guerra ..
de bloqueio contra a impureza, é ordinariamente demo-
tada, . vantagem será haver no arsedal, de reserva, muni- .
ções em abundância. Procure tambem as considerações |
.mais consentáneas à mentalidade e temperamento: do.in- .
divíduo..” | | ES ON A
“126 — Remédios ʻe garantias de triunfo "ia luta
contra, ;a luxúria. | ese nho aa
" 181! MR
i$ APR eri dois enunciados o que cumpre fazer -
O tratamento das almas atacadas pela luxúria: enfra.
quecer a carne — e jorüfica; o espirito.
De. facto, é ,a irhpureza o triunfo da carne sobre O
o, A ^
cos É .7wN n " á u- s J
m ow va 2 ais á ^ - i; ^ r , ^g E sa 1 » a * 2
$O*T ui DIFEREETES CATEGORIAS DE PECADORES | 155
MICE E. o * ae P
; espirito. Com" um 1 egóísmo revoltante: e
"crudis inaffdita, E
| o corpo sacrificar às suds ignÓbeis satisfações os
interesses
iri p da'almá,-e reduz à &écravidào mais miserável
t està sua companheira, que Deus lhe deu para o govêr-
nar Contudo esta não chega sem luta a tal abjecção,
« porque: tem consciência da sua dignidade e supëtiori* >
< dade; tenta primeiro reagir e fazer valer as'suas.
frobres
eien, entrando em duelo com o seu fetoz inimábo,
deante-do qual quando sucumbe, é por falta de prépara-
“ção: para o combate;e porque muitas vezes o poupo4, , ém
-vez'de jugular; ao passo que éste, por.sua parte, se pfe-
| parava e avançava ousadamente, de 'COffcurso com «os
seus: aliados temíveis, mundo e diabo. Importa, , pois,
para rétomar:a ofensiva, recuperar forças e dividit, Jens
: débilitar até à derrota, o adver: sario.
S É
TS — Debilitar a T dos inimigos:
de aw
a) — submeter a carne à disciplina da mortificação”
cesis os de temperamento sanguíneo praticaráo, a $0- ,
briédade no comer e
no beber, banindo em particular”
| alimentação muito reconfortante; os nervosos hão-de evi- |
tar excitantes, e os de natureza exuberante hão-de, recor*
rer a penitências corporais, às vezes à macerações, na me-
-dida da prudência, como deixamos dito, a” quando «da
| mortificação»; e todos, de necessidade, se hão-de entre-
gara0 trabalho e a ocupações, porque a ociosidade, é
- grande. inimiga da virtude. 5)— O segundo inimigo — `
o- mudo — tenha-se a distância pela fuga das ocasiões :.
. companhias, espectáculos, divertimentos, módas vii
; rias à:modéstia cristã... (Vid. supra-Das ocasiões).
5 => Afugente-se o demónio, absorvendo o espírito em ub -
` pações sérias e úteis, frequentando a Eucaristia, émpre-
-gando os Sacramentais; emfim, vigiando- o continufmente.
? — For "ip a alma, —à) pelo concurso das suas
aliadas dr. m tuais, especiaimente pelo alto patrocínio da
Vircem Imaculada, Mãe de -Deus e mãe da castidade; -
da
I s6 Ce DACDNQA DUUM
à) sKodtlando gia, piedade .pelo'adxflio dã-graça, sob
todas. ^as formas : ` "Oracadítmneditatib e
3frticuldrmente.a.
confissão e comunhão.
^7 Corolário. Práticas muito úteis” eeficazes pará vi-.
ver castamente: 1. — Enquanto não estiver extirpado dé
todo o mau hábito, confessar-s& muitas vezes; mesmo
logo depois da queda e, quanto. possítel, do mesmo cort-
fessor. E^, pi que recomenda, Toleto.na sua Suma,
l:.5,:cap. 39-2. 2. — Comungar frequentemente e até
todos. os "dia com o maior fervor: 3. — Recitar: pela
manhã e à noite 3*Ave- Marias, com a invôcação : 6-Ma-
ria, concébida sem pecado...; a oreet 6 Senhora Mmi
nha, ó'minha mig! eu me ofereço. . 4. —— A adorme-
cer, ficar com'o terço na mão' e bat nos «novisimo$».
s. -— Pela manhã, ajoelhar diante duma imagem ,dà:Vir:
gem, estendendo para ela as:mãos, com promessarde as
não manchar nêsse dia. 6:-—Reiterar todos os dias-diante |
do Crucifixo a resolução de conservar puras, as mãos, “em.
"honra das: Chagas das mãos do Senhór e do Sangue pu-
,tíssimozque derramáram. 7.—- Ter a.coragem de Se.im-
spor uma, penitência por qualquer falta grave. contrà a.
pureza, v. g. a Via-Sacra, uma esmola; tal privacáo;:
"ete,
3: — habituar-se a trazer no pensamento a lembranga: da:
presença de, Deus, do Anjo da Guarda e recorrêr frez
qüentementé as orações jaculatórias.
> A "a
| B. + Direcção das almas, atreitas à injtistiga -
É -objecto de solicitude particular do cónfessor a ih-,
Justiça, porque é ela prejudicialíssima à vida dá gracá;-
tanto mais que se comete muito facilmente e : pov -fnuitos
modos. | VR
2 — A cubiça, (a séde de Erro e de riqueza), ar-,
pista muitos homens para os caminhos da injustiça.,
O furto pratica-se por muitas formas, às vezês bem .
sabtís : cobrar lucros demasiados no: comércio... «lograr
no pêso e na qualidade... contraír dividas, -
que"-depois
DIPERÊNTES CATEGORIAS DE PECADORES 157
4 W^ ES a `- x ^ LN | e.
. a rae oT SX dd | * Ms
se não . poderão solver, sscolôcar-se:ém condições de'as”
"x a —— " a” ~ a ha "1 a" P F M: é Era A
dá .
: “não «satisfazer: .+recebér, por^fráudé; salário que
nào.Íoi
,ganhó:.*''aconselhar à injustiça e- participar... .réter- .
yo E? d 2.2: .44 a . e E
“objectos -achados;. "emprestados ou roubados, etc.
^ n . a ne , T
2º— À injustiça deve repugnar a toda a alma cristã.
a) — E' uma falta das de maior risco para a salva- `
“ção, porque .quando instalada na alma, arrasta-a aos peo-
„reg excêssos; ha posse do fruto do seu crime, é dificí-
Srlimo desapossá-la dele e obrigá-la a restituir. |
£ ' "Mostra a experiência que furtos se cometem muitos,
e restituições se fazem poucas, e contudo é certissimo o
axioma: «sem restituição, nào pode haver perdão»; «ne-
` que fures regnum Dei possidebunt», diz S. Paulo (I Cor.
- vi, 10). 2)-— À injustiça é um dos principais fermentos
» dasdesorganisação social. Favorece o culpado e deprime -
« O: inocente; confia ao crime a distribuição dos bens
S deste mundo, que bruscamente desloca; é mãe da men-
fíra?;da violência, da ferocidade, outros tantos flagelos,
(e.
üg perturbam. o viver social. Quantos crimes não teem. -
como móbil apenas o furto! c) — Entre cristãos, o furto -
desprestigia-a religião. . ., porque, é de notar, o hábito
“des furtar concilia-se bastante com uma certa religiosi-
dade...; será o senso da probidade corrompido e em-
=. botadó, que nào faz sentir, como faltas, hábitos que a
«princípio Sé justificou com escusas faceis?.. será o ins-
: “tânto de .hipocrista, qué pretende “iludir suspeitas ou
in-
'Acrimirfagóes já esboçadas?. . O facto existe e.os efeitos
,
: »são: descrédito para a religião e certo receio de solida-
. riedade com os crentes e probos, porque com êstes se
7acotovelam ésses tais frequentemente nos exercícios de
" piedade, |
E c p
: “30 — Para radicar no ánimo do penitente o espirito
de probidade, submeta-o com persuasão, às considerações
“seguintes: — 2) — Deus tem horror à injustiça e palavras
terríveis de reprovação para os que a cometem: «negue
^ ae
* E 1
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—— » E
5 » 3 - "UT. PONE 7M
f d a ^, 2S f Lu NP À
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758 : T ingoctosi gonsider `s s Ro
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"fures * eftt Dei Jossibedunt»t ^B — Deus. Vela pelos
. direitas, de cada um; disposição: providencial, sem. a.
qual"
* impossível equilíbrio na sociedade. , Demais,*ó, furto
nào.
* enriquece, porque Deus tem modos -mil de fazer falir o:
«que: foi-mal adquirido. — c) — E’. a injustiça, depois da:
.
luxúria. a principal causa da perdição dos homens, pois:
que sem restituição não pode haver perdão. Ora, quan-
tos e quantos se escusam de restituir | — d) — pelo que,
forte loucural... se tem o injusto de restituir, «como
tem, que lucrou? e quantos embaragos para o efec-
tuar!l... se não restitue, não se salva, — e) — As causas”
principais de cubigar o alheio são: a ihveja, o ódio, o
orgulho e a ambição. — f) — a injustiça é desonra e indi
gnidade para o homem que se preza: se a comete secre-
tamente, é wifeza, se declaradamente, é brecha que abre
na“sua”teputação. — g) — Para que farei a outrem o que
* nào quero que me façam ?.
Descoberta a causa ou causas da injustiga, — a cu-
biga ? à vaidade? o ciume? a inveja? a intemperanga? ,
^ia preguiça? — hão-de combater-se pelos meios que opor-
rtunamente registaremos no decurso dêste trabalho. ^ *
*
€. — Direcção das almas dominadas pela irrelígi o.
e da
Como se reconhecem ? — por ds a graves de res-
peito para com Deus, ou por ataques directos RE: a Di- `
vindade.
p Os nossos deveres para com Deus agrupam: se sob -
“categorias, em numero de oito; infringir qualquer, é in-.
dício de-falta de espírito de religião.
1.º —— Respeito devido à Magestade de Deus. Peca-se '
gravemente contra este dever: 4) passando tempo con-
siderável sem pensar em Deus e sem lhe dirigir preces e
cultó devido; 4) desnaturando as práticas religiosas, coñ-
vertendo-as (ou misturando-as) “em práticas supersticiosas
e ridículas; c) referindo ao demónio relações que só de-
vemos ter com Deus: adivinhação, magia, feitiçatia, sor-
4
o
'
A a -—
DIFERENTES CATEGORIAS DE PECADORES “TS
tilégio, nigromância, etc. d) apoiando com votações os
inimigos de Deus e da religião. |
2º — Respeito devido ao nome de Deus. — Ha infrac-
ção grave: a) quando se invoca o nome de Deus em
. testemunho da mentira ou como garantia de compro-
missos iníquos (perjúrio e juramento. promissório); 5)
quando se fala desdenhosa ou injuriosamente, de Deus,
dos Santos e coisas sagradas, ou quando se coopera (es-
crevendo ou assinando) com revistas ou produções blas-
“têmas (blasfêmia oral ou escrita).
3º — Respeito à palavra de Deus.
> Quem duvidar voluntâriamente..., pusér a ridículo,
passagens da Ságrada Escritura... ou tratar com des-
dêm e desprêzo a doutrina revelada, comete falta gráve.
4º — Respeito às pessoas consagradas a Deus.
. Falta-se a êste dever a) maltratando-as físicamente,
Ë) violando os votos que as consagram a Deus; c) insul-.
tando-as, ou criticando injuriosamente, d) desprestigiando
o padre pela calúnia... por insinuações malévolas...
pela propalação de escândalos sensacionais... e) atacando
com. afinco, desdém e sistemàticamente as ordens reli- .
“giosas, As
5.º — Respeito devido às coisas sagradas e institui-
ções divinas. !
5 . Ha falta grave: a) quando alguem se confessa sem
“sinceridade e sem propósito firme; 4) quando sciente-
. mente recebe em pecado mortal a SS.”* Eucaristia; c)
quando recebe indignamente qualquer sacramento; dæ)
quando subtrai em quantidade grave qualquer haver, per-
tenga da igreja ou coopera para isso; <) quando pratica
tráfico venal com cousas espirituais (simonia). > `
. 6* — Respeito devido aos lugares sagrados. |
. E' pecado mortal: a) praticar em lugar sagrado
x 2 EN ST *
! "s *
160: 3 DIRECÇÃO. Se SonscieNcia- 4
- »
acções gravemente criminosas; =») Iprofatar ÒS. Cémitérioo
com inumações proibidas ; c) violar as leis da clausura
monástica.
— Respeito devido aos Domingos e dias santifi-
e
Ha violação grave: a) trabalhando sem necessidade
evidente por tempo considerável em obras servís; b) fal-
tando à missa, sem impedimento legítimo, ou estando a
ela voluntariamente sem atenção. -
; 8: — Respeito devido às promessas e votos.
E” pecado mortal violá-los quando obrigam sob
pena grave.
* 1. — Como, dum modo geral, levantar, o senti-
mento religioso de tais penitentes ? |
Por considerações como as que seguem:
a) — Os deveres para com Deus são os de maior
importância. Ninguem como Deus tem sobre nós tantos
direitos... Não é contrasenso respeitar os direitos dos
outros e não os de Deus?
6) — São os deveres mais urgentes. Acatá-los e re-
conhecê-los é corresponder à necessidade mais imperiosa,
. profunda e íntima da nossa natureza. E' um monstro o
-
homem irreligioso; um sábio definiu o homem por estas |
palavras: «o homem é um animal religioso».
j f
C) — São os mais proficuos. Orientando-nos para o
Bem Supremo, necessàriamente encaminham para a Su-
- prema. Beatitude. ..; predispondo em nosso favor a di-
vina Misericórdia, acarretam ao mesmo tempo bençãos
incomparáveis.
d) — Flagelos tremendos tem descarregado sobre os
`
x
DIFERENTES CATEGORIAS DE PECADORES IĜI
„povos a. violação dêstes deveres.. Com fomes, estiagens e
mortandades, feriu Deus muitas vezes o seu povo, por se
«Voltar para deuses alheios.
e) — Ai do homem, da família e da sociedade sem
Deus! Em que princípios se hão de fundar para a paz,
' concórdia e harmonia social? que freio hão-de opôr às
paixões? e onde buscar bálsamo e consolações nas con-
trariedades da vida?...
. .*1.5— Como elucidar e convencer (em especial)
um espírito anti-religioso ? |
— Procure-se a causa da irreligiáo para a combater e
desarreigar; dissipe-se ignorância e preconceitos; reti-
rem-se ou mneutralizem-se influências más ou perigosas;
- torne-se simpática, quanto possível, a pessoa do padre.
E’ claro, que, sendo o homem obra de Deus, a ver-
dadeira religião, que regula as suas relações com o Cria-
dor, há-de com certeza, corresponder às necessidades
mais íntimas da natureza, e, por conseguinte às aspira-
ções tambem de todo o coração bem formado e não de-
pravado. O facto de haver homens realmente adversos à
religião, é apenas efeito da depravação, de deformação
Tmehtal ou da
ignorância. Pelo que, se impõe urgente-
mente a necessidade de extirpar a causa dum tal estado
“de espírito. ?
a) —Para certos espíritos superficiais e malévolos, os
nossos dogmas não passam de concepções ingénuas, in-
.dígnas de inteligências nobres e que se respeitam; as
prescrições morais são disciplina arbitrária, deprimente e
até anti-natural; as ceremónias da Liturgia, comédia ri-
dícula, superstição, idolatria; os padres uns ociosos, igno-
rantes e déspotas; as despezas do culto prodigalidades
vergonhosas, arrancadas ao suor dos que trabalham e à.
miséria dos pobres; a Igreja, uma agência cúpida e am-
162 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA 5 TE
id d 4A s 4 T. "WW eL q
biciosa, que explora hipócritamente em seu proveito a
credulidade da humanidade. |
Ha quem diga que tais modos de vér, derivam dos
preconceitos em que creaturas tais foram educadas; po-
rém a maior parte das vezes são hauridos nos jornais.
anti-católicos e na frequentação de sociedades ímpias.
De sorte que, para trànsformar mentalidades desta natu-
reza, é indispensável que tais pessoas deixem as más lei-
turas e as más companhias. Lévem.se a assistir a confe-
réncias e: prégagóes religiosas, entreguem-se antes a lei-
turas que insinúem e provem a verdade e necessidade
da religião. E' evidente que só à fôrça de muita paciên-
cia, bondade e dedicação se poderá conseguir algum re-.
sultado.
b) — Para outros, a religião é unicamente o padre;
portanto, é ela a responsável por todas as invectivas aos
seus ministros. Se o padre comete uma falta, real ou
imaginária, eí-los de lança em riste contra a Igreja, que
perseguem com o desprêzo, o ridículo e campanhas infa-
mes intermináveis. A tais infelizes procure-se convivên-
cia com um sacerdote pio e caritativo, que os desanuvie
de atmosfera tão falsa como maligna.
J €) — Mas o que é muito certo é que quàsi sempre a
imoralidade e o desregramento sáo a origem de tanta
animadversão. O vicioso.vé na religião um freio e tenta
rompé-lo com ódio e aversão tenaz contra ela. Neste.
caso, é bom de ver, comece-se por lhes sanar o coração.
^
3.? — Como triunfar da indiferença religiosa ?
-= Vencendo as causas, a saber, os respeitos humanos,
os cuidados excessivos da vida presente, o meio em que se
vive e.a má educação da primeira idade.
Como meio geral, será excelente levar o penitente a
fazer exercícios espirituais. Depois, conseguir-se-há: que
entre em alguma associação pia, onde, a solidariedade e
DIFERENTES CATEGORIAS DE PECADORES 163
o exemplo são fórga poderosa contra os respeitos huma-
nos..., as instruções, persuasivo fermento de reacção
contra a apatia... e o regulamento, uma voz a convidar
cofitinuamente ao cumprimento dos deveres religiosos.
Mas convem que se ataquem uma por uma as causas espe-
ciais: a) respeitos humanos: é cobardia e falta de digni-
dade, envergonhar-se de manifestar as convicções reli-
giosas, quando os maus mostram suprema audácia em
ostentar a sua impiedade; é traição infame renegar as
“promessas tão solemente feitas no báptismo e reiteradas
na primeira comunhão; é escravidão e vileza acobar-
dar-se perante as palavras: «que dirão de mim? ...> e
assolapar-se estólidamente sob a férula dos maus; é quast
uma apostasta e um passo para a incredulidade disfarçar
vergônhosamente a sua crença, quando propalam afouta-
mente seus erros os ímpios; é ingratidão monstruosa e
afronta ignóbil contra o Salvador, envergonhar-se dEle
diante dos homens sabendo que nos deu o exemplo
duma vida tão pura e uma doutrina tão santa e sublime.
' b)— Cuidados da vida presente. — «Procurai antes
de tudo o reino de Deus e a sua justiça e o mais vos
será dado em acréscimo» — diz Jesus no sermão da mon-
tanha. |
c) — Meio em que se vive. — O ambiente mau, sem
reacção, é sempre fatal. Viver em familias, escolas, ofi-
cinas, bairros... onde se não pratica a religião, o mesmo
é que deixar-se sugestionar a pouco e pouco por tais
exemplos e familiarizar-se com a indiferença religiosa.
Com almas nestas condições precisa o Director de exer-,
cer magna vigilância e curar de as pôr em contacto com
pessoas probas e virtuosas, afim de neutralizar a influên-
cia desmoralizadora do meio. |
© d)— Educação deficiente. — São mais tenazes e arrei-
gados, os hábitos contraídos ma infáncia. Práticas reli-
giosas nào inoculadas nessa idade, sào dificílimas de in-
filtrar posteriormente; mas um zélo ardente e porfiado,
muito pode conseguir. Recorde-se o provérbio: «Labor
improbus omnia vincit». |
ATi" y I x; "
& P . mM. ; to
25 1
164 jn DIRECÇÃO. DE “CONSCIENCIA ! : »
4.6 — Como desviar: das. más leituras?, — suge-
rindo:
^ -a)—- que dizer dum filho que com agrado comprasse
e lêsse escritos, em que seu pae e mãe são verberados
eruemente, caluniados, insultados?. .
A —Um veneno, ainda que em “pequena quantidade,
que se vá absorvendo, dia a dia, termina por contaminar
todo o organismo, que satura de germens de destruição
e de morte.
c) — Sintôma é de péssimas disposições, por escritos
sãos e benéficos, ler os que blasfemam de Deus e da lei
que deu aos homens.
d) — «Dize-me com quem vives, dir-te-hei as ma-
nhas que tens».
e) — E como são miseráveis as desculpas que apre-
sentam: — «nada encontro que me faça mal!» Mas a.
Igreja que é juiz competente e único em matéria de fé,
proclama que tais leituras são perniciósas... Se não
vês, é porque é viciada a tua visão ou não compreen-
des... Não te fazem mal?' não será isso orgulho e pre-
sunção?.. . Como colocar a mão sobre as chamas e não
sé queimar? — Como aspirar gazes deletérios e não as-
fixiar ?.
e — Como rw o hábito de blastemar ?
a) — Concebendo- por ele grande horror. :
^ E' um pecado diabólico, que não tem atenuantes:
noutros pecados é móbil o prazer, o interêsse, a honra,
nêste não pode admitir-se escusa alguma. ?
6) —. Incitando o penitente. a impôr-se o propósito
firme, cada manhã, de não blasfemar e a penitenciar-se
DIFERENTES CATEGORIAS DE PECADORES 165
por cada falta, com o arrependimento, aspirações para
Deus (Laudetur J. C., etc) ou obra pia. | E
advertência. — Só é blasfêmia a palavra ou pala- |
vřás injuriosas a Deus ou aos Santos, ou, pelo, menos,
proferidas com intenção ímpia. |
6.º — Como obviar à profanação do domingo?
— Reflexões: a) — Temos tanto tempo para consagrar
aos. interêsses da vida, às nobsas ocupações, cuidados e
divertimentos, e não teremos ânimo de consagrar ao Se-
nhor e ao bem da nossa alma, um dia, cada semana?
| b) — 'Temos talvez em brio sermos cavalheiros com
os nossos semelhantes, e para Deus nào teremos séquer a
mesma delicadeza? E |
© €) — Não é abominável fazer do dia do Senhor ó dia
de Satanás? E' o que praticam os que, nos dias de des-
canso, se entregam aos vãos divertimentos e à imorali-
dade, como que preferindo-os para saciarem as suas
paixões. | e
+ d)-— E' facto da experiência, que os castigos e mal-
dição do Deus todo poderoso pésam particularmente so-
bre os cristãos que profanam o domingo. O trabalho
`` dêstes dias nunca foi lucrativo.
4) — Demais, quanto é necessário e benéfico o res-
peito pelo dia do Senhor! Suspendendo o trabalho, o
. homem descansa, recobra fórças, goza as alegrias da fa-
mília e lança uma
gota de bálsamo no mar amaríssimo
da sua existência ! :
7.º— Como arrancar o penitente à sociedade an-
ti-religiosa ?
Considere que a Igreja 'é mãe santa, que cerca de
carinhos a seus filhos; só por ela nos podemos salvar..
E não lhe serémos gratos? que diriamos do filho que se
coligasse com os inimigos de seus pais, os beneficiasse
166 * de DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA 7
É E 4 4 |
com, desvélo, nào obstante amargurar duríssimamente o
. ánimo: dos que lhe deram o ser |? |
| 3 . . (
8.º — Como obstar ao sacrilégio ? ?
Convencendo o penitente da malícia e hediondez
déste pecado e de suas terríveis consequências. Deus
tem fulminado de morte repentina. muitos profanadores
das coisas santas... E, que audácia! uma vil criatura
ousar calcar aos pés, profanar indecorosamente, o que é
santo aos olhos de Deus, dos Anjos e dos homens!
IH — DIRECÇÃO DAS ALMAS TÍBIAS
São tíbias as almas, cuja vida sobrenatural, frouxa
e lânguida, lhes não permite praticarem a virtude e cum-
prirem os seus deveres, sendo com indolência e fastio espi-
ritual.
A actividade das energias divinas, na alma infundi-
das pela graça, elevando-a e aplicando-a à consideração
de Deus, eis o que constitui a vida sobrenatural.
Manifestam-se estas energias primeiro na inteligência
pelo germen da fé, esboçando na alma uns inicios de
vida...; ocorrem em seguida os eflúvios da esperança,
que lançam para Deus os seus desejos e operam no co-
ração uma fermentação benéfica, onde já a vida se revela
activa...; finalmente, a caridade difunde em toda a alma
as suas chamas, produzindo uma saüdável efervescência,
que, consumindo-a gradualmente em amor, a transvasa
completamente em Deus.
. - : m
Quando estes fenómenos de transfusão em Deus se
produzem com plena actividade pelo trabalho da caridade
e virtudes que a acompanham, diz-se metafôricamente
que a alma é fervorosa (calidus, quente, apoc. rr, I5).
Quando, pelo contrário, ainda que na graça de Deus, se
encontra a alma tão remissa na sna vida sobrenatural que
a fé, a esperança e a caridade apenas revelam actividade
ténue e apagada, diz-se que é tíbia; quando, destituida da
DIRECÇÃO DAS ALMAS TÍBIAS | 167
graça santificante, já não pode merecer sobrenaturalmente,
chama-se fria; contudo, neste caso, sob o impulso da fé,
«da esperança e das graças actuais, pode produzir actos
~- sobrenaturais, que tornem o seu estado menos perigoso
| que o da tibieza: «utinam frigidus esses an calidus».
1.º -— Sinais da tibieza.
São muitos; os mais caracteristicos são: a) a alma
eai facilmente no pecado venial voluntário..., tem-no em
pouca conta e comete-o sem remorso. 4) Sinal mais
grave: permite-se, sem escrúpulo, quanto, a seu ver, não
é pecado mortal evidente; as vezes até sem afecto para
êle. c) Sinal gravíssimo: não tem nenhum horror ao
pecado mortal; se evita as faltas graves, é por temor do
inferno; conclusão: tem afecto ao pecado mortal.
2.º — Causas da tibieza.
Ha três espécies: — a. —a) Certas disposições, que
* corroem na sua base a vida espiritual: a dissipação, as
afeições desordenadas, os ódios; b) certos defeitos, que
se apoderam das tendências fundamentais da alma e a
precipitam em inúmeras infidelidades (pecados capitais).
B. — À omissão dos exercícios de piedade.
c. — O abandono da Comunhão frequênte.
Explanação. .
O corpo cai prostrado e exausto, pela doença, pela
“falta de alimentação, ou pela falta de estimulante, que O
retire da inacção. Assim a alma.
I. — Tanto a facilidade em cometer o pecado, como a
: falta de energia em praticar a virtude, podem provir de
doenças espirituais, que definham a constituição moral,
isto é, de defeitos e hábitos perniciosos, que absorvem a
alma e paralizam o vigor da vontade: a) assim, a disst-
UE aD c UE e Si GI
168" DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA
AA.
3d
7, Ra E. | TE
pação absorve, nas preocupações de ordem humana, úteis
ou frívolas, todas as energias do espírito. (Frequente nas
pessoas dadas ao comércio, ou amigas de viajar e de” di-
vertimentos). 4) Da mesma sorte as afeições desorde-
nadas, corrompem com emoções- daninhas e torpes, a
nobre potência do amor, e transviam o espírito e a ima-
ginação para fantasias importunas e projectos insanos,
revolvendo a alma com alternativas, de alegria delirante,
e tristeza aflitiva; c) item, as aversões e ódios envenenam
o coração, desperdiçam-lhe recursos valiosos e projetam
o espírito num dédalo de intenções más e traças malé-
ficas; d) igualmente emfim, os fecadós mortais, ue apo-
derando-se da direcção. das inclinações primordiais da
natureza humana, as lançam impetuosas de excesso em
excesso e esgotam a actividade da alma.
2." — Tambem pode provir a indolência espiritual
da falta de alimento, porque pode ser insuficiente o pá-
bulo espiritual para infundir as energias dum amor activo
e generoso. E porquê? porque se comunga poucas ve-
Zes... ou então, sem apetite, sem esfôrço de assimilação !»
3. — À vida, seja qual fôr, precisa de excitante para
sair da inércia.
Teremos, na vida espiritual, essa inércia, se não re-
corrermos aos estimulantes, que despertem e excítem,
fazendo vibrar ardorosamente todas as cordas da nossa
alma...; motores desta natureza são: a leitura espiri-
tual, os exemplos comoventes..., a via-sacra, apresen-
tando à inteligência intuições edificantes..., o exame de
consciência, despertador legítimo da actividade adorme-
cida..., a meditação, que imprime têmpera de sólidas
convitções... e principalmente a confissão frequente a
sacerdote pio, -<loso e t: me.
' 3.2 — Cura da tibieza.
I.— Concebam os tibios um horror grande ao seu
Mot DIRECÇÃO DAS ALMAS TÍBIAS "m 109
“triste sestado, pois como desejar a cura, sem sentir a
“doença?
|^ ca) — A tibieza, ao passo que enfraquece a alma,
rouba energia e fôrça para resistir às. tentações... .;
afas-
“tândo-a. de Deus, retira-lhe auxílios e graças, que no pe-
“figo são precisas..., de sorte que é facil de prever o
triunfo do tentador, logo que a venha acometer. `
O) — Familiarizando à alma com as suas infideli-
“dades, dissipa-lhe o horror ao pecado e, portanto,. arran-
ca-lhe um forte elemento para a hora da tentação.
?* ww — Á fórga de caminhar à beira do abismo, cai-se
néle..., à fôrça de brincar com o fogo, é-se atingido pe-
“laschamas..., à fórga de calcar terreno incerto e arris-
“cado, termina-se por errar e perecer...; ora, quanto é
incerto e indeciso o limite entre o pecado venial e o pe-
“cado mortal? Quando tantas vezes hesitam os teólogos
vem.terreno tão perigoso, comq não temer, como fiar-se,
- como correr tão temeràriamente à borda do precipí-
cio!...: é um jógo de acróbata, em que nào pode sus-
tentar-se o equilíbrio por muito tempo. |
^ .d)— A tibieza leva à impeniténcia.. .; quando por
- ela se chega: ao pecado mortal, o hábito contrai-se rapi-
damente, porque a alma, de ha muito trabalhada pela |
inércia, deixou embotar as suas energias; sem ânimo de
reagir, resignou-se no seu triste estado, caiu numa sono-
léncia miserável, familiarizou-se com o pecado mortal
/' como antes se familiarisara com o pecado venial. E que
. sé fará agora para a socorrer? — Já se empregaram todos
ós meios: as verdades eternas, ouvidas sem fruto, já não
“ movem, o coração resistiu, endureceu, calejou, tornou-se
invulnerável a santos afectos... que fazer? esperar o mi-
lagre duma conversão sincera, verdadeira? — Não deses-
sere o Director. Insista, convença, aqueça. Invoque e če-
iV2 «veis calavras do Apocalipse: «conhece? <
eu SS PES SU pares WI
^ s , 9 2) Y , i A, > í t
170. fe 1 DIRECÇÃO DÉ CONSCIENCIA
mas obras: tu não és frio, nem quente; antes PA frio
ou quente. Mas, logo que és frouxo, nem frio, nem quente,
começo de vomitar-te da minha bocal Tu dizes: | sou
rico, adquiri muitos bens, de mada- preciso; e não sabes
que és um miserável, um infeliz, um pobre, cego e núl
persuado-te que me compres ouro provado pelo fogo, para
que te tornes rico e te vistas com trajes brancos, de modo
a não aparecer a confusão da tua nudez, e unge os teus
olhos com um colírio, para que vejas. Quanto a mim,
corrijo e castigo os que amo; por isso, cobra ánimo e
arrepende-te» (nt, 15-20). WE
º — Remédios.
Tenha o cuidado de auscultar atenciosamente a alma
tíbia, afim de descobrir a causa da sua indoléncia e pre-
guiça. Só depois de efectuar êste diagnóstico, é que po-
derá receitar os verdadeiros remédios, que lhe hão-de res-
tituir o vigor e a saúde. Não deverá administrar-lhos
todos a um tempo, por contraproducente, mas com um
olhar penetrante que atinja toda a extensão do mal e o
que será preciso para o debelar, vá-lhe preceituando por
doses êste ou aquele medicamento, pouco, a princípio, o
bastante apenas para sacudir e despertar, doutra‘ sorte
correrá o risco de a desalentar. f
A. — Primeiro, ministre-lhe uma alimentação sàdía e
mesmo abundante, segundo a quantidade que ela puder
suportar: quando o: estómago enfraqueceu em extrêmo
por dieta demorada, não volta o enfêrmo ao regime nor-
mal senão a pouco e pouco, com alimentação muito mo-
derada; assim a alma, até voltar aos exercícios elemen-
tares da piedade. Se nestes já houver regularidade, fa-
gam-se bem e não só «pro forma».
p. — Depois que a alma comece verdadeiramente a
orar, ordéne-se o ataque aos defeitos mais mocivos, em
primeiro lugar àquele que mais profundamente domina-a
“DIRECÇÃO DAS ALMAS TÍBIAS RR ITI
constituição moral e absorve as energias da actividade
espiritual. Lugar importante, primacial, deve dar-se ao
exame particular, ordenando com precisão o assunto
dêle, de sorte a conseguir resultados práticos; para o
quê muito contribuem a fidelidade em prestar contas ao
Director e as sanções oportunas, no caso de transgressão,
Observação. Assim como no tratamento duma ane-
mia, à boa alimentação se ajuntam exercícios físicos, que
activem a circulação e estabeleçam firme equilíbrio : nas
. funções vitais do indivíduo, assim no tratamento da ti-
:bieza, convirá,
muitas vezes, ao trabalho de expurgar éste
ou. aquele defeito, acrescentar alguma prática de piedade
que desperte e active; por exemplo, ocupa-se a alma
em combater afeições sensíveis e carnais, faça interior-
mente muitos actos de amor, v. g. ao Sagrado Coração
de Jesus — e até, tantas vezes, quantas lhe apareça ao
pensamento a pessoa que é ocasião de afectos sensuais.
— Práticas de piedade, mais convenientes às
d almas "t
A princípio, sejam estas breves, fáceis e fortifican-
tés, para nào esquécerem e despertarem eficazmente a
vida da alma.
I. — Nas ocasiões oportunas para isso (entre cristãos
.. são muito frequentes) fazer com atenção, fé e respeito, o
= sinal da Cruz. i
2. — Rezar, antes e depois das refeições, uma breve
oração; a não ser mais, fazer muito bem o sinal da Cruz.
3. — Em vez de longas orações, rezadas precipitada-
mente e sem grande atenção, repetir pela manhã e à
noite, muito vagarosamente, parando a cada palavra ou
frase, em espírito de meditação, o Padre Nosso e a Ave,
Maria.
E, 72} ve DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA `
| ^4. — Diante duma imagem do S. Coração de Jesus
ou Fa SS."* Virgem, acendendo por momentos uma vela
e depositando flores, prostrar-se cada dia, recitando com
.doce confiança alguma oração, e pedindo encarecidamente t
a graça duma vida fervorosa.. Pr
5. — Trazer consigo o terço, escapulários, medalhas,
e beijar muitas vezes êstes objectos com respeito e sua-
ves, aspirações do coração.
- 6. — Descobrir-se, ao passar por uma igreja, capela,
crucifixo ou emblema religioso; fazer uma leve inclina-
ção de cabeça, dizendo com o coração: «Sagrado Cora-
ção de Jesus, desentranhai-me do abismo da tibieza !» e
semelhantes.
7. — Fazer cada dia algum sacrifício inii posição
mortificada, em dado momento, privação de tal curiosi-
dade, de tal sensação agradável, etc.) e dar a conhecer m
ao Sagrado Coração de Jesus, que é por seu amor.
. 8. — Dispor, quotidianamente, de TR momentos E
para ler. a Imitação de Cristo, as vidas dos Santos, etc. .
x
6.º — Sobre que fazer o exame particular, para
mgr os defeitos, causas da tibieza.
— Quanto à soberba. — Contra a vangiória : es-
a uma lista com cs meus defeitos, lê-la todas as
manhãs e recordá-los em momentos certos do dia; in-
ventariar as boas qualidades das pessoas minhas rivais e.
revêr muitas vezes essa relação; falar delas com benevo-
lência, sem nunca me referir aos seus defeitos. Não que-
dar o espírito na consideração das minhas qualidades,
dos meus éxitos ou proêzas, nem nêle- falar. ur cada
falta, exprimir a mim mesmo um acto interior de des-
prezo. Não defender com . “obstinação os meus modos
de. vêr. |
“DIRECÇÃO DAS ALMAS TÍBIAS "ES : 73
. _ -Contra a vaidade: reprimir todo o desejo e áncia
“ de atrair sobre mim o agrado e. estima dos outros, evi-
"tando presunção e afectação no porte, na linguagem, no
- vestir, alardes de erudição e atitudes de desdêm ou fátua
~ altivez. |
Contra a ostentação: exercer, às ocultas o. mais pos-
`. sível, os actos de caridade, de piedade, de
mortificacào...
. Quando tenha de me exibir ou distinguir, sopear interior-
mente toda a intenção de vanglória.
! Contra a jactância: nunca me vangloriar; não en-
caminhar a conversação para o que me respeita ou re-.
^ dunda em meu louvor; nunca dizer mal de mim no pro-
pósito de ouvir os outros dizerem bem ou para passar
“por modesto.
Contra a hipocrisia: nunca afectar sentimentos de
virtude que não tenho.
Contra a ambição: reprimir cerce todo o sônho de
grandeza; não praticar acções com o fim de atrair lou-
vores ou honras inúteis.
© 2.— Contra a inveja e o ódio: nunca interromper
conversas lisonjeiras para as pessoas com quem tenho
“ciúmes ou antipatiso. Ter a grandeza de ânimo de pro-
ferir em seu proveito, cada dia, alguma palavra ou dirigir
a: Deus alguma- oração. Desculpá-las quando erram...
varrer do pensamento toda a lembrança contra elas; não
lhes mostrar enfado, nem ressentimento, quando as en-
“tontrar. Pensar antes nos agravos com que tenho ofen-
dido a essas pessoas talvez, a tantas outras e especial-
mente a Nosso Senhor Jesus Cristo.
| 3. — Contra a cubiça: nunca falar das vantagens da
fortuna, nem da felicidade dos ricos. Não falar de pro-
-“jectos de espéculacáo. Evitar a todo o transe preocupa-
ções de ordem material no momento da oração; fugir
da companhia dás pessoas, muito aferradas aos bens da
terra; reprimir desejos ardentes, febrís, de riqueza; pro-
duzir actos de abandóno à Providência; dar aos pobre
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esmolas abundantes; Nunca sacrificar ao desejo de enri-
cer os exercícios de piedade, a saúde ou o descanso.
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-4.— Contra a ira: quando calmo, habituar-me a
moderar a vivacidade nas palavras e propósitos. Na con-
trariedade, lançar para o Crucifixo um olhar de amor e -
ternura. Fugir das-ocasiões adversas e calar-me ou reti-
far-me quando sentir, referver em mim a ira. Reconhe-
'cer:e reparar as faltas de impaciência.
A asi Contra a luxúria: não procurar a companhia
daquela pessoa que amo com tanta ternura, não falar
“ela; nem nela pensar; fazer antes um acto*de amor
-de Deus, ao aparecerem lembranças desta natureza. Não
lhe exprimir, encontrada, provas especiais de afecto, nem
carícias singulares. Afastar da imaginação sonhos ou
“ideias de efeminação. Proibir ao sentido da vista belezas
muito sensíveis. Evitar melodias que dissipam, pertur- .
bam ou estonteam. Não me permitir atitudes e posições,
moles e efeminadas, nem leitos entufados ou assentos
-extra-cómodos.
6. — Contra a gula: respeitar meticulosamente os
“dias de jejum e abstinência. Não me queixar da meza,
quando não agrada, evitar excesso no comer e no beber,
bem como mesa lauta. Não falar de iguarias, não comer
-entre as refeições, purificar a intenção antes de me sen-
tar à mesa. Não saborear deleitosamente as iguarias e.
"ocupar, entretanto, o espírito com pensamentos úteis.
i
7. — Contra a preguiça: manter certa energia e vi-
rilidade, no porte, no andar e falar; suprimir repouso
“desnecessário. Nunca estar desocupado. Ter regulamento
-que me imponha horas de trabalho e de esfôrço físico.
Propôr-me cada'dia ocupações que me obriguem à acti-
"vidade. Zt * s
DIRECÇÃO DAS ALMAS TÍBIAS. M 5
T Apéndice. — Pecados capitais
I. Soberba
E’ a soberba o apégo desordenado à própria exce-
dência ou a tendencia para nos engrandecermos; o que
pode ser por dois modos: a) pela estima ou conceito
exagerado que temos de nós mesmos; 4) pela estima
imoderada que pretendemos os outros tenham de nós.
“a — Estima exagerada de nile mimos.: i estima: de
nós mesmos pode ser legítima, e é-o, quando, córres- `
ponde à verdade. Com efeito, a) tem direitos o bem,
onde quer que o encontremos; reconhecer-Ih'o, é justo:
como de per si à perfeição e excelência suscitam admira-
ção, segue-se que está dentro da ordem reconhecer e
apreciar a elevação natural e sobrenatural, que Deus libe-
ralizou à natureza humana, criando-a à sua imagem e fa-
4, zendo-a compartícipe da sua Divindade, pela graga. 4)
“não nos é ílícito ver e admirar em nós, as prerogativas
. de ordem natural ou sobrenatural, outorgadas por Deus;
pelo contrario é um dever de gratidão para com Ele. c)
“O conhecimento da própria excelência comunica-nos res-
peito por nós mesmos e desperta na alma sentimentos de
dignidade que são baluarte fortíssimo, no desfalecimento.
Torna-se, porém, ilegítima a estima própria, logo que
“transpõe limites para excesso, o que é fácil; sai então da
“verdade, atribuindo-nos o que é de Deus; converte-se em
“désordem e vício. Conhece-se neste caso, quer pelos
efeitos que produz, v. g. o desprêzo dos semelhantes,
quer — d) pela falsidade dos motivos que a geram: con-
siderar-se a si mesmo em grande conta por motivos ima-
ginários, exagerar, de si para si as qualidades prape
atribuir a si o mérito principal delas.
B. — A segunda tendência é a estima que pretende-
d mos receber dos outros, Não é vício o amor da estima
^. dos outros, quando racional e tranquilo; é antes estí-
ES
I 76 > hy DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
mulo: para a: virtude e fundamento de sociabilidade. Está
a desordem: a) em apreciar mais do que as qualidades
em si, a estima que por elas nos tributam e em intentar
de preferéncia essa estima, em vez de ter mais em conta
os resultados, 4) em desejar maior estima do que mere-
cemos e c) em a procurar com solicitude e ansiosa preo-
cupação.
/
Corolário. — O orgulho gera: a) a incedit isto -
é, o desejo desmedido de fazer brilhar os nossos supos-
toś merecimentos, uma febre ateada de atraír atenções e
louvóres, — ou de nos esquivarmos a situações deprímen-
tes;;no que, recorremos por vezes, a expedientes não
'sómente'desonrosos, como insensatos, (singularidade, v vai-
|
. dade, jactância,: ostentação, hipocrisía, inveja,
teimosia,
insubordinação, discórdia, etc.). 4) a presunção que éa.
tendência para empreendimentos acima das nossas fórças,
com desdêm pelo concurso dos outros; c) a ambição, ou
a ânsia imoderada pelas honras e dignidades, disputando,
por exemplo, lugares que não merecemos ou não pode-
mos desempenhar cabalmente; d) A vå complacência de
nós que tem como redundância imediata, o desprêzo do
próximo, os escárneos, etc.
c. — Razões contra o orgulho.
a) — Deus puniu-o severamente.
Superbia turrim evirtit, prostravit Goliath, suspendu
Aman, interfecit Nicanorem, Pharaonem submersit, et
Sennacherib interemit. Sedes Ducum superborum destruxit
Deus, et radices gentium superbarum arefecit (Inn. de
Vil. Cond. hum.).
b) — O Espírito Santo estigmatiza os soberbos :
Quid profuit nobis superbia, aut divitiarum jactantia
quid contulit nobis? Transierunt omnia ila tanquam
umbra (Sap. v, 8). Non glorietur sapiens in sapientia sua,
“et non glorietur fortis in fortitudine sua, et non
glorietur |
dives in divitiis suis (Jerem. D FR Quid du WAR terra.
sa
DIRECÇÃO DAS ALMAS TÍBIAS É 177
et cinis? (Eccli-x, 9). Non est creata "hominibus
super-
bia (Eccli 22). Odibilis coram Deo est et hominibus su-
perbia (Eccli x, 7). Deus superbis resistit (Jac. 1v).
-~ €) — Perigos da soberóba.
Inanis gloria est dulcis spiritualium operum exspo-
liatrix, jucundus animarum nostrarum hostis, blandissima
bonorum nostrorum depraedatrix (Basil. Const. mons. IO).
Ut tinea et vermes corrumpunt, ita et inanis gloria (Chris.
Hom. 42 in gen). Depraedari desiderat qui thesaurum
publice portat in via (Greg. Hom. 11 in Evang.) Omnia
vitia marcescunt et devicta per singulos dies infirmiora
redduntur: hoc, vero, dejectum acrius resurgit ad luctam
et, cum putatur extinctum sua morte vivacius convalescit
asd II Inst. 1.) “os
(Vide Parábola do Fariseu e do Publicano).
d) — Malicia da soberba.—O orgulho é: zm roubo
porque arrebata em proveito próprio a glória que só a
Deus pertence; «Soli Deo honor et glória»; uma men-
- tira, pórque atribui a si qualidades que não possui e visa
a enganar os semelhantes; um venéno, pois corroi secre-
tamente as acções mais virtuosas e expõe a toda a sorte
. de contrariedades e decepções.
2. Avarêza
“A avaréza é o amor desordenado das riquésas, isto é,
dos bens dêste mundo e, em particular, do dinheiro.
E’ lícito ter aos bens da terra um certo apégo, pro-
“porcionado à utilidade que déles nos advém pois que tendo
por objecto valer ao homem nas necessidades da vida,
empregá-los com éste fim, é corresponder aos desígnios
da Providência.
Mas, torna-se ilícito o amor das riquêsas quando se
-desejam estas desordenadamente. Eis os casos : a) quando
.. O.apégo é tal que, para, nào gastar, nem sequer se ocorre
“ás necessidades inevitáveis da vida, 4) quando se procu-
l | 7. ,
ps.x DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
ram por meios fiícitos, com fandiedade ou com detri-
mento dos devêres espirituais.
Razões contra a avaréza.
“A. — Avari regnum Dei non possidebunt. (I. Cor.
vi, IO). Avaritia nec nominetur in vobis sicut decet san-
ctos (Efés. v. 3). Hoc scitote, intelligentes, quod omnis..
avarus quod est idolorám sérvitus, non habet haeredita-
tem in“regno Christi et Dei (Efes. v, 5). Qui volunt di-
vites fieri incidunt in tentationem et in laqueum diaboli,
et desidéria multa inutilia et nociva quae mergunt hómi-
nem in interitum et perditionem (I Timót. vr, 9). Qui
festinat ditari non erit innocens (Pros. xxvirr, 20). Qui
aurum diligit non justificábitur (Eccli xxxi, 5). Divitiae
si affluant nolite cor appónere (Ps. 61). Nihil est ini-
quius quam amare pecuniam, hic enim et ánimam suam
venalem habet: quoniam in vita sua projecit intima sua (Ecl.
x; IO). Videte et cavete ab omni avaritia, quia non in
abundantia cujusquam, vita ejus est ex his quae possidet
(Luc. xu, 15).. Agite nunc divites; plorate ululantes in
misériis vestris quae advenient vobis. Divitiae vestrae
. putrefactae sunt et vestimenta vestra a tineis comesta
sunt; aurum et argentum vestrum aerugávit et aerugo
eorum. in testimónium vobis erit: thesaurisastis vobis in
iram in novissimis diebus (Jacob. v, I. 2. 3.).
B. — À avaréza conduz ao esquecimento de Deus e
da nossa alma..., à dureza com os pobres.. , às fraudes
e injustiças, com o próximo.
3.9 Inveja
A inveja é aquela tristeza que experimentamos, ao
vermo-nos igualados ou sobrepujados pelos outros. |
filha do orgulho. Não devemos confundir a inveja
com os sentimentos muito legitimos que passamos a enu-
merar: q) o receio de sermos prejudicados por êste;sou
DIRECÇÃO DAS ALMAS TÍBIAS "MPO
aquele êxito do próximo; 4) a indignação proveniente
de concessões de que o próximo é certamente indigno;
c) a emulação, isto é, tristeza, não pelo benefício de que
gosa o próximo, mas por não termos igual ventura; d) o
zêlo, que se aflige por não empregar tanto ardor no ser-
. viço de Deus como os outros, sendo por conseguinte
“motivo de mais nos empenharmos na nossa perfeição.
Razões contra a inveja.
- a) — Da Sagrada Escritura. ag A
. Deponentes igitur omnem malitiam, simulationes et
invidias (I Petr. 1, 1). Non efficiamur inanis glóriae cu-
© Midi, invicem invidentes (Gal. v, 26). Invidia diáboli
mors
intravit in orbem terrarum, imitantur autem illum, qui
sunt. ex sorte ilius (Sapient. 1, 24, 25). Charitas non
aemulatur (I Cor. xn,
4). |
b) — Dano que causa a inveja. . |
| Est radix malorum omnium, fons cladium, seminá-
rium ' delictorum, serpentis praeceptum (Cypr. serm. de
invidia) Est dihboli inventum, pietatis impedimentum,
via ad gehennam, privatio regni coelorum, interitus vi-
. tae, pestis naturae, adversa omnibus bonis ex Deo pro-
venientibus, demum ipsi Deo contrária (S. Basil. hom. 11).
t . €) — Frutos directos da inveja: ódio, detracção, dis-
- córdia; murmurações, traições e embargos a obras de zélo.
4. APR "o, | E
A ira é um movimento desordenado da alma que se
- irrita com violência, para desviar de si o que considera
-- nocivo. à
O mal, como tal considerado, deve ser sempre, para
.-nós, objecto de horror; portanto, em si, nada mais natu-
ral e legítimo do que empenharmo-nos em o profligar.
“Ha, por isso, casos em que a ira é lícita, mas torna-se,
V abis. Xs:
UNES apes 7 WE CENE MU rur c. OS FAR
180. « DIRECCAO DE CONSCIENCIA A
| ilícita, 2 quandosprocede düm initiis mau, como v
ódio; a- vingança, a inveja; 6) quando recai sobre igo-
centes, ou mais do que é justo, sobre os culpados; c) .
quando usa processos reprováveis, como a maledicência,
a calúnia, o dano injusto; d) quando atinge tal violên-.
cia, que não comporta proporção com o motivo que à.
provoca, tornando-se por isso 'destazoävel (delírio, bruta-
E |
“Raatos contra a ira.
“a — Escritura. `
“Tra et furor utraque exsecrabilia sunt (Ecclis. xvi, 33);
Ira viri justitiam Dei non. operatur (Jacob. 1, I4). |
sis velox ad irascendum (Eccli. vir, IO). Non te superet
ira (Job. xxxvi 18). Vere stultum interficit iracundia
(Job. v, 2). Spiritum ad irascendum facilem quis poterit
sustinere (Prov. xvi, I3). Qui ad. pn facilis est |
erit ad. pem proclivior p xxt. 22); kz
. B.— Dano que ocasiona a ira: | |
Tra si ultra modum ' effervuerit, atrociter. mentem
exulcerat, sensum hebetat, linguam'immutat, oculos obum-
brat totumque corpus perturbat (Ambros. in praec. ad,
Miss.). Jánua vitiorum omnium iracundia est: qua clausa
virtutibus intrínsecus dabitur quies; aperta vero ad omne ..
facinus armábitur animus (Hieron. in Prov. m, 29).
5. Sensualidade
A. sriisualidade é a busca. imoderada dos prazeres
dos sentidos.
Tanto os prazeres dos sentidos; como os da inteli-
gência e da vontade, foram. criados, com destino provi-
dencial: Uns e outros teem como fim facilitar ao homem
o cumprimento de qualquer . dever: a conservação e a.
perfeição do indivíduo teem a. secundá-las os prazeres da
«vista, do ouvido, do olfato e sobretudo do gósto (na ali- .
à,
to n 7 . e , : NR. Lo
LR ` e . 1 3 3
EE. DIRECÇÃO DAS ALMAS TÍBIAS E 18
^
Leeds
3fhentacao), que proporcionam a saüde e o desenvolvi-
mento do gósto da estética; a conservação da espécie
«encontra sustentáculo e garantia nas doces consolações
“do coração, que fazem a paz e união nas famílias, bem
como nos prazeres da carne que asseguram a multiplica-
“ção do indivíduo. E’ portanto, honesto e virtuoso" o
uso
-dêstes prazeres dentro dos limites traçados por Deus.
: Mas; convertem-se facilmente em cilada, em razão mesmo
“da intensidade .da deleitação, que Deus, para assegurar .
„os interesses primordiais da humanidade, neles encerrou,
“quando o homem, criatura decaída, se deixa fascinar pelo
atractivo do gôzo e procura o prazer pelo prazer, O que
Ra destruição da ordem estabelecida, uma autêntica
aberração. Nos prazeres da carne chama-se ao abuso lu-
-Xüria ou impureza, nos prazeres da mêsa chama-se gula, .
“e nos outros prazeres sensíveis o excesso é sensualidade.
^ . Razões contra a sensualidade.
n. dai A 7
Textos da Tradição cristã que mostram o que de-
“vemos pensar àcêrcà desta tendência.
A. — Averte faciem tuam a muliere compta et ne
Xürdimapiciss speciem alienam: propter speciem mulieris
“multi periérunt et ex hoc concupiscentia quasi ignis exat-
z descit (Eccli. 1x, 8). Cum saltatrice ne assiduus sis, nec
“audias illam ne forte pereas in efficácia illius (Eccli.
1x, 4).
Sepi aures tuas spinis et linguam nequam noli audire
' (Eccli. xxvi, 28). Cum aliena muliere ne sedeas omnino,
«AEC: accumbas cum ea super cúbitum, et non alterceris
“cum illa in vino, ne forte declinet cor tuum in illam
(Eccli.
BO 12). In illa die auferet Dominus... olfactoriola.., et
*erit pro suavi odore faetor. (Isai. ny, 18 etc.) In
novissi-
mis diebus erunt homines voluptatum amatores magis
- quam Dei, habentes speciem quidem pietatis, Virtutem
autem ejus abnegantes. (lI Tim., i, 5.) Noli me :ange-
- (Joan., xx. 17.) Cor tuum phantasias patitur;.seó ne o
- deris in illis cor tuum. (Eccli., xxxiv, 6.). '
ta P
a. í `
182 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
A4.— Rector mi, averte a me oculorum elationem et
curiositatis pruriginem. (Aug., Med., 1.) specula plena
imaginibus miseriarum nostrarum et fomitibus ignis nos-
tri (Aug., Conf, 1, 1-3.) Voluptates aurium tenacius me
implicaverant et subjugaverant. (Aug., Conf, I, IO.)
Miles est spiritualis: talem vero non oportet olere oleum:
sed spirare virtutem: nihil enim immundius anima quo-
ties corpus talem habet fragrantiam. (Chris., Hom. 4 de
Laz.) Turpe enim est viro sapienti et bono, si unguentis
oblinitus et floribus coronatus incedat: quod qui facit,
utique insaniens, ineptus et nihil est, et quem ne odor
quidem virtutis attigerit. (Lect. 6, Inst. XXIL.) Tactus est
< omnium sensuum perniciosissimus et saevissime ` blang:
diens; sensusque reliquos ad voluptatis illecebras pelli-
ciens, toto corpore diflusus, et per omnem ejus superfi-
ciem adversus animam saeve dominatur. (S. Basil.) Reseca
in me, factor mei, mentis hebetudinem, cordis caecitatem
et inanium phantasmatum turbam. (Aug., Med., 2.).
6. Gula
A gula É o gósto desordenado pelos prazeres no comer
e no beber.
Sendo o prazer na alimentação intentado por Deus,
é lícito experimentá-lo e fruí-lo. Mas, longe de o procu-
rar por êle. mesmo, deve o homem utilizá-lo tão somente
como estimulante que facilite a absorpção dos alimentos,
realmente úteis à saude e à vida. Está a desordem: a)
em comer unicamente por prazer; 4) em comer em
quantidade que ultrapasse as exigências da saúde e a de-
cência social (excesso na quantidade); c) em procurar
iguarias delicadas e caras (excesso na qualidade); d) em
“comer com avidez e sofreguidão (imodéstia no modo).
“
Razões contra a gula.
A. — Escritura.
^ Attehdite vobis ne forte graventur corda vestra in.
^
DIRECÇÃO DAS ALMAS: TÍBIAS = i93
` |
crapula et ebrietate. (Luc., xxi, 34.) Noli avidus esse in
omni epulatione, et non te eftundas super omnem escam:
in multis enim escis erit infirmitas et aviditas appropin-
" quabit usque ad choleram. Propter crapulam multi
obie-
runt, (Eccli, xxxjr, 32.) Sapientia non invenitur in terra
suaviter viventium. (Job, xxvirr, 13.) Vae qui saturati
estis quia esurietis. (Luc., vi, 25.) Sanitas est animae et
corpori sobrius potus. (Eccli., XXXI, 27.) Qui diligit epu-
las in egestate erit; qui amat vinum et pinguia fion dita-
bitur. (Prov., xxr, 4.) Ululate omnes qui bibitis vinum
in dulcedine quoniam periit ab ore vestro. (Joel, 1, 5.)
Vae qui potentes estis ad bibendum vinum, et viri fortes
ad miscendam ebrietatem. (Isai., v, 22.).
B. — Consequéncias da gula: Entorpece o espírito,
dissipa a alma, enerva o coração, predispõe para a luxá-
ria e torna o homem descomedido em todas as cousas.
7. Preguica
A preguiça é o amor desordenado do repouso.
O descanso é legítimo e necessário, dentro de certa
medida, porque é indispensável para reparar as forças,
extenuadas pelo trabalho. Deus ordenou o descanso do
. domingo e sujeitou-nos à lei e necessidade de dormir.
Mas não pode abusar-se dêle de modo a ficar o indiví-
duo em contínua e funesta inacção, origem das mais pe-
rigosas tentações, nem de forma a tornar-se inútil para a
sociedade e a descurar os próprios deveres, ,particular-
mente os da alma.
Razóes contra a preguiça,
A. -— Escritura.
Multam malitiam docuit otiositas. (Eccli., xxxi, 27.)
Ecce haec fuit iniquitas Sodomae sororis tuae: superbia,
saturitas panis et abundantia, et otium ipsius et filiarum
ejus. (Ezech., xvi, 49.).
184 - DIRECÇÃO De CONSCIENCIA RE E a
B. — O receio do trabalho € do esfôrço é quanto há
de mais oposto ao espírito do Evangelho, que continüa-
mente preceitúa a renúncia e a penitência; o reino dos
céus sofre violência e só o alcançam os que fazem violên-
cia a si mesmos. |
C. — À preguiça empece gravemente o bem indivi-
dual e social. do homem, |
D. — Doutrina dós Padres da Igreja.
Omnium tentationum et cogitationum malarum col-
luvies est otium, summa mentis malitia, malorum omnium
sentina, mors animae. (Bernard., Ad Patres de Monte.)
Sicut aqua quae caret decursu et patet in foveis putres-
cit, ita et corpus otii labé confectum, concupiscentiarum
“et voluptatum carnalium parit et nutrit insaniam. (Ber-
nard., De grad. perfect.) Sicut terra non occupata se-
mente aut concisione quamlibet herbam producit, sic et
anima quoties non habet quod agat rerum necessariarum,
cum omnino cupiat aliquid agere, pravis actionibus semet
tradit. (Chris., Hom. 9 in II Con.)
IV — DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS
Dá-se vulgarmente o nome de almas piedosas às
pessoas gue com certa solicitude se entregam à prática
das obras supererogatórias de religião: frequência de sa-
cramentos, missa e exercícios de piedade, comparticipa-
ção nas confrarias, etc. — E lamentável que muitas pes-
Soas que passam por piedosas, estejam muito longe de
realizar as caracteristicas da' verdadeira piedade, mere-
cendo antes a invectiva de S. Paulo: «speciem quidem
pietatis habentes, virtutem autem eus abnegantes». As
suas práticas de piedade são mais o efeito do hábito, da
rotina, da hipocrisia, de certas rivalidades do que do
verdadeiro amor de Deus.
Quem diz piedade, diz uma benéfica disposição do co-
ração para amar a Deus, uma atracção veemente para as
Y
- DIRECÇÃOSDAS ALMAS PIEDOSAS “ASS
cousas divinas. Num estado de alma nestas condições,
consiste com efeito a verdadeira piedade. -
-
no Importância da direcção das almas piedosas.
“o L9?— Sem direcção, ficam estas almas à mercê dos
1 caprichos. mais:ridículos, vegetam enleadas pelos defeitos
mais- grosseiros, perdem-se no dédalo de práticas incoe-
pentes ou absurdas e arrastam-se miserávelmente na senda
abominável da rotina,
que lhes envenena toda a vida espi-
ritual... Então, quantas se tornam a maldição e escân-
dalo da íréguezia, o flagelo do seu pastor, a cruz de
“quantos as cercam e o triunfo dos maus, que se
aprovei-"
tam de tais desatinos para depreciar e enxovalhar a re-
ligião !
E etes dirigidas, ao contrário, principalmente
desde o princípio, elas são a glória da religião, os anjos
da família, o escol precioso da fréguezia e o fulcro firme
e fecundo de todos os santos empreendimentos. Quanto
-não vale, portanto, uma boa direcção, que cultivando há-:
bilmente as inclinações sãs do coração, | impele as almas
“por. caminho ameno e seguro, até às virtudes mais su-
“blimes |!
A objecítvo que cumpre fer em vistas na for-
mação das almas piedosas é: —
EON f orná-las bemquistas quanto possível, de Deus e dos
“homens e conseguir que se tornem social e individualmente
: Séres Kick em completos.
ULIS Não desprezar nenhum dos elementos que cons-
Ctituem a sua personalidade: a) Inteligência: esclarecê-la
na piedade, formar-lhe largos: horisontes, vistas nobres e
alevant tadas; b) Coração: dilatá-lo, nobilitá-lo pela cul-
ra dos sentimentos elevados, de que só o Cristianismo
-xempio; c) Vontade: desprendê-la das influências
E £o
186 DIRECÇÃO DE.CONSCIENCIA
terrenas pelo exercício da renüncia, tonificá-la pela prá-
tica do esfórgo, expurgá-la pela mortificação das tendén-
cias más, que estorvam a perfeição das suas aspirações.
d) Consciência: aprimorá-la pela vigilância sôbre os me-
nores movimentos interiores, isto é sobre as mais leves
oscilações da sua responsabilidade; e) æ alma: ador-
ná-la com as virtudes; f) o exterior: cultivá-lo moral-
mente, suprimindo primeiro o que possa escandalizar ou
“causar reparo e melhorá-lo depois, quando bem alicerça-
das as disposições essenciais. |
. 2.º — Formar tambem estas almas sob o ponto de
vista do apostolado, que venham a ser humildes auxiliares
do padre, trabalhando activamente na extensão do reino
de Deus, sob a obediência aos ensinamentos da Igreja e
dos seus representantes. i
o Formação da Inteligência
Muitas almas são pequenas ou mesquinhas na sua
piedade, cheias de ilusões e preconceitos, por falta de
formação intelectual adequada. Como conseguir-lhes uma
respiração ampla e pujante, que as dilate e torne magná-
nimas?... Como acender nelas uma chama de vibrante
entusiasmo, que as faça atingir a meta, qué uma penum-
bra, quási a apagar o seu brilho radiante, esconde e anu- |
via?... Como fazê-las avançar confiadamente, quando
névoas espessas lhes encobrem por todos os lados o ho-
rizonte?... |
Se, por um lado, a religião bem estudada e aprofun-
dada por um espírito recto e sem preconceitos, se nimba
com uma auréola, cujos lampejos são cada vez mais scin-
tilantes e lança na alma uma admiração sempre crescente,
— por outro, aparece-nos amesquinhada e ignobilizada,
quando contemplam através das trevas da ignorância, .
com indiferença e falsa compreensão, a sua imponente
nrajestade, no conjunto, e a sua harmoniosa proporção,
nas partes. Não ha pois que hesitar: quando intentarmos
DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS ` 187
conduzir uma alma à perfeição, é indispensável colocar
no centro da sua inteligência, um projector poderoso,
. que estenda largo e longe os seus raios fulgurantes, en-
cher de luz abundante-as regiões, onde evolui a vida es-
piritual, as veredas que a cruzam e os estádios, que a
compõem numa ordem perfeita e completa harmonia,
meta suprema para onde convergem todas as vias. Sem
êste olhar profundo do todo e da parte, sem esta visão
claríssima, quantas RN quantos tados; passos in-
certos, escolhos, extravios !.
Efeitos da formação religiosa da inteligéncia.
São os principais: 1.º — Infundir na alma luzes
claras e empolgantes, que, radicando-se profundamente,
dão às suas disposições base sólida, bem como a ressal-
vam contra a inconstância e versatilidade, tão ruinosas
na piedade.
| 2.º — Difundir com profusão na inteligência ideias
grandes, nobres, abundantes, a respeito de Deus, dos seus
atributos, da obra admirável da. Redenção, da graça, dos
destinos nobilíssimos do homem, das harmonias do do-
gma, da beleza da moral e do papel benéfico e fecundo
do Cristianismo sôbre a terra.
' ^ 8. — Formar ideias claras, precisas e justas, acérca
- das exigências e delicadeza da virtude e ao mesmo tempo
àcérca dos diferentes aspectos do vício.
4.9 — Fixar o espirito no mundo sobrenatural.
Meios para a formação religiosa da inteligência,
a) — Proibir aos penitentes livros de doutrina con-
fusa, produções superficiais e balofas e opúsculos em que
- predomina mais o sentimentalismo do que a doutrina; —
2) —- mandar lêr assíduamente o Evangelho e livros ascé-
T
ý Cm D MED E
188 a DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA -
ticos: de doutrina segura, sólida, abundante e elevada,
“tais como as obras de S. Francisco de Sales, de Bossuet,
de Monsabré, de Sauvé (Elev. dogm.), de Mgr. Gay, do
autor da «Formation de l'humilité», de Bouchage, etc, etc.
— c) — Para a prática quotidiana da meditação, recomen-
dar as obras de Vercruysse, Duquesne, Hamon, Petit, etc.
— d) — Conseguir que frequentem cursos de religião,
onde a doutrina é exposta com clareza e adaptada às
actuais circunstâncias ; — £e) -— alistá-los nas irmandades
e
pias uniões, onde as substânciosas instruções do director
ministrarão sàdio alimento ; — f) — impôr como penitên-
cia sacramental a leitura de páginas ou capítulo, onde é
mais fulgurante e elevada a doutrina; — g) — para obstar
a cansaço, aborrecimento .ou confusão, aconselhar leituras
breves, com ordem, método, aplicação e perseverança; —
h) — desfazer as ideias erróneas e depurá-las com exposi-
ção clara e convicta.
Formação da Vontade
”
E importante, porque é a vontade a faculdade sobe-
rana: é ela a fortaleza, onde se encerra a liberdade hu-
mana, que fórca alguma pode superar... é quem governa
as outras potências... éa que tem a responsabilidade do
mando...; garantir a uma alma uma vontade de boa têm-
pera é dar a um exército um general de valor. Quando
a vontade está à altura da sua missão, as outras faculda-
des, posto que rebeldes, bem depressa sé tornarão disci-
plinadas e dóceis, e, chefiadas por ela conseguirão gran-
des triunfos. Nada pode resistir a uma vontade firme e
decidida; ao passo que, com uma vontade fraca e versátil,
vegetará na mediocridade, com resultados ténues ou fu-
nestos, a natureza mais bem dotada. Os Santos e os he-
rois, foram primeiro que tudo homens de vontade.
DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS $ . I59
., L'-— Que terá em vista o Confessor na iorma-
“ção da vontade ?
Deve torná-la firme na resistência, resoluta nas deci-
sões, enérgica no esfórgo, constante na execução, pura e.
desprendida nas aspirações. São contudo muitos os obs-
- táculos que se opõem ao exercício da vontade, os quais
por isso, frustram muitas vezes o resultado da sua acção:
a) — Quantas arremetidas desonestas se não levantam
das regiões inferiores do apetite sensitivo, e quantas não
surgem ateadas pelo instinto perverso das outras pai-
x0es!... e a vontade em inevitável promiscuidade com
êstes agentes irrequietos, quanto não é influenciada por
eles e oprimida funestamente! Intoxicadas pelo seu álito
asfixiante, adormecem e apagam-se as nobres aspirações
da alma.. Urge, por isso, destacar a vontade de visi-
nhanga tão nociva e contagiosa, para que se eleve num
vôo desprendido e livre até à esfera serena, onde' paira o
ideal que a deve fascinar.
b)— Por outro lado, influências exteriores tentam
peá-la e dominá-la! os respeitos humanos, o hábito, o
instinto de imitação, as relações e amizades, comparecem
. sucessivamente para coarctar a sua liberdade e compri-
mir os seus transportes. Não se há-de libertá- la, que-
brando tais liames e prisões? |
| c) — E depois, a preguiça e a inércia; porque por
Si a natureza tende para o repouso e se acaso o deixa
por algum tempo, a êle volta-fàcilmente. E como é mi-
serável a vontade que assim, sem exercício, se atrofiou
tristemente! Nada com efeito tão infeliz como uma von-
“tade remissa: teme o esfórgo e contudo cada dia lho
impõe fatalmente a vida. Indispensável é, pois, que a
vontade se fortifique e consolide, de sorte a manter sem-
pre um império enérgico e irredutível. Urge formar-lhe,
- por assim dizer, uma constituição vigorosa, activar nela a
? E. 2) 3x
190 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
energia apetitiva, tê-la prestes para ifivestidas porfiadas,
|
para esforços decididos e bem orientados, na prossecução |
do bem; tonificá-la, emfim, tão fortemente que, quando
a prudência ditar um empreendimento, ela seja: resoluta
e firme na execução, porfiando, sem tergiversar, até `
ao fim. |
2.º — Como proporcionar à vontade tão forte
têmpera ? |
É indispensável exercício aturado e sàbiamente gra-
duado. Pouco e pouco intensifica-se o esfôrço: mostra
a experiência que os orgãos vitais se desenvolvem pelo
exercício. Começando por pouco, (pois, sob pressão forte
qualquer mola se desconcerta), a um resultado obtido,
suceda outro mais importante, e aumentando insensível-
mente'a dose de exigência, chegar-se-há, por fim, quàsi
imperceptívelmente a um imenso resultado. Mas, como
-couseguir este esfôrço, que pelo exercício criará o hábito
da energia ?
A. táctica consiste em facilitá-lo. Vários factores par
isso concorrem.: as excitações da graça..., a fôrça im- -
pulsiva dos motivos que nos determinam..., o concurso
dos sentimentos que conspiram no mesmo «desidera-
tum» .. o ambiente..., os exemplos dos outros em em-
présa idéntica..., a virtude de uma santa sugestão,
ateada por calorosas exortações. Lançar mão, simultânea
ou sucessivamente, consoante as circunstâncias, de todas
estas influências, activar e acumular energias, provocar
esforços, é proporcionar à vontade um acréscimo vital,
cujo resultado felicíssimo será o hábito seguramente ra-
dicado.
Corolário. Recomendações práticas para o exercício
da vontade.nas principais qualidades, qua urge possuir:
A. — Vontade resoluta. — Para que a vontade con-.
siga iniciativa, acostume-se o penitente a escolher por si
;as resoluções: adquira decisão em combater os escrúpu-
DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS IQI
los, a timidez, os loucos arrebatamentos do amor próprio,
o receio demasiado da censura ou da intriga.
B. — Vontade enérgica no esfórgo. — Além do esfôrço
imprescindível no cumprimento do dever, exerça a von-
tade a vencer-se nas pequenas cousas, mais ou menos
dependentes do capricho. Por exemplo: levantar-se a
uma hora matemáticamente fixa; em tais conjunturas,
procurar posição incómoda; comer algo que repugne; .
prolongar uma ocupação fastidiosa; empreender uma di-
ligéncia que contraría; vencer a timidez em tal ocasião;
obsequiar uma pessoa que nos molestou; mostrar-se bem
humorado na contrariedade.
c. —— Vontade constante na execução. — Exigir que o
penitente se empenhe porfiadamente em manter e reali-
zar um propósito, a que deu o /ace? o Director e obri-
gá-lo a dar fielmente conta do esfôrço empregado; im-
pôr-lhe rigorosa exactidão na observância do regulamento
e no cumprimento dos exercícios de piedade.
D. — Vontade firme na resistência. — Ocasiões de a
exercitar : quando insistem para comermos além do que
nos propusemos; quando.nos arrastam para tal diverti-
mento, que nos era aprazível; quando nos retiram, sem
razão, de tal prática piedosa ou do cumprimento de tal
dever, etc. :
Formacáo do Coracáo
Não menos do que a inteligência é o coração um po-
deroso motor da faculdade responsável.
Quando a inteligência, coadjuvada pela vontade, pro-
põe motivos de persuasão, acode tambem o coração com
os estímulos do sentimento...; e quanto reforçam de
energia e firmeza as influências das convicções, tanto
comunica vigor e entusiasmo a intervenção do senti-
mento...; quando no mesmo objectivo convergem as
impulsões destas duas fôrças, que poderosa e saüdável
-
1Y4 VISELÇAU VE VUNSUIENCIA
L E a j
influéncia nào exercem sóbre a álma].. . É uma activi-
dade pronta, fácil, vigorosa, característica do verdadeiró
fervor. Mas, se o coração se atrofia e se enervam os:
'sentimentos, como será fria a vontade, frouxa, sem ener-
gia! então, se persevera ainda por algum tempo no de-
ver, é lento o exercício, arrastado e difícil, qual máquina,
cujas rodas por lubrificar, rangem ruidosamente. Por
isso, O director prudente, ao mesmo tempo que sem des-
canso deve alimentar o sentimento, condensará como em
fonte inexaurível, uma forte reserva de óleo, que lubrifi-
que de contínuo as engrenagens das faculdades activas,
inevitavelmente embotadas pelo funcionamento.
Facilitará assim o esfôrço, diminuirá a fadiga, obs-
tará ao tédio e assegurará a perseverança.
1.º— Efeito da formação religiosa do coração.
Comunica esta ao coração grande delicadeza, que o
transporta a fáceis comoções sob as inspirações da fé, e
« diláta-o com a explosão de sentimentos nobilíssimos, de
sumo proveito para a virtude e para o dever, os quais se
resumem no amor, com todas as suas modalidades e ex-
pressões diversas. E' feito êste amór de admiração, re-
conhecimento, complacência, gôzo e compaixão; deriva
em benevolência, dedicação e união; compreende Deus,
os Anjos, os homens, os irracionais e a mesma natureza,
como lêmos de certos Santos, particularmente S. Fran-
cisco de Assis.
Dum modo geral podemos dizer, que o amor se ca-
tiva da verdadeira beleza para.a admirar, da bondade
para a amar e da miséria humana para se compadecer:
-. 2º — Como formar na alma a sensibilidade re-
liviosa ? je | ]
2) — Embotar- ^ coraçã> a g |
- a Cut&ldade..., conde é .idispe-- :] "emus ce qa
actos, derivados déstes vícios.
| 4 RE E DAS ALMAS PIEDOSAS ! 193 :
^8) — Como toda a faculdade vital, precisa a senal
fiddde de exercício para se aperfeiçoar. É indispensável,
pois, proporcionar-lhe ocasiões de actividade, tanto fre-
quentes como variadas... Ora, visto com os olhos da
fé, é capaz de mover e “formar o sentimento religioso,
quanto reflete as sublimes perfeições de Deus, quanto
participa da vida e possui a faculdade de fazer sentir. -
“Tais são os espectáculos maravilhosos que oferece: a
- natureza, os admiráveis instintos dos animais, mas espe-
;'cidlmenfe o vasto campo de acção, que nos apresenta a
, religião |. quantas belezas concretas, cativantes. .
quáân-
tas particularidades preciosas, na fisionomia sagrada do
. Salvador, nos passos da sua vida, nas circunstâncias do-
lorosas da sua
Paixão,.., na história dos mártires é dos
Santos!... quantos aspectos surpreendentes na exposi-
ção do dogma: o espectáculo do juízo, a doutrina .do
* “Purgatório, etc.
c) — Tome o sentimento relígioso feição concreta e
duradoura; será na alma o efeito mais profundo. Exem-
plo: sinto compaixão por um infeliz? não fique estéril
“este sentimento; devo incarná-lo num acto externo (es-
mola, palavras de confórto, etc.).
Corolário. —Meios práticos para a formação do sen-
timento: a Via-Sacra em face de quadros expressivos;
“o crucifixo, contemplado em silêncio, atentamente; uma
“imagem bela do S. Coração de Jesus, da SS."* Virgem,
ou um episódio religioso. — Ler piedosamente trechos
` impressionantes da 5. Escritura, ou, exemplos admiráveis
de virtude. Meditar amorosamente as belas scenas do
Evangelho, representando-as ao espírito muito bem ves-
“tidas, já pelo trabalho inventivo da imaginação, já pelo
recurso a autor que bem as descreva. — Visitar os po-
bres, tomar conta das suas necessidades, deixando-lhes
com à esmola, palavras e provas de afeição. Comparecer
à crbeceira dos enférmos, ouvir as suas máguas, interes-
ar-so nelo seu estado, procurar pessoalmente aliviá-los,
enois. vecordarmos todos êstes males, quando ros
o wo
3
I94 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
sentarmos à mésa, quando nos formos deitar em leito.
confortável ou quando nos aquecermos a um braseiro,
ue nos retempera. Quando uma pessoa, particularmente
da família, sofre, cercá-la de cuidados, de atenções e
afecto. — Sem descer à familiaridade com os inferiores,
abster-se de dureza e desabrimento com êles, lembrar-se
muitas vezes do lado penoso da sua condição social e ani-
má-los com palavras e condescêndencia. -- Ser reconhe-
cido com as pessõas que nos beneficiam, e testemunhar-
-lhes gratidão principalmente quando as circunstâncias e
o uso a isso se prestam, por exemplo, no aniversário, no
dia de ano novo, etc. — Testemunhar especialmente esta
gratidão às pessÓas, cujos benefícios são menos aprecia-
dos, porque menos tangível é o efeito do seu esfôrço, v.
g. aquelas que se sacrificam pelo nosso bem espiritual. —
Em ocasião oportuna, contemplar, silenciosamente, por
algum tempo, a imensidade do Oceano, o firmamento, o
profundo silêncio dos bosques. -— Passear pelo campo, e
escutar deliciadamente a linguagem misteriosa das avesi-
nhas, que gorgeiam, das ervinhas que verdejam e das
flôres que sorriem aos raios do sol. — Admirar a sabedo-,
ria do Criador no instinto admirável dos insectos, nos
hábitos dos animais e nas maravilhosas surprêsas das leis
físicas e químicas. Tratar com humanidade, não igual-
dade, os animais e suprimir-lhes todo o sofrimento inú-
til. — Na igreja, particularmente, encher a alma das be-
lezas da liturgia, interrogar piedosamente cada objecto
sagrado... deliciar-se no esplendor das ceremónias mís-
ticas... e inebriar-se das harmonias auteras do canto
sagrado. |
Observação importante. Não confundir sentimento
com sentimentalismo. Nada ha tão ridículo e estulto, tão
baixo e inepto, como uma pessoa, cuja sensibilidade se
desenvolve e amplia com desiquilíbrio. Para ficar dentro
da ordem deve a sensibilidade obedecer à fé e à razão e
inspirar-se nas suas exigências. Deve dar a Deus a pri-
meira e melhor parte, e ao expandir-se pelas criaturas,
distribuir-se com equidade, prudência e dignidade. Quem
-
i 1 >
i Lata" "A RA
-
-
DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS 40195
nào flagelará um sentimentalismo degradante que se
volta com actividade febril para o hóspede inconsciente
duma estrebaria, para um animal acarinhado insolente-
mente, dando-lhe o melhor das suas preocupações, das
suas alegrias, máguas e dedicação? Quem não compre-
ende que dar inteiramente o coração a sêres em tanta
desigualdade, admití-los quási como irmãos, é degra-
dar-se e abdicar do lugar de honra que nos assinalou o
Criador?!... É triste encontrar tais anomalias particu-
larmente em almas, que se dizem piedosas !
— Por outro lado, é preciso tambem reprimir a pie-
dade exaltada, que nas relações com Deus, leva a devo-
ção até ao sentimentalismo apaixonado, doentío mesmo!
não é piedade, é um formulismo de afectos delirantes,
que não admira, os encontremos tambem nas produções
mundanas e românticas. Emfim, observêmos que se a
piedade bem compreendida dá largas ao sentimento, não
abdica nunca da razão, antes a requer como fundamento.
A razão e o sentimento apoiam conjuntamente a von-
tade, como base principal a primeira, e a segunda como
base secundária. Notemos ainda que Deus, antes de se
manifestar aos sentidos pela Incarnação, comunicou-se ao
espírito pelas révelações primitivas.
Formação da Consciência
Porque é importante a bôa formação da cons-
ciência ?
Porque é a consciência o guia prático da alma na
vida moral. É ela que díta à vontade o que deve fazer,
como preceituado e o que deve omitir, cimo proíbido.
E ela ainda que post factum, aprecia e julga, aprova ou
reprova, consoante constata que foi bem ou mal. É
evidente que da sua formação, como de primeira origem,
depende absolutamente a rectidão moral. Ma? formada,
ao contrário,. lançará a vontade num báratro de desva-
| : sa UABDOHRGOROR S OEE NE
196: .. DIRECÇÃO - DE consciencia, |
t :
rios; e, insensível, deixará a alma estagnar- se : completa-
mente no abismo do mal.
Qualidades que deve ter a consciencia bem
formada.
Uma consciência bem forniiida deve ser esclarecida,
recta e delicada. |
| &)—Para que seja guia seguro, há-de ser a cons-
ciência bem instruida nos «seus devêres; há-de reconhe-
cer as exigências da moral, pelo menos nas circunstâncias
ordinárias da vida; há-de ter ideias claras, precisas, assás
completas, àcérca da lei cristã, dos deveres habituais e
comuns e das obrigações do estado; há-de saber. duvidar,
.nOs casos excepcionais, e interrogar, até se fazer luz;
há-de procurar conhecer a vontade de Deus e as exigên-
cias duma vida perfeita.
b) — A rectiddo da consciência supõe juizo prático,
que arreda por igual do laxismo e dos escrúpulos, e in-
terpreta acertadamente para cada caso, o alcance da lei
moral. Há-de a consciéncia desprender-se da influéncia
dum meio relaxado e das máximas comuns à mentalidade
“dos mundanos; há-de precaver-se contra os exagéros de
muitos livros de espiritualidade, contra as interpretações
rigorosas de certas leituras e discursos, contra a aceita-
ção absoluta de regras, cuja intransigência tem de con-
descender com as contingências da vida.
“c)— Será delicada a consciência, quando, por há-
bito, conceba pelo mal horror tão grande, que a faça es-
tremecer e recuar a menor aparência do pecado...;
quando a mais pequena falta verdadeira lhe pese tanto,
que não descanse sem a reparar e sanar. `
DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS 197
-. Como informar com estas qualidades a. cons-
ciência. |
a) — Esclarecida. Facilitar aos penitentes exames
de consciência, correspondentes à sua cultura intelectual,
ao seu género de vida e à sua envergadura moral. Pres-
tar-lhes decisões claras e precisas, nas dúvidas e consul-
tas. Áparte o caso de ser preferível deixá-los na boa fé,
reformar e rectificar as suas ideias, quando notarmos que
"transviam. |
b) — Recta. Combater os escrúpulos pela forma já
“estatuída neste tratado. | Combater o laxismo, trazendo a
^
alma para nobres pensamentos, para a meditação dos no-
víssimos e para o estudo atento das verdades austeras do
Evangelho. Prevenir contra a singularidade e o. fana-
tismo e impregnár a alma nos princípios seguintes, que
irradiam tanta luz sobre a solução dos principais casos
que se nos deparam: — o acessório segue o principal; o
necessário primeiro e só depois o útil e o agradável; pri-
meiro Deus, depois a criatura; primeiro a alma do que
0 corpo; céde ao bem comum o bem individual. Importa,
em todas as coisas, atender ao fim, isto é pesar se os prós
conpensam os contras e se o resultado será o que se pre-
tende. — Não faças a outrem o que não queres te façam
a ti. — Não faças às ocultas o que não farias na presença
de testemunhas virtuosas.
| c) — Delicada., Inspirar grande aprêço pela beleza
moral e conseguir zêlo ardente nas práticas de conselho.
Acostumar o penitente
a vigiat sôbre os menores senti-
mentos interiores e movimentos da alma, para sacrificar
quanto desagrade a Deus. Acostumá-lo a sensibilizar-sé
pelas mais pequeninas faltas e a repará-las com salutar
reacção: contrição, acto da virtude contrária, confissão ;
porque caleja fàcilmente a consciência, se a deixam fa-
miliarizar-se com irregularidades morais.
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f'
198 * DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA
corolário. Máximas para a formação da cons-
ciência.
1. — Lêr cada semana um exame de consciência,
onde só apareçam pecados bem. caracterizados. Lêr, pelo
menos na ocasião do retiro mensal, um exame bem por-
menorizado dos pecados e imperfeições. (Vide «Secret
des confessions ferventes». — «Examens particuliers de
Fronson»).
2. — Assunto de exame: propor-me-hei muitas ve-
zes esta pergunta: «que pensaria eu de F. se o visse pra-
ticar a acção que vou praticar?» nos momentos de inàc-
ção: «desejaria que o Superior estivesse ao par dos pen-
samentos e projectos, que me dominam actualmente ?» —
Nas relações com o próximo: «ficaria contente se fosse
tratado como eu trato a F.?».— Nos meus deveres para
còm Deus: «Trataria o Superior como trato o Ente Su-
premo?» — Quid hoc ad aeternitatem ?
3. — Após cada defecção, humilhar-se, deplorá-la e
produzir algum acto de reparação: bater no peito, beijar
o solo, impor-se um sacrifício; — para faltas maiores, fa-
zer a Via-Sácra, dar uma esmola avultada, etc.
Formação. do Exterior
Conexão que com a direcção tem a formação do
exterior. Os defeitos visíveis nas pessoas piedosas, par-
ticularmente os defeitos muito pronunciados, desacredi- '
tam a virtude e afastam da religião os espíritos fracos.
Cai pois sob a alçada do Director êste particular. De-
mais, em virtude da dependência recíproca que entre a
alma e o corpo estabelece a união natural, opera-se reac-
ção manifesta do exterior parao interior e conseqüente-
mente o aperfeiçoamento efectuado sôbre o elemento
visível do nosso ser, terá repercussão sôbre as disposi-
ções interiores. |
n.
"DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS ` E 199
- Sóbre que pontos, em especial, quanto ao ex-
terior, diligenciará o Director ?
I. o` Sóbre os defeitos mais opostos à edificação do
próximo, impondo-se expurgá-los inexoravelmente. ,
2.º — Sendo perfei tas assás as disposições íntimas
essenciais, 6 quando mais importa aprimorar o exterior:
porte.digno e natural, maneiras polidas e afáveis, respeito
pelas regras de conveniência social, que se harmonizam
com o espírito do E vangelho, fisionomia franca e agradá-
vel; “conversação sincera, simples e cuidada, grave e
amena; trajo limpo e correcto, sem desleixo, nem afec-
tação...
Observação. Pode servir qualquer destes pontos
para motivo de mortificação e acentuar o merecimento,
por virtude do esfôrço a que obrigam. São tambem en-
sejo de praticar a caridade e de testemunhar respeito
pela presença de Deus, como o prova o exemplo de S.
Francisco de Sales.
Virtudes Sobrenaturais
1.º — Importa formar a alma nestas virtudes, tanto
mais que para elas já existe na verdadeira piedade uma
. tendência natural. Compreende-se que a piedade leve de
per si, instintivamente, à virtude, porque dizer «uma
alma piedosa» é dizer uma alma atraída para Jesus Cristo,
."a quem ama dedicadamente. Ora, o amor conduz à se-
melhanga com a pessoa amada; portanto, apaga-se, des-
vanece a piedade que nào tenha por alvo imitar o Salva-
dor, e esta imitação só se consegue pela prática das
virtudes, de que nos deu o exemplo.
e ,:2.0 — Já vimos no presente tratado, que a formação
| das faculdades da alma não tem outro escopo final senão
a prática constante das virtudes.
Para que se ha-de alumiar o espírito, tonificar a von-
b
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"200 DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA
tade, exercitar o coração, formar:'a consciência, senão-
para dispor a alma para esforços generosos e constantes
na verdadeira virtude?
3.0—Qual é o objectivo do exercício na virtude?
Não é outro senão tornar a alma uma cópia viva da
Pessoa de N. S. Fesus Cristo, de sorte a poder repetir com
o Apostolo: «Imitatores mei estote sicut et ego Christi».
^ Adornar pois a alma com todas as virtudes que Jesus
proclamou e das quais foi o primeiro a dar o exemplo,
eis todo o nosso trabalho. Necessitamo-las todas, até
certo ponto ao menos, mas ha quatro especialmente, que
merecem todo o empenho do Director, nào só porque
particularmente as recomenda o Salvador, mas porque
desempenham, importantíssimo papel no trabalho da san-
tificação: a humildade, a mansidão, a prudência e a sim-
pticidade: Discíte a me, quia mitis sum et humilis corde.
Estote prudentes sicu: serpentes et simplices sicut co-
lumôae.
* Se compararmos a perfeição cristã à um edifício, é-
a humildade o alicerce, e a mansidão, supremo ápice da
caridade é o tecto...; a prudência é o engênho do arqui-
“tecto que prevê todas as particularidades, obstáculos e
combina os meios..., a simplicidade é como que o diri-
gente, que pelos meios menos dispendiosos, mais eficazes
e expeditos, consuma todo o edifício espiritual. Juntê-
mos a estas virtudes a disposição que S. Paulo, éco fiel
da doutrina do Salvador, reclama como de utilidade
geral para a vida cristã: a piedade. «Exerce autem tet-
| psum ad pietatem... pietas autem ad omnia utilis est».
-a piedade como que o provedor oficial da alma na
construção do grandioso edifício espiritual da nossa san-
tiicação; é uma grande riqueza, diz ainda o mesmo
Apostolo: «questus magnus pietas». (I Tim. vr).
Uma disposição prévia, muito necessária para o
exercício das virtudes, é o desejo ardente da perfei-
DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS 201
cão... Diz N. Senhor no Evangelho que bemaventurados
os“ que teem fome e sêde de justiça, isto é, de santifica-
ção e santidade. A êste respeito eis alguns textos da
Sagrada Escritura e dos Santos Padres:
=- A. —Sancti eritis, quoniam ego sanctus sum. (I Petr.,
1, 45.) Qui justus est, justificetur adhuc. (Apoc., XXXI,
5.)
-. Hec est voluntas Dei santificatio vestra. (I Thes., Iv,
3.)
- Estote vos perfecti, sicut et Pater vester ccelestis
perfec-
` tus Èst. (Matth., v, 48.) Justorum anima quasi lux splen-
dens procedit et crescit usque ad perfectam diem. Prov.,
iv, 18.) Facile videtur (sapientia et sanctitas) ab his qui
diligunt eam, et invenitur ab his qui queerunt illam. (Sap.,
vl, 13.)
| B. — Felix est ille qui quotidie proficit, qui non con-
siderat quid heri fecerit, sed quid quotidie faciat ut pro-
ficiat. (Hieron., in ps. 83.) Tota vita christiani sanctum
est desiderium proficiendi. (Aug., tr. 4 in I Ep. Joann.)
Nunquam justus arbitratur se comprehendisse, nunquam
dicit «satis est» sed semper esurit sititque justitiam.
(Ber-
nard., Epist 254 ad Carin.) Magna confusio, magna valde:
ardentius (peccatores) perniciosa desiderant quam nos
utilia: citius illi ad mortem properant quam nos ad vi-
tam. (Bernard., Serm. I, De latit. cord.) Verus amor
. gradu uno contentus non est: sed altiora semper nititur,
^ et ad perfectiora indesinenter concupiscit attingere, quas
habet non magni facit virtutes, proficiendi accensus desi-
derio. (S. Laur. Justin, De casto connub., 2.)
c.— Devemos progredir: a)— Se amamos a Deus
verdadeiramente, como podemos desinteressarmo-nos da
sua glória?... Afirma Santo Afonso de Ligório que dá
mais glória a Deus uma alma perfeita, do que centenas
delas imperfeitas.
N
b) — Se nos amamos a nós mesmos, como renuncia-
mos aos imensos benefícios da perfeição: complacência
202 | DIRECÇÃO DE: CONSCIENCIA |
de Deus connosco, a sua piötečéao j. . tesouros. abun- ;
dantes de:-mérecimentos... glória de nos parecermos .
com Jesus Cristo... Felicidade íntima de nos. encontrar- .
mos junto do coração de Deus? *- à
Piedade
É a piedade uma disposição que nos leva a cumprir .
assiduamente, com generosidade e ternura filial; - todas: as
:
práticas religiosas, congruentes ao nosso género. de vida:
Uma piedade, bem aquilatada, supõe — uma selecção :
- bem feita nos exercícios religiosos, — uma fide
rante — e solicitude generosa em os Cumprir, p rfumado
tudo de amor filial, terno e dedicado.
I. o São boas tódas as práticas de devoção apro-
vadas, mas importa entre estas selecionar as melhores,
atendendo à excelência absoluta, par um lado, e ao valor .
relativo, por parte das disposições do penitente: atrac-
tivo, vagar, ambiente, temperamento, hábitos, etc. (Vid.
E
t
-supra-Cap. 11-Da oração). Com o placet do Director e.
sob a sua vigilância, traçará o penitente o programa dos
exercícios de piedade, concedendo à Eucaristia, como
centro, o primeiro lugar (Missa, comunhão, visitas), e o |
segundo à devoção à SS."* Virgem.
2.º — Feito devidamente êste regulamento, consi- :
dére-o inviolável, àparte o caso de transitóriamente o de-
rogar por razóes de fôórça maior, que nunca poderão ser
a preguiça, os: respeitos humanos, nem as securas espi-
rituais.
3.º — Nunca a piedade se pode contentar com fideli-
dade maquinal ou farisaica; ao contrário, reveste de res- .
e diligéncia OS exercício: e sabe fazer-se violencia
para obstar às distracções e manter uiia c. ' Es
- gnada de. deferência.
DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS 203
“4.º — Enfim, faz perpassar por todos os, exercícios
uma rajada santa de abandôno filial; em todas as suas
Orações e devoções domina o amor e a confiança.
Como ha-de comunicar o Director esta piedade
ão dirigido ?
| Formando-lhe na inteligência uma noção exacta da
piedade, fazendo-a desejar, amar e praticar.
. ' A) — A piedade tem de ser bem regulamentada e
“alicerçada, e ao mesmo tempo impregnada de respeito e
amor. Exorte com ardor néste sentido, fundado nos tex-
tos da Escritura, que apresentamos: «fara tudo é útil a
piedade; ela tem as promessas da vida presente e da vida
futura (1.º Tim. iv, 7). É uma grande riqueza a piedade
(I Tim. vt)... Importa orar sempre e nunca cessar (Luc.
XVII, I). Nas vossas orações não multipliqueis as pala-
vras como os pagãos que pensam serão ouvidos à força de
muitas palavras (Math. xv, 7). Deus é espírito e importa
que aqueles que O adoram, O adorem em espírito e ver-
dade (Joan. 1v, 24). Antes da oração, prepara a tua alma
e não sejas como um homem' que tenta a Deus (Eccli.
xvII, 22.
B) -— Exêrça-o nas diferentes qualidades de piedade,
:dando-Ihe sucessivamente como tema de exame particu-
lar os pontos seguintes:
| Exactidão em fazer, sem precipitação, os exercícios .
que lhe marca o regulamento, aprovado pelo director.
Conservar em cada exercício uma atitude respeitosa, re-
colhida e até, para ob principais, edificante. Lembrar a
presença de Deus tódas as vezes que fizer o sinal da
Cruz e repelir ao mesmo tempo qualquer pensamento
“profano. Formar intenção especial no princípio de aual-
quer -:«c8o. Fazer os exercícios diante do SS. Sectra-
‘ment mes com o espírito vara o Tabernácuio.
‘Fazer as orações principais em união com a SS."* * r-
204 DIRECÇÃO "DE CONSCIENCIA al | ’
gem. Excitar no coração sentimentos e afectos de con
fiança filial. Comungar todos os dias, ao menos espiri-
tualmente, na impossibilidade de o fazer sacramentál-
mente. |
| Dividir o dia em duas partes, das quais uma com
tódas as acções servirá de preparação, de acção de graças |
a outra. Fazer com o mais profundo respeito os actos
exteriores que permita o género de vida: sinal da cruz,
genuflexões, reverências, prostrações, etc. Meditar cada
dia alguns minutos uma ou outr&farcela das orações vo-
cais. Estando só, beijar muitas vezes, o crucifíxo, — uma
medalha, — uma imagem, — uma relíquia. Voltar-se, vá-
rias vezes, para o Sacrário, colocando a mão sobre e
peito ou genuflectindo. Meditar todos os dias alternati-
vamente, qualquer dos mistérios do Rosário, — as esta-
ções da Via-Sácra, — as sete petições do" Padre Nosso,
—
os quinze mandamentos da lei de Deus e da Igreja, — os
quatro actos de Fé, Esperança, Caridade e contrição.
Humildade .
É a humildade uma virtude que nos dispõe ao des-
prézo de nós mesmos e à aceitação do desprézo alheio.
Inspira-se simultâneamente nas luzes da fé e da ra-
zào para nòs conservar adentro da ordem no que respeita
à estima pessoal e à estima dos estranhos. Exerce, por-
tanto, a sua acção sobre a inteligência para a compene-
trar intimamente do conhecimento do nosso valôr real;
baseia, na consideração da nossa impotência natural e
sobrenatural a convicção do nosso nada... e, na das
nossas faltas e misérias morais, o conhecimento bem sen-
tido da nossa abjecção. Actúa em seguida sobre a von-
tade para a regulamentar à face dêstes dados. ..; leva-a
a consentir mais ou menos generosamente no desprêzo
de si e a aceitar pacificamente, a desejar e amar o des-
prézo de outrem. Portanto, I) para ser completa ne
sentido cristão, deve a humildade não sómente preser-
var-nos das desordens do orgulho, tais como o aprêço
DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS 205
exagerado de nós e a ància febríl e fraudulenta da es-
tima dos outros, mas àlém disso, criar em nós esse des-
prézo próprio e a aceitação espontânea do desprêzo
alheio. |
2) Para ser verdadeira e auténtica nào deve inspi-
rar-se por tal modo no próprio desprézo, que despenhe o
interior num estado de depressão a confinar com o de-
sespéro, ou num estado de pusilanimidade que comprima
tóda a iniciativa e tódo o ardor para santos empreendi-
' mentos ..; por outro lado, nào ignore a alma humilde o
bem real de que é dotada, afim de nào descurar, nem
esquecer o reconhecimento para com Deus, que o libe-
ralizou.
Corolàrio. Podemos distinguir: 1.º— À humildade
interior, que consiste em sentir verdadeiramente o des-
prêzo de si, e a humildade exterior, que é a mesma hu-
mildade interior manifestada e traduzida por actos;
2º — a humildade zntelectrva, que se cultfya com re-
flexões graves, convictas e frequentes, sob a influência de
luzes sobrenaturais. .., e a humildade da vontade, do co-
ração, de inclinação, que se desenvolve pelo exercício e
prática assídua de actos generosos, sob o influxo da graça.
i
Como formar as almas na humildade.
I
a. — Persuadí-las da importância capital desta vir-
tude. Para isso, recomende o seu estudo em livros de
doutrina sã e sólida (por exemplo, Rodrigues, Formation
progressive de la confession, etc.); estimule, desenvol-
vendo alguns dos pensamentos que seguem 4
a) — Ser humilde é ser justo: I.—- por mim não
sou nada; que importa, portanto, que seja ignorado? os
bens que possüo recebi-os de Deus, não os posso arrogar
como próprios; «que motivo terá de se orgulhar quem
é cinza e pó?» (Eccli. x, 9).
2. — Pelo pecado decaí do estado de verdadeira
grandeza, fiquei reduzido a um estado de abjeção... sou
206. ` DIRECÇÃO . DE-CONSCIÊNCIA ; 1
com efeito, digno de desprézo..., mais dexorerivel do
que se'cometesse a maio? inépcia do mundo.
3. — Não tenho autoridade para julgar o próximo
e tenho obrigação de me julgar a mim; devo ter-me em,
menos do que os outros, segundo adverte S. Paulo: cada
um pela humildade repute os outros acima de sz (Fil. 11, 3).
6) — A humildade assemelha-nos a Jesus Cristo e
aconchega-nos ao seu Coração: aprender de mim, que sou
manso e humilde de coração. — Jesus humilhou-se até to-
mar a forma de escravo, humilhou-se até à morte e morte
ignominiosa de Cruz. — À vida eucarística é o cúmulo
do aniquilamento.
c) — Proporciona vantagens preciosas: I.- -Onde es-
tiver a humildade, está a sabedoria (Prov. x1, 2).
2.-— Trespassa as nuvens a oração do que se hu-
milha.
3. — Aquêle que se humilhar e se tornar como um
déstes pequeninos que créem em mim, ésse será o maior no
reino dos céus (Math. xvii, 4).
4. — O que se humilha, será exaltado (Luc. xiv, II).
Nada é compardvel à humildade! é ela a mãe, a raiz, o
apoio eo fundamento de todo o bem, o bem de todas as
virtudes (S. Crisost.).
B. — Exercê-las na prática da humildade pelo
exame particular sôbre os seguintes pontos: «repelir os
pensamentos que lisongeiam o amor próprio e a vaidade,
— e para reagir melhor, ler e lembrar a lista circunstan-
ciada das minhas misérias. — Procurar, no exame de
consciência e na confissão, o que particularmente me hu- -
milha e exprimir com jaculatórias o sentimento de quanto
me abate. — Praticar actos externos de humildade: bei-
jar o chão, servir-me, na intimidade, dos objectos mais
desprezíveis, recordando a minha abjeccão. — Não falar
de mim, nem das minhas emprêsas, senão por verdadeira
mocessidade ou utilidade, e purificando primeiro a minha
DIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS 207
intenção. Os elogios que me tributarem, referí-los a
Deus. — Não ligar importância a encómios e ficar com a
. impressão de que, se me conhecessem bem, me não cer-
cariam: de honrarias. — Na exprobração e crítica que me
façam, não atribuir ao ciúme a censura, mas reconhecer
nela um fundamento de verdade. — Depois da humilha-
ção, continuar benévolo e obsequioso com as pessoas que
me feríram..., dizer bem delas, se o permite a prudên-
cia..., dirigir por elas uma prece, com a persuasão de
que, de facto, me fizeram grande benefício, fossem quais
fossem as suas intenções. — Fazer por encontrar de tem-
pos a tempos as pessoas que me desdenham, para lhes
testemunhar afeição e simpatia. — Ficar calmo e satisfeito
na humilhação, exclamando: bendito seja Deus! — Inte-
ressar-me pelas pessoas de condição humilde e participar
alguma vez do seu viver. — Excluir do meu uso objectos
de luxo, que não comporta a minha condição. — Na so-
ciedade, ofuscar-me quanto possível, deixando aos outros
a honra e a direcção da conversação. — Não falar dos de-
feitos das pessoas que me não agradam, não pensar ne-
les, mas antes nas qualidades e virtudes. — Conviver com
os iguais como se fossem superiores. — Não fazer cousa
alguma, nem dizer, para atraír a atenção ou o louvor. —
Conservando sempre a confiança e o respeito dos inferio-
res e mantendo toda a autoridade, considerar-me inte-
riormente o ínfimo de todos, recordando que muitos dê-
les serão no céu a mim superiores. — Honrar os pobres
e os humildes. — Pedir a Deus o amor das humilhações.
Após uma consolação espiritual ou prova de estima que
me testemunhem, fazer interiormente um acto de pro-
funda humildade. — Procurar a união com Jesus tão hu-
milde e tão humilhado no Tabernáculo.
Mansidão
A mansidão é uma virtude que nos leva a proceder
com o pro, imo pelo modo mais agradável e aprazível.
Para que o nosso trato seja agradável, é necessário
gos:
208 DIRECÇÃO “DE CONSCIENCIA
que se funde num sentimento intenso de caridade, que
nos torne generosos e dedicados pelos interêsses dos
outros, que nos leve a suportar com paciência os seus
defeitos e a compor graciosamente a nossa apresentação,
de sorte a ser-lhes aprazível a nossa sociedade. Reque-
rem-se para a mansidão no sentido do Evangelho quatro
qualidades: caridade, paciência, dedicação e afabilidade,
contidas tôdas na primeira, que só as leva a expansão
plena, quando muito perfeita. E portanto, a mansidão a
suprema evolução da caridade.
. Como formar os penitentes nesta virtude.
A. — Incutir-lhes grande aprégo por ela.
a)— Escritura Sagrada: «aprendei de mim que sou
manso... e encontrareis repouso para as vossas almas
(Math. xi, 20). Bemaventurados os mansos, porque êles
possuiráo a terra (Math. v, 4). Meu filho, opéra com
mansidào e serás amado dos homens e agradável a Deus
(Eccli. mi 17). Faze-te agradável à sociedade, presta
atenção ao pobre e dá-lhe como resposta uma palavra,
que o console.
b) — Vantagens: assemelha-nos a Deus..., ao Sal-
vador..., e obtem-nos em proporção o seu agrado; é
ornamento no cristão e dá eficácia especial às nossas ora-
ções; é de grande valia no exercício da autoridade, con-
quista-nos muitos amigos e é fonte abundante de mere-
cimentos. |
B. — Aixercé-los, pela prática do exame particular,
sôbre as quatro virtudes que constituem a admirável vir-
tude da mansidào: caridade, paciência, dedicação e afa-
bilidade.
Caridade: amor sincero, sobrenatural e ilustrado.
Acostumar-me a ver o que ha de divíno no próximo e
fechar os olhos ao que repugna ou desagrada. — Quando
"n t
SEN 'DIRECQÀO DAS ALMAS PIEDOSAS "| . 209
“me abeirar duma pessoa, saúdar Deus no seu coração...
ou o Anjo da Guarda ao seu lado... Ver nos inimigos
instrumentos da Providência para me purificar, santificar
“e provar, —e tratá-los, sobrenaturalmente reconhecido.
Repelir inexoravelmente do espírito qualquer pensamento
.' de queixa contra o próximo. — Rebater as afeições car-
“nais e amizades particulares, que são o dissolvente da
verdadeira caridade. " |
>` Paciência. — Calar-me e ficar socegado quando me
: beliscarem com propósitos e remóques ofensivos.. .,
“ quando mostrarem grosseria comigo... e retirar-me, se
precisar de acalmar a minha indignação. — Não fazer
queixumes, nem dirigir censuras, sob o impulso da exas-
peração. — Levantar os olhos para o crucifíxo quando
sentir esgotada a paciência. Suportar os defeitos alheios
“com magnanimidade..., reconhecimento... amenidade...,
“espírito de fé, de penitência e caridade. p
Dedicação. — Prestar aos outros com agrado os ser-
viços que desejo me prestem.
Afabilidade. — Ter com o próximo palavras amá-
veis; — observar com espírito de caridade, as regras do
decôro, da cortezia e da civilidade; — mostrar habitual-
` mente fisionomia agradável; — testemunhar estima a to-
“ dos; -— mostrar-me atencioso quando desabafem comigo
às suas misérias ; — evitar modo altivo e desdenhoso, dei-
- xando antes transparecer nobre simplicidade, que a todos
cative e deixe à vontade.
Prudência
. A prudência cristã ou discreção é uma virtude que
nos faz discernir e adoptar o que mais convem espiritual-
mente à nossa alma, e previnir contra a exageração no
exercício das boas obras. a P
| Este justo discernimento envolve várias condições :
` a)— conhecimento profundo das cousas divinas; b)— a
oração; c— a reflexão; d)—a circunspecção; e) — a
docilidade. .
"ur
! ; S y |
210 | DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
Importa, pois, que o penitente lance mão de todos
o$ conhecimentos para se ilustrar, quer lendo e estu-
dando obras de doutrina segura, quer assistindo a instru-
ções e conferências religiosas, quer recorrendo às prelec-
ções do director. |
Importa que se-dedique afanosamente à oração, con-
sultando Deus a cada instante, sobretudo nos negócios
mais importantes..., que se aplique pela reflexão assídua
ao conhecimento do que mais convem à glória de Deus
e ao interêsse pessoal..., que recorra de bom grado às
luzes dos outros, principalmente dos que teem a graça
de estado para o guiar.
Faga tudo com ordem e medida, evitando a precipi-
tação e o exagéro, até nas cousas mais louváveis, e
dando a cada acção o lugar que lhe compete sob o ponto
de vista cristão: o bem geral antes do particular... o
espiritual antes do tempbral... o principal antes do
-accessório... o necessário antes do útil. Emfim, requer
a prudência a circunspecção, que fará, muitas vezes, por
circunstâncias graves ou importantes, modificar um in-
tento em vias de realização... e sacrificar por motivos
de caridade ou outros louváveis, certos exercícios de pie-
dade supererogatórios.
Como formar o penitente nesta virtude?
^. — Fazendo-a desejar, dada a sua importância :
Eis os motivos a expender: a) Nosso Senhor disse
aos seus Apóstolos: Séde prudentes como serpentes...
pois estais como ovelhas no meio de lobos. b) São notá-
veis a éste respeito as advertências do Ispírito Santo:
«Possui a sabedoria porque vale mais do que o ouro;
adquiri a prudência, porque é mais preciosa do que a
gráta. (Prov. xvi, 16) — Possui a sadedoria, possui a
prudência: ndo a abandones e ela te guardará, ama-a e
ela te conservará. (Prov. ww, 5). — Bemaventurado o ho-
mem, que achou a sabedoria e que está rico de prudência:
melhor é a sua aquisição do que o tráfico de prata, e seus
BIRECÇÃO DAS ALMAS PIEDOSAS 5 XP
fructos melhores do que o ouro mais fino e mais depurado:
mais preciosa é que tódas as riquezas: e tudo o mais que
se deseja, não se pode comparar com ela... Os seus ca-
minhos são caminhos formosos, e de paz lódas as suas ve-
rédas. E arvore de vida para os que lançarem mão dela
e bemaventurado o que a não deixar. (Prov. ut, I5 e seg.)
— Faze com reflexão o que tiveres resolvido e não terás
“depois de que te arrepender. (Eccl. xxx, 16).
c) — Necessidade da discreção :
* Sem ela, a virtude degenéra em vício (Bern: Ser. 49
jin Cant). — A discreção é a medida e ornamento das
virtudes (Bern.-ib.). — Assegura estabilidade à virtude:
Diz S. Gregório que sem prudéncia a virtude se perde, e
que se fortalece com a discreção. (L. Moral. 28)..
gB. — Exercendo nela o penitente, mediante o exame
particular sôbre os seguintes pontos: entrar em si mesmo
antes de cada decisão para consultar com Deus: em ne-
gócio importante, dirigir-se junto do Tabernáculo em
procura de luz ou fazer uma novena nesse intuíto. — Pro-
ceder com socégo e nunca com precipitação. Não tomar
determinação alguma sob a impressão do momento, sob
a influência duma paixão, tal como a impaciência... a
antipatia... uma afeição viva, etc.
Simplicidade
É uma virtude que nos coloca na disposição habitual
de evitar a dissimulação e deslize que não impõe a pru-
dência e todo o rodeio que nos desvia do fim supremo.
Contrária à duplicidade e a complicações, dirige-se
directa e sinceramente para o fim que lhe indica a razão
cristã.
1.º—Foge de revestir-se de aparências falazes, que
induzam o próximo a
êrro àcérca de reais disposições ;
detesta a mentira, a hipocrisía, os artifícios mundanos e
só recorre à dissimulação, quando é absolutamente ne-
212 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
cessário para salvaguardar, não o amor próprio, nem mes-
quinhos negócios de ordem temporal, mas os supremos
interêsses da glória de Deus.
“20 — Abomina os circunlóquios. Não tem pensa-
mentos reservados, nem afectação pessoal, não visa a
preocupações do amor próprio, mas, ciosa da glória di-
vína, olha-unicamente direita ao fim.
Como formar as almas nesta virtude?
A. — Comunicando-lhes aprêço por ela, dada a sua
importância e vantagem : !
$
a) — Palavras de Jesus: «séde simples como pom-
bas... se vos nào tornardes como um déstes pequeninos,
que créem em mim, nào entrareis no reino dos céus».
b) — Advertências do Espírito Santo: sentí bem do
Senhor e buscai-o com simplicidade do coração (Sap.
1, I) — Deponentes omnem malitiam et omnem dolum
: (E Petr. m, 1).
`
- c)— Doutrina e exemplos: do. Doutor da Piedade:
«eu daria cem serpentes por uma pomba». — Dizia mais::
«para vos falar francamente, não sei mentir, nem dissi-
mular, nem fingir, o que é o apogéu da política. Não
aceitaria o mundo inteiro por dizer uma palavra falsa;
eu falo à antiga, como os gaulezes, simplesmente e de
boa té. Os meus lábios expressam sempre o meu pensa-
mentos». — Um dos seus biógrafos diz: «Não sabia o
que é a. adulação, nem promessas vãs; eram as suas pa-
lavras simples e chãs. Procedia com simplicidade e fran-
queza». | À 4
d) — Vantagens: a) conduz à familiaridade e inti-
midade com Deus, que conversa com os simples (Prov.
DIRECÇÃO DAS ALMAS PERFEITAS ^ 813
m, 32). 4) abre-nos o caminho do céu: «aquêle que
anda em simplicidade será salvo (Prov. xxvltr, 18).
B. — Exercendo-as nesta virtude pelo exame particu-
“Jar nos seguintes pontos: p?
: — Nunca mentir, seja qual fôr o incómodo. Não to-
mar atitudes especiosas, como lisongear e bajulár na pre-
sença e censurar e zombar na ausência. Detestar a hipo-
crisía. — Não fazer promessas, nem garantir benefícios
sem poder cumprir. — Falar habitualmente com toda a
franqueza, sem ingenuidade, mas tambem sem afectação ;
principalmente na confissão, falar com toda a sinceri-
dade do coração. Ter como divisa: «faze o que deves,
aconteça o que acontecer». — Suprimir do viver habitual
todo o supérfluo. — Ter horror à afectação. — Guiar-se
pela máxima: «ad majorem Dei gloriam». — Recolher-se
adentro de si para ver se a intenção é pura e dirigida
para Deus. |
V. — DIRECÇÃO DAS ALMAS PERFEITAS
São estas as almat/ que, tendo domado as inclinações
perversas da natureza, adquiriram suficientemente o há-
bito. das virtudes, para prosseguirem generosa e tenaz-
mente.na prática do bem. |
1.º — Para a perfeição é indispensável a rectiddo da
vontade, que existe quando a alma está disposta a todos
os sacrifícios e a impór-se todos os esforços, que com-
portam “as exigências da moral cristã, no seu sentido
mais lato.
2.0 — Requer ainda uma formação completa da cons-
tituição moral, que assegure à vontade um apoio cons-
tante na prática do bem. Com efeito, enquanto se não
estabelecer equilíbrio estável nas tendências da alma, a
vontade, por mais generosas que sejam: as: suas reso'u-
ções, fica sempre mais ou menos exposta a surprez'
214 Ey DIRECÇÃO DE“ CONSCIENCIA - $
$ à
retraimentos, que nào podem por forma alguma coadu-
nar-se com o estado de perfeição:
Assim, pelo terminar duns exercícios espirituais pode
por algum tempo realizar disposições perfeitas, mas não
pode por isso chamar-se alma perfeita, porque lhe falta a
formação necessária para imprimir consistência e persis- -
tência a tais sentimentos.
Porque ur urge tomar a peito a direcção das al-
mas perfeitas? . |
I.* — Para as precaver contra o perigo da tibieza.
«Qui stat, videat ne cadat». Enquanto vivermos na
provação e «im statu viae» temos sempre a recear dos
inimigos da salvação. Só se garante a perseverança, me-
diante muito esfôrço e vigilância.
2.º — Para as incitar a novos progressos.
Não expira no limiar da vida perfeita, a obrigação
de tender a maior santificação: «qui sanctus est sancti-
ficetur adhuc»: a) —é ainda possível progresso: «ha per-
feições mais perfeitas umas do que outras, diz o autor da
| «pratique progressive de la confession».
Uma alma, hoje perfeita, se continuar com fideli
. dade, será muito mais perfeita daqui a anos. À ,alma
perfeita pelo concurso persistente da graça será mais per-
feita do que outra menos orvalhada. A perfeição con-
siste no equilíbrio, a intensidade e a elevação são a me»
dida-do seu grau. Pode-se, pois, sôbre a terra, crescer
sempre em santidade, mesmo no estado de perfeito; “ora,
crescer em perfeição é crescer em amor, é augmentar a
- união com Deus. A união da graça neste mundo será a
. medida da união da glória no céu.
b) —.O progresso importa à glória de Deus, porque
ima perfeita que crogride, pode prestar mais louvor a
- do que awite :lmas im serfe:
y:
| DIRECÇÃO DAS ALMAS PERFEITAS 215
“A que deve visar o esfôrço do Director?
— A congregar todas as faculdades da alma no con-
tacto mais íntimo com Deus.
&) — A
inteligência ajuizará de tôdas as coisas, se-
gundo a luz altíssima da fé e dados da revelação: verá
Deus em tôdas as criaturas. 4) — A vontade dará às suas
intenções uma orientação divína, perfeita quanto possível;
—. c = Derramar-se-ha em Deus o coração e envolverá a
suprema Bondade com os eflúvios ardentes dum amor:
puro, sempre crescente. |
Como efeituar esta união íntima com Deus?
1.º — Pela oração assídua. Na familiaridade com
Deus, deixa-se a alma impregnar de pensamentos e vis-
tas sobrenaturais e forma para si uma mentalidade di-
vína ; dá curso livre a todos os sentimentos bons e aper-
feiçõa-os com o exercício; particularmente pela oração
afectiva renova incessantemente as 6c MG energias do.
amor divíno.
* 2.0 — Pelo exercício da presença de Deus. — Conser-
seng
vàr-se-ha habitualmente sob o olhàr de. Deus, sentindo,
ao menos virtualmente, a impressão da sua presedgá, de
sorte à influenciar tódas as acções.
«Ambula coram. me et esto perfectus». Diz Rodrigues
a este respeito: «é uma cousa certa, que se trouxerdes
Deus continuamente deante dos olhos, vos tornareis per-
feitos.e que se aplicardes tóda a atenção à sua presenga,
vos podeis convencer que o.sois; porque, assim Como
os planetas recebem do .sol tóda a luz e virtude, assim
tambem os justos que são como astros na Igreja de
Deus, áuferem da presença do Senhor e da elevação con-
tírua do coração para Ele, tôda a luz com que br pet
no interior, a «eus. próprios olhos, e no exterior, aos
P A
216 dl DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA , `
olhos dos homens, e tóda a virtude que os torna üteis ao
bem geral.do mundo inteiro». i
3,9 — Pela pureza de intenção: O mesmo autor `
afirma que é indispensável êste exercício aqueles que co-
meçam a andar no caminho da virtude, porém muito,
mais necessário aos mais avançados, que facilmente se
deixam cativar pela vanglória. (T. I, mur cap. v). É tal
a sua importância, diz ainda, que se chamam «plenas» as
acções praticadas com esta disposição, e.advertem 5. Je-
rónimo e S. Gregório que é ao que se refere a Escritura
quando fala nos que viveram dias plenos ou morreram
plenos de dias, posto que tenham tido talvez vida breve.
cc 49 — Pelo espírito de fé, que radica em nós, se assim'
podemos dizer, uma mentalidade divína. Faz-nos pensar
das cousás, náo segundo o sentir humano ou os dados
da razão, mas segundo as indicações e luzes da fé. Dis-
põe-nos, demais, ao amor da pobreza, do esquécimento
das humilhações, do sacrifício, da perseguição, do mar-
tírio, etc. SW dg i
5.º — Pela conformidade com a vontade divina.
Querer o que Deus quer,-porque Ele o quer, conte
o quer, na medida que o quer; eis o efeito suprèmo do
amor, a última palavra da Sabedoria; o segrédo da gran-
deza verdadeira. E!
Não é mais manifesto o amor, quando só pretende
agradar ?... e não é o melhor meio de agradar, o adoptar
a vontade e desejo da pessóa amada?... e que poderá
haver mais recto e sábio do que a vontade divína, cheia
de conhecimento de causa, sob os ditames do amor e da
Sabedoria?... E não será elevarmo-nos e engrandecer-
mo-nos, o entrarmos plenamente em participação“com a
"or pela comunhão com a sua santíssima von-
tade tar. | |
|
6° — Pela prática do amor. — «Ama et fac quod
he
DIRECÇÃO DAS ALMAS PERTEITAS Z1/
vis», disse Santo Agostinho. Acentos sublimes na des-
crição dos benefícios do amor divíno tem a Imitação de
Cristo: «Magna res est amor, magnum omnino bonum...
Amor vult esse sursum nec ullis infimis rebus retineri...
Nihil dulcius est amord, nihil fortius, nihil altius, nihil
ju-
cundius, nihil plenius, nec melius in coelo et in terra...
Amor volat, currit et laetatur... Valet ad omnia et
multa implet et effectui mancipat, ubi non amans deficit
et pavet... Sicut viva flamma et ardens facula, sursum
erumpit, secureque pertransit». Pode comparar:se o amor
a uma fornalha, que tanto alimenta as chamas (com os
exercícios que precedem), como ao mesmo tempo as
activa: o amor vive da oração, do retolhimento, da
uniào com Deus e conformidade com a sua vontade, —
e, por repercussáo, activa tôdas estas práticas.
7º — Pelo exercício do zélo. O zêlo verdadeiro é
como um transbôrdo do puro amor de Deus. Como sen-
tir abrasar o coração no amor de Deus e não sentir irre-
sistível fórga para o ver amado?... «qui mon zelat, mon.
amat», disse um Santo Padre. Nada mais lógico por
conseguinte do que aplicar às obras de zélo as almas
perfeitas que dirigimos.
- Como exercer a alma na prática da presença
de Deus? | PÉ a
Segundo as indicações da fé e utilidade do penitente.
1.º — Indicação da fé. A fé mostra-nos Deus real-
mente presente ao homem por diversos modos: 4) em
virtude da ubiguidade, está Deus em toda a parte pela
sua essência, pela sua omnipotência e supremo conheci-
ment8; — 5) pelo mistério da graça habita na, alma do
Justo, tão realmente como reside no céu, só com a dife-
rença de não ser visível, de sorte que o coração puro é
verdadeiramente um Santuário da Divindade; — c) Gra-
ças à Incarnação, o Filho de Deus conversou entre os
AWEN
t
218. . DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA:
homens nos diversos mistérios da sua vida terrestre;
hoje, está sentado à mão direita do Padre, em corpo e
àlma, no mais alto dos céus; — d) — O milagre da tran-
cubstanciação, expressemo-nos assim, torna- Jesus Cristo.
real e substancialmenté presente sôbre o Altar, 'no Ta-
vernáculo, na Comunhão e no peito dos fieis.
2.º — Utilidade do penitente. a) Pode acontecer que
o penitente sinta uma tendência persistente, devidamente |
verificada pelo director, para contemplar o mistério da.
presença de Deus, sob certo aspecto, de: preferência a
outro, ou que, graças ao concurso espontâneo da imagi-
mação, encontre facilidade em se representar Deus a seu
lado dum modo sensível ou forma concreta (Vid. Rodr.
6.º Trat., c. 2.); — não há motivo para combater esta
tendência, entendemos nós, a não ser que sobrevenha
o perigo de ilusão. 4) — Se as aptidões do penitente se
não, conformam com tal método exclusivo, convem variar
de vez em quando, afim de evitar a monotonia, dar vida
nova ao exercício e prestar sucessivamente homenagem
aos diversos modos da presença de Deus. :
Mas entendémos que é para a presenga eucarística
de Jesus que mais deve voltar-se a nossa atenção, por-
que, se no Tabernáculo se tornou nosso companheiro de
exílio, nào foi para que O esquecessemos, mas para que
ficassemos com Éle Sacramentado numa união íntima de
vida, onde encontraremos o exemplar da vida perfeita e
graças abundantes para o imitar.
Que intenção terá a alma perfeita em tôdas
as acções?
. Evitará tóda a intenção culpdvel e empenhar.se-hã
em proceder sempre, sob a influência principal ou virtual,
de motivos' elevados de puro amor de Deus, sem excluir
sistematicamente os motivos imperfeitos ou os de ordem
puramente natural. | |
+
DIRECÇÃO DAS ALMAS PERFEITAS 219
Explanação: 1.º — Excluir tóda a intenção viciosa.
"Por mais excelente que seja uma acção, torna-se
culpável logo que intende, subsidiariamente que seja, um
fim gravemente mau ou que se pratica por motivo venial-
mente repreensível. Tambem não é isenta de culpa,
“quando voluntàriamente intervem qualquer intenção me-
nos recta: proceder por vanglória ou méramente pelo
prazer natural que se experimenta.
, 22 — Ihspirar-se nos motivos do puro amor de Deus.
O- motivo mais excelente, mais nobre e mais meri-
+ tório é o puro amor de Deus. «Deus agrada-me eminen-
temente pelas'suas infinitas perfeições; portanto, empe-
nho-me em causar-lhe quanto prazer eu possa, glori-
ficando-o e cumprindo o mais perfeitamente possível
sua vontade... Intenção nobilíssima, que deixa muito
após si quaisquer outras.
3.º — Não excluir os motivos imperfeitos.
Os motivos admissíveis, que encerram o amor per-
feito, são de duas espécies: a) o fim intrínseco da acção,
isto é, a utilidade imediata que lhe destinou a Providên-
cia; ex.: o fim do alimento é a conservação do indiví-
duo; b) o fim extrínseco, como se convencionou chamar-
-]he, ‚para o qual a acção não é necessáriamente ordenada.
Este motivo, por nós ajuntado livremente pode ser
natural ou sobrenatural. — Na primeira categoria ingres-
sam certos sentimentos honestos, muito sugestivos na prá-
tica do bem: a dignidade, a compaixão, etc., na segunda,
.os motivos seguintes que a fé sugere: temor do inferno,
do purgatório, dos castigos que naturalmente acarreta o
pecado, da mancha que êste deixa na alma, o desejo de
alcançar merecimentos, de conquistar mais alto lugar no
céu, de*atraír as bênçãos de Deus.
Embora inferiores em excelência, teem utilidade to-
dos êstes motivos e adoptam-nos eficazmente as almas
perfeitas. Os segundos, conjugados subsidiariamente com
e puro amor de Deus, comunicam às acções novo género
«au.
i
Ape
220 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA '
de merecimentos € proporcionam à vontade estimulante
preciose para a fortificar. Podem tambem os primeiros
estribar as faculdades no exercício da virtude e sobrena-
turalizar-se pela influência do amor de Deus, que es
admite ao seu serviço. |
Regras práticas para formar a intenção.
1º — Colocar as intenções segundo a ordem de digni-
dade: primeiro, o mais puro amor de Deus, depois os
outros motivos sobrenaturais € em último lugar os moti-
vos puramente humanos. Exemplo: dou uma esmola,
primeiro, para glória de Deus, e tambem para expiação.
dos meus pecados, para obter tal graça, tal virtude, para.
alcançar merecimentos, sem pôr de parte o prazer que
naturalmente sinto em aliviar o pobre.
. ' i
2º — Dar a estas intenções, à primeira sobretudo, & -
expressão mais precisa. O puro amor de Deus expri-
me-se muito claro na seguinte fórmula: «para agradar a
Deus!» — e encontra-se implícitamente nestoutras: «se-
guir o exemplo de Jesus...) cumprir a vontade de
Deus. ..; salvar as almas... ».
š A Y v k
3.9 — Renová-las muitas vezes. Quanto mais actual
e intensa for-a intenção, ccm tanto mais valor e vitali-
dade a faz passar ao acto.
Principais actos do puro-amor de Deus.
1.9 — Complacéncia em Deus: experimentar prazer
intenso em o ver glorificado. . .; rejubilar pela felicidade
que na sua inefável sociedade, experimentam entre si as
três divínas Pessõas...; sentir amplíssima satisfação pelas
homenagens, que prestam Os Anjos e os Santos à Au-
gustíssima Trindade..., pelos louvores que Lhe sào tri-
butados na terra.. ; conceber gózo inefável com o pen-
samento: das sublimes perfeições do Verbo Incarnado. . .;
DIRECÇÃO DAS ALMAS PERFEITAS | 221
; "€ as disposições da Providéncia, deliciar-se no dí-
. víno e
| ao Comparta das injúrias, ingratidões, şacrilé-
- gios, com que férem o Coração de Deus tantos ímpios. e
= maus cristãos.
4. o — Arremessar-se para Deus com ardor, para o
abraçar e possuir mais intimamente.
| 5.9 — Felicitá-lo, pelas suas perfeições, glória ex-
“terna.., cantar seus louvores.. , falar dEle com gózo...,
reparar os agravos com que é ultrajado.
6.º — Procurar a companhia e presença de Deus: ou-
vir com prazer as pessÓas que falam dÉle..., amar a
oração, a meditação e orações jaculatórias.
7.º — Aceitar com alegria quanto nos venha da mão
de Deus, até os acontecimentos mais funestos.
8.º — - Empenhar-se com zélo em fazer conhecer, amar
“e servir a Deus:
Observação. — Segundo Bento xiv conhece-se a ca-
ridade heroica pelos seguintes sinais: zêlo da honra e
glória de Deus, desejo de morrer para se unir eterna-
mente com Éle; alegria interior, exteriormente traduzida
por palavras quentes, inflamadas, à Seu respeito; paz na
adversidade; júbilo em sofrer por amor de Deus. Estes
'. actos, são indício de caridade heroica, como demonstra
. ' Lauroea (in 3 d. 22),
f
` Régras que seguirão às almas perfeitas no exer-
“cício do zélo com o próximo. |
Háo-de valutkan na salvação das almas, quer na
224 . DIRECÇÃO DE
CONSCIENCIA
vida de intimidade com Deus, quer na vida de acção, ou:
mixta, consoante a via que lhes traçar a Providência:
Para trabalhar na glória de Deus pelo exercício de
obras de zélo, importa que a alma tenha em considera- .
ção as inclinações diversas (atractivos) que no seu ín-
timo imprime a Providéncia.
Esta inclinação, diz o autor da «Pratique Progres-
sive» é como a resultante do conjunto das disposições e :
aptidões: «a inclinação (atractivo), quasi nunca é um `
dom arbitrário de Deus, se assim podemos dizer, sem ^
prévio fundamento; é antes a expansão plena das nossas .
faculdades morais ao encontrarem:o seu objecto, porque,
tóda a qualidade é uma fôrça e tóda a fôrça tende por si
para o exercício.
A inclinação é o sentimento desta tendência, é a
atracção para o objecto que lhe corresponde...; a atrac-.
ção é acompanhada de gózo e éste dá ao acto a perfeição .
4
v
>
4
e à faculdade a expansão; será no céu a última evolução...
Ld
do nosso ser. Favorecer a inclinação é torná-la mais .
operativa, é pôr ao serviço do bem as fôrças vivas da
nossa natureza. Sem a inclinação, aliàs o atractivo, pode
com certeza conduzir-nos a vontade ao mesmo terminus,
mas com que custo! Os actos preceituados não se sus-
teem senão com o esfôrço continuamente renovado. `
Deus, na sua Sabedoria, concede simultâneamente a qua-
lidade e o atractivo, em concordância mútua: e se nal-
guns Casos parece exigir duma alma coisas inteiramente
contrárias a seu gostos, (sobrenaturais tambem), é que
entranhou numa camada mais funda, a paixão santa do
sacrifício, o que tambem é um atractivo. -—
Ora, existem duas classes de atractivos: o da vida
de oração e o da vida de acção. A acção pode referir-se `
principalmente às obras de misericórdia, tanto corporais, .
como espirituais.
Quer se entregue à vida de oração, quer se consa- :
gre a obras de zélo..., quer distribua o tempo igual-
mente pela oração e acção, isto é pelas obras de zêlo e
DIRECÇÃO DAS ALMAS PERFEITAS 223
de beneficência, pode a alma tornar-se eminentemente
útil à salvação do próximo.
. -= Pela vida de união intima com Deus pode
conquistar no céu influência grande e fazer caír sobre a
terra chuva abundantíssima de graças, que tocarão os
corações e hão-de preparar efeitos surpreendentes de con-
versão e de renovamento espiritual. — Pelas obras de
misericórdia corporais ha-de conciliar simpatias à reli-
gião, elevar até Deus uma messe copiosa de sacrifícios e
por conseguinte rasgar amplo caminho ao. regresso das
almas e-ao sen avanço para o céu... — quanto às obras
de misericórdia espirituais é tão visível e evidente o
"seu escopo, que nos dispensa de algo mais acrescentar.
Não se lancem no exercício das obras de misericór-
.dia corporais, sem que Deus as convide manifestamente,
as almas que possuem atractivo real para a vida de união
com Deus; com eféito, (já Jesus o declarou em Betánia),
sobreleva a tôdas a vida contemplativa, constitui a melhor
parte, que nào deve ser preterida (xon auferetur ab ea).
Por sua parte, sejam generosas e renunciadas as al-
mas, que teem a vocação da vida activa. |
Esta, prenhe de cuidados, fadigas, amarguras e de-
cepções, oferece ocasiões frequentes de exercer e dispen-
der as energias do amor; penetra e sônda os desígnios
. de Deus, procura a sua glória e, pois que: é vocação, é a
verdadeira via para o fim último. -É essencial premu-
nir-se contra os escolhos da vanglória e da distração,
pelo pensamento da vontade divína, pela fidelidade aos
exercícios de piedade e pelo recolhimento interior. —
Outras almas poderão entregar-se simultâneamente à con-
templação e à acção ou sEBuir, ora uma, ora outra. Per-
tence ao Director aplicá-las, consoante as circunstâncias,
à que proporcione mais glória a Deus e santificação à alma.
Matéria do exame particular das almas perfeitas
Fazer um acto de fé na Omnipresenga do Deus, no
' princípio da oração. Saüdar interiormente a Deus na
x T rd : "7 "mw ,
224 E DIRECÇÃO DE CONSCIENCÍA | i
pessÓa do próximo, ao encontrar alguem. Ao. principiar
um trabalho, ao defrontar com a contrariedade, recolher-se
interiormente e entrar em contacto com Deus. — Quando
o relógio bater horas, colocar-se na presença de Deus.
Formar o. propósito de percorrer durante o dia, com o
pensamento muito concentrado, ora as Chagas do Salva-
dor, ora as sete petições do Padre Nosso, já as catorze
estações da Via-Sácra, logo os quinze mistérios do Rosá,
“rio, ou emfim as doze horas do quadro da Guarda de
Honra do S. C. de Jesus, em união para cada hora —
com a SS.” Virgem — com S. José e os Santos — com
os justos da terra — com os Serafius — com os Queru-
bins — com os Tronos — com as Dominações — com as:
Virtudes — com as Potestades — com os Principados —
com os 4rcanjos — com os Anjos. — Estando só, acom-
panhar é$tes transportes da alma para Deus, com um
acto externo, como colocar a mão sôbre o peito, levantar
os olhos para o céu ou para uma imagem do Salvador,
fezer pausadamente o sinal da Cruz, beijar o Crucifíxo,
genuflectir voltado para o Tabernáculo mais próximo etc.
— Percorrer com o espírito duas ou trés vezes por
dia as diferentes expressões do amor de Deus: compla-
céncia, gózo, acção de graças, louvor, desejos, suspiros,
reparação, compaixão, condoléncia. —- Por cada consola-
ção recebida, fazer um acto de agradecimento e por cada
inquietação ou pesar um acto de amorosa resignação. —
Levantar o olhar da alma para Deus, no uso das greatu-
ras. — Purificar a intenção, na forma acima descrita, na
ocasião da oração ou mais vezes ainda, — Em qualquer
circunstância, lisongeira ou funesta, repetir do íntimo do
coração com S. Francisco de Sales: Deus seja bendito!
— Fazer tôdas as acções em. união com Maria SS."* ou
com o Anjo da Guarda. — Mandar peló Anjo da Guarda
ao Tabernáculo uma mensagem de amor a Jesus Cristo.
— Familiarizar-se com as orações jaculatórias. — Fazer
tudo com muito cuidado, sob a impressão da lembrança:
Deus vê-me,.. |! — Fazer a miude a comunhão espiritual.
— De meia em meia hora unir-se espiritualmente às
DIRECÇÃO DAS CRIANÇAS 225
missas que na ocasião se celebram sôbre o glóbo. — Ofe-
recer a Deus, cada dia, actos de reparação pelos pecados
que quotidianamente se cometem contra os mandamen-
tos; etc.
|| - DIFERENTES IDADES
1— DIRECÇÃO DAS CRIANÇAS
-A Direcção das crianças é da mais alta importán-
“cia e, bem compreendida, torna-se relativamente fácil.
a) — A quadra infantil, tem sôbre a vida inteira in-
fluéncia grande e quàsi sempre decisiva. Cumpre, por-
tanto, reprimir dêsde tenra idade, as más inclinações do
coração e procurar desenvolver as virtudes essenciais;
prescrutar bem as
disposições interiores e formar com
tacto e habilidade a consciência. Esboçada no lar, deve
ser continuada depois a tarefa, pelo concurso dos pais e
mestres, mas ficará ainda incompleta e insuficiente, se lhe
faltar o auxílio regular duma boa direcção, que estenda
a sua acção até ao mais recôndito da alma e do coração.
b)— É evidente que não pode privar-se a criança do
auxílio tão precioso da direcção. — A sua alma joven,
feita de candura e confiança, petrifica mais facilmente do
que em qualquer outra idade. Lance mãos à obra a
tempo e verá o director que com zêlo, habilidade e
amor, abrirá o seu coração às disposições de sinceridade,
generosidade e docilidade, que a tornam susceptivel de
direcção e a preparam para progredir. ..; temos ainda
que a alma.simples e inocente se inclina de bom grado
para a oração, e o céu violentado, fará chover saüdável
orvalho de graças e bênçãos. Quem não vê que tem en-
tão o director dos pequeninos entre mãos os elementos
mais comprobativos de éxito, o esfôrço e a oração? Não
o esqueça o padre e; alerta désde os primeiros lampejos
da inteligência infantil, redobre de zélo, à medida que
mais de perto antevê a hora da primeira comunhão.
13
22207 1; DIRECÇÃO DE CÓNSCIENCIA . e
oq) — É emprésa que deve prosseguir com: inteligóncia
e tacto. É indispensável proporcionar a direcção à 'capa-
“cidade intelectual e moral da Criança, sem nunca esquê-
cer que à Sua leviandade natural se não acomoda bem a
constrangimentos excessivos, nem a vigilância por de-
mais rigorosa. Comece por descortinar o defeito domi-
nante do pequenino, apresente-lho à lembrança muitas
vezes, interrogando-o brevemente quanto aos resultados
efectivados, dirija-lhe ràpida e suave censura e estimule-o
a prosseguir com mais ardor. Nada de discursos ou
exortações extensas, nem de arrazoados difíceis. A pè-
. quenina inteligência perder-se-ia com tais considerações,
|
sobrevindo-lhe incontinente o enfado e a distracção, e-
“tornando-se éste labor de nenhum proveito.
“Terão mais efeito palavras simples, adaptadas, à sua
mentalidade, proferidas com doce firmeza: fixam estas
“a atenção, tocam o coração e impelem com eficácia a |
vontade. e '
= A criança é como a cêfa ; assim como um nada Ihe
aviva a impressão do mal, assim tambem uma leve pres-
são para o bem consegue enveredá-la por disposições de
virtude; e a razão é que sendo ela facilmente impressio-
nável, disputam ao mesmo'tempo o império da sua alma
as variadas influências a que pode estar exposta..
Disposições essenciais que importa cultivar no
coração da criança. | |
“1.º — O Pudor. É éste a salvaguarda da inocéncia
e o encanto da idade juvenil. À criança pura entrega-se
“como por instínto às delícias da piedade e deixa-se cati-
var pela beleza da virtude, que lhe façam entrever. Fa-
lai-lhe. de Jesus, do seu amor, das suas dôres, das suas
virtudes, e vereis na flama scintilante do seu olhar, que
ela compreende e se delícia. ..; mas, passe só a sombra
do vício rele sua alma « essa candura apaga-se e fenece,
franqueando-.« breven ste a corta ^ tedos ctos.
^. - -Logo lhe sopra ao ouvido uu .. | 2 a cia
C yt - "NS. Ia ACE
"h Nos ^ VN X UAT uo
"E |
DIRECÇÃO DAS CRIANÇAS 227
| r
mar-lhe que se esconda e ei-la sem delongas hipócrita
-disfarçada e mentirosa. |
Depois, mais tarde vencida pela mais despótica das
paixões, como poderá combater com vantagem os «outros
defeitos | | |
| Ninguem se admire, pois, de que, após os destroços
do vício ímpuro, sossobrem na criança as felizes disposi-
ções que a tornavam amável; dora em diante, ela será
-impertinente e triste, desobediente e inconstante; a inte-
., ligéncia torna-se-lhe pesada e fecha-se o coração a todo
o .
«sentimento terno e delicado. É por isso que vemos tan-
tas vezes meninos ou meninas, que eram o prazer e o
encanto dos pais, mudarem rapidamente e converterem
.em desilusão as melhores esperanças que neles deposita-
vam. (Quem causou tão súbita mudança? o mais das ve-
zes, foi simplesmente o vício impúro a causa da catás-
trofe; e que infelicidade, se tal desgraça se não remedeia!
z Os que teem experiência das almas sabem quanto é
difícil mais tarde, senão impossível, corrigir os hábitos
impúros contraídos na infância; mais um motivo para
, empenharem todo o seu zêlo em prevenir e obstar ao mal.
2.º — A sinceridade. É na educação o mais pre-
cioso auxiliar e na vida um penhor constante de éxito.
Quando a criança tem o amor da verdade, não descon-
- certa a atenção, nem o trabalho dos educadores; é facil
seguí-la nas-evoluções da sua vida moral, corrigindo os
desmandos da inexperiência e reprimindo os arrancos
“das tendências más. A sinceridade é o caminho para a
rectidão e sabemos quanto concilía confiança um coração
cheio de nobre franqueza; ao passo que a mentira con-
duz à hipocrisia, ao sacrilégio, à calúnia, ao furto, e des-
concerta completamente os mais hábeis planos de for-
mação.
3.º — A probidade. A injustiça é uma tara gus se
contra; mui fácilmente na infância e é quisi s |
a o incentivo. Seduzida pelo apetite de guio
228 DIRECÇÃO “DE CONSCIENCIA:
acostuma-se a crianga primeiro a pequenos Turtos 'e bem
depressa se familiariza com a injustiga.. Que acontecerá
“mais tarde? O desejo dos bens dêste mundo tornar-se-ha
cubiça insaciável, que^nào contida pela virtude da probi-
dade, perdida na infância, irá sem -escrúápulo até aos
maiores excessos. Dora em diante, quantos sacrilégios e
que risco' grave de condenação !... É certo que são tão
poucos os que se acusam de prejudicar ou de haver o.
alheio e menos ainda os que se dão ao trabalho de o
reparar! E portanto, desde a infância que urge prevenir
o mal, porque contraído nessa idade o hábito da injus-
tica, torna-se para o futuro quàsi uma segunda natureza.
4.º — A submissáo.. A obediência é uma virtude
para tôdas as idades; Deus a constituiu base de tôda a
sociedade, religiosa particularmente; mas é na infância
sobretudo que ela é indispensável: a inexperiência e a
“fraqueza fazem a criança estar em contínua dependência ;
como não pode guiar-se por si, reconhece espontânea-
mente a autoridade de outrem e submete-se, até à obe-
diência cega; e com efeito, o segrêdo da victoria da
tenra idade sôbre os seus inimigos está nestas palavras:
«Vis obediens loquetur victórias». :
Como formar a criança na virtude do pudor.
É tarefa delicadíssima, que demanda ífnuito tacto e
zelo, ao mesmo tempo. |
| Instruir imprudentemente a criança — ou deixá-la na
ignorância que beneficia o vício, são dois excessos igual-
‘mente perniciosos. Um silêncio sistemático, em vez de.
“afugentar o perigo, antes estende mais longe a influência
do mal. Com o pretexto de não ensinarem à criança
“coisas que não sabe e de não sugerir ideias lúbricas, .
abstem-se alguns confessores de nem sequer ao de leve
tocarém no pecado sensual; e entretanto brotam e alas-
tram talvez as más inclinações, sem receio de serem res
. Chaçadas...; e quando mais tarde se suspeitar da gravi-
DIRECÇÃO DAS CRIANÇAS 220
dade do mal e das proporções que atingiu, já o hábito
estará por tal modo radicado e escravizada a tendência
má, que se tornará quasi impossível sacudir jugo tão im-
portuno. Eis como uma falsa concepção do pudor pode
tornar cúmplice com o vício. — Por outra parte, no es-
tado actual da sociedade, a iniciação precoce das crianças
em todos os segrêdos da vida, parece-nos tambem um
sistéma exagerado, nocivo muito mais do que benéfico.
oe a ignorância crassa nào resguarda a inocência, antes a
,póe por vezes em risco, o conhecimento circunstanciado
e imprudente, pode provocar inutilmente perigos não
menos graves. Antes da puberdade, por exemplo, que
interêsse e utilidade podem ter as crianças em conhecer
as leis sexuais e procriativas ?
|. — Portanto, sem ensinar tudo, expliquem-se bem as
leis fundamentais do pudor: faça-se em termos tão vela-
dos que fiquem na inocência os ignorantes e tão inteligí-
veis que firam e despertem a consciência dos já culpa-
dos. - Cumpre esta missão principalmente aos mestres,
aos pais e aos catequistas, mas na falta dêstes, faça-o dis-
cretamente o director. Para que fique no justo termo
que preconizamos, usará de tôdas as precauções. Se pos-
sui o dom de interrogar, conhecerá bem depressa as ne-
cessidades do seu humilde dirigido e subministrará os
ensinamentos acomodados à sua mentalidade, ao género
de educação e ao ambiente. Eis algumas indicações :
quando o seu olhar vigilante e perspicaz comece de
observar que o pequenino vai perdendo daquela simplici-
“dade e candura, que são o apanágio da inocência, ha
motivo para suspeitar que não está inteiramente ilêso o
seu coração. É então que urgem investigações pru-
dentes, que alcancem a origem do mal. Pergunte deli-.
cadamente: com quem acompanha no jôgo..., com
que pessoas fica durante o sôno..., se ha pessõas gran-
des que o tratam com mais carinho e familiaridade.. .,
etc. É isto importantíssimo, porque ha infelizmente qua-
tro grandes causas de perversão para a infância: nas fa-
."mílias ricas, as amas pouco escrupulosas, nas
remedia-
d AN AA N AE
ig de Y MNA Di é M
223007 73. DIRECÇÃO DE: CÓNSCIENCIA AX :
das, os criados e jornaleiros, nas pobres, a exiguidade do
local e a falta de camas, e 70 campo, o guardar os reba-
nhos e a vadiagem. Deve portanto, variar de forma o
questionário, consoante a classe a que pertencer a criança.
Se nada descobre, veja se ela pratica a sós coisas que
a fariam corar diante dos pais e mestres, ou só com eles
o sabêrem. As respostas deixarão muitas vezes perplexo
o confessor, equívocas umas, imprecisas outras, de sorte
que será temeridade levar por deante o interrogatório ;
“neste caso, é melhor insistir ainda sôbre a necessidade da
modéstia, do recato e do pudor, com os seguintes pensa-
mentos, por exemplo: «Deus N. Senhor ama muitíssimo
os-meninos modestos, que nunca saem do quarto sem
estarem convenientemente vestidos, que evitam olhar para
pessoas que estão descompostas, que resguardam os olhos
quando mudam de roupa e que se absteem de jogar com
crianças de diferente sexo. E aos que não procederem
“assim ha-de castigar com o purgatório ou com o inferno,
porque aquelas cousas são pecado, que Éle detesta sobre-
maneira e fazem envergonhar o Anjo da Guarda».
Outras vezes será fácil convencer-se da culpabilidade
da criança. É preciso então que a declaração seja ínte-
gra. E notemos que só deve acusar as faltas de que
está realmente culpada, isto é, que cometeu com a adver-
tência moral precisa. É inútil, portanto, e inoportuno
perguntar tôdas as circunstâncias que mudam a espécie,
cuja malícia não atinge e que pelo questionário viria a
- descortinar. .A criança não distingue a diferença especí-
fica entre actos perfeitos e imperfeitos de luxúria. | ^
Bastará, pois, que diga se cometeu acções impúras,
.a Sós ou acompanhada, com pessoas de família ou pes-
sôas estranhas, com companheiros ou companheiras, se
por si mesma se resolveu a praticá-las ou convidada; se
pensou volüntàriamente nessas coisas e falou delas, se `
teve olhares indiscretos, etc. > . |
“Advertimos ainda que não se deve tomar sempre
“à letra as declarações, pois acusam muitas vezes O que
“não cometeram: compreenderam mal as explicações do
*
DIRECÇÃO DAS CRIANÇAS 231
catequista ou fazem ideia errada do que lhes pergunta
o confessor. Infelizmente mais tarde uma curiosidade
lasciva as impele a provocar por uma culpabilidade simu-
lada, um interrogatório mínucioso, em matéria tão melin-
drosa; chegam até, sem os terem, a acusar pecados de
cumplicidade, só para se vingarem duma pessoa a quem
teem aversão. |
Esquadrinhada a consciência, urge remediar. Exci-
tará o pequenino à contrição sem o aterrorizar tanto que
- paralize de futuro a expansão e a integridade. Não deve
portanto usar em geral de severidade: são antes para os
prégadores e conferentes as considerações aterradoras.
Prefira-se na confissão infantil apelar para sentimentos de
amor de Deus, de piedade, de estima pela virtude e de
respeito pelo Anjo da Guarda. Depois passa-se ao pro-
pósito: Induzir a criança a tomar uma resolução precisa
e fácil de cumprir, tendo em conta que o esfórgo.a exi-
gir deve ser calculado na proporgào da idade e acen-
tuar-se na proximidade da primeira comunhão. Meio
excelente é prometer.a criança recitar todos os dias uma
oração para conseguir a virtude da pureza.
. Seria de lastimar que no entender da criança não
fôsse a confissão outra cousa senão uma fórmula de acu-
sação, seguida de uma exortação mais ou menos vaga e
banal.e depois, da absolvição, benigna e cómoda. Tor-
nar-se-ia assim uma formalidade monótona, vexatória e
fastidiosa, que o penitente alijaria dentro em ponco tempo
“ou converteria em perniciosa rotina; e mais tarde que
dificuldade para o confessor, ao empenhar-se com 'zélo
em fazer progredir ! | |
Como formá-la na piedade.
1.º — Deve habituar-se a criança a cuidar bem o lado
exterior da piedade: não falar no lugar sagrado, haver-se
respeitosamente diante do SS.”º Sacramento e nos ofí-
cios divínos, evitar na igreja movimentos de curiosidade,
fazer bem a genuflexão, seguir as ceremónias por livro
(242, x DIRECÇÃO DE CONSCÍENCIA
adaptado à sua mentalidade, pronunciar distíntamente as
fórmulas de orações, fazer bem o sinal da Cruz, etc.
2.0 — Auxiliar a atenção mediante certas indústrias,
como apontar-lhe uma intenção especial para cada exer-
cício, propôr-lhe cada semana ou cada mez um mistério
“para considerar particularmente, etc.
1 30 — Activar o amor de Deus mediante o exercício
“da-Via-Sácra e a frequência da Comunhão.
~ Observação importante. Deve considerar-se a Co-
munhão frequente como um poderosíssimo meio para
gravar no coração da criança o amor da piedade e da
virtude. oa
Sejam quais forem os defeitos, a leviandade e a irre-
flexão, não hesite o confessor em persuadir a comunhão
assídua, com tanto que tenha a certeza moral de não haver
. perigo de sacrilégio. É esta condição restrictiva da má-
xima importância, porque longe de ser um preservativo
para a inocência e um “sustentáculo pará a virtude, é, ao
contrário, a comunhão indígna, um terrível venêno para
a vida da alma, a' ruína dos sentimentos nobres e gene-
rosos, que alimentam a piedade e a vivifícam, á extinção
precoce das luzes da consciência e a destruição das prin-
cipais energias e recursos para a boa formação. Que
possamos conceber apreensões àcérca da profanação dos
Sacramentos por parte das crianças, é um facto que a
experiência atesta e comprova o estudo psicológico da
tenra idade. | >
-Nào é raro o caso, infelizmente! muitos hábitos ví-
ciosos se contraem antes da idade da discreção. Onde te-
mos a garantia infalível de que a primeira comunhão os
„arrancará miraculosamente?... E conservada até ali a
. inocência, tornará a comunhão impecável a criança, a
- ponto de não contaminar para o futuro a sua joven alma
"a torpeza do vício?,.. O mundo actual está repleto de
~ perigos tão graves e frequentes e a criança é por sua na-
- tureza tão inexperiente, impressionável e fraca! Se após
as
DIRECÇÃO DOS JOVENS 233
a quéda, ela tem a consciência tão vigilante, que sínta
lancinantemente o aguilhão do remorso, abster-se-ha de
comungar sem lavar e purificar o coração; mas, quantas
crianças insensíveis em face da torpeza, as quais não sor-
veram com o leite materno o horror ao pecado, não tre-
pidarão em presença de comunhões mal feitas! Se por-
tanto, inconsideradamente as habituarmos a sentar-se à`
mésa Santa todos os dias, será a rotina, que tanto invade
a oração, que as encaminhará para a comunhão, mesmo
no dia imediato ao em que cometeram uma torpeza, sem
sentirem a necessidade de se lavarem e sem sequer nisso
haverem pensado. O que mais se agrava ainda, quando
'a comunhão quotidiana é prática do maior número, cos-
tume de família e quando a criança sabe que será re-
preendida, se deixar de comparecer à mêsa Eucarística.
Veja em tais conjunturas o Confessor. de quanta cir-
cunspecção não há mister. Sem dúvida, devemos sêr
partidários da comunhão trequente, mas sem comprome-
ter a sua eficácia maravilhosa, nem a lançar em descré-
“dito, por falta, na aplicação dos princípios, da virtude da
prudência. |
Não quer o zélo um ardor inconsiderado, antes para
ser autêntico, exige a chancela da discreção, como o su-:
põe o decreto «Sacra Tridentina Synodus». — Para levar
à comunhão quotidia proponha para cada dia da semana
uma intenção nova. |
II — DIRECÇÃO DOS JOVENS.
..' Porque é particularmente importante a direc-
ção da juventude ? |
í
I." — A mocidade é o tempo do entusiasmo. Os ge-
nerosos ardores que nesta idade refervem no fundo da
alma são energia fecunda que não podemos deixar des-
perdiçar, quanto mais resvalar para o mal... Canalizá- -
-los antes para bem da virtude, será um prodígio. de
sábia direcção. |
DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
> 234. i
e
(
P 2; SLA inexperiência fomenta na adolescência inú-
“meros perigos. Precisa, portanto, de socorro a joven in-
teligência para evitar as ciladas, 'que sob encantadôra e
! falaz áparéncia, encontra no caminho.
3.º-— Diz a Escritura: eedolbscens juxta viam suam,
etiam. cum senuerit, non recédet ab ea. A primavera da
vida tem sóbre a vida inteira repercussáo profunda e es-
tende até à extréma senectude a influéncia da sua orien-
“tação. Veja-se, por conseguinte, quanto é necessário esti-
mular para o bem o
ardor e a generosidade dessa quadra
da. vida.
4.º — Reservou para si o Senhor em todo o tempo as
primícias de tódas as cousas. Mais um motivo para con-
sagrar ao Criador as primícias das criaturas mais perfei-
tas, imagens suas e semelhanças.
Disposições que importa inculcar à mocidade
— A nobilissima paixão da pureza: é o que basta
e a- “preservar dos naufrágios fatais que a ameaçam.
Despertam impetuosas na puberdade a$ paixões; os pri-
meiros jactos das suas chamas imundas arremessam-se
» terríveis e inundam todo o ser com emanações fumégan-
tes, asfixiativas. Se nào se encontra no seu posto a sen-
tinela, para pôr embargo ao fógo, que alastra, o incéndio
lavrará de modo inextinguível, e serão tristes, lágubres, a
derrocada e os escombros, ..; e sôbre os destroços das
faculdades devastadas, virão batet em vão os restos da fé
e da religião abaladas. -
— Cantraria contrariis curantur. Aos ferozes im-
pulsos da' paixão impára oponha-se o amor nobilíssimo
da virtude da pureza: é entusiasta a alma na mocidade
e abre-se de-bom grado a sentimentos generosos... Ao
director, portanto, compete haver o dom e arte de apre-
“sentar as coisas..., de fazer entrever lá no alto, por cima
I .
+
i DIRECÇÃO DOS JOVENS 235
das estrêlas, uma virtude que scintila... uma virtude
que os Anjos conservam ciosamente como um privilégio
da sua natureza, .., uma virtude que o cordeiro imacu- .
lado cobre de honras e felicidade. .., que imprime aos
.hinos do paraíso mais jubilosa harmonia e ao triunfal.
cortejo do Rei da glória mais deslumbrante esplendor...,
uma virtude que seduz todos os sêres, o universo inteiro.
, E uma arte levantar os corações a regiões tão subli-
mies, arremessar as almas juvenís a cimos tão vertiginosos
e, apelando para a sua audácia, fazer vibrar no fundo dos
seus corações um retumbante «sursum»... Avante!
. conquistémos êsse tesouro, levémos até às nuvens o nosso
esfôrço e tragamos de lá, como troféus, as vestes candi-
das e fulgurantes da virtude angélica! Jovens houve que,
fascinados pela beleza desta virtude, viveram no mundo
como Anjos, apresentando aos olhares do céu e da terra
o espectáculo sublime, de que -o Espírito Santo faz o
elogio inflamado: «quam pulchra est casta generatio cum
claritate».
2.º — 0 valor. Exerce-se e retempera-se nas lutas
heroicas da virtude da pureza, mas necessita de mais vasto
campo de acção e mais tangível; necessário não é pro-
curá-lo muito long&... a Igreja, tão atribulada nos tem-
pos que correm, demanda soldados, atletas generosos para
"defender a sua doutrina, vingar seus direitos e
dilatar a
sua influência. Vasta arêna, sem dúvida, para a juventude
expandir os seus ardores e exercer o seu valor!... Pro-
curem Os adolescentes lugar nestas obras admiráveis, que
fizeram surgir com uma fecundidade verdadeiramente má-
gica as modernas necessidades... Conseguirá, portanto,
o Director dos seus jovens penitentes, que se enfileirem,
segundo o talento, as aptidões, a saúde, a influência social
no vasto trabalho, que empreende em todos os dominios
que confinam com a Religião, a acção católica... E para
que seja durável o seu concurso, infunda-lhes na alma,
“não: só o ardor e zêlo legítimo, mas tambem o desinte-*
rêsse que se sacrifica e desprende. Não compreenderia o .
23600000 DIRECÇÃO 'DE CONSCIENCIA
seu dever de educador e de apóstolo da Igreja, o padre
que deixasse estiolar na inacção ou em acção egoísta, os
germens de actividade .e dedicação, que geralmente dis-
tinguem a natureza juvenil. |
3.º — O amor de Jesus Cristo e da Igreja. :
. E' éste o fóco que verdadeiramente alimenta o valer
cristão. Sôbre o amor de Jesus, escreveu páginas incom-
paráveis o autor da Imitação de Cristo, que importa leiam
e releiam os adolescentes. Jesus ama a juventude: intui-
tus delexit eum; ámem-no por sua' vez os jovens :e à sua
Igreja, com as chamas ardentes do mais devotado amor.
Este será tanto mais espontâneo, quanto mais puro fôr o
coração, donde transborde. E se. aprenderem a tomar
“gôsto pelo Evangelho, a ;saboreá-lo nos seus segrêdos
admiráveis! Tem páginas que cativam, levantam, dila-
tam e absorvem. CU TR O |
"Eis como, servir a Jesus Cristo e à Igreja se tornará
a sua mais veemente ambição, consumir nesta empreza
toda a energia e ardor, o mais suave e reconfortante
prazer! | TM
- MI — DIRECÇÃO DAS DONZELAS. |
.. Mais sentimental do que judiciosa, vassalo do cora-
cào mais do que da inteligéncia, tributária antes de im- .
pressões vivas do que de convicções estáveis, não está a |
“donzela bem premunida para dirigir por si mesma o seu
curso. . : |
- Se não entrega a outrem o léme da sua vida, espe-
ram-na as decepções, ameaçam-na os escolhos e tristes nau-
frágios hão-de surpreendê-la. “Mas, consciente da sua po-
breza e necessidade, ela inclina-se instintivamente para a
direcção, e é ir de encontro aos seus desejos e aspirações
. proporcionar-lhe um guia... Ora, o padre oferece á sua
| confiança os mais auténticos predicados. Homem de Deus,
investido da autoridade mais santa e dum prestígio dou-
“rinal, que cada dia mais demonstra, aureolado pelo res-
=- plendor da virtude, não pode deixar de impór-se à atenção
DIRECÇÃO DAS -DONZELAS | 237
da fragilidade e da inexperiência, que procura um susten-
táculo e um conselheiro. Por isso, a donzela, longe de re-
cusar o jugo da direcção, solicita-o e submete-se com en-
cantadora docilidade. IZ qual será o sacerdote digno e
zeloso, que recusará tomar as rédeas duma tal direcção?
Sem dúvida, é delicada a tarefa, laboriosa, e quantas vezes
ingrata. Mas, por árdua que seja, quem ousará alijá-la,
sabendo que são inapreciáveis os (frutos que podem re-
sultar? Não é verdade que o futuro da sociedade está
antes de tudo nas mãos da juventude feminina? não é a
“donzela de hoje que ámanhã transvasará no coração das
gerações novas, juntamente com o sangue das suas veias,
os hábitos da sua vida e os princípios da sua alma?...
quão grande, pois, e profunda a repercussão que produ-
zirá a bóa formação da mulher!... Dirigir, portanto, rec-
tamente a donzela nos anos da sua orientação definitiva,
eis para o observador atento, uma obra santa, eminente-
mente fecunda, digna de todo o esfórcgo e do zélo mais
ardente. dah
Para que esta direcção seja prudente e fructuosa deve
ser: paternal para triunfar da timidez e facilitar as expan-
` sões, necessárias... digna e austéra, para obstar ás tão
perniciosas afeições humanas.
. 1.0 — À donzela, naturalmente tímida, fica quási sem-
pre muda aos pés do confessor, que à não põe á vontade,
nem facilita as suas comunicações. Imobiliza-a por si mes-
mo o prestígio do sacerdócio, nos meandros dum certo
"pavor, e paraliza muitas vezes os transportes da sua
con-
fiança. Para que ela se decida a falar abertamente, é
indispensável que o padre, fazendo-se. todo para todos, es-
queça a sua alta superioridade e demonstre uma paciência,
bondade e dedicação sem limites. — . A d.
Importa mesmo que saiba ir de encontro às confi-
déncias e provocá-las caridosamente, com delicadeza e arte.
E’ aqui que se torna necessário atender ás observações
que fizemos no Cap. 1, a respeito da sinceridade.
Em matéria de pureza, deve realmente fazer-se vio-
+
v
238 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
léncià a donzela, para pôr a descoberto as suas dificulda-
des e fraquezas. E E |
Um sentimento secreto lhe clama que o pudor é o
seu mais precioso ornamento e: instintivamente tenta dis-
farçar quanto possa atingir a sua integridade e a sua honra.
Os terrores mesmo que a fé apresenta para inspirar hor-
ror ao sacrilégio, nem sempre conseguem torná-la per-
feitamente sincera; ;% 3. 5... |
| Procede mais péla impressão do momento e pela im-
pulsão dos sentimentos mais intensos que a ocupam na
ocasião ; ora, como os. males presentes impressionam mais
vivamente do que ós da eternidade, deixa-se influenciar
.mais depressa pela apreerisão de que vai ser repreendida
e pela vergonha qué lhe inspira o declarar-se, do que pelo
temor dos castigos eternos; descer na estima do confes-
sor, que a considera, assusta-a muito mais do que provo-
car as. iras longínquas dum Deus invisível. Nem sequer
as almas que ha muito tempo vivem na prática da piedade,
“escapam sempre a lei tão complexa do coração femi-
nino. Importa, contudo arrancá-las a esta fatal tirania dum
amor,próprio doentio e tímido; o que conseguirá mui
frequentemente o confessor, quando, tendo-lhes dado tó-
“das as provas duma bondade calma, que nada altera e
„que se.compadece mui depressa em presença das misé-
rias humanas, as sacode fortemente pela meditagdo, bem
sentida, dos novíssimos, ou.aproveita um acontecimento pro-
videncial que as tocou profundamente : - se neste momento,
recorrendo às intuições do amor paternal, ou antes, ma-
ternal, êle consegue tocar a consciência no ponto preciso
e poupar à penitente abalada uma parte da vergonha em
se declarar, fazendo, por assim dizer, todo o esfôrço êle
“Só, pela habilidade em sondar delicadamente os cantos e
recantos do coração, o triunfo será.certo...: terá dora-
vante nà mão a chave dessa consciência, tão dificultosa
de'auscultar, e, na próxim: confissão, forte pelo resulta-
prosseguirá com
S inves*zacóes, 256 À expansão olena.
ue, é du adian É saco c'e ala,
Sa
cM ada e ein
^ondade e dc
DIRECÇÃO DAS DONZELAS ^N. 239
-
nestas condições, outorgue à primeira vez um inventário
completo do misterioso estado da sua consciência... ;
seria imprudente lisongear-se de conhecer a fundo quanto
“se passa num coração feminino, porque é muito astuciosa
"
-a filha de Eva, e sem egual na arte de fingir e enganar...
Não se precipite por tanto em formar sôbre ela juizo de-
finitivo-e em lhe conceder plena e cândida confiariça, que
viria a falsear a direcção e a terminar em amargas de-.
-— cepções. Esteja antes na espectativa de descobertas no-
“vas “e surpreendentes. “x 8 em presença de revelações
inesperadas, seja tão senhor de si, que: não transpire da
sua parte nem espanto, nem atitude impaciente; seria
“sufocar novas declarações e reforçar o acanhamento...;
antes, sempre igual, paciente, bondoso e. seréno, felicite a
“alma pela sua sinceridade e franqueza.
- - Se tiver de mudar de'atitude, será sómente para se
- tornar mais terno e paternal, à medida "que se palace
e
" transpirem. as ir
— Bondade digna. e sobrenatural. |
; certo que uma afeição santa dilata a confianga e
facilita as comunicações, mas a afeição santa há-de con-
servàr muito alto os
corações e nunca os desviar de Deus
mergulha as raízes na estima e amor recíprocos, que longe
. de fomentar. familiaridade e sentimentos meigos e ternos,
antes os dignifica e sobrenaturaliza. Como pensavam bem'
os Santos, pondo-nos de-sobreavizo contra os testemunhos
de afeição demasiado humana, a que tanto se inclina o
coração feminino! Por mais puras que sejam as intenções
_ teme sempre a prudência os laços, de malhas imperceptiveis
que entretece a afeição natural. Seja, sim, o confessor
inesgotável em bondade, mas sempre nobre e assás austéro;
tenha horror a carícias e meiguices e, fóra do. confessio-
. nário, conserve sábia distância com as penitentes, porque,
im do perigo, a que se expõe pessoalmente, raostrz:
Co-se muito humano, arrisca o prestígio sobrenatural, que
ex^-ce sobre os A tão santa sugestão e rouba à C
recção o vigor sotente que electriza as almas e as form =
"eS T
240 | DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA ^ ^ |.
; Md N | a A : E. j ) é |
em $ólidas virtudes; tanto mais: que seria um crime, uma
traição, desorientar as que tem' por ofício conduzir para
“Deus. |
A p tende principalmente a direcção da
donzela | a Po c o 58
A resguardar-lhe o coração, de sorte a iltbá-lo de todo
o contacto de impureza, a torná-lo uma fonte de ardente
piedade e um precioso instrumento de bem, na vida.. `
1.º — Dirigir os primeiros cesfórços de formação no
coração da donzela, nada tão necessário e difícil, porque
a mulher vale o que valer o seu coração. Ela não vê, ge-
ralmente, não julga, nào decide, nào vive, senão pelo co-
ração. Está toda onde tiver o coração.
2.0 — À. necessidade de amar, que a caracteriza, traz
consigo, ém tôda a idade, mas especialmente na adoles-
céncia, perigos lancinantes... O coração da donzela é
como um vulcão em actividade, onde frémem impacien-
tes, vagas de ternura e de afectos. i
* Os eflúvios de afeição que traüsbordam de dentro
“da sua alma semeia-os ela, ardentes como fógo, pelos ca- '
, minhos, que calca, perfumando-os' com as graças delicadas
de que lhe deu o segrêdo a natureza... Por onde passa
desprende uma atmosfera inebriante, que convida ao amor.
Nisso vemos uma disposição providencial, que faci-
lita a eclosão das famílias..., mas quantos perigos de
profanação até soar a hora de fundar um novo lar e de.
fixar o seu destino | porque é tal a lei da natureza decaída
que não podem permanecer virginais muito tempo as
afeições entre diferente sexo... ; elas lefantam no ín-
timo do'nosso ser uma efervescência lasciva tão forte e
importuna que não raro geram o delírio e, na ocasião,
precipitam no crime... É raro, de facto, recusar obsti-
nadamente a donzela o que com instância lhe pede uma
afeição apaixonada, que no seu coração, encontrou éco.
^
DIRECÇÃO DAS DONZELAS Ue DAT.
“E, prêso éste, é dificil não se tornar um joguete lúbrico
nas
mãos daquele que o conquistou. A piedade, a virtude e o
pudor protestam a princípio com energia, mas fala mais
alto a voz do coração e abaía aquelas reivindicações, que
se tornam cada vez mais tímidas... Outrora, revoltar-se-ia
a sua dignidade a tal ousadía e estremeceria de horror à
menor aparência do mall... mat hoje, com a sua va-
rinha mágica, o amor fez tudo belo e radiante, os excessos
mais graves tornaram-se como pequenas negligências, não
só desculpáveis, mas até encantadoras...; quando pois
se asfixia assim a virtude, sob as pressões pérfidas do
amor, quanto é difícil Fesuscitáila | as lembranças lúbri-
cas como que se estamparam na região dos' sentidos e a
cada instante agitam os germens da volúpia. ..; repre-
senta-os a imaginação com, sófrega e grosseira embria-
“guês e descarrega sôbre a virtude novos golpes... Eis
então perdido, apagado para a donzela o seu mais belo
adôrno, o seu maior tesouro e perdidos os encantos a que
nem sequer resistia o Espírito Santo: «gratia supér gra-
tiam mulier pudorata...». Ainda que não degenere em
tais excessos a afeição, são contudo tristes, lamentaveis
os estragos nã alma; se em toda a mocidade se ocupa a
donzela em mendigar de criatura em criatura, cria em
volta de si uma atmosfera de leviandade, de vaidade, de
versatilidade, de tibieza, que dissipam todos os belos re-
cursos da idade juvenil e preparam pela loucura a inau-
guração dos encargos gravissimos da maternidade.
3.0 — Não obstante todos os perigos a que expõe a
“afeição feminina, abstenha-se o director de estiolar na
donzela a faculdade e necessidade de amar... ; atrofiar-
he o coração seria insulto à obra do Criador. Em vez
de desarraigar e.arrancar os tesouros de ternuras, com
que a dotou a Providência, zmporta conduzi-las a uma ex-
pansáo completa. Quanto melhor souber amar, tanto mais
se aproxima da perfeição do seu sexo e Se torna compe-
tente para realizar com fruto a sua missão. Ora, nada ha
tão próprio para atiçar e renovar estas chamas, como a
Y . C 45 | AR. . ' > r-
5. Ux I is A
242 '* DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
«aproximação da fonte suprema dé todo o amor. - Empe-
nhe sé pois em lhe inspirar uma devoção muito terna ao
S. Coração de Jesus e á SS. Eucaristia.
Ali encontrará o objecto-concreto e palpável que re-
clamam tão imperiosamente as aspirações da sua alma;
ali, poderá dilatar o coração; entranhar-se profundamente
nesse oceano infinito de caridade e preludiar a vida de
amor, forte e suave, que mais tarde lhe será de profícua
influência,
Mas, como comunicar està fervente idade?
Infundindo-lhe, primeiro, pela virgindade grande es-
tima e admiração: é bela, é sublime, ê a sua maior ri-
queza..., e grande estima pelas'alegrias duma vida que
só pertence a Deus... Dir-lhe-ha: «mais tarde a tua
vocação ha-de dividirite o coração, .., consagra por isso
até lá a Deus N. Senhor os melhores anos da tua moci-
dade, reserva-lhe as primícias da tua vida. Fecha os
olhos às criaturas enquanto não sabes a escolha que
has-de seguir. Um dia ser-te-ha lícito sorver a taça das
afeições terrenas e inebriar-te até à saciedade. Por agora,
sacrificando generosamente a tua natureza, contenta-te
com as alegrias puras do amor divíno e com as consola-
Tões inefáveis duma piedade fervorosa; nada ha que
tantas bençãos possa atraír sôbre o teu futuro, inician-
do-te no amor verdadeiro, terno, forte, durável e pou-
pando-te muitas e angustiosas decepções».
IV — DIRECÇÃO DOS ESTUDANTES
Na direcção dos colegiais e pensionistas deve exer-
cêr-se particularmente a vigilância do director :
1.º — em combater a rotina nos exercícios da piedade
e sobretudo na recepção dos sacramentos: da Penitência
e Eucaristia.
O instinto de imitação com efeito conduz a praxes,
que se convertem em hábitos, êstes degeneram em ro-
tina e a rotina rechaça a piedade.
*
DIRECÇÃO DOS ADULTOS | 243
zó —É preciso, nos pensionatos de meninas, pre-
caver contra a Jzpocrista, com que tendem, simulando
piedade e virtude, a captar a estima e favor dos supe-
riores:.. (Quanta prudência não é precisa para regula-
'mentar bem a frequência da comunhão |
3.º — Urge ser inexorável com as amizades particu-
Jares, verdadgiro flagelo das comunidades; destroem a
piedade, arriscam a virtude, peiam a aplicação ao estudo
e avariam tóda a obra de educação.
4.9 — Ingerir-se prudentemente entre mestres e alu-
nos, para obstar a equivocações, dificuldades que possam
surgir e ser inexorável com as cabalas, intrigas, conluios
e com o espírito de insubordinação.
| 5.9 — Estimular ao trabalho e ao estudo. A ociosi-
dade é a ferrugem da inteligência e do coração e o fer-
mento das disposições mais ignóbeis.
V — DIRECÇÃO DOS ADULTOS
Importa que os adultos:
I? observem os deveres sociais. São êstes tão
.descurados às vezes, que é como se não existissem.
contudo muito grande a sua importância. Não os obser-
var é lançar a desordem na sociedade, semear em toda a
parte a discórdia e o mal estar. Cumpre por isso Zasistir
no respeito à autoridade, na dedicação à causa publica e
aos interêsses da Religião, na benevolência com os inferio-
res e na prática da justiça, da probidade e da igualdade
com todos, particularmente com os pobres.
2.º — Cumpram os deveres de estado, Variam es-
tes consoante a profissão; importa tê-los em grande
conta, porque caracterizam a via especial que cada um
tem de trilhar, servindo a Deus, para chegar à salvação.
244 DIRECÇÃO DE?CONSCIENCIA
T B vac xx
Querémós tratar aqui de.trés categorias especiais: a) com
“asspessoas que têm profissão de ensinar, insistir na vigi-
“lância sÓbre os alunos, na preparação conscienciosa das
lições ou prelecções e na necessidade de desempenhar
'bem a função de educador. b) — As pessoas que pro-
‘fossam a medicina curem em adquirir os conhecimentos
necessários para não pôrem em risco a saúde dos clien-
tes, tenham solicitude em tratar devidamente os enfêr-
. mos, previnam êstes da necessidade de receber, o bap-
tismo ou os últimos sacramentos e obstem ʻo mais pos-
sível às práticas abortivas ou anti-conceptivas. c) — os
comerciantes é necessário precaver contra a maldita cu-
, biça, que arrasta a fraudes, falsificações, lucros exage-
rados e negócios desleais. — Véle tambem por que os
“ estalajadeiros e taberneiros não consintam- excessos es-
candalosos... reuniões viciosas... divertimentos peri-
. gosos... e infracções às leis da. Igreja.
VI— DIRECÇÃO DOS VELHOS
Que razões nos persuadem a interessarmo-nos espe- |
cialmente pelos velhos, no que respeita à direcção: Em |
todos os tempos êles se impuseram à veneração. simpá-
tica do mundo e são também o: indispensável contrapêso
que lhe sustém o equilíbrio.. .; são o tesouro da Igreja,
que enriquecem com um passado de merecimentos. ..,
| são uma provisão magnífica de experiência e de prudên-
cia...; são a messe a curvar-se já deante da foice..., são
a preciosa colheita que o Pai de famílias vai conduzir
para os seus celeiros... Como desprezá-los e abando-
ná-los, quando podemos ainda purificar e aperfeiçoar
messe tão madura?! Curve-se, incline-se o Confessor
com ternura deante dêstes que. são hoje ruínas na terra
e serão àmanhã galas no céu.
“Chamado a socorrer tais penitentes, prapare-os para
assegurarem a sua entrada no paraizo. Pela aceitação
generosa da enfermidade, dos desgôstos e tédios, aju-
de-os, a completar a suprema purificação, que os isente
| DIRECÇÃO DAS PESSOAS CASADAS . 245
do Purgatório..., a aproveitar para a peniad o resto
da existência, que o zempo já não aprecia... e a fazer
resplender para bem da Religião a auréola de prudência,
que os anos teceram em volta da sua fronte calva. Ha-de
precavé-los contra as fraquezas do seu coração extenuado,
obstando a que ternuras e meiguices extremas neutrali-
zem a bôa En da juventude, que éles tanto apre-
goam e encarecem... Ha-de ocupar-lhes o pensamento,
em Deus, na esperança do céu, na paixão e morte de
N. S. Jesus Cristo e numa 'devoção cada vez mais terna
para com a SS."* Virgem.
Ill - DIFERENTES ESTADOS
1 — DIRECÇÃO DAS PESSOAS CASADAS
Pontos em que é preciso insistir :
1.º — Deve evitar o marido: a) mau humor fre-
quente, repreensões e ralhações intempestivas, exaltações `
exageradas... à) causar à consorte resfriamento no amor
que ela lhe consagra; c) molestá-la e desgostar — com
saídas muito frequentes..., despêsas excessivas... ., abu-
sos de autoridade. .., demasias no beber...; com de-
monstrações de desconfiança, de frieza e grosseria... e
sobretudo com a infidelidade matrimonial. 4) principal-
“mente, não a arrastar à cumplicidade em práticas que
a natureza repudia e que são ao mesmo tempo violação
das leis santas do matrimónio. |
2.º — Terá a mulhér a peito o seguinte:
a) — Consagrar desvelado amor ao marido. ..;,0) —
cumprir suas ordens e seguir o seu govêrno e direcção,
aparte o caso de abuso de autoridade. ..; c) — evitar le-
viandades e imprudéncias que deem aso a desconfian-
ças...; d) — evitar desperdícios e gastos excessivos em
satisfazer a vaidade e sensualidade. ..; e) — cuidar pela
246 | DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA
sua diligência e solicitude, em transformar o lar num re-
canto de paz e felicidade; f) — abster-se de modos e pa-
lavras irritantes, que provocam facilmente a ira e a im-
paciência; g) — evitar certas reflexões e queixas signifi-
cativas, que são provocação para infidelidade aos deveres
do matrimónio. à à
Dos pais que há-de exigir o confessor, tendo, a
seu cargo dirigí-los ? |
Que éles considerem como missão sua essencial qua-
tro deveres: o da educação, o da autoridade, o da vigi-
láncia e o da correcção. !
1.º — Educação. a.— Fazer Os sacrifícios necessá-
rios, a bem da saúde e desenvolvimento físico dos fi-
lhos..., evitar escrupulosamente as imprudências, que
possam danificar a saúde e a integridade corporal dos
mesmos... não lhes impór trabalhos acima das suas fôr-
cds. B. — proporcionar-lhes instrução consentânea aos
seus devéres..., ministrar-lhes -sobretudo bôa formação
religiosa. ., ensiná-los désde a infância, pelo bom exem-
pló e bons conselhos, a praticar a virtude. . +<,
doutriná-
-los com admoestações sóbrias, mas persuasivas, instan-
“tes e cheias de unção. c. — Preparar-lhes posição social
conveniente, de harmonia com a primeira educação e
classe da familia,
| 2.º — Autoridade. a. — Não dêem margem a de-
sobediéncias com ordens incongruentes ou contrárias à
consciência. B. — Mandem pela forma que mais firmem .
a obediência: a) com firmeza e autoridade, sem dureza
entretanto, nem rigidez, de sorte que os filhos compreen-
dam que teem de se submeter e lhes é impossível insu-
bordinarem-se; b) — Com sangue frio e bondade, para
fugirem de os maltratar, de lhes perderem o afecto e
para não azedarem o carácter; c) com fôrçae perseve-
rança, sem abdicarem em face dos caprichos ou resistên-
a : a |
: ao
DIRECÇÃO DOS CELIBATARIOS “247
cias infantís. c. — Sancionem o mando: a) reprimindo
qualquer desobediência, com energia nos casos graves...,
com justa proporção do castigo para a falta... com guie-
tação, para nào cederem à ira e à impressão do mo-
mento, deixando transparecer em tudo os sentimentos
duma afeição recta e verdadeira, que corrigindo não visa
senão ao bem dos filhos..., com habilidade e .rectidáo
“atendendo ao temperamento e mais circunstâncias. Db) —
estimulando a obediência, com palavras e incitamentos,
com provas de afécto e de tempos a tempos, com remu-
nerações.
3.º — Vigilância. a)--. Nunca abandonem as crian-
"-Ças a si mesmas, particularmente nas circunstâncias
de
“perigo para a fé ou para a inocencia; 4)-— não as con-
"fiem. a pessoas estranhas, que não sejam de virtude
com-
provada, ou que não tenham a graça de estado para as
formar. c) — Não as esqueçam, nem percam de vista.
4. o — Correcção. Importa: a) — reprimir pronta-
i mente, logo que despontem, as más inclinações, em par-
ticular a imodéstia, a mentira, o furto, a gula: e castigar,
se não bastarem as repreensões; 4) — escolher o castige
em proporção com a gravidade da falta e o tempera-
mento da criança; c) — Não castigar com arrebatamen-
tos nem com transportes de zzz ou màu humor.
il — DIRECÇÃO DOS CELIBATARIOS
E | Combater néstes:
.— 0 egoismo. Revela-se éste por várias formas:
a) k avareza. Enquanto por um lado os que são pais
teem para o fim da sua vida a contar com o amparo dos
filhos, cuidam os celibatários, privados de tal garantia, de
angariar para a velhice pecúlio e recursos, a que possam
ater-se. O receio de se verem sós e abandonados no de-
‘clinar da vida, leva-os a amontoar economias, instinto
!
248 4. . DIRECÇÃO DE
CONSCIÉNCIA -
que não poucas vezes degenera-em: sórdida avaréza...;
„e quanto esta tendência endurece o coração! 5) pelas
preocupações excessivas com a saúde. Pelo afecto mútuo,
“que reparte o amor dum para o outrc, desaparece ordi-
:náriamente esta solicitude entre casados, mas o celibatá-
.rio concentra em si mesmo quanto é afeição e sente-se
levado a tomar pela sua pessoa uma atenção impaciente |
e aflictiva; acontece depois qué qualquer anormalidade |
o inquieta...: uma simples indisposição o aterra..., oS.
mais leves sintómas tomam. proporções volumosas..., e.
.daí aos cuidados e apreensões, que os cobrem de ridí-
. culo e fazem um ídolo do seu corpo, é pequena a distân-
cia e tambem são poucos os que a nào transpõem !
2.^—0 desabrimento ou azedume. A maior parte
“das mulheres celibatárias são-no por resignação. E com
pezar que suportam o «veredictum» do mundo, que não
lhes proporcionou fundarem um lar. Contra o sexo que
as desprezou acumulam venénó e não perdoam o menos-
prêzo a que foram votadas; quanto às rivais, que mais
felizes conseguiram fixar-se, olham-nas com cíúme e aver-
são. .; são, dum lado decepções, do outro -corroída in- |
vejal,.. - É tudo isto o bastante para azedar o coração,
afiar a lfágua, viciar a vida, corromper o carácter e tor-
. ná-lo insuportável. | | 7 85
3.º— O sentimentalismo. Privados das ternas afei-
ções da familia e não as compensando com o amor de .
Deus, córre-lhes o coração loucamente atrás das criaturas
e ousa até fixar-se em pessoas, que Deus reserva unita-
mente para Si. Ou então, desiludidos, voltam-se tardía-
mente para.a piedade, onde procuram mendigar consola-
ções. sensíveis, e, se lhes falta verdadeira direcção, cáem
quási sempre num sentimentalismo miserável; nas estrei-
tas veredas duma piedadé mesquinha e rotineira, quando
nào acabam por despenhar-se nos desfiladeiros extrava-
gantes do histerismo. : à |
!
i
DIRECÇÃO DOS CELIBATARIOS 249
4.o -- Caprichos e quimeras. Frustrados nas ar-
dentes esperanças das suas ateições, acabam talvez por
maldizer o mundo e por deixar atrofiar completamente o
coração. ..; resignam-se então, na impossibilidade de
ascenderem mais alto, a enveredar as suas afeições para
-os- seres inferiores: uma ave, um cão, um cavalo; um
animálculo qualquer, não só prende e cativa o seu cora-
ção mas. torna-se. até o centro do seu.viver. E ei-los
por fim ilaquiados nas malhas dos caprichos e manias,
que tornam tão ridícula a sua vida e tão mesquinha e
ignóbil a sua existência.
Como há-de o Director obstar a tôdas estas
desordens?
I.o — Inspirando ao celibatário um abandôno piéno
nas mãos da Providência.
Persuadir uma alma de que Deus não deixa ao
| "abandómo os que filialmente confiam nÉle, é com
certeza
"imunizá-la contra o vício da avaréza.
2.º — Cultivar-lhe no coração uma ardente e sólida
piedade, que o transporte inteiramente para Deus e o
ata a salvo de profanação nas suas afeições.
(009^ - - Impeli-Io vigorôsamente arā obras de caridade
“e:zêlo, de sorte a fazê-lo saír de si mesmo, a utilizar
para
o bem a sua actividade, e a subtrafr aos escolhos tão fre-
quentes da murmuração, dos mexerícos e de preocupa-
ções intempestivas, uma vida preciosa, que não é absor-
vida pelos cuidados e contratempos de goverdat uma
famflia.
: 4.º — Sugerir-lhe amor profundo pela virgindade e
- grande aprêço pelo celibato cristão. |
REY iW PS ig
230 m | DIREÓÇÃO, DE Constrancia
“AN—DIRECÇÃO. DOS SACERDOTES
“Contra que erigos há-de. 0. Director. prevenir
e ressalvar as almas sacerdotais ?
I.o — Contra as relações dri PO Sào estas
| a principal cilada, em que os esfórgos do inferno tentam
surpreender a virtude sacerdotal. ` Santo Agostinho viu
sossobrar virtudes que pareciam tào sólidas como as dos
maiores santos. Por isso, conio não tremer pela temeri-
“dade daquéles que vivem em assíduo contacto com o pe-
rigo! Em duas épocas da vida é êste particularmente
mais grave: a) Os primeiros anos do sacerdócio são cir-
cundados de escolhos.
Enamorado pela virgindade, 1 para a virgindade corre
instintivamente o jóven sacerdote... Através das núvens -
da abstração, entreviu esta virtude encantadora e a sua
misteriosa magia cativou- lhe.o coração. Jurou amá-la e
“dar por ela a vida... Mas, saído apenas do asilo, em
que realizou a sua formação . sacerdotal, aparece-lhe sesta
virtude na sua forma concreta, mais Bela ainda, mais su-
blime.. - Vê-a reflectida em tantos rostos juvenís, cheios
de candura e inocência, e incarnada particularmente na.
donzela virtuosa.
Quem não vé o perigo em quedar-se -
nestas visões estonteantes, que prendem, cativam, enla-
çam e.seduzem! Perversidade e caducidade do coração
humano! a admiração e simpatia avassaladora degeneram
rapidamente, e dão ao inimígo livre curso para iniciar a.
sua obra nefasta; pelo que, sob o:enlévo de afeições que
se depravam, quantas vêzes se metamorfoseia o coração -
dum anjo no dum .demónio! Tanto mais que a filha de `
Eva 'sobreleva na mentira e nas aparências falazes. Quan-
tas vezes consegue reter cativo o reflexo da virgindade,
sem conservar a virtudel.
.E acontece que onde « críamos ver anjos de luz, sé.
ncontramos espíritos tenebrosos, mascarados e pèrfida- ``
mente transfigurados.. |
| "Abeirar.se déles é morte quàsi certa... : O perigo
' DIRECÇÃO DOS SACERDOTES oe
existe em tôda a parte, é, porém, maior nas cidades,
onde o inferno se empenha sem organs em desvirtuar a
pessoa do padre.
B) Perigos terriveis podem surgir na idade LE T
: "Quaado a natureza, após o seu pleno desenvolvimento,
sente a proximidade da senectude, nào admira que vio-
* Jentas convulsões a venham abalar.
. Xe Parece que então se lhe impõe com violência deses-
. perada o instinto da conservação da espécie e a intima
com: insolência a pagar o seu tríbuto à consolidação da
- humanidade. “A carne revolve tôdas as energias e
D k salta a almà com a mais cínica violência: É a hora dos
; grandés combates e dos gloriosos triunfos, prelúdio da
í doce acalmía e paz inalterável da velhíce. Mas, enquanto
.dura.a luta, quanto importa vigiar e'combater com de-
- nodo, bem como repudiar as relações imprudentes, que
. daríam 'ao inimigo terrível vasto campo de acção. e de
! perversão | |
| Para todos é necessária a RE e e em tôda a
; idade; mas que dizer do levita que nos anos'da infância
e adolescência houvesse pago forte tríbuto à mísera pai-
xão da concupiscência! E verdade que, graças à influência .
- santificante do seminário,” poude reconquistar na ponta
“da espada a graça duma castidade, perfeita, mas, liberto
. por fim da disciplina potente da vida de comunidade, em
^ contacto quotidiano com e mundo, repleto de .ciladas,
nào sentirá acordar de novo o estímulo. da carne e das.
= ruins paixóes?... Nào irá o fogo amortecido, mas la-
kénte.sob a cinza,
incendiar-se de novo e levantar um
' turbilhão espesso de fumo, capaz de asfixiar a mais só-
lida virtude?... Quanta prudência e vigilância não ha
mister o ministro de Jesus Cristo! .. Te
; 4?— Contra um porte excessivamente mundano.
O desejo da Igreja- nêste ponto, traça-o claramente o
Concílio Tridentino nêstes termos: «Decet omnino cleri-
“cos in sortem Domini vocatos, vitam moresque sucs
omnes componere ut habitu; gestu, incessu, sermo-
[
1
i
i]
-—
292 17 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
aliisque omnibus rebus- nil nisi grave, moderatum ac re-
Jigione plenum praese ferant». , Esta gravidade, impre-
gnadá do. espírito de religião, de que fala. o Concílio,
deve constituír um distintivo na vida daquéles que, esco-
lhendo ao Senhor para património, se afastaram e sepa- .
raram do mundo; não admite costumes duvidosos ou
Írívolos, maneiras extravagantes, linguagem destempe-
rada,; chocarrices, volubilidades de cabêça e de olhar,
andar -afectado, modos bruscos é pretenciosos. A gravi-
dade sacerdotal é antes o reflexo duma alma tranquila e
-serêna; senhora das suas impressões, alimentada por sån-
tos e aústeros pensamentos, prudente e reflectida. Gran-
muitos escolhos do mundo. : : | |
Pelo contrário, uma vida dissipada, frívola e mun-
geia ao padre simpatia.e confiança e resguárda-o contra
dana, faz desaparecer de diante dos olhos o homem de
Deus^e quebra as balizas àlem das quais devia sempre
abrigar-se a virtude e piedade sacerdotais...; valerá ao
padre talvez simpatias humanas: entusiásticas, -populari-
dade mesmo e a ilusão de fecundo apostolado, mas o
bem produzido será o mais: das 'vezes fantástico, fictício
e falho de base sólida. Para exercer sôbre as almas uma
influência profunda e eficaz deve b padre ficar sempre tal
como o designa S. Paulo: o homem de Deus, o alter ego
de Jesus Cristo. SO pu
3.0 — Contra a perda de tempo. São imensos os
prejuízos e perigos que ocasiona a preguiça e preciosos
os instantes duma vida consagrada ao serviço de Deus e
ao bem das almas. O bom emptégo do tempo imuniza
o padre contra os escolhos. da ociosidade e “adestra-o
para o desempenho cabal da sua missão. E verdade que
pode êle aos olhos do mundó passar por muito regular e
irrepreensível, sendo aos olhos dé Deus e da Igrejà um
servo inútil e indigno: para os fieis, em geral, dizendo
missa, ensinando o catecismo, visitando os enfermos e
ouvindo: algumas confissões, paréce que cumpre: o seu
dever é leva como deve a vidá de' ministro de Deus, mas,
A
DIRECÇÃO DOS SACERDOTES ^e. ARE
“além de tudo isto, quanto tempo poude perder..., tempo
. precioso que devéra aproveitar e de que dará estreitis-
sima conta! Ora, para ser bem empregado, deve o
> tempo distribuir-se judiciosamente pelos exercícios de
pie-
“dade, trabalhos essenciais do ministério sacerdotal, obras
e zélo e caridade, estudo e descanso. Não pode ser arbi-
“trária esta distribuição, ou feita a capricho, consoante a
impressão do momento, mas há-destraçá-la de antemão,
.com pêso e reflexão e consigná-la num regulamento,
- com a chancela do Director. |
- ^. Disposições fundamentais que no coração do
É Paare, seu cliente, deve radicar o Director espi-
ritual. | i
| 1.º — O desejo da santidade sacerdotal. Nobrêza
obriga, como sóem dizer! A vida do padre devê pois
harmonizar-se com a grandeza das funções que desem-
“penha. | |
—. . Como é triste e desolador ver um encargo sublime
desempenhado por um perverso, ou sômente medíocre !
Estólida coisa! prerogativas divínas nas mãos dum indígno
you à mercê duma alma vulgar! - Tantó mais que o padre
*deve ser o modêlo e exemplar para o rebanho que tem
confiado. Há-de ser, pois, a sua vida um reflexo da
doutrina do Mestre. Importa que os fieis vejam nas suas
+ acções, muito mais do que nas palavras, a norma de pro-
.cederem, «forma
facti gregis».. | Demais, as bençãos que |
já Deus lhe há dispensado, predilecções, prerogativas,
. tantos benefícios e graças..., como há-de pagar tão
grande dívida, senão aplicando-se à santificação do seu
viver e mostrando-se digno quanto possível dos privilé-
gios e dons que recebe constantemente! E como Deus
usa servir-se dos santos para operar no mundo grandes
prodígios de santificação, tornará o padre mais fecundo
e fructuoso o seu apostolado se se empenhar com tôda a
alma em se santificar. Não perca de vista que a santi-
dade sacerdotal tem o seu código particular; tem um
a SE E AE :
254 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
ideal muito. elevado é exigências muito amplas. Ás leis
gerais da perfeição cristã, acrescem as obrigações parti-
culares; a par dos devêrês fundamentais que assentam
no Decálogo, ha o ónus grave das virtudes eclesiásticas.
Dão-lhe por isso fisionomia especial as /eis canónicas e as
prescrições litúrgicas. A castidade perpétua libérta-o dos
cuidados e encargos, que arrefecem o fervor e compri-
mem o zêlo. No convívio íntimo com a Divindade en-
contra vigoroso impulso para cumprir os seus devêres e
elevar-se a alta perfeição. Importa, pois, não esquecer,
na direcção, êstes princípios e dar à santidade eclesiás-
tica a orientação que' lhe “é própria e uma envergadura
âmpla e magnânima. |
2º — 0 amor da Liturgia. É um tesouro a litur-
gia católica |... mosaico admirável de orações, preceitos
e exemplos, que a alta sabedoria da Igreja: argamassou
com arte inegualável e que constituem para a alma uma
satisfação plena de tôdas as suas aspirações. O alimento
divíno da piedade tem-no, em dóses comedidas e pru-
dentes, tão sabiamente distribuído, que a alma e os seus
apetites se saciam inteiramente, sem vislumbre de enfado
ou fastío. O lirismo, os arroubos de eloqüéncia, as altas q
espéculagóes da filosofia, as nobres aspirações duma só-
bria piedade, entremeiam-se nas suas páginas tão caden-
ciadamente, que nelas se delicfam o poeta, o orador, o
filósofo e o asceta. , Aparecem-nos, ora o Espírito Santo;
o divíno Mestre, a Igreja, ora os Santos Doutores do
cristianismo, os heroís da santidade, que veem cada qual
por sua vez, insuflar na alma os mais belos sentimentos,
as resoluções mais santas.: Ouvem alí os principiantes as
reflexões austeras e as advertências graves; que infundem
santo terror. ..; desviam assim do pecado e retiram do
vício. Os progressivos vêem passar deante dos olhos su-
gestivos exemplos, que o instinto de imitação lhes leva a
seguir e que arrastam a, alma ao exercício: das mais
admiráveis virtudes. Os gerfeitos sorvem a longos tragos
O amor mais puro, impulsivo e prófundo. Digno de cen-
“DIRECÇÃO DOS SACERDOTES r 255
sura é pois o padre que menospreza influências tão salu-
tares da santa liturgia. Seja, portanto, a oração da
Igreja, a piedade da Igreja, a base da sua piedade, o ali-
mento primacial da sua devoção. Coopere nésse exercí-
tio todo o seu ser: o córpo, a alma e o coração; reco-
menda-o a Igreja com três palavras duma concisão sábia
¿€ lüminosíssima: digne, attente ac devote. a) — Digne:
Deve ser exacta a observância das rubricas. Cuidará o
Director porque o discípulo as estude, as assimile e as
recorde frequentemente. Não são elas objecto muito
“próprio para leitura espiritual ou para penitência sacra-
mental? Como seria oportuno no retiro de cada mez,
fever as regras e prescrições Jitárgicas, pois não repetem
mesmo cada dia os bons cristãos o texto dos manda-
mentos? Mas éste conhecimento adquire o padre, não
. para fazer alarde de erudição e satisfazer a sua vaidade,
mas para conformar com as prescrições o seu porte e a
sua vida. É à teologia moral e aos Doutores da Liturgia,
que compete computar a gravidade das transgressões,
mas o padre pio e interior conduz-se mais pelo espírito
de docilidade e desejo de perfeição, do que pelo temor
de incorrer nas pênas eclesiásticas ou divinas. Tem êle
sempre em vista executar bem tôdas as cousas e particu-
larmente às funções sagradas; sabe que pràticamente a
única nórma de rectidão é a direcção da Igreja, que o
Espírito Santo governa; por isso é que exerce os actos
litúrgicos, não segundo as suas preferências e modos de
vêr, mas segundo as regras sagradas da Liturgia. b) æt-
tente. — Para tirar proveito da escola de perfeição, que é
a Liturgia, .cumpre prestar.lhe tóda a atenção. Pode na
aula esforçar-se até ao cansaço o professor e exibir sá-
bias e elevadas explanações, mas será tempo perdido se
não prestam atenção os discípulos. Por conseguinte, fi-
xará o padre tôda a atenção no sentido das ceremónias
e palavras litúrgicas, compenetrar-se-há do espírito da
Igreja para saborear até à medula o significado dos tex-
tos sagrados; serão abôno e garantia da sua atenção a
inteligência dos Livros Santos e escritos dos autores
e, AERA a: A PA e ou aps 0 M oa
256.5. à DIRECÇÃO DE “concrete CRE a
eclesiástiõos, a preparação cuidada pára'* ^s- fincoês:
sagra-
“das, o recolhimento habitual, a meditação, a. vigilância
em remover as circuntáncias de tempo e de lugar, que
“absorvem o espírito e dissipam a alma. c)— Devote. —
A atenção prepara a devoção ealimenta-a, sem. se con-
fundir com ela. A devoção essencial só exige uma von-
tade generosa, pronta a entregar-se a Deus ; mas só é
completa quando entra em exercício, acompanhada de
sentimentes, que partindo” do córação, agitam e abalam
as faculdades sensíveis e transportam todo o sér aos cu-
mes elevadíssimos do sobrenatural. ' Supõe esta devoção
uma alma que combate, se calota, reflete e medita. `
3^ À Fidelidade na. meditação. Deve cada dia |
ter O padre tempo determinado para' a meditação. Sa-
cerdote algura, diz Pio x, pode escusar-se, sem incorrer
no anátema de negligente e pródigo do bem da sua alma,
de fazer assíduamente a meditação. Quando razões espe-
ciais Oo» não impeçam, utilíssimo seria tomar como téma
dela os ofícios litúrgicos de cada dia. Obsta assim ao
capricho na escôlha “do assunto, mostra deferéncia.e res-
peito para com a Igreja, inícia-se melhor no conheci-
mento da Liturgia, prepára-se com mais fervôr e edifica-
ção para o desempenho das suas funções, presta à pie-
dade pessoal ótimo alimento e consegue que todos os
exercícios de cada dia (ofício divino, missa e meditação)
convirjam: para um mesmo e único objecto. Que forte,
presssão sôbre a vida do padre não deve exercer esta
concentração de todos os exercícios num mesmo e único
assuhio L
40—A dignidade sacerdotal. "Na direição dos
sacerdotes, seria grave falta esquécer êsté sentimento,
que de facto tem jus a lugar de honra. Alêm do presti-
giorde que reveste o sacerdócio, tem influência particular
na sociedade, é um maravilhoso agente de edificação,
um estímulo para a perfeição e supõe um, conjunto. de
virtudes. ca que mantem em côntínua: actividade. |
DIRECÇÃO DOS SACERDOTES 0 257
a) — Nimbado por uma auréola de dignidade, o sa-
cerdócio atrai a veneração e a confianga dos povos. É in-
contestável, as aparéncias exercem uma influéncia fatal
sôbre a opinião pública. Julga-se ordinàriamente o padre
pela apresentação exterior e méde-se pràticamente a exce-
lência do sacerdócio pela corda de glória com que êle o
cinge; pelo que, quando o mundo constáta que o padre
& Apresenta algo de trivial e de vulgar, confunde num
me-
Mienrézo comum o sacerdócio e a pessoa que o incarna.
Se, pelo contrário, a figura do padre aparece sem-
pre num quadro de honra e divíno, opera-se nos espíritos
.uma admiràvel transformação, em que a ideia do sacer-
.dócio é indissoluvelmente unida à ideia de majestade e
sublimidade; e o respeito da Religião e do padre im-
põe-se, com irresistível necessidade, aos povos cultos e
incultos.
b) — O sentimento da dignidade sacerdotal funda-se
na consciência, que o padre tem do lugar éxcelso que
ocupa na sociedade sobrenatural, como representante de
Deus e ministro de Jesus Cristo. Como homem de Deus,
êle compreende que deve dignificar o seu mandato e con-
servar-se à altura do munus glorioso que lhe foi confiado.
& lal mentalidade supõe vistas alevantadas, nobrêza de
sentimentos e muito espírito de fé. Não pode portanto
abrigar-se senão no padre de vida interior, que, com a luz
sobrenatural, se habituou a ver as coisas com espírito de
fé, independentemente das visões turbulentas que pro-
porcionam o amor próprio e os preconceitos mundanos.
|. €)— Para conservar todo o brilho da sua dignidade,
deve o padre recorrer a um número importante de virtu-
“des: & a humildade, que fascinada pela sublimidade de
Deus, cujo espírito inunda a alma sacerdotal, esquece a
própria personalidade, para só engrandecer ao Senhor;
é a castidade, que remove as mais léves nódoas e repéle
os mais pequenos golpes, até ocultos, das paixões ignó-
beis; é a caridade, que corta os propósitos desdenhosos
17
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258 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA : ` E.
do egoísmo; é particularmente a mortificação, sob tôdas
as formas, cuja influência mantém à altura da excelência
sacerdotal todo o seu porte e todo o seu viver.
IV — DIRECÇÃO DAS RELIGIOSAS
Que fim principal deve ter o Confessor na di-
recção das religiosas ? | |
Conseguir três coisas: fidelidade perfeita aos trés
votos (pobreza, castidade e obediência), recolhimento e
observância da Regra.
a) —Os votos constituem a essência da vida religiosa.
Observando-os, faz-a religiosa” uma completa imolação de
si mesma e de todos os seus haveres e suprime os prin-
cipais obstáculos que desviam de Deus,. centro da perfei-
ção. A pobrêza rebate a cubiça que escraviza tantos
infelizes, porque faz renunciar por amor de Deus aos
bens déste mundo. A castidade faz triunfar da concupis-
cência e sacrifica os prazéres sensuais legítimos, pela re-
nuncia às consolações da família. A obediência refreia a
vontade, esmaga o orgulho e faz a Deus sacrifício do que
o homem possui de mais precioso, a liberdade. Quem
não compreende que os votos religiosos são remédio
precioso contra as três concupiscências e sacrificam no
altar da glória de Deus, os bens da terra, as satisfações
dos sentidos e a independência da vontade?
b) — O recolhimento é, pode dizer-se, a alma da vida
religiosa. O fervor, só o alimenta uma atmosfera de paz
e tranquilidade. o e ^u
Com-efeito, tudo quanto projecta a alma para o ex-
teriotjafásta-a de si mesma e de Deus, divide as suas fa-
s*éuldades e expõe-na às investidas dos inimigos de fora.
“+ Para aproveitar e progredir deve a religiosa concen-
‘trår suávemente as faculdades e aplicá-las, pela luta com
o defeito dominante e pela aquisição das virtudes, ao tra-
VIKECÇAU DAS KÉLIGIOSAS 259
balho da vida interior. Uma religiosa sem recolhimento,
deixa-se avassalar pelo espírito do mundo, começa a viver
em tibieza, desgósta-se pouco a pouco da sua vocação e
compromete o espírito da vida de comunidade.
c) — Práticamente tem a observância da Regra im-
portância máxima. E a regra que garante a boa ordem
na comunidade, que ressalva os votos e alimenta o fer-
vof Quando as religiosas deixam de a observar, desli-
zam pouco a pouco em caprichos, seguem as inclinações
pessoais e cáem na imortificação, nas perdas de tempo e
na vida distraída; um mal estar geral paira então e pesa
sôbre a comunidade, o fervor desaparece, as vocações
vacilam e as defecções sucedem-se assustadoramente.
Os inimigos do recolhimento, que o Director
deve combater, são, àlém da inobservância da regra:
1º— As relações frequentes e íntimas com as pessoas
do mundo. Há relações que são necessárias e que ofere-
cem mais vantagens do que inconvenientes e estas são
admissíveis, porque, é inegável, teem verdadeira utili-
dade. O que importa é empregar os meios para retirar
ou neutralizar a sua influência funesta, como suprimir
,conversagóes supérfluas, rebater a curiosidade e acatar de
contínuo a presença de Deus.
2° — À aplicação febril nas ocupações exteriores,
que se funda, ora no temperamento, ora em algum de-
feito, como a vaidade, a ambição, etc. o |
3." — As amizades particulares, que absorvem o co-
ração e preocupam o espírito, perturbam a almae, lan-
çam em ruina a vida interior. São elas a lepra das co- -
munidades. | ! Im
4.9 — Os ciúmes. São instintivos na mulher. Lar-
gando-lhes as rédeas, envenenam a alma, e paralizam a
Er Ro g EE a A GOAL ON DOG ETce
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. a E! a X
Uu SE ER
260 , DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
vida religiosa: Chega-se até, sob o império desta pai-
xão, a fiscalizar com azedume'a distribuição dos empré-
gos, o número de comunhões, e o tempo de demora no
confessionário. Torna-se tudo isto, alimento de murmu-
rações e perfídias e pábulo a pensamentos mais e mais
vexatórios. É
-a Emquanto o Director nào formar em linha fs fôrças
da alma contra esta disposição diabólica, serão inteira-
mente estéreis os seus esforços.
Dever do Director quanto à observância da
Regra.
1.º — Deve falar da Regra com respeito e velar pela
sua observância. Deve esta, sem dúvida, ser interpretada
com certa largueza de vistas e não ser imposta com mais
rigor do que são os mandamentos. Mas nào esqueça o
Confessór que não possui jurisdição no foro externo e
portanto nào pode dispensar, no todo ou na parte, da
sua observáncia. 4
Reduz-se a sua missão a interpretá-la nos casos par-
ticulares, em vistas do bem pessoal do penitente, sem
nunca prejudicar o bem geral da comunidade. Faça, pois,
abstracção das suas ideias e modos de ver pessoais, co-
nheça as instituições e usos legítimos, encáre-os com o
sentimento de respeito sobrenatural, a que de facto teem
direito pela aprovação da Igreja, e abstenha-se sempre
de manifestar seja diante de quem fôr, o mais pequenino
menosprêzo por qualquer artigo ou disposição da mesma.
Certas detefminagóes, ao parecer pouco consentáneas à
natureza humana, provocam facilmente irrisão ou comi-
seração, e contudo teem numa comunidade de mulheres
importância verdadeira. Estimulará, portanto, a genero-
“sidade: das penitentes, para que procurem na exacta obser-
vância da Regra, messe abundante de actos de renúncia, .-
de mortificação e expiação, e a ocasião oportuníssima de `
fundamentar na alma aquéla disposição preciosa que N.
Senhor proclama como indispensável à vida cristã e per-
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DIRECÇÃO DAS RELIGIOSAS 261
, feita: sz quis vult venire post me, abneget semetipsum et
tollat crucem suam quotidie... E quanto ao rigor em a
observar, poderá fazer certa concessão à natureza, apli-
cando às suas disposições os princípios teológicos nos
casos que dispensam da lei, 'mas, se a prudência o per-
mite, nfüito preferível seria incender dentro da alma da
peuitente uma tão grande flama de fervor, que ela se
transportasse a observar espontáneamente disposições e
particularidades, de que em rigor estava dispensada.
2.º — Observar rigorosamente o silêncio. É indispen-
sável. Nas comunidades religiosas muito mais do que
em qualquer outra parte, deve repetir-se a palavra do
f Espírito Santo: «in multiloquio non deerit peccatum». E,
em verdade, de que valem as muitas conversações? Fal-
tando assunto palpitante para falar, desliza-se insensível-
mente para questões mesquinhas, estéreis e inúteis, e
bem depréssa, em resultado, começam animosidades, ciú-
mes, susceptibilidades, má vontade e ódio, que não dei-
xam de ter imediata repercussão no interior, com detri-
mento evidente para a alma. Lance pois, o Confessor
um freio às línguas intemperantes e desmedidas e impó-
nha de tempos a tempos peniténcias e novênas de silên-
cio. absoluto.
Obediência.
I.o — Fidelidade exterior. Pode a religiosa faltar
a esta por trés modos: a) gecando contra o4voto; recal-
citrar contra o superior que manda legitimamente em
nome da obediência, é falta grave em si, em razão do
fim que o superior se propóe, ou em razào das circuns-
táncias; b) gecando contra a virtude da obediência.
Quando o superior legítimo dá ordens formais, concer-
nentes à boa administração e ordem da comunidade, im-
.porta obedecer-lhe, logo que nào conste claramente que
exorbita dos seus direitos. c) gecando contra a perfeição
da obediência. O bom religioso conforma-se de boa
*
262 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
&
mente com os' desejos legítimos do superior, atende às ,
suas advertências e obedece até só com corihecer;a sua
vontade, sem carecer de ordens formais. Exigirá, por
isso, o Confessor obediência no que fôr obrigatório e dó-
cilidade no que simplesmente de conselho; usa gará a
degobediência propositada no-que não é estrictamente
igatório e a razão é que absteem-se muitas’ ved os
superiores de impor com fôrça de preceito, recomenda-
ções que não deixam de ter importância, com receio de
proporcionar aos tíbios ocasião de falta; está outra razão
na grave desordem que seria o hábito de omitir sistemà-
ticamente o que não é PX rigor obrigatório.
2.º — Espirito de obediência. Importa que não
“seja puramente material, farisaica ou maquinal a fideli-
. dade em obedecer. Áinda que no cumprimento da lei,
intender o que intende o legislador não obriga sob pre-
ceito, Ro deve contudo abstrair complétamente o reli-
gioso dessa intenção. Antes, devendo tender para a per-
feição, cometeria falta considerável se descuidasse em
absoluto o fim que téve o superior ao determinar tal ou
tal disposição. Compenetrando-se, “portanto, do espírito
da obediência, recordará a. palavra.de S. Paulo: «littera
legis occidit spiritus autem vivificat». Uma fidelidade
exteriormente irrepreensível, podê&rá em rigor
evidenciar
nm bom religioso, mas por si só, não conduz ao fervor e
à perfeição. Deve, por isso, para atingir o seu escopo,
ser céga, ju constante e prudente, a obediéncia.
Obstáculos à obediéncia, que o Confessor tem
de combater. ou
“1.0 —Antipatia eom o Superior. É certo -que
"a, tanto pode ter razão «^ ser, como existir sem mo-
2 justificado. Çuando n: zomunii-de r ha fervor,
^ maitas v.ze. ux» pres iga de zi > Ou
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DIRECÇÃO DAS RELIGIOSAS | 263
vantar o espírito de piedade. Pode a aversão nascer dè
falta de tacto e habilidade ou de rigidez extrema no*su-
‘perior, bem como nêste a tibicza manifesta lhe pode
.conciliar simpatia e confiança. Seja como fôr, tem de o
Director obviar ao mal, quer suprimindo a causa, quer
“desenvôlvendo entre os penitentes o verdadeiro espítito
ide fé e de religião. - a
.-." 2º — Afeições humanas. É da natureza da mulher
'o afeiçoar-se facilmente. Por isso, quando as religiosas
adquirem com a superiora afeição muito humana, são dó-
ceis e obsequiosas, porém esta obediência que se torna
lisonja, não só suscita ciúmes e animosidades, mas é
“tambem imeritória, por lhe faltar o princípio sobrena-
‘tural como fundamento; e demais arrasta a alma com
“rapidez para uma atmosfera de aridez e tibieza. | |
55 734 — A rotina. É o maior.escolho da vida reli-
“giosa, O hábito é como segunda natureza e, por virtude
“dêle: torna-se a vida do religioso um viver automático.
Para seguir no movimento da comunidade, já não ha es-
forgos a empregar como no princípio e prescinde-se dos
impulsos de fervor; a obediência torna-se maquinal, sem
üm sópro de vida interior. Por conseguinte, precisa O
religioso caído nesta habituação, de recolher-se muitas
vezes interiormente, de reiterar as suas intenções e de
vitalizar os seus actos, com o espírito de fé e piedade!
3
Pobreza.
1. —4 religiosa áeve ser fiel ao compromisso tomado
perante Deus e a Igreja, pelo voto, e, portanto, salvo o
caso de costume legítimo, de permissão tácita ou devida-
mente presumida do Superior, não pode apropríar-se do
que está a uso de outrem, não pode. teter como seu
qualauer objecto, não pode dar, nem “receber, compro
| sender, o irocar, seia o que fôr, não pode destino
«E 'ersc. ique: valor cr: 'he esteja co25ao
ESA
OT AGE z
f + “ga e = -
Rs
E. ^ DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
nem deixar perder ou deteriorar, nem dispor, seja do ,
modo que: fôr. E T. E ae P.
2. — Pratique a virtude da pobreza, desapegando o
coração dos bens da terra. Veja, não suspire pelas ri-
quezas, a que renunciou, nào alimente no íntimó' do co-
ração desejos por coisas que lhe são ilícitas ou repudia a
sua profissão, não conserve o supérfluo para o seu yso e
nem sequer deixe Ape o P" 'ao que lhe é lícito
usar.
3.º — Tenha tambem o espírito de pobreza, conten-
tando-se com o que de somenos ha na comunidade, con-
siderando-se como um pobre, reconhecida por quanto
lhe fazem e suportando com alegria as privações que
acarreta a pobreza efectiva.
Castidade.
*
° —Evitará tóda e guila falta interior e exterior
contra está virtude. Não pode: prevaricar contra ela,
sem se tornar ré de dois pecados: um contra o sexto
mandamento e outro contra o primeiro, pela infração
do voto.
= 20 — Evitará tóda a imprudência, que ocasione pe-
rigo, grave ou leve contra a pureza.
7o 38 Apesta -há à plicas da castidade, pela vi-
| giláncia dos sentidos, resguardo da imaginação e do co-
ração, particularmente, por forma que todo o seu:ser se
sinta inteitamente desapegado das criaturas e transpor-
eae para Deus com todo o ardor.
APÉNDICE. — DIRECÇÃO. DAS VOCAÇÕES
Os dan de vida, instituídos pela Providência di- :
vína são, Segundo o grau de dignidade: Aa.
" = o
a » Rs
ves a x E A or
i j Eos ELS, "e ek
s A i E Dt ia Si CRE E a.
DIRECÇÃO DAS VOCAÇÕES . ! 265
1.º — O Sacerdócio. Entra-se néle pelo sacramento
-. da ordem, que imprime na alma um carácter indelével,
investindo o ministro
de Deus dum poder sobrenatural e -
como que compenetrando-o duma poténcia divína, que o
. torna capaz de exercer as funções mais sublimes e rea-
-lizar as operações mais admiráveis, no domínio espiritual,
2º — O estado religioso.
Obriga-se o religioso,
neste éstado, a tender para a perfeição cristã, pela prá-
tica dos trés votos de pobreza, castidade e obediência.
A vida religiosa suprime a maior parte das ocasiões de
pecado, multiplica os meios de santificação e desliga
duma grande quantidade de preocupações terrênas.
particularmente vantajosa e geralmente recomendada,
como muito mais propicia para a EE
“3º — O celibato. Com a ajuda da graça de Deus,
é possível para todos e tambem muito de recomendar.
O S. Concílio de Trento anatematiza quem pretender
Pd
que não é um estado melhor e mais feliz do que o ma-
trimónio.
." 49—0 matrimónio. Tem o último lugar. É
muito inferior à virgindade e pode dizer-se, dum modo
geral, que não é obrigatório para ninguem. E certo que,
elevado à dignidade de sacramento por N. S. Jesus
Cristo, constitui um estado bom é santo, em si, oferece
.. até preciosas vantagens, mas ao mesmo tempo apresenta
graves inconvenientes, como declara S. Paulo numa das
epistolas aos Corintios. Compreenderam-no bem os
. Apóstolos, quando disseram ao Salvador: «nêsse caso,
é mais vale não casar».
“Quais os sinais que indicam quá um jóven pode
aspirar ao sacerdócio ?
5 1.º — Um atractivo sensível e irresistível, que arrasta
“O Coração, antes do qualquer reflexão, para as funções e
1 ye
266 s DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
devêrêsssantos do sacerdócio. ‘Dets cóbiunica tais intli-
niaçõés para-significar a sua vontade e encaminhar pára
os: degraus en altar os passos do futuro. levita. |
DAC vo O: impulso que comuríita: à alma oiconheci-
sitio: “esclarecido e convicto das vantagens sobrenaturais
"éste estado.- É donde nasce muitas vezes o desejo:
deci-
dido de ser alistado na milícia. sagrada: -
y:
3: ol. Pode mbam, independentemente dêstes atra-
tivos: sênsíveis ou reflectidos; cônsiderar-se chamado,
aquêle; que, manifestando aos 'sáperiores eclesiásticos, `
-com tôda a: franqueza e sinceridade, as*suás disposições |
` Hiteriores, “o Bispo convida à: recepção das ofdená sa- `
: gradas. f x :
Quais são as almas « de o Director deve orien-
tar para, a vida religiosa ? ,-
^ fia que, por uma jr especial e um. atrai-
tivo persistente, Deus tapae a daminse inteiramente.
a Ele. : am A a E
mn 9. As que fizeram voto dé pitay em vitigito ou;
adquiriram- por experiência própria, a convicção de que:
se nào podem salvar no mundo, ou ainda as que. sentem.
o desejo de-ser chamadas a vida. perfeita. Seja qual fôr
a repugnância que tenham pelo" "estado religioso,
. devem .
“ser difigidas estas almas por'forma 'a “realizarem às dis-:
à pos e»aptidóes, que tornem: possível a sua: (admissão:
“numa. coilinidade religiosa. :
Quais deve afastar da vida religiôsa ?
7.º — As que um dever gi ave liga a uma amilia, ou
2 deu: público retem no meio do - zur
DIREÇÃO DAS VOCAÇÕES ` ` 267
din - As que sofrem enfermidade indômpatível com.
os deveres, e exigências da vida de comunidade.
i 3º ““ Aquelas a quem fraquéza ou miséria incurável,
“não permite esperanças de poderem viver habitualmente
fiéis às obrigações graves da vida religiosa. EO.
“Quais destina Deus ao celibato?
1.º As; que nào convindo para a vida religiosa,
isão afastados do matrimónio por uma. impossibilidáde |
material ou moral,
E ie 2.* — As que, experimentando atractivo pronunciado
e constante pela. virgindade e repugnáncia. instintiva pelo
matrimónio, nào sentem vocação para as austeridades. e
Opoe da vida religiosa. i
! "-
“Quais importa impelir para o matrimónio?”
Ei d EX 0 - Aquelas, a quem, o bem espiritual ou pacas |
t dura nação, exige êsse sacrifício.
“2.º — As que-a êle se obrigaram por promessa « e as
; que.não. podem reparar as .conseguéricias duma fdita. ou.
| s que tiveram, senáó pelo casamento.
E tar: as recaídas.
E"
ig: As que se tornáram tão escravas de hábitos
criminosos, que não teem outros meios eficazes para evi-
- Almas que não sentem nenhuma vocação.
5 Conservem estas intacta a liberdade de escolher
espontâneamente qualquer estado. É que Deus lhes
' deixe « faculdade de se decidírem por tal ou tal outra
voc... io, mais perfeita ou menos perfeita. Eis, substan-
cial»... a linguagem que lhes pode dirigir o” Con-
A X ENTE A
i
TENCIA
V runis
pi E
268: ` ” DIRECÇÃO, DE A
feiitoc Eigse Bs casais, Vibo: se réferíü c Ò čelibato,
é mélhor; se tendes ânimo de vos: ;imolar na' vida reli-
gioia, é perfeito.
` Disposições que é preciso. “Conseguir dos aspi-
rantes ao sacerdócio. -
— Uma piedade sincera, que hão-de adquirir pelo
hábito da meditação, da leitura- espiritual, pela frequen-
tação dos ofícios sagrados e dos sacramentos, pela fide-
lidade a qualquer prática espécial: de piedade, aprovada
| pelo Director, por um portè exemplar na loração e-no
lugar santo, dando à piedade: uma orientação. decidida-
mente "eucarística, pois deve Ser a Eucaristia o`
objecto
principal, o modélo. e o alimenito dà sua A
2º — Observem sempre « é em; -tóda a parte as regtas |
woe
damiodéstia mais edificante «ix, fugindo de convêrsas in-
convenientes, de vistas indiscfetas;. de posições suspeitas
ou moles e de-propósitos insulsos:ou triviais; sejam: ini- `
| sd irredutiyeis das atia ges. MEUM
; - A. É
/3.0 — Formem-se nà olédi£ncia. pronta e generosa,
que. mais tarde hão-de. observar icom os superióres .da
santa Igreja; sustentem e defendam por tôda à parte,
nos limites da prudência e do zêlo, os direitos da auto: .
ridade legítima e habituern-sé: a uma vida. disciplinada,
conformando-se generosamente cóm as minuciosas pres-
crições. do. regulamento.
ET o: oL Apliquem-se decididamente ao estudo, em to-
“dos o$^seus ramos, para adquiritem: a sciéncia vasta e
. Sólida, : ique a Igreja espera. dos dus ministros.
4S. ce c em edifica r ao pró-imo com um
orte sempre e-^mplar, num mixi: d re implicite
ade e dignidade cristá.
JH.
DIRECÇÃO DAS VOCAÇÕES |. 269
TE em se entregar a exercícios de cari-
» dade e zélo, áuxiliando com o seu concursô e dedicação,
as obras moralizadoras e religiosas, que a Igreja reco-
menda (Conf. de S. Vicente de Paulo, óbulo dos pum
e das escólas, obra das Missóes, etc.).
Disposições que deve imprimir nas almas que
o à vida religiosa o Director espiritual.
—- —19— Apliquem-se S ao amor de Poss;
| praticando diáriamente os exercícios da meditação e lei-
tura. espiritual, e excitando .em si, pela comunhão fre-
quente ou quotidiana, desejos ardentes de perfeição cristã.
| — Façam habitualmente verdadeiros esforços para
evitarem as menores faltas e corrigir os defeitos princi-
pais; nêsté intuito, pônham todo o empenho em se.con-
“fessarem bem e em fazerem cuidadosamente todos os
| dias o exame de consciência, .
3. à "Ténham pela virgindade grande estima.
cultivem com esméro a virtude da puréza e fujam sem-
pre dos prazéres mundanos e das ocasiões perigosas.
^4. ° — Evitem preocupações de vaidade, particular-
| mente no vestir e no falar..
| o Combatam a. vontade própria e o espítito de
independéncia.
6.º — Sujeitem- se a um regulamento de vida, que
lhes proporcione viver recolhido e interior.
. 7.2 — Tenham em especial sinceridade perfeita com
o V Cohtesmor. abrindo plenamente o estado da consciéncia.
LT. US P q r
c^
270 4 DIRECÇÃO DE. ConsCiexcia
Disposições, que importa conseguir das pessoas
que se:pronünciam pelo matrimónio. * —— |
Cumpre: 1.º — Torná-las aptas para os devêres que
lhes imporá mais tarde o seu estado. O mancebo saberá
habituar-se a uma vida sóbria, digna e económica; a
donzela industriar-se-há nas virtudes da vida doméstica,
levando viver laborioso, honesto e reflectidó.
4
2.º — Habituarem-se a sofrêr, com paciência, os de-
feitos e imperfeições dos outros, como haverão mister
mais tarde nas adversidades contínuas da vida conjugal.
dm em e a cm mm im
mam wm nal
T
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3.0 — Formarem-se em sentimentos de piedade sin-
cera, como hão de exigir no futuro um lar abençoado
por Deus e as obrigações de educação e formação reli-
giosa dos Aion, |
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—
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- .«
Ito.
4º — Evitarem divertimentos e quanto desoriente o
z
espírito e o coração: leituras profanas.. , conversações »
frívolas..., vaidades. .., imodéstia no vestir..:, etc. d
«
5.º — Serem prudentes nas afeições e relações: E
a) — No entabolar relações em ordem ao matrimó-
nio, entram em linha de conta: primeiro, a conveniência :
: da pessoa, isto é, sentimentos religiosos, sinceros, cons-
tantes e profundos e dedicação, não ambígua, pelos inte- |
rêsses da Religião; segundo, a harmonia de carácter; žer- i
s
ceiro, a saúde, o género de educação, o estado de for-;
tuna, etc. (São de ordem secundária evidentemente os. "
predicados físicos, formosura, etc.).
” 4
af » - '
A A AA tH A
j
b) — Não fonnte no coração afeições vivas, impa- ^ : :
cientes, por pessoa doutro sexo, sem intenção decidida de.
casamento.
ove
4 j
"wi
"m M
- c) — Não. entrem em namoros ou conversas amató-
i
DIRECÇÃO DAS VOCAÇÕES + OSEE
rias sem estar para próximo o enlace matrimonial. E
“chegado o tempo de entrevistas nêsse fim, sejam estas
“ raras e breves, pois a demora e a frequência são ocasião
-dė excitações sensíveis e sensuais inteiramente inúteis e
talvez pecaminosas; evitem conversas equívocas e provas
. de afeição baixas ou indignas; tenham porte respeitoso
e reservado, sem espécie alguma de familiaridade; repu-
“diem os encontros nocturnos ou em lugares perigosos,
bem como as correspondências banais ou inúteis; não
“aprazem lugar oculto para se entrevistarem, nem sequer
.cont a melhor das intenções; nào tomem conjuntamente
"parte em divertimentos, jogos, danças, em. família que
.seja. E depois da visita ou de correspondência trocada,
mortifiquem a
imaginação, banindo pensamentos, lem-
4 branças e fantasias sensuais. 3
y
*
4
CAPÍTULO QUARTO
DIRECÇÃO MÍSTICA
Conservando na sua obra uma unidade sublime, im-
prime-lhe contudo Deus uma extrêma variedade. É o
que faz a beleza do mundo, tanto natural, como sobrena-
tural. Daí nas almas quanta diversidade de fisionomias|]
pois, não são menos variados ós caminhos que conduzem
à santidade.
A maior parte das almas santificam-se nas 7725 co-
muns, em que Deus opera pelas influências ordinárias da
graça, mas um cérto número são levadas por caminhos
extraordinários, em que Deus, para as aperfeiçoar, toma
com elas contacto mais imediato, tão íntimo, que toca pela
união do paraíso. É indispensável que o Director saiba
fazer"um justo discernimento é conhêça os vários trámi-
tes e processos da Providência, porque, na sua acção
sôbre as almas, tem de obedecer aos desígnios de Deus
e secundá-los, longe de os contrariar. Donde se vê,
quanto é necessário conhecer bem esta sciéncia divína,
que, no dizer de Santa Terêsa, é de importância extrêma
no guia espiritual. Dois êrros deve evitar, graves e no-
civos: rejeitar à prióri, os caminhos místicos, por se
revelarem nas almas com singularidades e extravagâncias,
para quem as não vê senão com olhares inexperientes —
e a arrogância temerária de comprimir e coarctar a
acção divína dentro de limites acanhados ou degradan-
tes, o que causaria a almas de eleição atrasos e desvíos
tão lamentáveis, como já amárgamente censurava a Re-
DIRECÇÃO MÍSTICA 273
formadora do Carmelo. Mas, erér muito fácilmente na
“vocação mística duma alma, é tambem expor-se a sérias
ilusões e dar ensejo a insídiosos manejos do demónio,
que contraría quanto pode as obras de Deus e se trans-
figura em anjo de luz para fazer vingar a sua acção
nefasta. -
Cumpre portanto que o Director estabelêça diagnós-
tico seguro e por conseguinte tenha ideias claras e pre-
cisas sôbre as vias extraordinárias, de que se ocupa a
teologia mística.
Noções gerais
Correlação da Mistica com a Ascética
Uma e outrá teem um ponto de contacto, que as
liga e une: 4 união com Deus pela contemplação. Mas a
“teologia ascética trata da contemplação, a que.podemos
"chegar pelos esforços da nossa piedade, e a teologia
mts-
tica da contemplação elevadíssima, que vem directamente
de Deus. A ascética não leva as suas investigações alêm
“dos domínios da oração e da contemplação; estuda pró-
priamente e aprofunda as virtudes cristãs, a sua natureza
e espécies, as dificuldades e obstáculos, os auxiliares e os
- contrários. A mística circunscreve o seu estudo aos fend-
" menos sobrenaturais, que se chamam «estados
misticos».
O que são os estados místicos?
São uns estados inteiramente acima da alçada da
nossa naluréza, comportando um género de conhecimento
tal, que é absolutamente impossível, que os nossos esforços,
por mais industriosos que sejam, o possam produzir, por
um instante mesmo ou no mais insignificante gráu.
Nem todos os actos sobrenaturais estão fora do al-
cance da nossa naturêza; até um certo número são, não
só possíveis a todos os homens, mas obrigatórios: orar,
fazer actos de fé, de esperança e de caridade, etc. É
certo que para sérem efectuados sobrenaturalmente, é in-
2 . ` ko e -
274 RU AE: "DE, CÓNSCIENCIA
“dispensável o auxílio da graça, mas esta, na ordem pre-
sente das coisas, nunca'falta às almas de: boa “vontade.
"Por isso, o que, por. exemplo, quizer ofar, pode fa-
ato e conseguí-lo sobrenaturalmente, ao menos até |
certo ponto, porque Deus está com a graça à disposição
- da sua boa vontade. Mas, ha actos sobrenaturais, para a
maior parte dos homens- z7realizáveis, por mais desejos |
que alimentem e por mais esforços que façam, para os |
produzir. E aquêles poucos que obtiverem o privilégio
de os efectuar, sentem perfeitamente que o devem a
uma graça especial, que dêles não depende, Profetizar,
“por exemplo, é um acto sobrenatural, que ninguem pode
realizar, serfn chamamento de. ordem miraculosa e sem
privilégio especial de Deus. Segue-se, pois; que quem
possui o dom de profecia, está num estado místico; da:
mesma sorte, o que é instrumento de visões reais e au- į
ténticas, o que recebe revelações, etc.
Observação. — Chamam tambem os autores aos es-
tados místicos, estados extraordinários, porque ultrapas-
sam as vias ordinárias da Providência. .., passivos, por-
que a actividade humana não os pode produzir ..., sobre- |
naturais, porque estão tanto acima. da naturêza, que!
. nunca por si o homem os pode alcançar.
Principais estádios dos estados místicos.
Além dum estádio intermediário, que serve de tran-
sição entre a contemplação adquirida e a contemplação
infusa ou mística, ha dois outros, de principal importân-:.
i
a
F
fi
ç
r
l4
i
cia, o primeiro dos quais comporta vários gráus: a união,
não transformante ow noite do espírito e a união transfora
mante ou desposório espiritual.
Li
Explanação,
d e» IN OS confins das via à L[ra-Se 1
É estádio que S. João da Cruz, Chama | ios sei
Te
DIRECÇÃO MÍSTICA |. 275
. dos». Contem, posto que em estado latente, algo já da
" união mística, caracterizada, — a) por uma aridez
habi- .
*. tual, provefiiente da dificuldade de raciocínio e da
atonia
da imaginação; 4) por uma recordação de Deus, confusa,
fixa e angustiosa. |
` Define a sua naturéza o P. Poulain, designando-a
pelo. nome de união submística. Tem como objectivo
purificar a alma e prepará-la para as doçuras da união
mística, que devem um dia suceder-lhe.
2.— O primeiro estádio da união mística chama-se
união xdo-transformante, em oposição à união do segundo
“estádio, que opéra na alma e nas faculdades uma .modi-
ficação maravilhosa. Chama-se tambem xoite do espírito,
por causa das penas, com que entremistura as doçuras,
. de que é fonte..., e ainda ligadura das potências, por-
que as faculdades são impelidas de tal modo a produzir
voluntàriamente reflexões e orações, que as diriamos
ligadas. | i "E.
'Éste;primeiro estádio admite trés gráus sucessivos, |
que os aütores ainda subdividem :
A. — A quietação, assim chamada por causa do re-
pouso, que faz experimentar, logo após as angústias e
martírios da união sub-mística ou noite dos sentidos.
Éste primeiro gráu-da ligadura das potências ainda não
exclui por completo as distrações: ndo tem encarcerada
senão a vontade. Admite duas gradações: o recolhimento
infuso, às vezes acompanhado de “Silêncio adfhirativo,* e
o repouso místico ou contentamento e gózo divíno.
B.— A união plêna, que chamam assim, porque,
cativando a imaginação, a inteligência e a vontade, exclui
todo o pensamiento estranho e distração, mesmo invo-
luntária. Esta captação avassoladora das faculdades,
^c duz-s: ror várias formas: pela embriaguez esport.
qu. © alma, em glorioso delírio, ignora se i...
fala, . vive, se chora (S " Terêsa),..: e peio
; AT cu A E. i ^ ri» poor
276 | E | pexecçãd DE cÓNscHNCIA. SU
x b.
spirituál, que, sob a acci do ER produz: um “tão
grande abatimento, que: a alma: perde. completamente o
“conhecimento de si e das coisas,
c.— A união extática, due avassala a iiti tão
completamente, que suprime em absoluto a acção dos
sentidos, transportando o córagáo para as bens celestiais.
Segundo o P. Poulain o êxtase; chama-se : 8) êxtase sim-
ples, se-se produz suávemente, a;pouco e pouco, sem
violéncia. Supóe-se ordináriamente que nào envolve re-
velações; b) ræpto, quando é. sübito e violento; e c)
arroubo. do espírito, quando, diz Santa Terêsa,-o rapto é
tão e que parece epatar O -— do corpo.
3.º — O “segundo estádio: chain wá união transfor-
mánte.ou tálamo espiritual. ' E 4
'o ponto mais excelso ;dos:estados místicos; nela
se consumam, na medida. compatível com ;a vida pre-
sente, os dons mais extraordinários da bondade divína.
- Caracterizam éste estádio três elementos principais :
F1 a união quàsi continua, quàsi ininterrupta, £075 Deus;
b) na alma, a consciência de. participar, mos seus actos,
devida divina, e c) de- estar como que transformada
em Deus, Numa palavra, no:desposório espiritual, Deus
“apodéra- se não só da vontade, como na quietação, e
das potências, como na união plêna, mas tambem de
todo o.sêr (substância. evida), de sorte que a vida de
Deus e a vida do homem como se fundem numa só vida;
trânsformada na. de Deus a vida da alma. vd
Diagnóstico da união mística
Quai é a característica fündamental que faz re-
conhecer numa alma: cs estados místicos?
^V Js um conhecimento X Der. CI dd 7 qo. (EM na
sua parte intelectual; de que possui a - teste,
ms SOS neg
om + ;
"^,
eo
DIRECÇÃO MÍSTICA | 273
2 conhecimento que apresenta cer a analogia com o “sentido
“do tacto.
=, Pi
-Explanação,
1. — Em tôda a união mística, ha pela inteligência,
- um-certo. conhecimento zxferimental] de Deus. 'Para pos- '
-suír-a Deus: basta o estado de graça, mas não basta para
'O sentir, nem sequer para pensar em O sentir. Podemos,
“pêlo nosso esfôrço, aplicar em Deus o espírito e recordar a
sua presença em nós, mas não vão mais longe às nossas
' foras. Ora, sob a acção da graça, os estados místicos
ümspeniam no mais
íntimo da alma, um sentido espiri-
' tual, que nos faz perceber a presenga de Deus, no ámago
do: nosso ser. Tórna-se-nos assim Deus palpável, em
certo modo, porque nos sentímos em contacto com a
-Divindade e mergulbaðos nEla..
| o 2. — Esta percepção” de- Deui apresenta. analogias
" com a percepção dos objectos materiais, pelo sentido
do
. tacto. As.almas místicas, segundo elas afirmam, sentem
t uma impressão espiritual, que não tem semelhança com
as impressões do sentido da vista, nem do ouvido, mas
> antes parece um contacto espiritual. O objecto do
conhe-
- cimento é-um acto de fusão, que se exerce sôbre a alma.
Ora: para comparar esta impressão com o acto de vêr ou
ouvir; éra preciso que esta désse conhecimento da natu-
- réza íntima do ser que. divisa, ou dum dos seus pensa-
1 mentos. Por conseguinte, ninguem se deve dümirar de
' expressões, como as seguintes que lémos de certos san-
tos: tóques divínos, abraços, contactos, apértos, infusões,
imersões, etc. |
Outros caracteres, de orden secundária, dos
estados místicos. - |
l | di :
Enumera dez o P. Poulain, mas os principais, para
^ dizenós^;^c, são os seguintes :
- WE
PET IA
| oO ER ETS LX.
278. * a DIRECÇÃO DE. CONSCIENCIA ` | D
I.) A união mística é ifiteirámente independente
da vontade, por forma que a alma hão a pode realizar,
quando quér, nem fazê-la cessar directamenté, quando
lhe parêça, nem prolongá-la, quando deseje, nem aumen-
tar-lhe a intensidade. Depende complétamente do bene-'
plácito de Deus. e 3 Eli
2.º — Esta união realiza-seinuma. contemplação, que
não produzem raciocínios, nem considerações, - nem. imk-
gens interiores de ordem sensível. Ê de naturêza tão di-
ferente da oração ordinária, ainda quando muito perfeita,
que já os principiantes da união mística o constatam e
admiram. es vs
| 30— À contemplação mística dispensa; cada vez
mais, o trabalho ou esfórço humano, à medida que se
torna mais perfeita a união. Éste- trabálho, segundo o
autor acima citado, consiste: a) em repelir as distrações,
que aparêçam, (nos gráus inferiores); b) em produzir,
uma vez ou outra, actos adicionais, para bs quais a alma
se sente inclinada e com facilidade; c) em reprimir `o
tédio, causado pela semi-aridêz, quando a quietação é
frouxa, E. y !
4.º — Deus, envia às almas que favorece com a con-
templação mística, provações mumerosissimas. Por vêzes,
já de per si traz o estado místico sofrimentos peculiares
que invadem a alma na oração. "Grande causa de sofri-
mênto, por exemplo, é a necessidade irresistível de al-
cançar cada vez mais de perto a posse de Deus; o que
não admira, pois não é um instínto da nossa alma gozar
mais e mais o que satisfaz as aspirações mais profundas
do nosso ser?... ora, a alma sente-se impotenté de au-
zmentaf a união, que. começou; eis a origem dum ver-
'adeiro martírio, que se chama axgústia de amor; e
inguem aparece que proporcione -cascil2^^-^, pare sudo
DIRECÇÃO MÍSTICA pa E “279
jS RAS. união mística dá impulso às virtudes, -par-
Mar hti - ao: espírito de sacrifício e à humildade,
a mesmo: no que está tem de maís elevado, — o amor das
: “humilhações. - E até acontece produzir na alma um. apèr-
TARE instantâneo.
6 — O. estado místico opéra sóbre 0 “côno e récipro-
: tament: E por isso que, mesmo nos estádios inferiores,
“a vista?pode turva-se, os membros entorpecer, a dicis
: ção. afrouxar, a. circulação abrandar, etc.
ge e Fenómenos exteriores
T- Reaórüedós de glorificação. -
tw;
*
Salida a udi&e" mística uma certa: participação.
ante-
É cipada. da vida do céu e estabelecendo uma espécie: de
— fusão entre a alma e Deus, é lógico que as pessoas que a
"possuem, gozem desde jd prerogativas diversas,
próprias
do estado glorioso, e se tornem a séde de manifestações,
em que.as scintilações dos atributos divínos se revelem
| visivelmente.
;
via
b ' l i A.
"pe L- Ha almas místicas que recebem miraculosa-
. mente conhecimentos, que antes não possuiam, tais
; como, o dom de compreender umá língua estranha, -o
“ dom de atingir um estilo e eloqüéncla, que a todos causa
. admiração (Santa Catarina de Sena, Santa Rosa de. Lima,
ù Santa Maria Magdalena de-Pazzi), etc. ^" i
52. ° — Deus exerce sôbre o côrpo de certos adia
. uma acção tão prodigiosa, que muitas vezes Éle lhes vale
de alimentação, assim como no céu é o alimento que
“sustenta a vida dos eleitos (Santa Catarina de Sena);
` ^ então essa influência dispensa-os do sóno (Santa Eudes
. *vina); e por isso não admira, que, sendo Éle o auctor de
tantos <sacantos esvalhados pela Natureza, faça tambem
'scint/^ =-- santo: influências que extzsiam os sentic
4
1
280' DIRECÇÃO -DESCONSCIENCIA:
“concedendo: a uns emanações de: ger fu mes: finíssimos
(S. Filipe-Néri, S. João da Cruz), de licóres «balsámicos
a outros-(Santa Teréza, S. Nícoláu de Mira), a êstes bri- ~
lhos: e esplendores celéstes (Santa Inês), aquêles scintila-
ções luminosas (S. Luís Beltrão; S. Colombino de Sena) .
“3º — Outras vezes, transforma: os sentidos, por
forma. a: dar-lhes um alcance miraculoso, semelhante-ao
efeito dos dotes dos corpos gloriosos, como “ver através
-duma parêde, lêr no rôsto o estado: duma alma..., sen-
tir a infecção que exala o pecado: impuro (S. José de
Cupertino), perceber na hóstia:da Comunhão sabor deli-
ciosíssimo (S. Felix Cantalício); fazer ouvir a voz a dis-
tância considerável. |
< 44. Acontece, no êxtase particularmente, fazer
Déus: participar o. córpo dos santos'da sua espiritualidade
e das qualidades da resurreição, dando-lhe a agilidade |
e a subtileza, libertando-o até das leis da gravidade e do
espaço, de sorte a ficar umas. vezes suspenso no ar, sem
apoio, por muito tempo (S. José de Cupertino), e outras,
a penetrar, sem entrada, em lugares fechados e a encon-
trar-&e presente simultâneamente em vários, lugares
(Santo António, Santo Afonso; S. Francisco Xavier).
^ -8$.0— Recebem tambem: ós.santos frequentemente o
dom de curar os enfermos `ô o dominio sôbre os sê-
res materiais, bem como sôbre os demónios; e assim.
restituem a saúde sem remédios naturais, ressuscitam
mortos, multiplicam as substâncias, aplacam as fôrças re-
vôltas da natureza e expulsam os démónios.
6:º — Comunica tambem Deus aos santos, por modo -
sobrenatural, os padecimentos do divino Crucificado.
Estigmãs miraculosos conhecemos em S. Francisto de
* geo C mst E 6s - qv p `
SSIS, Sania tatarina de 2110 se ;
DIRECÇÃO MÍSTICA 281
: = TI— Fenómenos de iluminação. e
: « Quando Deus quér iluminar uma alma, já no desí-
gnio de a elevat a uma contemplação mais perfeita de Si
mesmo e das coisás divínas, já com o fim de lhe confiar
uma obra de zélo e caridade, infunde-lhe ideias. novas
sobrenaturais, que ela nem sequer suspeitava; sáo.como
relâmpagos: que a deslumbram e transportam. É o que
faz nas revelações e nas visões.
“a: -- Revelações. Deus pode revelar-se à alma e
comunicar-lhe ideias novas: a) por palavras exteriores,
que, como a palavra natural, produzem impressão no
nervo auditivo; à) por palavras imaginativas, que, per-
" cebidas sem ferir io ouvido, afectam directamente a
re-
gião cerebral, onde está localizado o sentido da imagina-
"ção ou fantasia; c) por palavras, intelectuais, que
férem'
imediatamente o espírito, sem concurso algum da sensi-
“bilidade interior ou exterior, isto é, palavras que consis-
tem numa simples comunicação do pensamento, sem lo-
cução, nem emprêgo algum de linguagem humana.
B. — Visões. Podem compreender-se igualmente em
três “espécies: a) visões oculares, produzidas na retina
por vibrações luminosas, que Deus efectúa directamente, ,
ou por intermédio dum objecto material, que faz compa-
recer diante dos olhos; b) visões imaginativas, produzi-
das.por uma imagem semelhante à que reproduziria na
fantasia a visão dos objectos materiais; c) visões intelec-.
“tuais, percebidas na inteligência, sem concurso da sen-
sibilidade. | 3
c. — Discernimento dos espiritos.
«Deus começa já desde esta vida, a iniciar os seus
amigos nos segrédos, nào só da sua divindade, mas tam-
bem nos segrêdos das almas, já por amor daquêles, a
quem concede estas manifestações, já no interésse das al-
quem os santos, alumiados sôbre o seu estado, »o-
282 ji" DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
s XE |
dem-dizer uma palavra, que as toque e converta e minis-
trar conhecimentos, que as iluminem, consolem ou ater-
rem e emfim orientem,'para o seu escopo final». (Sauvé,
États mystiques).
DIRECÇÃO DAS ALMAS MÍSTICAS -
Com respeito aos que "aspiram às graças dos
estados místicos, que fará o Director? `
1.º — Persuadirá que desejem e peçam a graça da
contemplação mística, mas não os fenómenos exteriores
que a acompanham. Diz Alvarez da Paz, «que é preciso
distinguir da contemplação mística os dons particulares
que lhe podem sobrevir, como os êxtases, os raptos, as
visões, quer corporais, quer da imaginação. Desejar ês-
tes dons e pedí-los é coisa interdita. Até aquêle que os
houvér. recebido deve declinar com humildade tão -teme-
rosa honra e pedir ao Senhor que antes o deixe caminhar |
pela estrada real do sofrimento. E-quanto à contemplação |
mística em si, será lícito desejá-la? porque não? não é
ela o meio mais eficaz de alcançar a perfeição? E se é
lícito” e legítimo desejar o fim, como será ilícito desejar
o meio que a ela conduz? É um dom; para o alcançar
importa desejá-lo e pedí-lo». (De Inquis. Pacis, 1. v —
part. 11. c. xu). O mesmo ensina Santa Terésa no «Ca-
"minho da perfeição». Cap. xx.
2.?— Esforçar-se-ha por criar disposições que possam
preparar a alma para êstes dons: a) a melhor disposição
para Deus conceder os estados místicos é uma grande
pureza de coração e a prática generosa das virtudes sóü-
das; é no que, antes de mais, é mister formar as almas
que aspiram à contemplação. 5) o amor da solidão, com-
patível com os devéres de estado, a prática da obediência
e da caridade. |
A inclinação para uma vida retirada, que fósse
causa de infidelidade às nossas obrigações e aso para
DIRECÇÃO MÍSTICA ^ | . 283
murmurações a. nosso respeito, não é inclinação segundo
a vontade de Deus e portanto não pode dispôr para a
sua graça. Diz judiciosamente o P. Poulain: «os santos
começaram qüàsi todos por uma oração aturada e cons-
tante; é o caminho da alta oração. Não digo que devam
. Ser longos os nossos exercícios, porque pode impór-nos
a obediéncia devéres que reduzam necessáriamente ao
indispensável a nossa oração. Deus então não pode quei-
xar-se da nossa inobediéncia. Ọ que digo é que devê-
-mot-desejar e gostar de estar muito tempo com Deus.
Quando é sincero êste sentimento, encontraremos com
“certeza horas livres para Deus, evitando particulafmente
sobrecarregar-nos de motu próprio com uma série grande
de ocupações, que a obediência não impõe, mas apenas
permite». (Grâces d'oraison, cap. xxvi, 24). |
. Como procederá com as almas que Deus favo-
rece com as graças místicas? |
nLt-E preciso certificar-se se a alma realiza verda-
.deiramente os caracteres comprovativos da sua vida
- mística.
| | o "e
-2.0 — Cumpre prestar-lhes depois auxílio. nas pro-
.Va(óes inerentes a êstes estados, dar-lhes alívio nas suas
angústias, dissipar as perturbações, reanimá-las nos té-
- dios e obstar ao desânimo e desalento, fatal à sua perse-
verança. | ?
3.º — É preciso conservá-las num estado de humil-
dade, sempre crescente, à medida que maiores forem os
favores recebidos, porque o Senhor prefere sempre com
a sua graça os humildes.
4.0 —— Suprimam, sem escrúpulo, nos exercícios de
piedade, que são ocasião da contemplação místico, ss
actos ou orações não obrigatórias, em que encontrem ».
dificuldade; para as orações obrigatórias, imponha:
Va ^
e : a
tA
COSE o. DIRECÇÃO: DE CONSCÍENCIA
certos actos exteriores, que impeçam a-Jigação das po-
tências e assim as pogerio nme"
. B5 — acção divina associem a acção pessoal, ső-
“enquanto não obste à primeira.
Com as almas que crêem haver visões ou re-.
Yeates, que fará o Director?
a indispensável a maior circunspecção. É teme-
sidade ,repudiar à priori qualquer fenómeno desta natu-
reza; pois os processos de canonização provam, que a
Igreja admite a sua possibilidade e realidade; mas obsta
a prudência a que se dê crédito, sem exame, aos factos
“extraordinários, que certas pessoas relatam como divinos.
Não se pronuncie precipitadamente o Director, nem num
-sentido, nem noutro.
2º — Sem curiosidade, nem vanglória, ouvirá com
paciência as confidências nesta matéria, evitando repulsa
-ou ingénua admiração.
edm ^ — Fará que se tornem mais humildes, repelindo
pensamentos de orgulho e. desconfiando de si mesmas,
dóceis e abertas com o confessor, excessivamente 7ese7-
vadas em publicar as revelações e visões, que julgam ter
e cheias de zélo em aproveitarem estas graças para se
santificarem.
4.º — Usará de severidade.com as almas que demons-
trem grande apégo a estas graças e por isso vaidade e
depu n
5.0 — Deve orar e pedir, edaminar e consultar, para
averiguar se os factos extraordinários são naturais, .dia-
bólicos ou divinos.
DIRECÇÃO MÍSTICA 285
-6.o — Concluindo. que não são divinos, obrigue com
nera a desprezá-los. |
Sinais que indicam a
origem divina duma vi-
são ou revelação.
— Ha sinais certos que provam peremptória-
mento que uma revelação é divina e tais são os milagres.
e as profecias, que realizam a um tempo a verdade his-
tórica, filosófica e relativa.
° — Ha os sinais presuntivos, que tornam prová-
vel o carácter divíno da visão ou revelação:
a) — quando a pessoa, que se supõe favorecída é pa--
cífica, judiciosa, perfeitamente equilibrada, duma sinceri-
dade a tôda a prova, inimiga da vaidade, da singulari-
dade e ostentação. .., quando não deseja, nem procura os
favores extraordinários e não aproveita deles senão
para se tornar mais circunspecta, virtuosa e humilde...
e finalmente quando já chegou aos estados místicos mais
«elevados. |
b) - — Quando a visão ou revelação é em tudo objecto-
de edificagáo, de molde a conduzir à virtude e deixa a.
alma, depois de lhe causar certo temor, na paz mais pro-
| funda.
. Sinais que indicam a não divindade da visão.
ou revelação.
I."— Sinais certos: a) — quando encerram coisas:
contrárias à fé e à moral cristã, ou indignas de Deus,
sapientíssimo e santo.
b) — quando excitam directamente as paixões s^
conduzindo à sobêrba, à presunção, à sensualidade
c) — quando se dissipam com o sinal da Cruz, com a
286 i DIRECÇÃO DE consciencia
E cm ds V»
“vocação do nome de: jese. com a pressus duma relí-
F quia ou com o uso de: gus benta. |
|| t2. — Sinais presuntivos: a) — atdi é pecadora |
"a Fa que as patenteia,.., inclinada à sobêrba,.., ou,
|
pelo menos, pouco adiantada na vida espiritual.. , su- |
jeita a ilusões. .., exaltada..., histérica; usado, tendo |
lido livros de mística, ficou com o desejo ardente de m
cebër êsses dons. .., quando se envaidece com êsses su-
postos favores... e 'sé irrita: por o Director. nào wi
crédito de boa mente-a. täis factos. E
|]
1
DA
da a
bd) — Quando as visões e revelações dadaa mais a |
sátisfazer a curiosidade do que a edificar o próximo. og
quando não teem outro escopo. senão resolver uma ques- |
tão controversa em teologia, história, astronomia, arqueo- |
logia. .., quando são extravagantes e só encerram a dou-s
trina comum dos livros ascéticos..., e quando apresen- |
tam. sêres humanos ou.angélicos sob formas ridículas oug
de aspecto bestial. ~y s
Devem admitir-se confiàdamente todos os por-
meñores : que encontramos nas revelações e visões a
dosySantos ? à.
á :
Não, por muitas razões: | ET
XE | | | E
“1.º — porque, às vezes, ha alterações no texto, ao cort
tigir certas expressões, no desígnio de as tornarem mais: R
claras e aceitáveis. * js
,
|
T.
-
'
2. ? — Porque a revelação: pode ter sido: mal interi |
pretada pelo que a recebeu. Diz a éste respeito S. João”,
da Cruz: «as profecias e palavras que na antiguidade. j
Deus: dirigiu a certos pe: magas não se realizaram se# 3
gundo as previsões dês es, porque as t»navem muito à
letro 4 sta "ae judem
ssduicds cdliido, c.v.
DIRECÇÃO MÍSTICA 287
3º — Às visões que representam scenas históricas,
d como nào teem por fim instruir-nos sôbre costumes e lin-
A^
a
s
guagem daquelas épocas, nem: orientar-nos sôbre ques-
.tóes arqueológicas, não podemos pretender nelas exacti-
dão perfeita nestas questões.
4.º — Como na acção divina pode imiscuir-se a acti-
. vidade natural dos videntes, é possível que desejos e
“cadeias preconcebidas se agitem na alma no momento da
“revelação sobrenatural e nào possam depois discernir-se
. do que-vinha de Deus directamente.
Como concluir pela divindade dos extases ?
^w.
lémos-de seguir os
mesmos sinais que seguimos
para as visões e revelações. Diz o P. Poulain «que a
dois quesitos deve atender-se particularmente nesta maté-
. ria: -I° — em que se ocupa a alma, quando está privada
dos sentidos? está cativada por conhecimentos intelectuais
de'ordem superior, e arrastada por um amor imenso, ar-
-dentíssimo ? 2.? —que gráu de virtude tinha antes de chegar
.
éste ponto e que progresso e aumento resultou depois?
Se forem favoráveis as respostas, teremos probabilidades
pela sobrenaturalidade do éxtase. Com efeitó, o demónio
ea doença não levam a imitação a tão alto gráu. Quanto
aos efeitos. psicológicos, não podemos concluir dêles, or-
dinariamente nenhuma indicação. A alienação dos senti-
dos pode apresentar as mesmas aparências no êxtase di-
vino e no êxtase suposto; contudo, podem acrescer-lhe
fenómenos, que” não só deixem de parte a hipótese da
doença, mas tambem revelem uma causa sobrenatural,
divina ou não divina, como no caso de levitação». (Grá-
ces d'oraison, p. 395, n.º 67).
£
^
^ »* %
EPÍLOGO
— 0000 — -
^
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Spiritus ubi vult spirat. Por tóda a parte pode ter
a divina Bondade almas privilegiadas, que destine às'vias
extraordinárias da santidade. Seria triste, por isso, e de
lastimar, que a ignoráncia ou os preconcéitos do Direc-
tor, em vez de auxílio, fossem estórvo aos desígnios de
Deis. | -
Se não podemos exigir deftodos os sacerdotes igual
inteligência dos caminhos e estados místicos;*indispensá-
vel é contudo que sôbre o assünto possuam ideias bem
claras e exactas; aliàs, gránde detrimento hão-de causar
a essas almas de eleição. `
O pouco que deixamos dito àcêrca desta matéria
será o bastante para que o sacerdote prudente saiba du-
vidar e conservar-se de sobreaviso. E se com o auxílio
destas noções vier a descortinar uma alma com tendên-
cias místicas, os grandes tratados ou obras de valor, lhe
ministraráo conhecimentos decisivos, com que possa
valer à alma necessitada. E no caso de duvidar de si
mesmo, por sé julgar incapaz ou com falta de tempo,
tenha consciência e coragem bastante para enviar a guia
mais experimentado a alma que não tem fôrça para
dirigir. $
è
te
pe *
RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO
————
»
D da »
E X. A
CAPÍTULO DE INTRODUÇÃO
T — Noção geral da direcção. “No sentido activo,
onsite a direcção espiritual na acção do Confessor,
~ posta*à disposição das almas, para as ajudar a encontrar
' “seguramente o caminho que as ha-de conduzir à santi- -
. “dade a que Deus as chama, enveredando por éle e pros-
; Egingo através. de tôdas as dificuldades.
“IL — Divisão. — Direcção pastoral: a que pro-
"porciona a certa Mots de almas, os meios gerais para
«ge: santificar e chegar : a salvação ;
| “2º Direcção de consciência: a que tem por objecto
| E cada alma em particular, ajudando-a a triunfar das difi-
“culdades e a prosseguir pelo caminho que a gere condü-
“zir para Deus. |
» "$4 Subdivisão: a) Direcção mística, que se refere às
“almas que:Deus leva à santidade por vias extraordiná-
“crias; — b) Direcção ascética, que é a das almas que usua
. *conduz pelas. vias ordinárias ou comuns.
vj
4 LIVRO PRÍMEIRO
DIRECÇÃO DE CONSCIÊNCIA
“Capítulo Primeiro. — Da dircachió de conseiéncia
em geral
hum
ar
^. I. — Necessidade di —a. Em ordem à ite
| ção € necessária geralmente: — a) aos que tendem para
- à Vida perfeita. — 5) aos que estão em estado de perfei-
'9
J 297. DIRECÇÃO DB. CONSCIENCIA"
ção; — c) e, especialméni& aos Sacerdotes com encárgo
de almas. .
ái
A
f
— Objecto da direcção. > Compreende, geralmente,
sulle contribui para purpar, Pobustecer e. unir a alma
com Deus. Na especialidade, ocupa- -se: a)rdas nossas
misérias": faltas, imperfeições, enfermidades
espirituais,
perigos da alma. — 4) Dos nossos recursos espirituais:
aptidões, atractivos, hábitós bons, socorros externos que
coadjuvam na virtude.
„3. — Fregüéncia:da direcção. Varia consoante"a we-
cessidade do penitente e o' meio em que se exerce. Re-
gra prática: a) conceder quanto é necessário ou,séria-
mente util. — 4) cortar o que apresente inconvenientes,
que não compensam a utilidade*real. — ,
4. — Papel a desempenhar pelo Padre na direcção. —
— Deve considerar-se como especialmente incumbido
pela‘ Providência para dirigir as almas;
2º— A éste mister deve aplicar-se com zé/o, e tor-*
narse apto a produzir frutos abundantes, adquirindo: a)
a sciência.— 5) A prudência, "sobrenatural. —c) o espí-
rito de caridade, fugindo, por tonseguinte, ‘da zelotipia,
da vaidade, de.espírito mundano e das afeições humanas.
3.0 — Obrigação esta muito mais urgente, sendo o-
padfe Confessor oficial das comunidades religiosas. |
é 5. — Qualidades da direcção. — Deve ser: a) escla-
recida, supondo, portanto; no confessor conhecimento
profundo das vias espirituais, sciência” teológica segura,
exacta e completa. —b) Prudente, isto é, impregnada |
. daquela sabedoria sobrenatufa!, que cem despfezar os
expedientés humanos
que possam av» `ar, corta princi-
palmente com os recursos da graça, © pensa em fazê-la
frutificar. — c) firme, prosseguindo invariàvelmente até
ao fim, contra tódas as vicissitudes e obstáculos.—d) Ca-
ritativa, quer dizer, cheia de doçura e amor, sem re-
-
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| i RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO de P . 291
Ppulez, nem. enfado, em presença das mais "Getldlous
mi-
sérias. — e) diversificada, consoante a necessidade das
palmas. |
AR Capitalo IL. — Código kanaan da Direcção
AE | de Consciéncia en
E E L Disposições gerais que importa conseguir
o 5 C an dos penitentes
ha — Sinceridade. — A. — É necessária, porque, tendo
"a-direcção por objecto as coisas mais íntimas, de que
só
: Dége, e a alma sáo testemunhas, só a sinceridade pode
` ministrar ao director os esclarecimentos que. há. mister.
| P E Dere compréênder. quanto interessa o movi-
mento espiritual da:alma: faltas, inclinacóes;, dificulda*
Ese etc. 5
| V bras sinais. „podem indicar ao Dilsctor a nào-
uinceridade, e a experiência com a graça de Deus, po-
dem auxiliar o discernimento,
D. — Para conseguir a | sinceridade, eis piss. expe-
. dientes :,. a) conquistar a confiança do, penitente. — 4)
“ajudar. as declarações com bondade digna - e calma. — c)
facilitar as.confidéncias pela arte em interrogar. — d) Pe-
dir a Deus para os penitentes a graça da sinceridade.
a 2. E Esplrito da oração. — a. É necessário, porque
sem Deus -nada podemos fazer. ^Á. 7
za Mats +
4
4 T e H "aa p. is 3 l
peor O x
AT aec Está ao alcance de todos, porque só Hrige o re-
“curso rente» à. oração. E a? 2g
Lars "usen E É favorecé- lo, convencer o o geritetite
da sus 2e-
«Sessidade, levando-o a pouco e pouco a recitar “1. -
| 292 ` DIRECÇÃO: DE
. qué geram um meio propício à piedade.
)
Et EUN NEA
ções fáceis, que se lhe sugerem, e a práticas exteriores,
E
Hd
V 3. — Generosidade. — a. 'É necessária, porque Deus
concede a sua graca'na propórção da generosidade.
| À qe. an A
vB Provocar a genérósidade: a) estimulando. a
vontade segundo as leis psicológicas. — à) fiscalizando o
“cumprimento das resoluções.:— c) felicitando, pelos es-
forços realizados. - s
é es !
= 4— Docilidade. — a. “É necessária, senão inútil seria
a acção do director. = 4 i
, B. — Meios para a conseguir são: a) convencer da
sua necessidade. — 4) - facilitar, * obediência, com a
exclu- `
“são de exigências exageradas, dispondo, habilmente a
aceitação de medidas custosas e usando de prudente
firmeza. ad sl
1 &.
IL — Principios gerais que regem a vida
sobrenatural
1.— Lei primordial da vida espiritual é a conformi-
dade, perfeita, quanto possível; com a vontade.de Deus, |
obedecendo-lhe — e aceitando-o que a sua Providência
nos impõe. Com efeito, para que o homem possa atingir
a plena expansão do seu ser pela consecução do fim
último, que é a glória do seu Creador, é meio indispen-
| sável a conformidade absoluta com o divíno beneplácito.
* 2. — O trabalho importante da vida espiritual; con-
siste: a) em usar racionalmente das creatüras, segundo -
o plano divino. — à) em imprimir às nossas faculdades a
devida preparação para podérem usar racionalmente das
creaturas. . "Ue LC à |
`
“3 — A disposição fundamental para viver sobrenatu-
v
dj E
cos “ "RESUMO DIDACTICA DE ASCETISMO sm e MS
ralmente € a
indiferença antecedente com relação às
;€tiaturas, de sorte a nào regular a escolha senão segundo
"as inditações de Deus. |
DANE eT eae SD X YN EIER
a “HI. — Meios gerais que favorecem o progresso
HC ui espiritual |
A 2. E
i. ira
ERTED Pi E
JT
po^
Ce- o^ A. Meios que libertam dos obstáculos
c=, Fuga das ocasiões. — 1.º — Da ocasião em ge-
cal. — a. Noção: tóda a pessoa ou coisa que - duma
forma ou doutra nos: leva a ofefider a Deus. — Proxima,
. quando arrasta para o mal com tal violência, que só com
. “muita dificuldade, e portanto, em circunstâncias raras,
se
-. pode superar. — Aliàs, remota. —
— m ee tree age
Tt AO.
"^. ^t
"o^ E-—Deve remové-las o director com zêlo propor- `
i cionado'ao perigo que apresentam, — " .— ^ :
o C.— Paa isso, usará de vigilância e destréza para
. descobrir o perigo, saberá notificá-lo com franqueza, logo
: Que apareça e revestir-se-há de firmeza para o remover
“OU ao menos tornar inofensivo. .
^ro
“4 2º — Da ocasião, em especial. -
VIT
r.
dd T ex PSA
ER BE Danças e bailes. —a. Éstes exercícios físicos,
“que nascem da necessidade que sentimos de manifestar
“fortemente os sentimentos, que nos exaltam, podem re-.
véstir carácter recreátivo, jocoso ou religioso.
aps m " oss, Te
qr Temper
"T
ESI B. — Geralmente,. apresentam as dangas perigo ver-
.' dádeiró :. a): certas danças são imorais por causa dos
tac-
; tös e contactos, a que obrigam. —ġ) os bailes. podem ser |
- proibídos: a) por causa das danças inconvenientes, que
;. admitem; b) 'em razão de circunstâncias, propícias
==":
= as” paixões: companhias, música, orgias, solidão, tr.
mas *
RE S7 ` à
To $ , .
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£y.
SAS EEE:
V
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53
394 | niiko. DE cónsimcra à
da noite, etc.; c) por diui dd obstáculos que suscitam
a uma vida perfeitamente cristã: luxo, dissipação, cg
— Deve combatê-las o director: 1) seadh ver
poris um lado a beleza da virtude e por outro os perigos
que contra ela êstes divertimentos suscitam. 4) — Empe-
nhando-se por que os penitentes entrem em associações
que proíbem as danças.
“2.— Companhias. — Desviãr os penitentes de tóda a
pessoa, cujo trato (conversás e; exemplos) afasta da vir-
tüde e arrasta para o vício.
3. — Leituras. — Proibir tôda a publicação, cuja lei-
tura produz a dissipação, enerva a disciplina, contagia os
bons costumes e enfraquece a crença religiosa.
yb
4. — Vestuário imodesto. — a: Urge combatê-lo, por-.
que a desenfoltura no vestir é a negação: doipudor, insi-
dia‘ à castidade, alimenta a vaidade, arrisca a saúde, con-
“some recursos preciosos que 'déviam utilizar-se para O
bem e malbarata em futilidades o tempo que o cristão
deve empregar dighaments
p. — São repreensíveis e condenáveis todos ðs mo-
dos-de vestir, de molde a fomentar as paixões sensuais,
já patenteando membros que num país cristão é uso co-
brir, já manifestando, veladamente que seja, lugares que
no côrpo a mesma natureza convida a esconder; igual.
menté os que sujeitam em demasia os meinbros, quer
- martirizando o côrpo e impedindo o seu desenvolvimento,
quer sacrificando os interêsses do pudor. e do recato, aos
da: ira e da vaidade.
c.— Empregar meios conducentes ao extermínio dos
éxcessos da moda; 4) atraír' a atenção para o quadro
lastimoso de tantos infelizes, que nem sequer póssuem o
necessário para viver, fazéndo: compreender que na mo-
i
em
RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO. 205
»déstia está o melhor ornamento. — 6) prevenir contra os
.-decotes, fazendo ver o destino providencial dos vestidos,
„inspirando horrôr ao escándalo e fazendo ler vidas de san-
e» de:'condicào elevada.
jo 5. — Espectáculos e teatros. — Combatê-los enérgica-
mente, apontando a propósito os perigos, que referimos
a quando das más leituras.
«II Luta contra as tentações. — a. A tentação é
uma incitação para o mal, pela acção, singular ou con-
Jeata; dos inimigos da alma: mundo, diabo e carne.
B. — O director deve dispor o penitente a tomar a
atitude devida, em face das tentações: a) não combatida,
a tentação conduz sucessivamente a vários graus de cul-
pabilidade: a sugestão converte-se rapidamente em pen-
samento, depois
deséjo, em seguida propósito e por fim
«acto; os actos geram hábitos e Éstes o vicio — 4) Com-
bátida, porém, proporciona à alma, vantagens preciosas:
“aumenta o amor de Deus, os merecimentos e a recom-
pensa, conserva na humildade e na oração e inclina à
, Comiseração.
— Atitude com as tentações: a) Antes: nào se
dicor, nào as desejar; prevenir-se contra elas e esperá-
-las sem inquietação. — b) Na hora da tentação: para
umas, o máximo desprézo;. para outras, recorrer à ora-
ção, à diversão e renovar as resoluções. — c) Depois: no
caso de triunfo, alegrar-se e agradecer; se consentiu, hu-
milhar-se e reparar; na dúvida, nào se deter a examinar,
- mas concluir do princípio: «ex communiter contingentibus
v prudens fit praesumptio».
"a /
— Direcção das almas tentadas : a) Deve o peni-
nim primeiro descobrir as principais tentações. — 6)
Examine depois o director com tacto e prudência a ori-
gem e natureza da tentação e as disposições da alma
2901. DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA A VE
: bt |
para. ‘com ela; c) estidialei "as ias iridólentes;
temerá-
-rias;ou pusilânimes. —=:d) à fortifique as, E ScG apres-
tando-as para novos éxitos.
III Mortificação, — a. Natureza. — Consiste em
combater, afastar ou destruir as obras e inclinações vi-
ciosas da nossa natureza corrompida.
B. — Importância. — a) Proclama Jesus Cristo no
Evangelho a sua necessidade fundamental. — 6) vanta-
gens preciosas: desvia-nos do pecado e das imperfeições,
dá satisfação à justiça divina, consolida e-desenvolve nas
virtudes, activa o fervor, garante a perseverança, imprime
semelhança com Jesus Cristo e: 'afugenta o demónio e as
tentações. i
- |
c. — Prática. — Principios: a) Tem. por fim domar
a natureza, sanando e aperfeiçoando, e não destruí-la. —
à) Deve marçhar do principal para o acessório. — c)
Deve acomodar-se às fôrças, necessidades espirituais, gé-
nero de vida e tempefamento de cada um.
| )
D. — Táctica para formar na mortificação: a) fazer
compreender a sua importância e necessidade. — 6) Tor-
nar amável ao penitente esta virtude pelo exemplo de
Jesus Cristo e dos Santos; c) propôr para cada mortifica-
ção uma intenção nova e adequada. : boc
IV. Tribulações. — a. Noção. — São tôda a espé-
cie de sofrimento, que a Providência nos envia para nos
desapegar da terra e levantar para o céu.
B. — Razões por que deve o Director vater às almas
atribuladas. — As tribulações são benéficas ou nocivas
consoante o uso que delas,se fizer: — a) Bem aprovei-
tadas, purificam, convertem, santificam e proporcionam
consolações inefáveis. — 5) Desprezadas, desorganizam in-
“RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO |. 297
É téiramente';o maquinismo da vida espiritual, ocasionam
“-desepêros, blasfémias, ciúmes, vinganças, etc.
"t 4 c.— Direcção: a) nào pedir nunca a tribulação. —
| b) valer-se dos meios ordinários que a prudência indica
pára evitar certas tribulagóes.— c) Aceitar as InCUitÁvEIS,
como vindas da mão de Deus. !
. 5. p.— Para que sejam bem aceites, taça o Director :
4) compreender as vantagens acima enumeradas; 4) As
muitas tribulações são prova tantó maior do muito amor
de Deus para connôsco. — c) nada mais sensato do que
abandonar-se fllialmente nas mãos de Deus. |
- Tribulações, em especial. 1.— Aridez espiritual.
— a. Noção: é o estado da lalma que, apesar-de todos
os. esforços, não pode, no momento da oração, excitar
pensamentos piedosos, nem afectos de devoção.
“o B. — Causas. — O pecado, o vício; a doença, o can-
| saço nervoso; as preocupações excessivas, OS negócios
“absorventes; a leviandade, a dissipação; a provação vinda
r de Deus. !
| c. — Remédios: Estimular: a generosidade do peni-
tente a empregar os meios de reacção que exigem as
: diferentes causas da aridez; felicitar a alma que faz
» quanto pode; eleve, .nas ocupações, frequentes vezes o.
- "coração para Deus. | |
e m Os escrúpulos, — A. Noção: é um temor aflic-
tivo e intundado de pecar ou de ter pecado (Poulain).
' g.— Causas: temparamente melancólico e tímido;
forte impressionabilidade da imaginação que falseia o ra-
. ciocínio; “educação oprimida; convivência com pessoas
¿i escrupulosas; direcção mal orientada; desejo excessivo
208 ^ DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
da. certeza no que respeita à à salvação; manejos person
do demónio. & d
! o — Incowvenientesis 2) O: iescrüpulo! é um erro; à)
é; origem de perturbação ; c) é causa de: relaxamento e
até de perversão; d) é um perigo para a saúde e para
a sic E |
-— Tratamento da alma eserupulosa : a) Aos
m sintómas, estudar até) diagnosticar. — 5) Feito
isto, àrmar-se de paciência,'caridade e zêlo para prescre-
ver OS meios necessários e para' os aplicar com bondade:
e firmeza inflexível; mas a primeira condição é uma obe-
diência céga e invariável às determinações do director. —
c) Exigir fidelidade inviolável às três regra seguintes:
não acusar nunca as dúvidas ou tentações na matéria do
escrúpulo; não repetir as acusações das confissões passa-
das; nas decisões, não se preocupar com as dúvidas, mas:
agir resolutamente.
3. — Possessão e obsessão. — a. Noção. —São atá-
ques diabólicos, dirigidos contra os sentidos externos:
ou internos do homem, onde provocam operações ou'
im pressões, anómalas e dolorosas: a) chama-se obsessão,
quando a acção diabólica atinge sómente. o côrpo e as
faculdades sensitivas e não as faculdades intelectivas. —
b) e possessão, quando o demónio inváde' tão profunda-
mente o córpo humano, que parece incarnado nêle, fazendo,
as vezes em certo modo da. alma, que êle substitue, pois.
esta perde o conhecimento, nào tendo à sua disposição os
instrumentos materiais, mediante os quais exercia a sua
actividade intelectual.
B. — Permite-as Deus : à) para nos inspirar aversão:
ao demónio. — 6) para nos'fazer temer o pecado mortal
—c)'e o inférno; d) para nostexercitar na paciência e
mortificação, purificando-nos ao “mesmo tempo.
*
RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO 209:
ih c. — Almas vexadas pelo demónio: a) Certificar-se
iz, se: “há realmente obsessão ou possessão. — à purificar a
^; consciência de modo a tornar insuportável na alma a re-
= sidência do demónio; c) submeter a regime. médico e.
Sanitário a pessoa vexada de sorte a reagir. contra a
“acção diabólica; d) recorrer 'ao jejum e à oração -— €)
. exorcísmos.
3 ido Horses dos homens. — a. Natureza:
xi pessoas virtuosas, particularmente as almas err nda es-
tão expostas a tôdata espécie de contradições e de vexa-
/ mes, por parte dos maus e muitas vezes per pus dos
bons.
B. — Direcção: a) iealenvunducs- lhes grande bondade;
` b) Alentar-lhes a paciência e a coragem, recordando o
E papel providencial das tribulações.
Av, 3 5. — Ilusões. I: — Ilusão, em geral. — ^. Noção:
*. No sentido moral, há ilusão, quando a inteligência não:
“apreende o objecto do conhecimento segundo. à luz da
verdade, mas sob um falso brilho, que a transvia na di-
rectriz da vida.
—- Origem: a) a pobreza da nossa razão. — b) O
m dis das paixões. — c) A influência do meio. — d) Os
.ardís do demónio.
| IL. — Em especial: 1.0 —Z/usóes a respeito de Deus:
a) fazer da bondade divína uma ideia que favorece a pre-
. sunção. — 4) Conceber a justiça divína, sem lugar para a
misericórdia.
2.0 — Ilusões com respeito a nós: a) quanto ao es-
tado da nossa consciência: tranquilizar-nos indevidamente.
— b) quanto ao grau de santidade: deduzí-lo de sinais
.. falíveis, como as consolações sensíveis na oração, as
. obras exteriores de piedade e de penitência, a retu:
300 DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
bância das boas obras, a estima das pessoas virtuosas, a
falta de dificuldade na virtude, a regularidade exterior. —
Cc) quanto aos nossos conhecimentos em espiritualidade: o.
perigo de ter em menos conta a leitura espiritual. — d)
Sóbre as nossas aptidões e destino sobrenatural:' As aspi-
rações impacientes a aflictivas.
3.º — Ilusões com as criaturas: a) àcérca do meio
em que se vive, que fazemos responsável pela nossa ti-
bieza..— à) Amizades e simpatias que falseiam o nosso
modo de julgar. — c) quanto à direcção: depreciar, exa-
gerar, compreender mal a sua necessidade.
III. — Remédios gerais:.a) a oração mental e o re-
colhimento. — 2) mortificar o amor próprio, a carne e
viver com grande pureza de coração. — c) estudar em li-
vros de sólida doutrina as vias espirituais. — d) exami-
nar atentamente e muitas vezes o íntimo da nossa cons-
“ciência. — £) ater-nos com docilidade, às advertências do
Director.
B. Meios de santificação
1.—A Comunhão.— Regras práticas: a. Vantagens
da comunhão frequente. s. — zêlo em assegurar o estado
de graça e a intenção recta e pía. c. — prescrições: a)
proscrevé-la na certeza moral de faltarem as disposições
essenciais; b) ndo a aconselhar, quando essas disposi-
ções inspiram cuidado ou receio; c) gersuadí-la com vi-
gor às almas bem dispostas. > ,
D. — Nada omitir do que possa tornar a comunhão
. fervorosa quanto possível. ui
2. — Confissão. — a. Freguência. — Confessar-se tan-
tas vezes quantas exigir o estado da consciéncia, per-
mitirem as circunstáncias de tempo e lugar e persuadirem
os interésses da alma inteligentemente compreendidos.
B. — Fervor : fazer o melhor possível cada confissão.
RESUME DIDACTICO DE ASCETISMO 3OI
Para isso: 2) suprimir quanto comprometa a dignidade
e o fruto do Sacramento; 4) empregar os meios para
que a confissão seja fervorosa: meios eficazes de conse-
guir a graça de se conhecer, de se declarar bem, de se
arrepender; de conseguir um bom director e de secun-
“dar a sua acção; de desenvolver em si as meihores dis-
“posições para a acção do sacramento: aprêço pela con-
fissão, sinceridade perfeita, Ódio ao pecado; resoluções.
3. — Oração. I. — Oração em geral. a. — noção:
' é um colóquio com Deus, a quem exprimimos os nossos
sentimentos de devoção e expômos as nossas necessida-
des. É vocal e mental, segundo é o côrpo ou a alma o
agente principal. l |
B. — Importíncia. — a) É de necessidade de meio e
de necessidade de preceito. — 4) Tende por sua natureza
a dar glória a Deus e a criar em nós disposições funda-
mentais de justificação. — c) é infalível na eficácia, se-
gundo as palavras formais do Salvador.
c. — Condições exteriores. — a) A oração pode ser:
feita em todo o tempo e lugar e admite qualquer posição
corporal. — 2) Latitude esta que podem restringir as cir-.
cunstáncias. — c) O desejo da perfeição prefere posições
mortificadas que traduzem melhor o sentimento da pie-
dade.
|. p.— Qualidades: a) atenção ou comparticipação do:
espírito; 4) devoção ou participação do coração.
E. — Fara que seja infalivel: a) pedir o que inte-
ressa realmente à nossa salvação. — 4) pedir com boas:
disposições; c) com perseverança.
r.— Ordem práticá: a) primeiro, as orações de
obrigação. — 7) as que teem mais utilidade subjectiva; —
c) selecionar em razão de excelência objectiva. — d)
302 . DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA
ainda que valham o mesmo, preterir às devoções particu-
lares as que contribuem para edificação do próximo e
associam a alma à oração social da Igreja.
TI. — Espécies de oração. 1.— Oração vocal. : a. —
noção: é o colóquio com Deus, manifestado exterior-
mente por palavras ou pelos sinais que a suprem: es-
crita, lágrimas, etc. — Pública, privada, litúrgica, não li-
túrgica, particular ou comum.
B. — Vantagens. — a) associar o côrpo às homena-
gens prestadas a Deus; 4) prender mais a atenção. —
<) dar aos sentimentos mais consistência; d) confor-
marse com. o que recomenda o Salvador; e) é um meio
que pode bastar para a santificação.
c. — Regras práticas: a) não sobrecarregar com
muitas devoções. — 4) não ser escravo das muitas ora-
-ções; c) restringir às vezes a oração vocal em benefício
da mental. — d) fidelidade às orações usuais na prática
da Igreja. | ; o
=. D.— Fórmulas: Primeiro as que provocam mais
«devoção e traduzem melhor o sentir do coração.
2. — Oração mental. a. — Noção. — É uma elevação
-da alma a Deus — para o reverenciar e suplicar, — para
melhor o servir e glorificar.
B.— Espécies: a) Discursiva ou meditação, quando
predomina o esfôrço da inteligência; 2) afectiva, quando
.entra em maior escala a vontade e o coração. — c) intui-
tiva, quando a actividade se concentra num só pensa-
mento afectivo, dominante.
/ p. — Métodos: Escóla de Santo Inácio: a) princí-
pio da oração: adoração, oração preparatória, prelúdios
{composição do lugar, graça especial). — à) Córpo da
RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO 303
oração: exercício da memória, — do entendimento, -- da
vontade. — 4) Conclusão: colóquio.
Escóla de S. Sulpício: a) preparação: presença de
“Deus, acto de contrição, invocação. — 6) côrpo da medi-
“tação: adoração, comunhão, cooperação. — c) Conclusão :
-: acção de graças, detestação, ramilhéte espiritual..
| 4. — Leitura espiritual. — a. Importância. Amplia
„os nossos conhecimentos espirituais; desperta as energias
latentes da nossa alma; dá mais precisão aos nossos
- «conceitos.
`>
sm
— Escólha: de espiritualidade sólida e ortodóxa;
t com as actuais direcções da Igreja e com as
necessidades da alma.
4. — Retiro. — a. Vantagem: meio potente de fu-
gir do pecado; dá nova orientação e vigoroso impulso
“para o bem.
B. — Condições de êxito: a) recolhimento absoluto —
4) oração assídua — c) reflexões penetrantes e apro-
-.priadas.
6. — Exame de consciência. -- a. Noção: é uma
inquirição-cuidada do estado da nossa vida moral, para a
revigorar e aperíeigoar, corrigir e levantar, consoante, no
todo ou em parte, a acharmos orientada ou não para
Deus e para a sua glória, pela conformidade com o seu
beneplácito.. |
— Espécies: a) exame de vigilância: vigiar o mo-
“vimento do nosso espírito e do nosso coração, para co-
nhecermos a sua orientação. — 4) Exame geral: indagar
os nossos pecados, para os deplorar, apagar e reparar. —
£4) Exame particular: pesquiza das faltas e tendências,
especializada num só ponto. — d) Exame de previdência:
prevêr as ocasiões em que é preciso vigiármo-nos.
4 - há Vo D. x .
204: DIRECÇÃO DÉ CONSCIENCIA 4 A
c. — Prática do exame particular: escolher a maté-
ria; bem determinada, dum exercício relativamente fácil,
apropriada às principais necessidades da alma. Profligar
primeiro os defeitos escandalosos e capitais. Trabalhar
bem as disposições fundamentais da vida e da perfeição
cristãs. Dividir bem a matéria. Fiscalizar práticamente.
D. — Método: a) Sentimento da presença e bondade
de Deus. — b) Invocação do Espírito Santo. —-c) relance
do espírito sôbre a consciência; d) Contrição. — e) re-
soluções.
7. — Provações. — Noção! sistêma de formação es-
piritual, que inspirando-se simultâneamente no pensa-
mento basilar de Santo Inácioó: e de S. Sulpício especia-
liza e universaliza ao mesmo tempo, o esfôrço da alma,
circunscrevendo-o a uma área muito restricta e só o con-
conservando nela um tempo determinado, de sorte a per-
correr sucessiva e progressivamente os diferentes está-
dios, que conduzem à vida cristã e à verleid evangelica
Cap. III. — Diferentes espécies de direcção
$
Artigo 1.º — Estádios da vida espiritual
I. Direcção dos pecadores. — a. Considerações ge-
rais para tóda a categoria de pecadores. O pecado é di-
gno de imenso horrôr: a) em.si mesmo, é o verdadeiro,
o único mal que existe; 2) nos seus efeitos: fealdade,
. estragos, castigos, escravidão.
` B, — Diferentes categorias de pecadores:
. 1.º — Almas dominadas pela impureza: a: Urge
curá-las: perigos da impureza. Paixão impetuosa, tirá-
. nica, tristemente fecunda, descristianizadora. |
M
| RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO - 305
| B. — Dificuldade em confessar as faltas, na contrição
* “e no propósito.
P i |
^ €. — Função do
Confessor: a) conseguir, apezar-de
' tóda a repugnáncia, uma declaração completa. — 4) inda-
^ gar as causas, para remediar; c) infundir grande horrór
pela impureza e grande. estima pela virtude contrária. —
d) traçar o regime a seguir: debilitar a acção dos ini-
' migos: sobriedade, fuga das ocasiões, oração; fortificar
«a alma: devoção a Maria SS."*, prática da piedade, sa-
cramentos. |
¿į . 2?— Almas atreitas à injustiça. a. — Quanto im-
porta remediar a éste estado de alma. — À injustiça, que
se comete por muitos modos é um grande mal e um
grande perigo: a) compromete a salvação; b) fermenta
. a deslocação social; c) desacredita o cristianismo.
|». =B. — Remédios: — Deve o director: a) inspirar vivo
horrór pela injustiga, mostrando a desordem, os perigos,
...à loucura. — 6) indagar as causas para aplicar os remé-
-'. dios próprios, como fica apontado nesta obra.
^os 3º-—A irreligiào. A.— Diferentes formas, sob as
- quais se revela o déficit do sentimento religioso: desres-
“peito com a Magestade de Deus, com o seu santo nome,
"com a palavra divína, com as coisas sagradas e
institui-
"ções divínas, com os lugares santos, com os días
santifi-
cados. ` E
B— Gravidade dêste
estado. — Os devêres religiosos
são os mais importantes, urgentes e vantajosos. À sua
violação foi muitas vezes a causa de graves flagélos sôbre
os povos e os indivíduos.
c. c— Remédios: a) Contra a mentalidade hóstil à
Religião: procurar a causa e combatê-la até a dissipar,
“desanuviar o espírito dos preconceitos e ignorância, afas-
ao
~<} 5
A o
306. | DIRECÇÃO DE CONSCIENCIA:
far ou neutralizar as influências más, tornar simpática a
pessoa do padre. — 6) Contra a indiferença religiosa: res-
peitos humanos, cuidados excessivos da vida presente, O
“ambiente, as faltas da primeira educação. - --c) Contra as
leituras irreligiosas, sugerir o seguinte: miserável o filho
que favorece os detractores de seus pais; é um venêno
“que se absorve todos os dias; triste sintóma, quando se
dá preferéncia a jornais que blasfemam do que nós cré-
mos; sáo miseráveis as desculpas dadas para proceder
assim; d) Contra a blasfémia:' Horrôr que deve haver a
.&ste pecado; — repare o blasfemador cada blasfémia.— e)
Contra a profanação dos domingos: é ingratidão, é inde-.
licadeza; perigos. — f) rie o -sacrilégio : gravidade e
CENEO dêste pecado.
" Direcçãgedas. atras tíbias. — A. Noção: são as
almas cuja vida sobrenatural frouxa e lânguida, lhes não
permite praticarem a virtude.e cumprirem os seus devé-
res, senão com indolência e fastio espiritual.
«B. — Sinais característicos: 1.º grau: facilidade para
o pecado venial. — 2.º grau: permitir. -se quanto não é
manifestamente pecado mortál. een du grau: conservar
afecto ao pecado mortal.
c.— Causas : — a) Certas disposições, que corroem na
sua base a vida espiritual: dissipação, afeições apaixona-
“das, aversões; certos defeitos, que apoderando-se das ten-
“dências fundamentais da alma a projectam para inúmeras
infidelidades: pecados capitais. — 4) a insuficiências dos
exercícios espirituais. — c) a raridade em comungar.
— Cura da tibieza. — a) desejáila ardentemente.
| es empregar os remédios convenientes: alimentação
espiritual suficiente ; — acometer com resolução os defei-
tos-que a causam; — logo nó princípio, abraçar certas
práticas de piedade, breves, boas de lembrar, fáceis de
"
RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO 307
“cumprir e particularmente eficazes para despertar na vida
“espiritual ; — fidelidade ao exame particular. |
E — Defeitos que originam a tibieza: a) soberba :
"apégo
desordenado à propria excelência ou tendência para
^nos engrandecermos, o que pode ser por dois modos:
«pela estima exagerada de nós mesmos e pela estima imo-
"derada, que pretendemos os outros tenham de nós. b)
+» Avareza: amor desordenado às riquezas, isto é, aos bens
^déste mundo, particularmente -ao dinheiro. .c) luxúria :
- paixão desordenada pelos prazeres dos sentidos. d) tra :
"movimento desordenado da alma, que se arrebata com
“ violência para afastar de si o que considera: nocivo. — e)
“gula: apêgo desordenado aos prazeres da mesa; f) za-
“veja; tristeza por ser igualado ou sobrepujado pelos ou-
“tros; g) preguiça: amor desordenado do repouso.
: 3. Direcção das almas piedosas. a. Noção da
- piedade; benéfica disposição do coração para amar a
- Deus. atracção veemente para as cousas divinas.
A Pessoa piedosa — a que realiza êste estado.
^ B. — Necessidade da direcção das almas piedosas : a)
= sem direcção, caem na singularidade e desacreditam a
- piedade; — 2) bem dirigidas, tornam-se admiraveis auxi-
-liares do padre e a glória da Religião.
c.— Dum modo geral, aperfeigoá-las por todas as
“formas, o mais possivel, de sorte a torna-las benquistas
` de Deus e dos homens e social e individualmente -seres
- “espirituais completos. | | |
D.— Em especial: r.^ Formação da inteligência : a)
- necessidade. — Esta formação, muito. importante para a.
-orientação e progresso constante nas vias duma piedade
ampla e sólida, falta muitas veses nas almas que se en-
- tregam à piedade. — b) objectivo: infundir convicções,
. ádeias claras, exactas, amplas, elevadas, sôbre as coisas
».
,/ $
308 . ` DIRECÇÃO DE
CONSCIENCIA
réligiosas. .. é dar ao éspirito uma orientação sobrena-
türal.' c) meios:
banir os livros de ‘piedade mesquinha;
récomendar o Evangelo
e litros de piedade sólida ; pra-
ticar diariamente o. exercicio da meditação; frequentar
cursós da religião ; recéber como penitência, a leitura de
. qualquer pagina fulgurante e vivilicante. Ler'sobriamente
e com método. Reformar as ideias defeituosas.
2.º Formação da vontade. a) necessidade. Formar
"Bem a vontade é conceder um: general de valor às
facul=
dades da alma. — b): objectivo : tornar a vontade firme-na
resistência, resoluta nas: decisões, enérgica no “esfôrço, .
cónstante e pronta na execução, pura e desinteressada nas
aspirações. Ae A ET | |
- `c) meios: lançar mão das diversas influências que po-
dem exercer sobre a vontade benéfica acção : excitação:
da graça, percepção. nítida do escopo ʻa alcançar ; força
impulsivo dos motivos que põem em acção, apoio dos sen-
timentos que conspiram'no 'mesmo objectivo ; ámbiente
benéfico; bons exemplos; influência de santas sugestões.
“3º Formação do coração: a) necessidade. — E" não
menos do que à inteligência um motor poderoso da facul-
“dade responsável, b) fim:' comunicar ao coração uma sin-
gúlar delicadeza, que ogarrasté a comover-se 'ficilmente,
sob às inspirações da jfé. €) meios. Suprimir qualquer
acto grosseiro ou voluptuoso. Acostumá-lo a admirar as
belezas da natureza e da Religião. Concretizar num acto
“éxterno os bons sentimentos.colhidos. . ^ ^ -
-— 429 Formação da consciência. — a) necessidade. —
A. consciencia é:o: guia: prático da alma na, vida moral.
— b) objectivo :` tornara consciência iesclarecida, recta ^a
delicada;— c) meios: fornecer ao, penitênte bons exames.
de consciência, dar-lhe decisões peremptórias, nas'dúvi-.
das; rectificar a: consciência: quando éxtravia;. combater
. os escrápulos: e o laxismo;* prevenir “contra a singulari-
RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO 309
. dade e fanatismo, impregnando a alma de princípios no-
bres, de alcance prático; vigiar sôbre os mais leves movi-
mentos e inquietar-se á simples aparência do mal.
5.º — Formação do exterior. — a) Necessidade. -- Os
defeitos exteriores escandalizam. Pela reacção do exterior
sôbre o interior, a, perfeição exterior repercute-se sôbre
| as disposições. — b) fim: desterrar os defeitos que es-
candalizam ; melhorar o porte e torná-lo agradável, edi-
ficante.
6.º — Virtudes sobrenaturais. a) necessidade: a) a
` piedade tende por si naturalmente para a virtude. a) A
boa formação das faculdades da alma não tem outro obje-
ctivo: praticar constantemente a virtude. b) fim geral.
Fazer da pessoa piedosa uma imagem viva de Jesus Cristo
- particularmente pela humildade, mansidão, prudência e
simplicidade. c) disposição priminin desejo ardente da
pereigo; |
A. . Piedade. a) Noção. Em sentido restricto, 6 uma
+ disposição que nos leva a cumprir assiduamecte, com ge-
. nerosidade e amor filial todas as práticas religiosas que
|. conveem ao vosso género de vida. b) meios para conse-
.guir uma piedade verdadeira: formar dela uma noção
„exacta; estimá-la e desejá-la ; ser pronto no exercício, na
pena de vextering na intenção precisa e nas práticas
eficazes: |
B. — Humildade. a) noção. Leva ao próprio des-
--prêzo e a aceitar o desprezo dos outros. b) meios de a
cultivar: convencer da importancia primordial desta vir-
‘tude (justiça, semelhança com Jesus Cristo, vantagens);
exercer-se nesta virtude pelo exame particular sobre os
diferentes aspectos da humildade; reserva, nos juizos,
nas palavras e atitudes.
— Mansidão. a) noção. Virtude que nos leva a
x
310. DIRECÇÃO: DE CONSCIENCIA
proceder com o próximo pelo modo mais agradável e
aprazivel. — 4) método: 4) infundir grande estima por
‘està virtude (palavras da Escritura, vantagens da mansi-
dão); 4) exercê-la pela prática: do exame particular per-
“passando cada uma das disposições, cujo conjunto perfaz
-a virtude admirável da mansidão: caridade, paciência, de-
.dicagào e afabilidade. * ^ / :
p. — Prudência: a) noção. Prudência ou discreção é
uma virtude que nos faz: discernir e adoptar e que mais .
convem espiritualmente à nossa alma, e nos previne con-
tra a exageração no exercicio: das boas obras. 4) Método:
a) ¡fazê-la desejar, dada a sua importância (advertências -
da Escritura), — Necessidade: 4) exercer nela pelo exame |
particular nos pontos seguintes: consultar com Deus an-
tes da acção..., proceder. sem: precipitação... não se de-
“terminar sob a impressão do momento. |
c E. — Simplicidade. a) Noção: virtude que nos coloca
na disposição habitual de evitar a dissimulação e o des-
lize, que não impõe a prudéncia e todo o rodeio que nos |
desvia do. fim supremo.'2)— Método : comunicar estima.
por esta virtude (advertências da S. Escritura, — do Dou-.
tor da piedade — vantagens desta virtude); exercício, pelo-
exame particular, sobre'a mentira, a duplicidade, os exa-
géros, a afectação, — as evasivas do amor próprio.
4. — Direcção das almas perfeitas. à. Noção da:
perfeição: almas perfeitas'sáo as que, tendo domado as
inclinações perversas da” natureza, adquiriram suficiente-
mente o hábito das virtudes, para prosseguirem generosa
e tenazmente na prática.do bem. | M. ad | |
^ m Fim: a) precaver ‘contra o perigo da” tibieza y
— b) provocar novos progressos; 0) levar as faculdades.
dà. alma a tomar com Deus o contacto mais intimo
possivel. PES
LI
4
>
RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO 311
| — Meios: a) prática assidua da oração. — b) exer-
| cício da presença de Deus. — c) Pureza de intenção; d)
conformidade com a vontade divina. — e) prática do mais
"m amor de Deus. — f) exercícios de zélo e caridade.
s D.o— Hipdssaglo à cerca. do exercício di presença de
Deus ; intenções; diferentes actos do amor perfeito.
Art. 2. — Diferentes idades
I. — Direcção das crianças. — a. Importância. —
E Influência da idade infantil sobre a vida.
B. e especial: conseguir cinco disposições essen-
ciais: o pudor, a piedade, a sinceridade, a probidade e a
submissão. -
4 c. — Métodos: a) Para formar no hábito do pudor,
"evitar métodos muitos sistemáticos de iniciação.
Exami-
- nar prudentemente. Excitar com arte à contrição, aten-
` der ao propósito. — 2) Para formar na piedade, cuidar o
~ lado exterior da piedade, ajudar a atenção com pequeni-
^. nas industrias, desenvolver o sentimento do amor divino,
* pela Comunhão, Via-sacra..
. |
| 2. Direcção dos adolescentes. a. Importância. Re-
cursos a aproveitar. Perigos a desviar. Influência sobre
| O futuro. Preferências de Deus.
Bay n, p.— Fim especial : Inculcar as disposições seguintes
:
i a) paixáo pela pureza; 2) o valor. c) amor a Jesus Cristo
tea Igreja. :
i 3.0 — Direcçãa das Donzelas.-- a. Importância. A
'* donzela tem necessidade de direcção e, bem dirigida pode
prestar relevantes serviços à Religião.
e
GET m EM ERES IR
Sato 50 “Dt RECÇÃO! DE CONSCIENCIA
— Qualidades desta direcção. Para que seja pru-
deite. e fructuosa, deve ser paternal e docemente austera.
^ c. — Fim especial: dominar o coração da donzela,
de sorte que, evitando à pureza perigos lancinantes, se
torne uma fonte de ardente piedade e um precioso ins-
trumento de bem na vida. 7
“4. — Direcção dos estudantes. — Fim: combater a ro-
tina. na piedade, precaver contra a hipocrisia, rigor contra
.as.amizades particulares. |
5. — Direcção dos adultos. — Fim: Observancia dos
„deveres sociais. — Dos deveres de estado: educação. —-
. Os:médicos; os comerciantes; os criados de servir.
6. — Direcção dos velhos. — Fim: garantir o: desen-
lace final. — Utilizar à sua experiencia. — Precaver con-
| tra a fraqueza do coração.
At. Ace Diferentes estados
1. Direcção dos daidilos] Fim cumprimerito per-
feito dos deveres conjugais e paternais; — 4) conjugais:
' marido, — amor, fidelidade’ e honestidade. — a esposa:
“amor, delicadeza, dedicação. — 2) paternais: boa edu-
“cação fisica, intelectual, moral e religiosa: mando calmo,
firme e constante; vigilância activa e industriosa; direc-
ção inteligente e firme.
| 2: Direcção dos celibatários. — a. Fim: precavê-los
contra os escolhos do celibato. a) o egoismo: avareza,
^ preocupações excessivas com. a saúde. — P) o azedume ; .-
! c) o sentimentalismo; d) os. 'caprichos.
p. — Meios: abandôno a “Providência, obras de zêlo,
amor da virgindade.'
RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO 313
3. - Direcção dos sacerdotes. a. Perigos: a) relações.
imprudentes: primeiros anos do sacerdócio; idade ma-
dura. — d) porte demasiado secular, que rouba prestigio
“e expõe. — c) perdas de tempo, que o tornam pequeno
.em face da sua alta missão.
: B. — Disposições fundamentais: 1.0 — Desejo da san-
tidade sacerdotal: a) motivos: dever do bom exemplo ;
“gratidão para com Deus; necessidade dum apostolado
“fructuoso ; 4) Código da santidade: decálogo, leis canó-
“nicas : castidade perfeita.
| 2.º — Amor da liturgia: a) motivos: meio fecundo
.de santificação; deveres de profissão. 4) obrigações:
obser-
vância perfeita, atenção, devoção.
: 3.º — Fidelidade à meditação : a) motivos: A ne-
“glicência. produz notável dano à alma sacerdotal. —4) par-
ticularmente recomendáveis, os textos litúrgicos.
"E 4.o — Dignidade sacerdotal: — motivos, contribui
“para o prestígio do sacerdócio, é um agente admirável de
“edificação, um estimulante precioso para a fene] su-
j3poe e exerce inúmeras virtudes.
A E —— Direcção das religiosas. a. Fim; I.o — fideli-
“dade perfeita aos votos, essencia da vida religiosa ;
3 2.º — Recoihimento, porque a dissipação introduz o
“espírito do mundo, a tibieza, o tédio pela vida religiosa.
| 3.^ — Observancia da Regra, aliás reinará o capricho,
“a imortificação, a dissipação, a perda de rd o mal-
„estar geral. | |
L e
B. — Inimigos : relações muito intimas e frequentes
“com as pessoas “do mundo; aplicação apaixonada às preo-
-cupações exteriores; amizades particulares; ciumes e zêlos.
Es 314 DIRECÇÃO! DE (CONSCIENCIA
4 €, — Função do I Y a) respeitar a Regra e os
* usos legítimos ; b) não dispensar da sua observância, mas
“interpretá-la, atendendo ao bem. particular e'ao bem ge-
ral. = c) exortar a observá-la - pau wea. d) obser-
váncia rigorosa do silêncio.
| Pr Obdiência ; a) fdelidade exterior; espírito de
? obêdiência. — 6) combater as antipatias com o superior,
as afeições humanas, que IMP o sobrenatural à obe-
diéncia, a rotina.
| 3.º — Pobreza: a) bsefvüncia exacta do voto; ; O)
praticar a virtude pelo aape dos bens da terra. — c)
espírito de pobreza. |
4.0 — Castídade : a) evitar toda a falta: 4) remover
as imprudéncias ; e) pee da virtude pes purificação
das afeições.
5. — Direção das vocações. I — Noção de vocação :
-a)primeiro, o sacerdócio, — 4) segundo, o estado religioso
«c) terceiro, a virgindade no mundo ; d) finalmente, o ma-
.trimónio. II — Sinais.de vocação : — a. Para -o sacerdó-
Cio : a) atrátivo sensivel e irresistivel ; 5) impulso,
origi-
nado pela percepção clarissima das suas vantagens: c)
chamamento por intermédio do superior, o bispo.
B. — Para a vida religiosa: — I.o Sinais positivos: a)
atractivo persistente — 5) voto ; c) impossibilidade de se
salvar no meio do mundo: 2) desejo intenso de ser cha-
mado a uma vida mais perfeita.
*
- 2º — Negativos: a) devéres de família e outros. —
5) doença incompatível. — c) fraquezas incuráveis,
.. c.— Para o celibato: a) incapacidade para outros
estados. — 2) atractivo pronunciado e constante parasa
"vitgindade.
^ *
Lt RES
RESUMO DIDACTICO DE ASCETISMO ` 315%
p. — Para o matrimónio: a) exigências de ordem:
"süblica ; b) promessa ou conseqüéncia duma falta — c)-
; Incontinência.
III. — Disposições nas almas que aspiram a realizar -
. -a sua vocação: a. aspirantes à vida sacerdotal: piedade-
-. «sincera, modéstia-edificante, obediência céga e
intrépida, .
| aplicação ao estudo, simplicidade e dignidade, zélo.
— Aspirantes à vída religiosa: ardente amor de-
: Deus, correcção dos defeitos, apréco pela virgindade, fuga
-
“das ocasiões, renúncia à vontade própria, observância do -
x epi, sinceridade e abertura de a q
— Aspirantes ao matrimónio : tornar-se aptos para.
,08 dev&res de família, aplicar-se a sofrer com
paciência os-
“defeitos alheios, piedade sincera, evitar a dissipação,
pru--
“dência nas relações.
^el u^ uo MD
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